E BOLSONARO SE PERGUNTA: POR QUE NÃO EU?

 


Os últimos acontecimentos políticos requerem que se busque lançar as bases do novo cenário que deverá surgir e se estabelecer no País. Bolsonaro ganhou mídias intensas em todos os veículos de comunicação e nas redes sociais que um candidato, por vias normais, conseguiria. Também a atitude dos concorrentes já mudou, dramaticamente, diante de alguém, vítima de tragédia, assistida ao vivo e a cores, pela grande maioria da população do País. E, a atitude da mídia será deveras cautelosa com ele pois que, diante do risco de morte, mesmo que agora vá se minimizando, mesmo assim, Bolsonaro continuará a contar com a chamada “mídia novelesca” que apresenta um conteúdo de dramaticidade capaz de provocar lágrimas de “pena e compreensão” em relação a quem  foi vitimado.

Até bem pouco, a candidatura de Bolsonaro era uma quimera de alguém que admitia que a política é a arte de ousar e que acreditava no dito popular de que, “quem chega primeiro bebe água limpa”. Ele apostou no fato singular de que, diante do vazio de homens e de idéias e da indignação de militares revoltados com a promiscuidade, a. irresponsabilidade e a falta de compromisso das elites, máxime da classe política, ele, teimosamente, pôs na cabeça que faltava alguém que falasse aos militares indignados, aos cidadãos revoltados e a chamada parcela dos desempregados e desesperançados sobre como retomar a ordem, a disciplina, a hierarquia e o respeito aos superiores, fundamentais para reestabelecer a confiança nas possibilidades de retomar o curso do desenvolvimento nacional. E, numa ousadia inusitada, se perguntou, “por que não eu?”, diante da natural perplexidade de muitos brasileiros.

Essa atitude de Bolsonaro se assemelha, “modus in rebus”, ao que ocorreu com  JK, claro que, feitas as monumentais ressalvas das diferenças. O episódio mostra como reagem interlocutores mais próximos do candidato e qual  a reação que a.maioria reagiria como, de fato, reagiu JK. No início de seu governo, quando, acompanhado de seu amigo e assessor, o grande Augusto Frederico Schmidt, JK foi fazer uma conferência para um grupo de intelectuais sobre o seu programa de governo. Saiu-se, de tal maneira, de forma competente e convincente,  que o assessor Schmidt, quando ouviu a manifestação do Professor João Calmon de elogios rasgados ao Presidente, insinuando que ele deveria candidatar-se a Academia Brasileira de Letras, gostou tanto da insinuação que comentou, de pronto, com JK: “Ele tem toda a razão. Por que o senhor não se candidata, Presidente?” Ao que JK retrucou: Amigo, isto foi apenas um gesto de delicadeza do amável Professor Calmon”. Um ano depois, em uma outra conferência brilhante do Presidente, em Forum presidido pelo mesmo Professor João Calmon, diante de comentário assemelhado do velho mestre, enquanto JK se sentia lisonjeado, Schmidt, querendo ser agradável ao Presidente, fez uma crítica impiedosa ao Dr. João Calmon e, ao referir-se a ele, afirmou: ”Esse Calmon continua com essa puxação de saco de sempre! Vem, de novo, com essa estória do senhor se candidatar a Academia Brasileira de Letras”! Ao que JK, de pronto, respondeu; “E, por que não? O Getulio não foi!” Por que eu não posso ser?”

Esse episódio, vem se repetindo ao longo da história brasileira através de outros protagonistas. Para que outro exemplo mais recente e melhor do que a saga de LuLa, indiscutível quanto a sua competência e o seu brilho politico incomum? Mas, se lhe sobrava talento e habilidade politica, Lula pode-se afirmar, sem medo de contestação, que ele foi e ainda o é fruto, também, da chamada incompetência da direita, da omissão dos conservadores e, do entusiasmo da mídia que, empolgada com a ascensão de um operário semi-analfabeto ao poder. E udo isto ajudou a produzir os ingredientes necessários para transformá-lo em mito. Lula cresceu pelo que o “establishment” fez dele um mito e alguém a ser respeitado e temido. E, após a criação do mito, não adianta os analistas de última hora se perguntarem como uma cultura Inferior, no caso de Lula,  domina e subordina uma cultura superior. Descobre-se -se, só agora, que Lula conseguiu manipular a midia, as pesquisas e as redes sociais, além de subordinar intelectuais às suas idéias e caprichos, de tal maneira que ele se transformou em uma figura inevitável e definitiva na vida pública nacional e na vida das pessoas.

