E AGORA, JOSÉ?
A um povo que é capaz de fazer piada com a sua própria tragédia e fazer graça com os seus próprios dramas, até agora não é possível aquilatar como reagirá a seu 11 de setembro, ocorrido ontem no Mineirão. E o pior para os brasileiros é que lá, os americanos, encontraram culpados — os terroristas da Al Khaeda e Bin Laden — enquanto aqui, não só as dimensões da tragédia mas a natureza das culpas ou quem seriam os verdadeiros culpados, não se sabe explicar ou encontrar.
Se, depois de 64 anos ainda não conseguiram os brasileiros engolir ou digerir o maracanazo aplicados aos patrícios pelos magros dois a um dos uruguaios, dentro da sua casa, como os tupiniquins enfrentarão essa triste história que ficará sendo objeto de chacota, não apenas pelos “hermanos” argentinos mas, por todo o mundo que cultiva o futebol como esporte predileto e o mais democrático de todos? E se a desgraça dos sete a um é algo inolvidável e inesquecível, imagine se ela vier acompanhada pela classificação da Argentina para a final e, pior dos mundos, se a Argentina for campeã mundial, aqui, no terreiro da macacada?
Talvez a dimensão e a vergonha de tal derrota coloque o que ocorreu em 1950 como assunto menor e a ser esquecido. Mas, o trauma é tamanho que se refletirá em muitos aspectos da vida nacional. Aliás, alguns indagam se o apagão que ocorreu com a seleção não é em parte, uma das facetas do apagão que ocorre com a economia e a política do País!
A catatonia que tomou conta do comportamento do Felipão, diante do primeiro gol dos alemães onde ficava claro, para qualquer analista, que havia um buraco no meio de campo, o que permitia que os alemães pudessem triangular, trocar passes e envolver a defesa brasileira, é inexplicável. Pois, para qualquer um, era urgente reforçar a cobertura que se esperava fosse feita, notadamente para Dante e David Luiz, além do apoio a Marcelo e Maicon, pela linha de três defensores no meio de campo — Luiz Gustavo, Fernandinho e Ramires — . E era fácil de ser executada! Bastava excluir um inútil Fred no ataque — aliás o menor dos culpados pela sua manutenção em campo! — deixando Oscar, Hulk e William, na frente, com fôlego para ajudar, também a defesa.
O que se esperava era que ele, Felipão, tirasse, logo após o primeiro gol, Fred e colocasse, em seu lugar, alguém mais no meio de campo, no caso um Ramires e, buscasse esfriar o jogo, com uma falsa parada técnica, para orientar os jogadores para não perderem a calma e definirem um novo arco de defesa capaz de conter a avalanche alemã.
Mas, não adianta chorar o leite derramado. A vaca já foi pro brejo e lamentar não resolve absolutamente nada. Enfrentar o deboche, a chacota, a gozação dos tradicionais adversários dos brasileiros e, a própria autocrítica, já vai ser difícil porém, reconstruir o ânimo, o estímulo, a crença e a alegria para com o futebol brasileiro, vai ser muito duro e complicado. Até para enfrentar a disputa do terceiro lugar, vai ser complicado para os brazucas, notadamente para a criançada e para os jovens. O desencanto, o pessimismo e a tristeza são sentimentos que são perigosos quando acometidos aos jovens.
Principalmente para os jovens que, tão carentes de fé em alguma coisa, mas que se mostraram tão ciosos do orgulho de ser brasileiro, tão vibrantes com o seu hino e com os símbolos nacionais, apesar da vergonha que são as instituições e a política nacionais, para onde migrarão a sua fé, a sua esperança e o seu abalado otimismo?
Agora volta o País ao normal, com os seus problemas, as suas dificuldades e as suas angústias, diante de uma nova copa, esta sem charme, sem encanto e sem nenhuma capacidade de mexer com as emoções de seu povo. Será mais uma disputa eleitoral que, embora seja destinada a definir os destinos nacionais, não sensibiliza a quem quer que seja. A maioria das pessoas é indiferente a disputa dos cargos eletivos, como tem mostrado as pesquisas de intenção de votos. Muitos querem anular o voto ou votar em branco. Os candidatos, até agora, não tem propostas capazes de sensibilizar o eleitorado.
Quem está no poder, não renovou o discurso e a sua proposta ética foi esquecida. Os nomes proeminentes do partido no poder ou estão na Penitenciária na Papuda ou desistiram de serem protagonistas da luta política ou se mostram decepcionados com a lógica e a pseudo-ética adotada para se manter no poder. E até a militância agora só atua e se mobiliza desde que haja o famoso “lubrificante cívico” capaz de estimulá-la a trabalhar pelas candidaturas petistas. As oposições estão ultrapassadas na prática política e no seu discurso e não conseguem formular uma proposta e estabelecer uma avaliação crítica, convincente, do governo, capaz de sensibilizar os eleitores.
Assim, a campanha vai se iniciar no pior dos ambientes. A frustração com a grande paixão nacional, o descrédito da classe política, a economia em crise, a inflação em alta e a credibilidade das instituições em baixa, fazem um perigoso “mixing” a abastecer o pessimismo dos brasileiros. O espaço para a disputa dos candidatos será, num primeiro momento, marcado por agressões de parte a parte. E, nesse ambiente, um povo machucado vai se sentir “atendido” no seu humor, na proporção de quanto mais “sangue” ou quanto mais agressivos forem as acusações tanto melhor. Parece, que as agressões, quanto mais torpes mais terão capacidade de mobilizar o eleitorado para a verdadeira batalha campal que se verificará no “gramado” televisivo e virtual.
Espera-se apenas que a tragédia de Belo Horizonte pelo menos sirva de exemplo para os jovens para que não aceitem essa idéia de que “se ganha jogo só com o gingado e jeitinho; se ganha dinheiro sem ser suado; se vira presidente sem ter estudado”. Que se ponha um fim na chamada “era da esperteza” e que se ponha em prática ou sirva de alerta a famosa frase de Tancredo Neves ao afirmar que “esperteza é um bicho que acaba comendo o próprio dono”! Talvez seja a hora de tentar passar o país a limpo e reconstruir os sonhos dessa nação que tem tudo para dar certo mas que as elites dirigentes não permitem que se explore essa grande riqueza que é seu povo.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!