ERA O QUE SE ESPERAVA!
Há alguns dias, este scenarium, avaliando as reações da Presidente Dilma às manifestações das ruas, afirmava que o Executivo, naturalmente, tenderia a buscar transferir a responsabilidade e, consequentemente, os ônus das queixas das ruas, para os demais poderes da República.
Só que, os estrategistas de plantão do Planalto, não foram capazes de aprofundar a análise e interpretação do clamor dos manifestantes e, numa simplificação rasteira, não apenas ficaram na infrutífera busca de um interloculor para negociar (não se sabe o que!), como tentaram avaliar tais atitudes de determinados segmentos da sociedade, de maneira pobre e de um primarismo impressionante. Foi uma redução sociológica e antropológica de uma precariedade e de uma pobreza marcantes!
E, no afã de retirar o peso das cobranças dos ombros de Dilma, mesmo quando as pesquisas demonstraram, à saciedade que, a responsabilidade cabia ao
Executivo, montou uma estratégia para transferir, à Geni dos poderes — no caso, o Congresso Nacional — a responsabilidade de buscar atender aos anseios da frustrada classe média nacional.
Só que esqueceram de avaliar uma questão que tem esse cenarista insistido em colocar no sentido de identificar, para o povo de um modo geral, que, para os brasileiros, o único poder que se pode cobrar alguma coisa, seria o Executivo. Isto por um tradição histórico-cultural, pela montagem de um estado quase unitário e, no hábito que cultivam os nacionais de, sempre diante de problemas e dificuldades, perguntarem o “que o governo vai fazer por nós”?
Isto é fruto da toda uma formação do país de caráter quase monárquico onde o aprendizado da cidadania ainda é precário, limitado e tem muitos espaços para crescer.
Agora mesmo, após a propostas dos cinco pactos, anunciadas, no fim de semana, pela Presidente, ontem, como prometido, o Palácio do Planalto apresentou os temas a serem abordados pelo plebiscito proposto pela Primeira Mandatária da Nação, mesmo que tal idéia parece que não irá prosperar e nem vingar no Legislativo.
A divulgação da visão idealizada do que seria a reforma política a ser apreciada pela populacão, demonstra que o Executivo está mandando uma mensagem ao povo de que, ele concebeu a melhor idéia de reforma política para que o Congresso, a quem cabe votar a matéria, tenha noção de que se ele não agir de acordo com que sonha a sociedade, deverá ocorrer uma violenta pressão de grupos organizados sobre os referidos parlamentares. Ou seja, o Executivo além de não mostrar uma atitude proativa, construtiva e geradora de esperança consequente na população, ainda prejudica ao próprio estado quando busca criar uma perigosa área de atrito com o Legislativo.
Os congressistas vão querer resguardar conquistas, privilégios e pseudo-direitos que levam à exclusão da participação do povo no processo eletivo, segundo o Palácio! E, isto, levará, ainda segundo os sábios palacianos, a uma espécie de revolução da cidadania com uma manifestação, sem igual, das ruas, contra os congressistas!
Mas, o Congresso, que de bobo só tem a cara e o jeitão, resolveu dar o troco, informando ao distinto público que vai aprovar a sua reforma, em função do que já tem em tramitação, para ganhar tempo e, levá-la a referendum popular, esvaziando, assim, toda a idéia de plebiscito de Dilma.
E tem mais. Os partidos, cada qual na defesa dos seus espaços junto ao eleitorado, já estão montando as suas agendas sobre o que reformular no Executivo, passando pela redução de ministérios, diminuição de cargos de assessoramento superior, aprovação do orçamento mandatório, estabelecimento da política de déficit nominal zero, discriminzalização das drogas, entre outras propostas, para colocar o Executivo na parede. Sem contar a atitude que deverá tomar em relação aos vetos presidenciais que, com certeza, não acolherá, nenhum sequer!
Por outro lado, numa tentativa dos líderes do Senado de serem agradáveis a Presidente, os mesmos promoveram uma alteração na proposta de utilização dos royalties do petróleo, recentemente aprovada na Câmara. A mudança não agrada em nada os parlamentares da Câmara o que, certamente, no confronto entre Senado e Câmara, com certeza, nesse caso, o Senado deverá levar a pior.
Na verdade o Congresso está reagindo mais rápido que o Executivo diante do clamor das ruas pois algumas matérias de questionamento popular, já foram aprovadas ou rejeitadas — PEC 37 e PEC 30; cura gay; royalties do petróleo, regras do FPE, corrupção caracterizada como crime hediondo, etc — demonstrando que o Parlamento, quando ouve a voz das ruas, não confronta as suas pretensões e age, segundo princípios que, embora respeitando o estado de direito democrático, buscam atender ao que o povo quer.
Ao demonstrar melhor tempo de reação, o Congresso deixa para trás os outros dois poderes que amarrados – imobilizados pela dificuldade em lidar com situações negociais de grande complexidade ou pelo comprometimento que o sistema de indicações feitas pelo Executivo que conquistou a reeleição e com isso poderá, nos próximos anos, fazer a totalidade dos membros da Corte Suprema – não conseguem dar as respostas que lhes são exigidas. A análise do cenarista nos convida a refletir que uma coisa são os políticos e que outra, ainda, é o Congresso Nacional.