O QUE ESTÁ HAVENDO?
De repente, mais que de repente, sem que houvesse nenhuma explicação, protestos pipocam Brasil afora! As manifestação recrudescem e se espalham por todo o País. Nada orquestrado nem a serviço de qualquer partido, ideologia ou interesse, pois ninguém assume a liderança de tais movimentos. E, aqueles que são ouvidos, informam que não são ligados a nada e nem a ninguém e que querem distância de partidos, de autoridades e dos governos!
“Não sei para onde vou, não sei com quem vou, só sei que não vou por aí”, conforme os versos de José Régio, poeta português!
Até agora, os analistas de plantão, os cientistas políticos, os antropólogos e outros pseudo entendidos em manifestações populares, ainda não conseguiram estabelecer a causa os as causas de tanta mobilização. No princípio, falava-se que o aumento das passagens havia sido a gota d’água. Nem mesmo o protesto contra a péssima qualidade dos serviços de transportes públicos das grandes cidades, conseguiriam estabelecer a redução das causas de tal explosão de indignação.
Tais movimentos talvez se insiram na linha daquelas manifestações como as ocorridas na Europa — na Grécia, na Espanha, em Portugal e, até na França — contra as medidas de austeridade que geraram o desemprego, a perda de renda e a redução dos benefícios sociais garantidos pelo estado.
Ou, algo como o que aconteceu com a chamada Primavera Árabe. Ou ainda, com o movimento “Occupy Wall Street” que representou, na terra do Tio Sam, um amplo protesto contra a ganânica financeira, a corrupção e a desigualdade social.
Aqui, a coisa passa pela revolta contra a política econômica que não consegue conter a inflação e fazer a economia crescer. Contra os gastos públicos feitos com os próprios investimentos nos estádios de futebol onde a ineficiência e a corrupção ficaram patentes e a população se rebelou pelo fato de que os investimentos destinados à segurança, à saúde pública, ao transporte de massa, foram, como que, esquecidos!
É uma reação diante da leviandade, da irresponsabilidade e da incompetência da classe política — “eles não nos representam…”, conforme manifestação da maioria dos jovens.
É o povo demonstrando, à saciedade, que, esgotou a sua paciência e chama a atenção de que não dispõe de canais de interlocução e canais para expressar as suas insatifações e frustrações com o status quo e, via a mobilização permitida pelas redes sociais, estabelece a chamada Ágora moderna.
Aliás, Norberto Bobbio já antecipava há trinta anos atrás que, diante das limitações da democracia representativa e da precariedade dos mecanismos e instrumentos da democracia direta — o referendum e o plebiscito — a única maneira de o povo se manifestar sem ser instrumentado e nem usado por grupos políticos e ideológicos, seria através da internet.
Esse portentoso instrumento é capaz de mobilizar tantos em tão pouco tempo, de forma pacífica, para dizer que chegou a hora de um basta nos desmandos, no desrespeito aos seus direitos, na incapacidade de gestão da coisa pública por parte dos governos e, mais ainda, da incompetência das elites para auscultá-lo e, segundo as suas expectativas, de se conduzir segundo as suas prioridades e interesses.
Desde a Primavera Árabe, o povo passou a dizer que está aí e é dono do pedaço e, insiste em reforçar a idéia de que os canais tradicionais de manifestação de suas insatisfações estão entupidos e incapazes de ouví-los e de levá-los a sério!
O problema que se coloca é, onde isso vai e quando vai parar? O que as elites apresentarão de idéia criativa ou idéias criativas para reduzir a desconfiança, a descrença e a desesperança desses que não são filhos do bolsa-família, nem do PT, nem dos tucanos, nem da direita e nem da anarquia?
Não são, também, filhos do vandalismo e, são, a bem da verdade, jovens de todas as origens, de todas as classes e de todos os segmentos, que não suportam mais esse universo em desencanto que é o País que eles tem a convicção que lhes pertence e que as suas atuais lideranças estão desperdiçando oportunidades e sacando contra o seu futuro!
Será que, num enorme e urgente “tour de force”, um esforço dramático e urgente, por cima de todas as prioridades, buscando resolver os problemas de transporte de massa nas grandes cidades, serviria para amenizar o problema? Será que, um mutirão na área da saúde pública, permitiria fazer o povo entender que o governo o está respeitando? O que será que permitiria recriar esperança consequente?
O cenarista acerta em cheio na análise, pois, afinal, quem são essas pessoas que simultaneamente, em diversos locais (até em cidades de menor porte), se mobilizam e desnudam perante o mundo as nossas mazelas? Se não são da “turma” do governo (PT, bolsas diversas, etc.) e nem da silenciosa classe média, quem diabos serão? Quem comanda? Parece que a era caórdica preconizada por Dee Hock finalmente chega as ruas e a sociedade brasileira demonstra mais uma vez uma incontrolável disposição para evolução e mudança. A consequência é a classe dominante sendo dominada por um ridiculo medo do futuro.