PECADOS CAPITAIS: EDIÇÃO REVISTA E AMPLIADA!
Uma vez, não faz muito tempo, o cenarista dedicou parte de seu tempo, buscando refletir sobre os problemas mais graves que enfrentava a sociedade brasileira. Fugia das discussões relacionadas as questões materiais específicas, vinculadas aos problemas econômicos e sociais ou as questões institucionais. Buscava, tão sòmente, entender aquelas questões derivadas ou fruto do comportamento dos cidadãos brasileiros e de práticas de valores, embora questionáveis mas já bastante arraigados. Aliás valores que, em síntese, presumia-se, prejudicariam a prevalencia de princípios e comportamentos esperados e idealizados, do ponto de vista ético e moral, para uma sociedade, que se pretendesse detentora de valores mínimos de convivência universal.
A partir de tal reflexão procurou o cenarista explorar tais caracteristicas dos brasileiros como um todo. Então decidiu listar, sem ordem de preferencia ou prioridade, o que ele chamava de os sete pecados capitais dos brasileiros e do Brasil. Cria o cenarista que, para a maioria das pessoas, esses são pecados que, na verdade, limitam, maculam e prejudicam uma convivência mais civilizada entre os brasileiros.
O primeiro deles seria, certamente, a corrupção que, pelo que se tem assistido em todo o país, tornou-se endêmica, atingindo todos os segmentos da vida nacional e virou prática usual, em todos os níveis de governo e, até nas relações interpessoais. Adicionalmente, a dimensão ficou mais grave e séria porquanto no passado, os valores não ultrapassavam a casa do milhão quando hoje, além de ser operada em dólares ou euros, já encontrou a casa do bilhão, como é o caso dos esquemas envolvendo a Petrobras. Ademais, mudaram, de maneira significativa os percentuais — “10% é coisa para garçom. Eu quero é 20%! –. Assim, a própria corrupção que ocorre alhures, na Rússia, em Angola ou no Banco do Vaticano parece ser café pequeno para o que ocorre nesse Brazilzão de meu Deus.
O segundo grande pecado que marca os costumes brasileiros é a impunidade que se mostra presente em todas as relações entre o estado, o cidadão e a sociedade. Claro é que a impunidade é maior e mais presente, dependendo do status do cidadão e em função de sua dimensão econômico-financeira, política e jurídica. Desde os Anões do Orçamento, ninguém pagou preço algum pelos desvios de comportamento e de recursos ali ocorridos. Talvez só o assessor, até hoje amarga as punições que os rigores da lei a ele impuseram. Assim a impunidade virou instituição e garante e respalda os mais diversos tipos de crimes, de delitos e de desvios de conduta.
O terceiro pecado é o da irresponsabilidade que hoje é ampla, geral e irrestrita e, de um certo modo, está quase universalizada. Os crimes de transito, os erros dos gestores públicos, a incompetência em lidar com questões medico-hospitalares, entre outros, mostram quão a irresponsabilidade permeia as ações do estado em todos os seus níveis e dimensões. Por outro lado, um gestor publico, do alto de sua arrogância, exara pareceres, baixa resoluções, propõe medidas e providencias que, sem medir as conseqüências, promovem prejuízos os mais diversos a um ou vários grupos sociais sem que, verificado o equivoco, o cidadão seja penalizado e responsabilizado pelo mal feito. Se isso não bastasse, ao confundir o publico com o privado, a hierarquização de prioridades nos gastos públicos não respeita as preferencias e manifestações populares.
Por outro lado, o conluio entre advogados e membros dos tribunais superiores, como denunciado pelo proprio Presidente do Supremo; entre empreiteiras e governo; entre administradores de agencias reguladoras e entes privados objeto de seu papel institucional; ausência de qualquer laivo de compromisso com a ética das convições e da responsabilidade por parte de políticos, gestores públicos e da própria mídia, denunciam esse tipo de atitude que hoje domina a sociedade como um todo.
Se esses já são problemas muito graves para uma sociedade, some-se a isso a incompetencia. Essa é gritante e alarmante! Como dizia o velho Eça de Queiroz, se não falha a memória do cenarista, no seu livro o Conde D’Abranhos que, “nunca vira uma sociedade falir por falta de estadista mas sim pela falta de um competente e responsável amanuense datilógrafo”. Ou seja, uma nação se perde pela falta de quadros profissionalizados e devidamente preparados para o exercício de suas atribuições e competencias, nos níveis básicos e intermediários. Alguns confundem o excesso de estado, de tramites burocráticos, de orgaos de fiscalização e controle e de instancias decisórias como se fora a base de uma operação eficiente da máquina do estado. Mas, no fundo, são esses agentes complicadores que são os responsáveis pela incompetência ululante que toma conta do país.
