APRENDENDO COM OS OUTROS!
O México vive uma situação extremamente delicada porquanto embora comece a ser mudada, a violência ali imperante e, marcada por uma brutalidade sem igual, ocorria e, ainda ocorre, através de chacinas, de extermínio de grupos e de crimes por encomenda. Lá, a guerra do tráfico, notadamente por ser um entreposto de drogas de um dos maiores mercados do mundo, os EUA, assumiu proporções tamanhas, não apenas em Juarez, mas por vários outros estados, que se transformou em calamidade nacional.
Claro que lá, como sói ocorrer no Brasil, o mercado da droga, além de movimentar valores quase inimagináveis, envolve uma teia de interesses e de partícipes que atinge consumidores de alto nível de renda, autoridades constituídas — políticos, juízes, autoridades policiais, membros do governo, imprensa — o que gera uma enorme dificuldade para uma ação policial eficaz!
Mas, apesar da complexidade da matéria e da busca da estratégia mais adequada de enfrentar o desafio, o governo mexicano resolveu atacar o problema com soluções bastante objetivas e, claro, contando com una substancial ajuda americana na área de inteligentsia, do controle da chamada fronteira porosa que separa México dos EUA, além, é claro, de uma parcela substancial de recursos.
Pelo que se tem notícia, foi elaborado um bem estruturado planejamento estratégico da ação, não apenas separando a questão dos coiotes, bem como uma distinção bastante nítida no tratamento de usuários e traficantes, não criminalizando os primeiros e garantindo-lhes apoio, assistência e o indispensável tratamento e acompanhamento.
Por outro lado, estabeleceu-se uma ação de curto prazo, utilizando-se das Forças Armadas, dados o grande comprometimento das polícias com o tráfico de um lado e, de outro, a maior credibilidade dos militares por serem menos corruptíveis, mais disciplinados e com maior autoestima. Também, pesou na utilização das Forças Armadas, a capacidade de fazer uso de uma base de informações, de dados e de uma Inteligentzia de guerra para, numa ação compreensiva e rápida, retomar os espaços públicos tomados pelos traficantes. Ademais, pelo fato de ganharem melhor, terem casa, bons colégios, melhor orientação, entre outras diferenças, ajudaria a um envolvimento maior na verdadeira guerra que se seria travada. O primeiro momento seria um tratamento de choque, desorganizando o crime, desestruturando as suas bases e reocupando os espaços públicos.
Essa atitude do governo mexicano, começa a apresentar resultados na redução da escalada da violência. No planejamento estabelecido, após o tratamento de choque com o uso das Forças Armadas, passou-se a etapa seguinte que seria o processo de seleção dos novos policiais, examinando-se o seu passado, antecedentes, formação, etc. e sendo extremamente rigoroso ao excluir os que tinham tido histórias de envolvimento com corrupção, milícias, crime organizado, etc.
Também, para a criação dessas verdadeiras tropas de elite, além dessa seleção rigorosa, estabeleceu-se que deveria se pagar um auxilio de insalubridade — diferencial de salários — seguro de vida, casa própria, colégio de boa qualidade, financiamento de veículo, entre outros “fringe benefits”. E a idéia é que, com o tempo, dependendo dos resultados alcançados, tais benefícios seriam estendidos para toda a polícia.
No caso, como ocorre com a idéia das UPPs do Rio, elas só tenderão a estabelecer resultados definitivos e promissores, na proporção em que muitos serviços sociais fundamentais, inclusive nas áreas de segurança, saneamento ambiental, mobilidade urbana, educação, saúde, entre outros, deixarem de serem providos pelo crime organizado!
O estabelecimento de bases concretas para o exercício livre e soberano da cidadania passa pelo reestabelecimento da confiança e do respeito da população pelas autoridades e instituições e pela devolução dos espaços públicos aos cidadãos. Ou seja, os recentes ataques do crime organizado, inclusive mobilizando a própria comunidade para colocar-se contra a própria polícia é fruto, não apenas da desinformação mas também porque os serviços públicos essenciais ainda não estão sendo providos pelo poder público, a confiança da população nos órgãos repressores ainda é muito limitada e, as perspectivas de uma vida mais tranquila e melhor organizada, ainda não são visíveis pela população.
Claro que numa visão compreensiva do processo, na proporção em que se afastar da cabeça das pessoas a idéia de que a impunidade é flagrante e afeta mais aos que podem menos; que os presídios forem cursos de doutorado em criminalidade; que as casas de correição de menores forem cursos de formação de delinquentes; e que não se instaurarem processos de investigação criminal para a maioria dos crimes; bem como, continuar o País sem que se implante o registro único de identidade e sem que haja a integração de bancos de dados de informações penais, de roubo de cargas, de crimes contra a vida e o patrimônio, será difícil o combate efetivo ao caos que se estabeleceu.
Por outro lado, é crucial que se acabe com policiais em atividades burocráticas ou fazendo segurança de autoridades, bem como venha a se prover treinamento e qualificação para que os integrantes dessa importante atividade entendam que hoje devem se portar como uma polícia cidadã, gerando confiança e se integrando ao espirito e aos sonhos das comunidades onde servem.
O certo é que é preciso começar com alguma ação e não ficar dando explicações por que não se fez ou estabelecendo o jogo de culpas entre os níveis de governo além de justificar a impossibilidade de que é impossível organizar uma ação articulada entre os três níveis da Federação. Fica até ridicula tal afirmativa na proporção em que no Brasil, como é deveras sabido e notório, a Federação é uma farsa, a autonomia municipal é uma ficção e, todo o poder, os recursos, os meios, estão concentrados nas mãos do Poder Central.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!