BENTO XVI: SERÁ ELE A VERSÃO MAGRA DE JOÃO XXIII?

Uma decisão difícil e só esperada por um homem em plena lucidez e consciente de que os desafios a serem enfrentados pelo Sumo Pontífice requer, saúde física e mental, disposição para continuar o trabalho de peregrinação e, determinação para enfrentar tanto conflitos de interesses. Pela despedida, a partir da leitura de uma epístola de São Paulo aos Colossenses, principalmente nesse ano paulino, mostra que, até a despedida de Bento XVI foi pensada, planejada e orientada para conduzir a sua substituição de maneira a garantir a melhor alternativa para a escolha do novo Pontífice. Um adeus sentido mas, sóbrio, equilibrado e de um verdadeiro estadista.

A renúncia de Bento XVI,  um dos mais preparados pontífices deste século e, talvez  do século passado, pode representar um verdadeiro renascer da Igreja Católica, porquanto o seu gesto foi um ato de denúncia da corrupção dos valores da Cúria Romana e da leniência com que as autoridades eclesiásticas vem tratando os desafios e as questões mais graves que preocupam a sociedade nos  novos tempos que experimentamos. A Igreja, através dos depoimentos de Bento e do dossiê que promete entregar ao novo Pontífice, revela todas as suas fraturas e fissuras, não só caracterizados pelos desvios de conduta dos padres ao redor do mundo — nos escândalos de pedofilia, no homossexualismo, nas transgressões de toda ordem — no vazamento de intimidades papais, relacionadas a decepções, frustrações e desencantos vivenciados pelo Santo Padre na convivência mais próxima com seus pares e com os problemas a serem enfrentados;  nas alianças espúrias com o poder que assistiu no seu papado;  na corrupção interna no trato do patrimônio econômico-financeiro  da “Santa Madre Igreja”,  bem como  na falta de perspectivas para alimentar as vocações sacerdotais.

Ademais, temas como o homossexualismo, o uso de preservativos na prevenção de gravidez, o fim do celibato sacerdotal além do papel da mulher nos destinos da Igreja, são questões que ainda não mereceram uma discussão mais séria e profunda por parte da Cúria Romana.

A Igreja está dividida, confusa e sem rumo e, o hotweiler Ratzinger está tendo a grandeza e, quem sabe, buscando o galardão maior, qual seja,  de vir a  ser o homem que irá  revolucionar as estruturas de uma instituição que perde espaços, junto aos próprios católicos e, também,  para  evangélicos e  islamitas.  E ele, Bento XVI pode  se credenciar a se tornar  o responsável por expor as vísceras dessa instituicão secular e pedir que uma reflexão profunda seja feita para a correção de rumos, para a moralização de costumes e para a busca de um novo alento para uma instituição cansada de si mesma.

Os dois últimos pronunciamentos de Bento XVI, o do Angelus  e o que proferirá na sua despedida definitiva, estabelecerão os marcos sobre que tipo de perfil deverá ter o seu sucessor para atender a renovação e transformação da Igreja Católica. Não só o peso do número de fiéis deve ser relevante na escolha do novo papa mas, até que ponto, afinar-se-à êle com as aspirações da comunidade católica com os novos tempos que vivenciamos e dará garantias de que responderá aos desafios que Bento lhe porá nas mãos.

Será um papa latino? Um papa mais jovem como o foi o Cardeal Wojtila? Será um negro, já que, talvez seguindo os passos estratégicos  da maior potência do mundo, que escolheu um representante da raça para conduzir os seus destinos? Ficará na mesmice da força dos cardeais europeus e do pesado lobby dos italianos? Se depender de Bento, a tendência é a escolha de alguém que possa revolucionar a instituição.

É isso que querem e que esperam os católicos empenhados em um novo sopro de alento para a velha instituição!

Um Comentário em “BENTO XVI: SERÁ ELE A VERSÃO MAGRA DE JOÃO XXIII?

  1. A alternativa da renúncia do Santo Padre traz em si, na medida em que não ficou totalmente esclarecida sua motivação, abre espaço para o questionamento de um dos principais dogmas da Igreja Católica que é o da infalibilidade do Papa. O movimento de Bento XVI poderá no futuro ser reconhecido como a manobra brilhante de um homem para cobrir as falhas do santo.