Da mesma forma, por caminhos distintos e apelos diversos, surgiu, cresceu e se consolidou a figura de Jair Bolsonaro, um deputado do baixo clero e um oficial sem maiores méritos porém que foi capaz de descobrir um veio político qual seja, o de fazer um contraponto com os mais radicais petistas, notadamente quando Lula, limitado no seu ir e vir, abriu caminho para que o discurso agressivo  de Bolsonaro, radical e cheio de ousadias temidas por muitos, ganhasse espaços e apoios. Assim ele passou a representar a figura que expressava o sentimento dos conservadores que estavam em busca  de uma fórmula de  inviabilizar Lula e impedir a volta do PT ao poder.

Alguns analistas admitem que, diante das declarações e da postura radical em algumas questões, Bolsonaro seja alguém que se deva temer, caso chegue ao poder. Ledo engano! Milico por excelência, opera subordinado aos valores da caserna: disciplina, hierarquia, respeito e sempre acreditando que nenhum cidadão construirá algo sozinho mas sim com o seu grupo. Inspira-se nos governantes do regime militar que, conscientes que não tinham conhecimento, visão e sensibilidade dos políticos, fizeram uma aliança com os tecnoburocratas e passaram a gerir o País com os sonhos de grande potência dos milicos e com a sensibilidade técnico-política dos tecnoburocratas.

Bolsonaro não pode e não deve causar medos e maiores temores. Ele é milico. E um milico se regra por princípios claros, ja definidos, anteriormente, e deles não fogem. Conta  com a simpatia dos seus colegas, dos conservadores, dos radicais que hoje se rebelam contra o pt e com aqueles que acreditam que a prioridade maior para o Pais é a ordem, a disciplina e o respeito aos valores mais caros das sociedades tradicionais. Acredita  que a competente e sensível assessoria é que faz um comandante ser bem sucedido.

Diferentemente de Ciro que se sente e se acredita enviado pelos  deuses e detentor de um poder divinal que o autoriza a formular propostas capazes de promover uma transformação profunda do Pais que, na verdade, não se tem idéia para onde tais ideias levarão e nem como irão conduzir o país para que espaço ou tempo de mudanças.  Já Bolsonaro “vende” idéias simples ou deliberadamente simplificadas, aliás, discutíveis e até, controversas, apoiadas em valores tradicionais — como não aceitar educação sexual nas escolas; nem admitir ao quase culto ao movimento LGBT; define-se pro-Israel e se diz temente a Deus. Tudo aquilo que a maioria da população crê, aceita e cultiva. Diz que não aceita o apoio de partidos politicos tradicionais por serem, os mesmos, inconfiáveis. Faz duas criticas a Rede Globo. Apesar de tal postura, os seus maiores apoios concentram-se nas classes média e alta, numa demonstração clara que escolheu o caminho de representar o conservadorismo nacional. Ou seja, os mais ricos e os mais letrados o estão apoiando!

É bom que se afirme que Bolsonaro não é o perfil de candidato que o cenarista queria ver ascender ao poder. Na verdade, a  limitada formação intelectual; a platitude de suas idéias e propostas; o simplismo de sua visão sobre a vida, a condição humana e o mundo, tornam-no pelo menos, uma incógnita na condução do processo politico-institucional do Pais. Talvez o seu crescimento,  em termos de apoio popular, se deva ao fato de que o Brasil nunca tenha assistido a uma situação como a que se viveu nos dias que correm, onde a mediocridade é majoritária em tudo; onde inexistem lideranças com alguma expressividade em qualquer campo da atividade; onde, nem na politica, nem na justica e nem na mídia, ou mesmo no meio dos empresários e  intelectuais, aparece alguém que lance idéias ou provoque qualquer tipo de sentimento nos brasileiros como um todo.

Por isso Bolsonaro assume a liderança das preferências populares! E, agora, mais do que nunca,  vai assistir a diminuição dos índices de rejeição ao seu nome e o crescimento de sua popularidade, na avaliação das preferências dos eleitores. Deverá crescer, diante do comportamento da maioria dos brasileiros, vocacionada ao emocional e a se posicionar favorável à vítima de qualquer acontecimento ou circunstância. São tais valores que são consagrados nas notáveis audiências novelescas onde tragédias e sonhos se misturam.

Assim, a tragédia experimentada por Bolsonaro poderá abrir espaços para que ele venha a crescer e, até mesmo, assumir uma liderança capaz de permitir que ele possa emplacar a presidencia talvez até mesmo no primeiro turno, caso a sua assessoria saiba explorar o evoluir de sua recuperação. Talvez o conhecimento maior por parte do eleitorado, dos conhecimentos, da postura e da firmeza do vice-presidente de Bolsonaro, General Mourão, ajude a ampliar as preferências populares em favor deles. É esperar para ver os desdobramentos tanto desses fatos como aguardar que  Bolsonaro supere rápido, embora com a cautela que as circunstâncias pedem e a política ensina, as limitações impostas por esse crime hediondo por ele sofrido..

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