IMPUNIDADE, ATÉ QUANDO?
Este cenarista sempre se mostrou um otimista incorrigível. Sempre proclamava, aos quatro ventos, que se sentia “como um noivo, um otimista, sempre”! Não sei foi o tempo, esse impiedoso carrasco que nos leva tudo, inclusive a ingenuidade, os sonhos e as esperanças, além de nos agredir com a dura realidade dos desencontros, das frustrações e dos desacertos do dia a dia, talvez seja responsável por essa mudança de humor.
Confessa o cenarista que, vez por outra, tenta buscar réstias de esperança sobre o futuro da pátria amada mas, lamentavelmente, nada leva a que ele se convença de que o amanhã será menos duro e penoso que o quadro que hoje se experimenta no Brasil. Mas, o mais ridículo é que um homem que já chega ao “crepúsculo outonal de sua carreira artística” ainda viva o entusiasmo, a alegria e o sonho de que é possível a construção da pátria que muitos já a esqueceram.
Numa reflexão que entristece o cenarista, era esperado que países ou cidades detentoras de renda elevada observasse uma redução substancial da criminalidade, da violência e da falta de ética e respeito a valores morais. Aparentemente a premissa parece ser verdadeira, qual seja, que comunidades de renda elevada, tendam a crescer ética e moralmente e com menos violenta.
Mas, Brasilia, a capital da esperança, a cidade planejada, o centro do poder, mostra que a tese é totalmente negada! Os absurdos aqui acontecem e aqui se praticam, nas barbas do centro do poder.
Agora mesmo um jovem mata a ex-namorada de 14 anos, com requintes de crueldade, exibe as cenas da brutalidade pela internet e, cinicamente afirma que, o crime foi cometido dois dias antes dele atingir 18 anos, ou seja, a maioridade penal! Cínico, imoral e um praticante de um crime premeditado!
Um outro, aos dezesseis anos, sem nenhuma razão ou reação da vítima, assassina um Brigadeiro reformado, em frente a sua casa e, tranquilamente, ainda repete o que ouviu do seu advogado de que ele é inimputável. Um jovem engenheiro, de 34 anos, ao chegar em casa, é abordado por três menores que, sem mais nem menos, temerosos diante de uma possível reação do jovem engenheiro, assassinam-no, em frente a sua família! Isto é Brasilia que ora assume uma posição privilegiada no “ranking” das cidades mais perigosas do Brasil! Com a maior renda per capita do País e o melhor índice de escolaridade, a cidade, estimulada pela impunidade que blinda as elites, navega na irresponsabilidade geral e irrestrita! Vejam só!
O que leva a tal situação? Toda a tese de que “an economic deprivation”, a falta de acesso à escola, a falta de família que acolha tais deliquentes, são as causas maiores de tal situação de terror, notadamente de crimes cometidos por menores. Mas, será que é isto? Será que, adicionalmente, é a necessária, para alguns, revisão, da maioridade penal no Estatuto da Criança e do Adolescente? Não. Parece não serem essas as causas dessa escalada de violência.
Aqui, humildemente, o cenarista acha, de maneira muito simplista, que a causa de tudo isto, seja, de um lado, a impunidade e de outro, a ausência do Estado. Sem uma presença forte, organizada, integrada e estruturada do poder público com a contribuição da sociedade civil será difícil reduzir a violência, reocupar os espaços públicos e reestabelecer o ir e vir dos cidadãos nas áreas que lhe pertencem.
Em São Paulo, por exemplo, a violência, o número de crimes de toda ordem e, os próprios atos de vandalismos são relativamente reduzidos levando-se em conta o tamanho e a população da Grande São Paulo. Alí o policiamento ostensivo e melhor organizado e estruturado, a “inteligentzia” no apoio ao combate ao crime e a busca de desmantelamento dos esquemas articulados pelos líderes do PCO e do PCC, onde os mesmo comandam a criminalidade de dentro dos presídios, já vem surtindo algum efeito. Claro que falta muito por fazer mas, proporcionalmente, a área metropolitana de São Paulo, com seus mais de 24 milhões de pessoas, apresenta índices bem menores que Vitória ou a grande vitóoria, por exemplo!
O Rio de Janeiro, embora os bandidos estejam tentando intimidar as polícias — só neste mês mataram 11 policiais, inclusive o comandante de uma UPP! — o modelo de ação dessa ocupação das favelas, se complementado por ações do poder publico, para garantir efetivo acesso a alguns bens culturais essenciais aos seus moradores, é dos mais exitosos. Se no Rio se aumentar o policiamento ostensivo, estruturar a “inteligentzia” da polícia civil e aumentar o efetivo, de uma forma organizada como quer o Secretário de Segurança Beltrame, então a experiência será exitosa.
Por enquanto o que há, nessa questão da violência, não é nenhuma ação compreensiva, organizada, articulada e integrada, é apenas um jogo de culpas — a União culpa os estados e municípios pela escalada de violência –; a justiça é discriminatória, injusta e protetora dos bem aquinhoados — e o governo continua adotando medidas tópicas que não vão ao cerne do problema.
A seguir, para não se tornar deveras longo, o cenarista deixa para outra oportunidade os comentários adicionais sobre o que, como e o ideal e o possível a fazer para esse quadro sofra uma reversão!
Mas, para Brasilia, é difícil ter alguma expectativa otimista, depois das decisões do STF sobre os mensaleiros, o prejuízo que os consumidores irão pagar pela crise do setor energético — 35 bilhões — e, por último, a definição do acordo para a sucessão no DF, o que levanta os cabelos do mais esperto e pragmático peemedebista que tenha o oportunismo como marca maior de sua atuação!
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!