“VOU-ME EMBORA PRO PASSADO…”

Parece que um dos males que acometem as pessoas submetidas aos rigores do tempo, diga-se de passagem, do tempo cronológico, é que, impiedosamente, o calendário teima em lembrá-las do que passou bem como das coisas e dos fatos que lhes dão um sabor de nostalgia e lhes levam a um saudosismo (sensações incompreensíveis aos que não viveram tais experiências e circunstâncias).

E, ás vezes, dá vontade a tais pessoas, de voltarem ao passado, num reencontro com aquilo que lhes era tão mais positivo, tão mais simpático e tão mais agradável do que as experiências que ora vivenciam.

Será que será saudosismo ou nostalgia lembrar da escola pública do passado, quanto da sua excelência na qualidade de ensino e detentoras dos mais qualificados e dedicados mestres? Da mesma forma, quem não se lembra e não se beneficiou dos serviços prestados pelos famosos institutos de previdência, não só em termos de pensões e aposentadorias, mas de serviços de assistência médica, de que eram modelo o IAPB, IPASE, IAPETEC, IAPI, etc.? Quem não conheceu as Santas Casas, no seu auge, como hospitais de ponta, além de garantirem o atendimento as populações de baixa renda?

Tudo isto vem a propósito da piora na prestação de tais serviços essenciais à população, que entraram num processo de decadência, atribuída, em parte, parece que injustamente, à universalização de tais serviços e ao enorme crescimento demográfico!

E, indignação maior toma conta dos mais “antigos” quando se vêem diante da pobreza da qualidade dos serviços públicos essenciais prestados ao povo e da enorme carga de tributos que o cidadão paga, o que fez com que se denominasse, esse velho Brasil de guerra, de uma espécie de Belíndia. Ou seja, um país com uma tributação de uma Bélgica e serviços públicos de uma Índia!

Tudo isto vem a propósito do que está a ocorrer com a ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos -, que está a “sangrar”, se descaracterizando, perdendo a sua eficiência e criando as pré-condições para que, em breve, tais serviços postais venham a ser privatizados. E tudo por conta do processo de desconstrução do órgão, perpetrado por verdadeiros “abutres” que, a serviço de uma discutível governabilidade, tomaram, “de assalto”, o órgão e o debilitaram com suas estripulias e seus interesses escusos.

Costumava-se, até um passado não muito distante, dizer que no Brasil, três instituições pairavam acima de todas, em termos de credibilidade e de respeito do povo deste país. Elas que eram depositárias da confiança dos brasileiros: “os mata-mosquitos, os bombeiros e os carteiros”. Pois bem, examine-se, de forma isenta, o que os políticos fizeram de tais instituições. Os “mata-mosquitos”, de uma das memoráveis sagas de combate as endemias, foram, a partir de reformas administrativas do País, levados à rua da amargura, num processo irresponsável de descentralização de seus municípios que passaram a ser realizados pelos municípios. Com isto, destruiu-se a hierarquia, a estrutura, o espírito de corpo e a auto-estima de quem se sentia partícipe do processo de melhoria da qualidade de vida do país e responsável pela redução da mortalidade, geral e infantil, nos rincões mais distantes deste imenso país. Se isto não bastasse, os próprios bombeiros que, mesmo sendo policiais militares, praticamente estiveram incólumes e distantes de tantos escândalos, corrupções e imoralidades cometidas por policiais militares, envolvidos no processo de descaracterização do seu papel, não só pelas limitações de recrutamento, seleção, remuneração e influência maléfica da política no seu processo de gestão.

E, ao final vêem os Correios e os seus diligentes carteiros, símbolos da dedicação na prestação de serviços à sociedade que, agora, de forma triste e deprimente, assistem ao desmantelamento de sua instituição e a destruição de sua competência e dignidade, exatamente por influência de interesses políticos discutíveis, que substituíram o mérito pelo “QI”, ou seja, o quem indica!

E é diante do desmantelamento de tais instituições que aqueles que viram o tempo passar, recordam, com uma ponta de nostalgia, os velhos tempos onde tais coisas eram acreditadas e funcionavam a contento. É para dizer mesmo, “vou-me embora para o passado…”

Um Comentário em ““VOU-ME EMBORA PRO PASSADO…”

  1. De vez em quando sinto saudades desse passado!
    Belo texto, Paulo.
    Um abraço.