A ERA DO DESPERDÍCIO!
Os brasileiros têm, entre suas características básicas, não se preocupar, em tempo hábil e oportuno, com questões que lhe poderão vir a causar problemas enormes ou prejuízos, ás vezes, incomensuráveis, num futuro não muito distante. Isto não ocorre apenas com, por exemplo, os chamados gargalos de infra-estrutura, de mão de obra qualificada e de limitações do ambiente institucional ao crescimento continuado, estável e sustentádo de sua economia.
Para que se tenha uma idéia sobre o que se procura demonstrar, só aos poucos o País foi assumindo compromissos com questões fundamentais como a preservação do meio ambiente, a proteção de seu patrimônio histórico-cultural, a contenção dos desmatamentos na Amazonia ou com o respeito aos chamados direitos difusos. Também pouco se preocupava com a qualidade de suas instituições nem com a competência gerencial de seus governos.
Por exemplo, no campo da economia ou do que repercute sobre o seu desempenho, o descaso da sociedade como um todo ainda é enorme. Ninguém discute ou cobra um basta no processo de transferência de ineficiências do setor público para o setor privado. Também tem sido objetivamente pequena, para os brasileiros como um todo, a preocupação com a qualidade da gestão pública, com os estímulos ou desestímulos à inovação e ao aumento da produtividade, notadamente do trabalho, bem como com questões cruciais como aquelas relacionados ao problema dos desperdícios.
O Brasil, além de vários outros problemas e dificuldades, nos dias que correm mergulha, de cabeça, na chamada era do desperdício. Na verdade, desperdício não apenas de dinheiro público mas tambem de meios, recursos e fundos que escorrem pelo ralo, diante de gritantes desperdícios que ocorrem em quase todas as áreas da atividade produtiva.
Agora mesmo, um grande veículo de comunicação nacional, analisava o volume dos desperdícios derivados apenas da violência de toda ordem que domina o País. Nos cálculos ali apresentados, chega-se a enorme e preocupante cifra de cerca de 200 bilhões de dólares só com os gastos derivados ou em conseqüência de mortes violentas.
Cerca de 633.845 pessoas foram indenizadas ou por morte, ou por invalidez permanente ou em função de despesas médicas pagas em decorrência de mortes violentas, segundo levantamento do Correio Brasiliense. Isto sem contar o que se gasta com licenças para tratamento de saúde ou para sanar problemas derivados de acidentes do trabalho. Se isto ocorre só nesse aspecto da vida nacional, em vários segmentos da economia, são comuns e flagrantes os casos de desperdícios que poderiam, com certeza, serem evitados.
Os desperdícios na indústria, segundo dados da CNI e da FIESP apontam para uma perda da ordem de, em alguns casos, até 30% o que, representa cifra muito acima dos padrões aceitáveis em comparações internacionais. Se se examina o que se perde na agricultura, não apenas derivado dos desperdícios na própria lavoura, ainda em decorrência de manejo no campo, os dados já assustam. Se se considera o que ocorre da porteira até os centros de venda dos produtos, bem como em decorrência de falhas na forma de manusear e acondicionar produtos, aí então é que a coisa pega. Aqui ainda não se considera aquela parte que se estraga em função de práticas inadequadas de conservação de produtos perecíveis, após chegar ao consumidor. E, no próprio trato dos produtos pelos consumidores,, as perdas são significativas quando da preparação dos produtos, notadamente dos alimentos. Os dados aqui encontrados demonstram que as perdas apresentam uma dimensão não encontradas em países como os nossos vizinhos Argentina e Chile, por exemplo.
Segundo o mesmo Correio Brasiliense, na agricultura, o prejuízo de 42,6 bilhões de reais, fruto dos impostos embutidos sobre o custo de produção, da falta de infra-estrutura — rodovias, ferrovias, hidrovias e portos — para o escoamento da safra além do déficit de armazenagem a comprometer a produção e os resultados econômicos finais da atividade, ainda parecem subestimados.
Só o transporte de grãos — no caso milho e soja — para os portos de Santos e Paranaguá, em decorrência dos atrasos derivados do congestionamento de mais de 2000 caminhões que se dirigiram a tais locais, ano passado, produziram, ao lado do manejo dos produtos do porto até o navio e o tempo de espera dos navios para atracação, um prejuízo que superou os 2,5 bilhões de dólares e, espera-se, para este ano, que esse valor alcance mais de 4 bilhões de dólares!
Na construção civil, diferentemente de outros países, o Brasil desperdiça até 30% dos materiais e da mão de obra enquanto países como a França os números nunca ultrapassam 12%!
O que tudo isto busca endereçar à reflexão de cidadãos comprometidos com os destinos desse país? A conclusão fundamental é que, só agindo nas causas mais imediatas de tais desperdícios, o Brasil faria ganhos significativos ao aumento do seu Produto Interno Bruto. E o alerta , a cobrança e a insistência de que o assunto assuma agenda imediata dos poderes constituídos, tem toda a razão de ser e na urgência cobrada.
E, se a tais providências, fosse possível agregar a redução da burocracia nas relações das empresas com o Estado, o que toma, às pequenas e médias empresas, em termos de tempo, mais de 35% dele, então os resultados seriam amplamente favoráveis à sociedade. Pelo que se tem notícia, só para atender as exigências, muitas vezes, estúpidas, relacionadas à papelada, as idas e vindas as agências de governo e o tempo perdido no atendimento de funcionários públicos que, além de tais chateações, algumas vezes, achacam os próprios empresários, nessa cultura brasileira tipica de “criar dificuldades para vender facilidades”, aí se tem uma clara idéia dos ganhos que adviria para os empresários, para a economia e para a sociedade.
Se, ainda, se fizesse um enorme esforço não apenas na melhoria da qualidade da educação de base e uma substancial ampliação na formação de mão de obra técnica, fazendo uso de parcerias, muito mais intensas com o sistema S bem como com as escolas militares espalhadas pelo País afora, isto poderia alavancar a oferta de mão de obra qualificada com imediato impacto na produtividade do trabalho. Sabe-se que tais escolas públicas apresentam alto nível de comprometimento com a qualidade de ensino o que permitiria fazer uso de sua expertise para contribuir no aumento da produtividade e da eficiência da economia nacional.
Seria bom que os postulantes à Presidencia, na apresentação de suas proposições, mostrassem que a sua agenda contemplaria algo bem direto e objetivo no que diz respeito a redução de desperdício de toda ordem, transformando a questão e o seu encaminhamento, em um grande mutirão nacional. Que tal se isto acontecesse?
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!