Algumas pessoas atribuem “a burrice”, essa doença incurável, o despreparo dos quadros da maquina governamental. Tais quadros, muitas vezes travestidos de um falso e presumido preparo, expertise ou uma pseudo experiencia técnica , manifestam toda a incompetência que domina a sociedade brasileira, particularmente os detentores de poder da força ou do carimbo. Próceres, gestores e líderes de orgãos públicos costumam brandir certos argumentos que, na verdade, não são mais que “besteiras em tom solene”, naquela arrogância que só os tolos e despreparados costumam exibir. E, é bom que se diga que a ignorância e a incompetência não se cingem apenas aos sindicalistas que hoje aparelham o estado brasileiro mas, por incrível que pareça, tal despreparo domina o comportamento, atitude e o discurso de certas figuras centrais da República.
Se tais pecados são mortais, alie-se a eles, aí já representa, claramente, uma verdadeira disfunção de caráter, um espécie de um cinismo despudorado que acoberta, aceita e admite contravenções de toda ordem,que são admitidas como pecadilhos perdoáveis e aceitáveis. Desde o justificar o “rouba mas faz” até o “levar vantagem em tudo”, passando pela própria conivência de autoridades como um ex-presidente da República que justificou a prática do chamado ” Caixa Dois” , dizendo que era prática irrestrita de todos os partidos e de todos os políticos e, portanto, não deveria ser arguida como crime. Nos dias que correm, roubar e não fazer ou quando algo é feito e feito de maneira mal feita, é o que gera indignação! E, por outro lado, mente-se num descaramento sem igual como foram as manifestacoes recentes, inclusive do Planalto, sobre a crise do setor energético e sobre os escândalos da Petrobras, bem como as mentiras do Deputado André Vargas, como assim a revista Veja qualificou as suas explicações.
Hã algo que também clama aos céus que é a leviandade que marca a atitude de políticos, de empresários, da mídia e do próprio Ministério Público e, muitas vezes, de autoridades governamentais que assacam acusações contra a reputação de alguém muitas vezes apoiadas em meras matérias da mídia e, sem considerar que, maculada a honra de alguém, nem o tempo, será capaz de resgatá-la. E, como se sabe, ninguém paga pelo preço da desonra de um cidadão. E, nem sequer desculpas públicas que, de uma certa forma, de nada servem mas, pelo menos, revelariam um mínimo de satisfação a ser prestada e oferecida a parte ofendida, são apresentadas por aqueles que a ou as acusaram indevida e maleovolamente.
Finalmente, a ausência de uma ética de compromisso, de responsabilidade e de um mínimo de espirito publico, marcam o comportamento das elites, de um modo geral. Na verdade, ninguém se importa com nada e nem com ninguém. Ninguém se coloca no papel de cidadão, com suas responsabilidades, direitos e obrigações. Ninguém se sente responsável pela sociedade, pelo seu hoje e pelo seu amanhã. Acaba prevalecendo a lógica de “Mateus, primeiro os teus” ou o principio “do levar vantagem em tudo” ou o chamado princípio de que “se todos fazem, besta quem não fizer, também”.
E ai se tem uma nação à deriva, caminhando para o desmonte das instituições, onde a prevalencia da esperteza e do oportunismo marcam a atitude da maioria e, quando as coisas apertam e a crise aumenta, todos correm em uma busca desesperançada por um Sassá Mutema ou um Salvador da Pátria, o que pode, perigosamente, levar o Brasil a se tornar uma imensa Argentina, em busca de sua Evita.
Lamentàvelmente é este o quadro com que se defronta o Brasil onde o ánimo para continuar tendo esperança está se esgotando. E, infelizmente, a Oposicao não apresenta idéias e perspectivas de que algo possa acontecer e mudar esse estado de coisas.
PS: O STF agregou mais um pecado capital à listagem. É o da não toleráncia contra o crime, qualquer que seja a sua dimensão, a sua gravidade, se afronta ou não a sociedade e se representa algo irrelevante. Ao julgar um ladrão de galinhas que, como atenuante devolveu, ao dono, as duas penosas roubadas, o Ministro Luiz Fux decidiu que não deveria considerar o chamado principio da insignificância, como algo de maior relevância para a justica do Pais. E o Supremo atulhado de problemas gravíssimos se detém, agora sobre este e outros temas irrelevantes, deixando as grandes questões para quando Deus der bom tempo.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!