ROW L, SEAT 37!

 

O cenarista viu, não refestelado numa tribuna de honra ou numa tribuna especial nem curtindo as mordomias de algum camarote, com direito a acesso especial ao Estádio ou a Arena do Castelão, em Fortaleza, um espetáculo digno de registro, de admiração e, porque não dizer, de inimaginável surpresa! Estava na fila L, assento 37 e fui espectador engajado de todo um processo de comportamento e de atitudes dos brasileiros.

Uma organização quase impecável do transito, um exibição de um esquema de segurança em todos os pontos de acesso, nada de correria, nada de dificuldades para a entrada e saída do evento. E, dentro, um respeito aos lugares marcados como nunca se vira antes. Banheiros limpos e locais de venda, talvez insatisfatórios para o tamanho de publico e exercitando preços escorchantes mas, tudo nos conformes. O som estava audível, os telões funcionando e as informações chegando a tempo e a hora aos expectadores.

Não importa agora os atrasos nas obras, os puxadinhos, os superfaturamentos e as informações desencontradas das autoridades sobre tudo isto e mais alguma coisa. As atenções estão voltadas para aquilo que é a paixão nacional. O certo é que, apesar dos erros e omissões das autoridades, as coisas deram certo e, o mérito cabe a características típicas dos brasileiros: a improvisação, o empirismo, o jeitinho ou o famoso “acaba dando certo”.

Mas, o mais relevante, são as coisas que marcam o estilo do brasileiro de ser. A primeira é que, para os visitantes, a postura dos patrícios é do idealizado homem cordial, não apenas na perspectiva de Sérgio Buarque de Hollando, no seu Raízes do Brasil, pela sua característica da informalidade, do saber contornar dificuldades e de conseguir improvisar e dar um jeitinho em tudo, diante de situações adversas.

Mas, há que se considerar que a cordialidade está se revelando, não só pela proverbial hospitalidade, mas pela prestimosidade, pela capacidade de buscar se comunicar, de forma criativa, mesmo que o idioma pudesse ser um fator limitador do entendimento e da compreensão das vontades, dos desejos e das necessidades do estrangeiro! E se nota que o brasileiro faz um enorme esforço gestual e de comunicação de toda ordem para entender o visitante.

Uma outra característica que tem pontificado e se exteriorizado nesse grande evento mundial que está sendo a Copa do Mundo de Futebol, tem sido a alegria, a descontração e a total compreensão de viver emoções e as alegrias de sua paixão maior que é o futebol, a partilhá-la e a vivê-las com o visitante.

Marca também o brasileiro essa admiração, esse respeito, essa satisfação e esse prazer em conviver com o estrangeiro, sem qualquer ranço, preconceito ou cobrança mas numa busca permanente de demonstrar ao visitante o quanto ele é benvindo e quanto os brasileiros procuram descobrir e exaltar as suas supostas qualidades e virtudes do que são e do que representa a sua presença.

Não é subserviência, não é atitude subalterna e nem submissão de colonizado pois aqui nunca houve essa relação com os portugueses. Ou seja, é a espontaneidade, a alegria que a miscigenação legou aos brasileiros e a certeza de que a confraternização é o grande sonho da humanidade e é possível.

Uma outra peculiaridade que se observa nessa Copa do Mundo diz respeito a capacidade de o povo separar os problemas e angústias que ora vive diante das dificuldades e da falta de perspectivas o que faz o o brasileiro fazer do evento um  longo Carnaval fora de época. E isso levou a que, os políticos procurassem não despertar ou provocar a ira e o mal estar do povo com as suas aparições não benvindas nesses ambientes de alegria contagiante que toma conta de todos, inclusive  dos nossos visitantes.

Mas há uma tradição e uma experiência histórica para explicar tal atitude e comportamento. Aqui os conflitos que historicamente se verificaram no País, nunca foram resolvidos com derramamento de sangue, a não ser os que ocorreram na revolução constitucionalista de 1932 e nos 25 anos de estado autoritário, quando se consumaram cerca de 250 mortes trágicas e algumas centenas de desaparecidos.

No mais das vezes, dizem as más línguas que, quase tudo se resolva à maneira  do que ocorreu com a famosa Batalha de Itararé. Ou seja, o que sempre ocorreu nesse país tropical é que, quando se abre um conflito no País, chega o momento crucial quando os comandantes das tropas em litígio encontram-se  e comparam o poder de fogo de cada um. “Quantos tanques você tem? Quantos soldados você tem?” Feitas as comparações. aquele que tiver menor número, aceita a supremacia do outro. Ou seja, com um simples balanço das tropas adversárias acaba o desentendimento entre as partes.

Assim, essa Copa, mesmo diante de todas as dúvidas, as preocupações e incertezas quanto ao êxito de sua realização, está a superar as expectativas as mais otimistas.

É por tudo isto que o cenarista, um otimista incorrigível, acredita que aqui está se forjando o que ele chama da Primeira Civilização dos Trópicos, a Civilização do Terceiro Milênio, por se fazer num país geográficamente grande, demogràficamente expressivo e econômicamente uma das sete maiores do mundo.

 

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