SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO!

O julgamento de políticos, governantes e líderes populares não pode ser feito sem considerar as restrições aos seus graus de liberdade. Ou seja, existem limitações e constrangimentos estabelecidos pelos fatos e pelas circunstâncias que, muitas vezes, só eles, os políticos, os líderes ou os governantes,  sabem!  E eles jogam com os limites do possível e do aceitável na sua perspectiva de tempo, de circunstâncias e de avaliação de consequências.

Já dizia Ortega Y Gasset, na sua afirmação própria e oportuna de que “eu sou eu e as minhas circunstâncias”, que, quando se aprecia, sem conhecer o ambiente, as pressões e as exigências ditadas por uma série de razões, e se procura julgar porque o líder ou o governante seguiu  este ou aquele caminho, às vezes, surpreendendo os seus próprios seguidores, não se leva em conta todas as circunstâncias, problemas e consequências enfrentadas pelo responsável pela decisão.

Tal comentário vem a propósito de duas matérias e decisões da Presidente Dilma relacionada à inadequadamente chamada “privatização dos portos” e a também “privatização dos portos secos da  TRANSPETRO”. Na verdade é bom que se corrija. O que está sendo proposto não representa um processo de privatização mas se enquadra na vertente das chamadas concessões por tempo determinado e subordinado a certas regras e valores. Ademais, o patrimônio continua a pertencer ao estado, diferentemente do processo de privatização.

Portanto, não se trata, como querem alguns, de uma reincidiva fernandista da Presidente petista,  mas de uma atitude objetiva diante dos desafios que se colocam sobre a sociedade brasileira.

Os mais exigentes, rígidos e, até radicais petistas, notadamente aqueles que são intransigentes nos seus princípios, valores e dogmas, torcem o nariz para tais concessões de sua presidente. Para eles tal opção colocaria em dúvida os compromissos com o capitalismo de estado a que estariam eles atrelados. Os chamados petistas pragmáticos, reconhecem que um governante há que se situar perante situações como essas, considerando as tendências da economia mundial e os limites que, sem tais atitudes, se estabeleceriam no que respeita  à competitividade dos produtos e serviços nacionais. E, os chamados pragmáticos entendem que, sem tais ditas privatizações, difìcilmente se conseguirá  a superação de estrangulamentos causados por tais serviços de infra-estrutura ao desenvolvimento nacional.

Da mesma forma a autorização da contratação dos seis mil médicos cubanos foi objeto de muitas discussões, questionamentos e controvérsias. Mas, a um analista equidistante das disputas ideológicas e não defensor de cartórios de quaisquer natureza, máxime os profissionais, avaliando a situação nacional, em termos de precariedade de médicos nos mais distantes rincões do País, onde não chegam tais profissionais e, também, considerando a ênfase na formação dos médicos cubanos, muito voltada para a área preventiva e para o atendimento as características do chamado PSF ou atendimento familiar, a decisão parece ser louvável. A formação dos médicos brasileiros e a estrutura do sistema de saúde do País é de característica hospitalocêntrica. Ou seja, prevenção não cabe na formação dos médicos brasileiros!

 

Claro está que, para a melhoria da qualidade da medicina do País, muita coisa precisa ser fei   e, nessa toada, a  abertura orientada  para a convocação, ou melhor, para  o convite de médicos da Zona do Euro, ora em crise, para que trouxesse sua experiência profissional  para o Brasil, com certeza, ajudaria muito ao processo de melhoria qualitativa da medicina nacional.

Aliás, os jornais de ontem noticiam que o MInistro Alexandre Padilha pensa da maneira que este cenarista e pretende abrir espaço para vinda de médicos europeus para o Brasil.

Se se quer queimar etapas no processo de superação de problemas e dificuldades ao desenvolvimento econômico e social do País, este scenarium já comentou sobre a possiblidade, após diagnóstico feito pelos empresários junto com o governo,  mensuração das carências de profissionais nas várias áreas do conhecimento, cuja inexistência de oferta no mercado de trabalho já está comprovada, poderia ajudar a alavancar o crescimento industrial, melhorar a gestão da infraa-estrutura e apoiar o desenvolvimento de várias áreas estratégicas ao desenvolvimento do País. E, na deflagrada Zona do Euro existe, uma oferta significativa de tais profissionais, inclusive em países de língua latina, onde o desemprego está acima dos 20% da população econômicamente ativa.

Sem medo de estar negando a sua história e os seus compromissos ideológicos, a Presidente Dilma parece estar buscando as resposta necessárias para retomar o esforço de promoção e atração de investimentos externos, notadamente para a área de infra-estrutura. Problemas na área de transporte de carga, face a inexistência de um abrangente, eficiente e operativo sistema ferroviário; a precariedade do transporte de cabotagem, além dos problemas de mobilidade urbana, bem que poderiam ser objeto de uma agressiva incursão do governo. A questão da falta de transporte de massa nos grandes centros urbanos, responde, não apenas por problemas ambientais gravíssimos como, por causa da precariedade do sistema, pela redução significativa , da capacidade física, do rendimento  e da  produtividade do trabalhador já que ele gasta ou  consome 4 horas, sòmente  para ir e para voltar ao trabalho!  Ademais, a poluição ambiental provocada pela quantidade enorme de veículos privados, gera enormes desperdícios de combustíveis, pelos notáveis engarrafamentos e, gastos excepcionais em saúde pública pelos problemas adversos e advindos da mesma poluição!

E isto tem de ser buscado através da atração de financiadores,, investidores e empreendedores de fora, já que a poupança bruta do país não chega a 19%, limitando qualquer sonho de um crescimento mais alentado do País.

E isto é o que parece ter sido buscado, da maneira que se está tratando a questão, embora mal e porcamente, como é o caso das concessões de exploração dos aeroportos e das rodovias e ferrovias, que, como se tem observado, tem ocorrido a passos muito lentos!

Na verdade, a cada momento se exige posturas ajustáveis às circunstâncias dos governantes frente ao quadro que a economia internacional e a necessidade de competitividade estão a exigir. Um dia foram as as telefônicas; outro as empresas de eletricidade; depois, as siderúrgicas. Agora, nos próximos dias serão leiloados cerca de 30 bilhões de barris de petróleo a serem explorados do pré-ssal.

Já e já, o País terá que rever o marco regulatório da mineração pois que já foram perdidos 20 bilhões de dólares de oportunidades de investimentos no setor pela demora na apreciação do novo marco regulatório, que irá definir os termos de exploração do setor.

Dessa forma, se se pretender adotar uma postura equilibrada, sóbria e de acordo com os ditames da ética da responsabilidade e do compromisso, os governantes, políticos e líderes devem ser analisados e avaliados no contexto real e possível de seus atos e não na perspectiva idealística do que poderiam ter feito ou ter sido feito ou ter se comportado.

Normalmente o julgamento dos políticos é deveras impiedoso. O dos dirigentes é crítico como se faz necessário ser. E os dos líderes tende a ser polêmico e apaixonado. Mas, ao final, o que todos buscam é que , no seu itinerário, tais homens públicos procurem fazer o melhor dentro de suas possibilidades.