O CEARÁ TEM DISSO, SIM!

O Ceará surpreende por muitas características. Não só pelas características de sua gente que, diante da inclemência de condições climáticas adversas, de uma pobreza de recursos econômicos de toda ordem e de falta de perspectivas para o seu desenvolvimento, até mesmo de uma limitação profunda à sobrevivência quando dos períodos de secas impiedosos, era um migrante por excelência. Aliás, migrante era uma denomimação travestida de eufemismo, pois o que era mesmo era um retirante, ou um nômade errante!

A sua constelação de fatores produtivos, até bem pouco tempo, era de uma pobreza inigualável, até mesmo para os referenciais do Nordeste. O único estado onde o sertão entra no mar, com solos pobres, sem água quer de superfície quer subterrânea, entre outras características, não se apropriou, historicamente, da expansão econômica do ciclo do pau brasil por não dispor de tal riqueza; também, não colheu frutos do crescimento provocado pela economia canavieira por não ter zona da mata e, portanto, não ter onde plantar cana; do ciclo do ouro, por não ter ouro e, tampouco, do ciclo do café. Ademais, até mesmo a substituição de importações que lhe favorecesse um processo de industrialização, não se lhe acometeu portanto, não tinha mercado, matérias primas estratégicas e qualquer outra externalidade que atraísse empreendedores para aproveitar potencialidades.

Mesmo assim, a criatividade, o empreendedorismo, a determinação e, até mesmo, a teimosia de seu povo, permitiu que hoje, o estado mostre uma pujança e um dinamismo que supera, até mesmo, Pernambuco e Bahia.

Imagine-se se o Ceará tivesse recebido investimentos estruturantes do Governo Federal para gerar as externalidades extemporâneas para abrir espaço para a atração ou a promoção de atividades diretamente produtivas há vinte ou trinta anos atrás, aí então o quadro hoje seria ainda mais auspicioso. Isto fica patente pelas informações de expansão do estado nos últimos dez anos e pelos dados de conjuntura que se tem difundido, faz alguns dias.

Os indicadores econômicos divulgados, recentemente, pelo IBGE, sobre o crescimento do País nos meses de dezembro a fevereiro de 2013 — através de dados regionalizados, revelam um Nordeste continuando a se mostrar bem mais dinâmico do que qualquer outra região do País.

E tal dado é algo extremamente alvissareiro na proporção em que, nos últimos dois anos, o semi-árido sofreu duas secas tão impiedosas que, só no Ceará, 95% dos municípios estão declarados em estado de emergência! Falta água para o povo beber e, morrem animais em todas as regiões, de fome e de sede, além de assistirem, os sertanejos, as suas culturas se frustrarem.

Apesar de tais constrangimentos e restrições ao seu crescimento, o Nordeste tem mostrado um dinamismo bem maior do que o do resto do País. E, respondem por tal dinamismo, certos fatores que tem, de fato, estimulado a expansão da economia. Programas de compensação de renda; elevado nível de emprego; aumento do salário médio dos trabalhadores; significativo aumento dos investimentos realizados por parte dos governos estaduais; elevação continuada e segura do turismo e dos seus efeitos multiplicadores além, é claro, de algumas contribuições da União à realização de investimentos públicos ou da garantia de recursos, do BNDES,do BNB, do BB e da Caixa, para empreendimentos privados, são capazes de explicar por significativa contribuição ao seu produto.

Os dados mostrados para o período em questão — dezembro de 2012 a fevereiro de 2013 — revelam que, enquanto o País crescia a 1%, o Nordeste crescia a 2,1% e, pasmem, o Ceará expandia-se a 3,1%!

Por outro lado, se obras como a Transposição das águas do Rio São Francisco, a ferrovia Transnordestina, as refinarias prometidas, duplicação da BR-101, as siderúrgicas e termoelétricas planejadas, as obras do PAC e todo o conjunto de investimentos requeridos para garantir a mobilidade urbana, determinados pelas obras da Copa,estivesse em ritmo promeido, então ter-se-ia garantido um crescimento dinâmico e sustentável, para o Estado, por um longo período.
Ademais, considerando o estrito respeito que as unidades federadas do Nordeste têm demonstrado em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal e ao controle dos seus limites de endividamento, hoje contam os estados, notadamente o Ceará, com uma significativa folga para a utilização de sua capacidade de tomar emprestado fundos que se destinariam a investimentos estruturantes, na economia do estado.

Claro está que, lamentavelmente, no momento, a União só pensa nos dividendos eleitorais que espera garantir para o ano de 2014 e, todo o foco de sua ação, está voltado para os programas de compensação de renda, medidas paliativas de enfrentamento do problema das secas, ações tópicas e, nenhum gesto planejado e organizado para estimular a expansão e permitir a redução de desigualdades de renda entre regiões do País.
Esse scenarium crê que, caso o Governo Federal cumpra aquilo que já estava previsto em termos de investimentos públicos que é do conhecimento de todos; permita o uso maior da capacidade de endividamento dos estados; garanta a aceleração das obras do PAC e de determinados investimentos estruturantes, já em curso, então a coisa vai pegar. Caso ainda, não haja interferência na questão da distribuição dos royalties do petróleo; se faça a imediata aprovação do novo marco regulatório da exploração mineral; aproveitem-se as perspectivas da exploração das novas fontes de energia, além de uma atitude, dos bancos oficiais, de garimpar as inúmeras chances de investimentos públicos e privados na região, isto propiciará, com certeza, um notável ciclo virtuoso de expansão da sua economia.