DILMA E O PT, ATRAVESSAM O RUBICÃO?

 

 

Caio Júlio César, o grande imperador romano, antes de conquistar tal posto, diante das vitórias alcançadas comandando os exércitos romanos, notadamente na Gália, decidiu, descumprindo uma determinação do Senado Romano, atravessar o rio Rubicon, na quase fronteira dos limites de Roma e, com seus exércitos, adentrar a cidade eterna, como depois seria Roma, aclamada. Em outras circunstancias, qualquer outro líder ou político não teria ousado pois, dominado pelas forças do Senado,  seria severamente punido, presumidamente com a morte, por haver descumprido a drástica determinação dos senadores. Mas, ele não. Entrou, ficou e se tornou Imperador dos romanos, contra o pensamento e o sentimento do Senado. O “veni, vidi e vici”, marcou a sua entrada gloriosa, com seus exércitos, em Roma.

Assim, o atravessar o Rubicão passou a ser, historicamente, uma simbologia do vencer o maior dos desafios e, contra tudo e, as vezes, contra todos, vencer o os obstáculos, ás vezes, intransponíveis.

Dilma e o PT encontram-se em seu labirinto! As dificuldades são crescentes e, a confiança da população a cada dia, se esvai. Parece que vai ser muito complicado atravessar o Rubicão sem ônus excepcionalmente pesado. E, para tanto, cresce o desespero dos petistas diante da possibilidade de perda dos 25 mil cargos comissionados só na União e de todos os efeitos da presença no poder  que esses doze anos garantiram à militancia  ou aos amigos sindicalistas.

E, são muitas as razões dessa grande possibilidade do projeto de poder dos petistas acabar agora. Há quem ache que, talvez, a trégua que já começa a ser dada pela Copa, aliás com prejuizos maiores à economia, ajude a reduzir as impiedosas críticas que tem surgido nas redes sociais e na mídia aos descaminhos e desencontros da gestão publica no país.

O anúncio de um crescimento pífio da economia no trimestre — 0,2% — e a possibilidade de uma expansão negativa no próximo  trimestre, levam a perspectiva de um crescimento econômico que ficará no entorno de 1%. Isto porque o modelo de crescimento apoiado no consumo das famílias, no crédito fácil e, até bem pouco, numa inflação que não afetava tão duramente o orçamento das familias da chamada classe média que emergiu nos ultimos dez anos, esgotou-se. Também, a capacidade de endividamento das pessoas diminuiu e o número de pessoas buscando emprego, reduziu-se!

Por outro lado, enquanto o mundo, notadamente os países europeus e os Estados Unidos, adotaram medidas amargas para reduzir o impacto da crise gestada em 2008, o Brasil, primeiro para manter a confiança da população na economia e no governo, subestimava os efeitos do problema e, segundo o Presidente da época, Lula, dizia que a crise, para o Brasil, seria uma marolinha. Ademais, interessada em fazer a sua sucessora, o governo petista abandonou os compromissos com os fundamentos da economia, mandou às favas a responsabilidade fiscal e, mergulhou de cabeça, numa gastança sem limites e comprometedora do desempenho futuro do país nos anos que estavam por vir. Os países europeus e os EUA, entraram numa dieta de emagrecimento e em medidas de austeridade quase perversas, elevando o desemprego a níveis quase insustentáveis, para reestabelecer as pré-condições para reconquista da necessária estabilidade fiscal e monetária  e a retomada de um pouco de crescimento sustentável. E, como se verifica, até Portugal, sai, airosamente da crise e já pode sonhar com uma retomada da expansão econômica.

No caso brasileiro, os indicadores mostram erros e mais erros, irresponsabilidades e mais irresponsabilidades, negligências e mais negligências, nao só no trato das finanças públicas, no combate à inflação, na busca de um equilíbrio nas contas externas e na condução da política de investimentos mas, também, na realização de obras públicas essenciais à redução de gargalos na infra-estrutura da economia e na incúria como são tratados problemas crônicos como da educação, da saúde e do saneamento ambiental, da segurança pública e da mobilidade urbana.

Assim, os abusos da incompetencia; os excessos da cultura ou do princípio do “às favas com a ética” ou “tudo se justifica pela causa” — que causa? — a leniência para com a corrupção, tudo isto tem levado a um descrédito dos homens públicos e das instituições além da desconfiança nos rumos da economia e do País.

Intelectuais, políticos, economistas, jornalistas, empresários, estudantes e formadores de opinião, de um modo geral, não são mais tão presentes e frequentes no envolvimento, no aplauso e no ardor que defendiam, outrora, a vitória da classe operária e sua ascensão ao poder. O sonho parece que, diante dos desvios de objetivos e de conduta dos seus dirigentes, acabou.

Se sente que, na sociedade, nos grupos organizados do tecido social e, dentro das vísceras dos poderes constituídos, há uma espécie de cansaço, não só com o aparelhamento dos órgaos de governo e diante das limitações técnico-operacionais dos sindicalistas que ocuparam posições técnicas ou de mando, em profundo desrespeito ao princípio da meritocracia. E o clima, nesses casos, é de insatisfação crescente no interior de tais instituições. E isto já se reflete no que ora ocorreu nos maiores fundos de pensão do Brasil, a PREVI e a FUNCEF, onde, após tantos anos de mando e domínio, os petistas acabaram de perder as eleições para o comando das entidades.

Ademais, as bases de apoiamento politico-partidário da presidente estão se esfacelando em função das disputas e dos interesses das agremiações nos estados. A rivalidade entre parceiros — vide o caso de Paulo Skaff, em São Paulo e do movimento Aezão, no Rio, além de conflitos do PROS no Ceará, mostram a dimensão do imbróglio a ser enfrentado por Dilma e pelo PT.

Finalmente, os ventos que sopram de fora — vide eleições nos vários países europeus e para o próprio Parlamento Europeu, quando os conservadores avançaram, significativamente, no abocanhar de cadeiras nos parlamentos — mostram que há uma tendência, não ao liberalismo dos anos de Reagan ou de Thacher, com visão e práticas contrarias  ao excesso de intervenção ou presença do estado e  numa linha de limitação dos avanços da esquerda!

Mas,  o que  se assiste é o ressurgimento de um conservadorismo que já está virando moda na Europa, que tende a ser menos favorável a europeização dos seus membros e,  mostra-se cada vez menos compreensivo e tolerante para com imigrantes e para com a visão rígida de dogmas de varias religiões estranhas à cultura do Velho Continente. Todo esse novo movimento político europeu, tende a levar, como sempre ocorreu, a que países  repensem os caminhos, as estratégias e as tendências de comportamento do estado no Brasil.

Pelo que se pode depreender, vai ser difícil  para Dilma e os petistas reproduzirem o canto de vitória de  Júlio  César do “veni, vidi et vici” mas, no máximo, o “Alea jacta est” ou “a sorte está lançada” pois serão muitos os obstáculos a serem vencidos, notadamente quando não se tem nada de novo a oferecer e só se tem muito a tentar esplicar ou justificar erros e equívocos cometidos.

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