ESPERTEZA, HIPOCRISIA E IMPUNIDADE!

Qual seria o maior mal de que padece o Brasil? Segundo o grande Capistrano de Abreu, talvez o maior historiador brasileiro — ou seria Gustavo Barroso? Não faz diferença! Ambos são cearenses como o cenarista! — ele dizia que a Constituição Brasileira só precisaria ter um único artigo: Todo brasileiro tem que ter vergonha na cara!

Embora represente uma redução simplista e uma generalização perigosa para os males que afligem o Brasil, nessa antevéspera de Carnaval, folia e busca de esquecimento das mágoas, para alguns e, momento de retiro e reflexão para outros, o que se passa no País requer que se desfie um rosário de queixas quanto a série de problemas e dramas que vive o cidadão brasileiro.

No entanto, parece que algumas características que hoje marcam a atitude e o comportamento de segmentos da sociedade, refletem parte fundamental dos problemas vividos e experimentados pelos cidadãos brasileiros. Não se pode dizer que o Brasil é um país de macunaímas mas que, de uma certa forma, certos vícios quase se generalizam por toda a sociedade.

Talvez, na gradação de mais para menos grave, a questão da impunidade seria o detentor do troféu do mais sério problema vivido pelo País.

E a impunidade se manifesta em quase todos os campos de atuação da vida e, de maneira mais agressiva e dramática, no capítulo relativo aos crimes contra a vida, contra a segurança, contra o ir e vir das pessoas e contra as chamadas minorias.

E aí se busca a razão porque tal impunidade está tão presente na cena nacional. Existem várias razões e explicações para que grasse tal mal Brasil afora, às vezes, perpassando todos os segmentos e classes sociais.

Na verdade, quando se constata, por exemplo, que, para apenas de 3 a 5% dos crimes de homicídio, latrocínio, entre outros, praticados no país, são instaurados os processos criminais, isto leva a bandidagem concluir que a probabilidade de ir para cadeia, vai a limites ou percentagens ínfimas. E diante de tal “terra de ninguém” em que se transformou o Brasil, aí então descobrem os mesmos meliantes que o crime compensa!

E mais, conhecendo o direito processual brasileiro e as possibilidades de recursos, embargos, agravos, chicanas, etc, além da lerdeza e preconceitos que dominam a justiça brasileira, a bandidagem ao concluir que, em muitas circunstâncias, polícia, justiça e criminosos estão em conluio, aí se constata porque o crime só faz aumentar e prosperar.

Quando um cidadão mata no trânsito, com requintes, muitas vezes, de crueldade e perversidade, e, a probabilidade de ir para a cadeia, é relativamente remota, então tem-se certeza de que, mais uma vez, a violência prospera porque o crime compensa!

As agressões, por motivo vil e torpe, como aconteceram em Brasilia, onde um brutamontes resolveu agredir duas moças, provavelmente fruto de um comportamento homofóbico; ou ainda, quando dois marombados resolveram, porque um professor de educação física foi reclamar que eles estavam urinando em lugar público e em frente a cidadãos indefesos, o agrediram a ponto de o mestre estar na UTI e com um lado paralizado; quando, por razões preconceituosas, a polícia prende um negro, ator e trabalhador, diante da infundada suspeita de que o mesmo lhe havia roubado uma bolsa e, nada, ou praticamente nada, ocorre com tais criminosos, aí se conclui que, se não fora a impunidade, ninguém agiria leviana, irresponsável e violentamente como tais pessoas agiram.

Mais, tudo isto ocorre porque os exemplos que vem de cima, ou seja, das chamadas elites, são os piores possíveis. Agora mesmo, a suspensão do crime de formação de quadrilha por parte dos mensaleiros, diante de sentença já proferida pelo STF, não importa se houve ou não houve desconsideração de certas tecnicalidades ou preciosismos jurídicos no julgamento anterior; quando políticos que malversaram dinheiros públicos, a grande maioria, continuam impunes; quando agentes públicos provocam prejuízos monumentais ao Erário por desvios de conduta ou gritante incmpetência ou omissão; quando se constata que as obras da Copa não estarão prontas no prazo exigido e necessário e que sairão a valores, pelo menos, o dobro do que foram projetados. Isto porque não tinham projetos executivos quando foram licitados, parecendo que houve conluio entre agentes de governo e empreiteiros para que isto ocorresse e os reajustes de valores não levantassem tantas suspeições, tudo isto põe a nu todo esse processo quase endêmico de impunidade!

Os exemplos de impunidade são tantos que não dá para listá-los nessa análise. O fato singular é que, se se junta à impunidade, o estímulo especial que se confere a esperteza, a lei da vantagem e a idéia de que “o roubo mas faz” é melhor do que o “o honesto mas incompetente”, aí a subversão dos valores leva a atitudes de desfaçatez do tipo “eu não sou eu” ou, isto “faz parte do jogo político” quando até um ex-presidente considerava que “caixa dois” era “coisa normal, pois todos os políticos e partidos assim agiam.

Diante disso o que se observa é a esperteza se sobrepondo a ética; a hipocrisia e a desfaçatez de justificar o crime com o mantra “de que todos fazem assim”; a disseminação das pequenas contravenções — sonegar impostos, subornar o guarda, convencer ao profissional de que “sem nota” é mais vantajoso para todos, são pecadilhos! Mas eles fazem esse caldo de cultura que subverte valores, compromete a ética e gera um clima de desencanto e de frustração para aqueles que acreditam em preceitos, virtudes e valores morais.

Se se junta a isto, um estado superdimensionado, grande e obeso, criando um processo de dependência de todos e de tudo do estado, então cria-se uma situação de verdadeiro caos. Notadamente se o estado é centralizado onde, então, estados e municípios dependem da União e, os parlamentares que, de forma direta, dependem dos seus prefeitos ou que são ligados aos governadores de seus estados, ficam manietados e sem liberdade de exercer o mandato com dignidade e compromisso. Todos são dependentes da Viúva o que, com certeza, distorce valores e gera um estado quase autoritário no que diz respeito ao que podem fazer agentes econômicos, agentes políticos e cidadãos como um todo diante de um estado que pode tudo e faz tudo como quer e do jeito que quer.

Esse é o quadro que merece reflexão crítica e, com certeza, deveria merecer repúdio da maioria e poderia gerar uma cruzada destinada a moralização de costumes políticos e reestabelecendo uma nova ética de compromisso e de responsabilidade para uma nação que tem tudo para dar certo mas, a continuar assim, não será mais sequer um “imenso Portugal” mais sim uma “triste e desencantada” Argentina!

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