TRÊS MOMENTOS, TRÊS SITUAÇÕES!
Há três coisas, nos dias que correm, que merecem serem comentadas pela oportunidade e pela sua relevância. A primeira delas tem a ver com o processo politico-eleitoral e os seus desdobramentos já que, concluída a Copa, volta o País para o enfrentamento dos seus dramas, dos seus desafios e das suas perspectivas. E, espera-se que o processo eleitoral seja o caminho para buscar e tentar encontrar respostas para as suas inquietações e angústias.
A pesquisa, recentemente divulgada, relativa as preferencias eleitorais no que respeita à Presidência da Republica, apresentou um dado deveras inquietante para o PT: 36% de rejeição ao nome de Dilma, por parte dos eleitores, número esse que poderá crescer caso nenhum fato novo venha reverter as expectativas relacionadas ao seu desempenho e e a avaliação do seu governo.
Isto significa que, num segundo turno, dados tais números e suas tendências, qualquer que seja o candidato que represente a oposição a Dilma, ele já poderá largar com, pelo menos, 36% das preferencias eleitorais. Ademais se, antes do início da propaganda eleitoral houver uma queda adicional da popularidade de Dilma, mostrando que ela tende a, provavelmente, perder o pleito, na hipótese de um segundo turno, então muita coisa poderá ocorrer.
Em primeiro lugar, acirrar-se-á a disputa interna de poder no grupo que apoia Dilma e os conflitos de interesses dentro do ambiente palaciano — crise entre Rui Falcão e Franklin Martins; entre Franklin Martins e Trauman; entre Gilberto Carvalho e parte considerável dos coordenadores da campanha de Dilma; e entre as “viúvas” de Lula ou os queremistas atuais, ansiosos para retornarem ao poder — além da própria idiossincrasia da presidente, que consegue gerar antipatias de toda ordem, com aliados e potenciais apoiadores. E isto agrava, em demasia, os problemas nas hostes petistas.
pessivdmismoAdicione-se a tais pontos negativos, a proverbial má vontade da mídia para com a Presidente, diante do seu jeito castilhista e gauchesco de ser, o que leva a que as coisas se tornem cada vez mais difíceis e criem espaços adicionais para a oposição, mesmo sem discursos e sem propostas, crescer e, potencialmente, se apresentar como possível vencedora do embate.
E a pergunta que fica no ar é se, quando setembro chegar, Dilma mostrar, potencialmente, que não tem como reverter as tendências de queda, será que o “Volta, Lula”, diante de “uma morte anunciada do petismo”, não forçará, numa atitude de desespero, fazer de Lula o candidato presidencial? E, se tal se confirmar, o que virá a suceder? Lula enfrentará a onda de insatisfação e o desejo amplo de mudança, além de um ambiente adverso e críticas impiedosas contra ele, para intentar salvar o seu PT? É difícil antecipar o quadro mas, o que se sente é que Lula poderia pensar até em um 2018, mas não enfrentar o desafio agora. Mas, se perder o poder agora, 2018 não será uma meta inatingível?
Mais uma vez é importante considerar que as reações do eleitorado representam muito mais que uma rejeição à Dilma, mas, segundo os analistas, uma rejeição ao PT e, significa, mais que nunca, uma enorme ânsia de mudança diante da insatisfação generalizada com o estado de coisas por que passa e experimenta o país!
Um segundo fato relevante a ser destacada essa semana foi o encontro dos Brics, em Fortaleza que, embora deveras interessante mas, para o Brasil, em particular, anfitrião do encontro, poderia ter sido muito mais interessante e produtivo do que o foi. Os convênios, muito mais cosméticos do que relevantes, com a Rússia e, o potencial pouco explorado do que seriam os entendimentos com a China, mostram a falta de “timing” que ora enfrenta a diplomacia brasileira.
E isto, porque não ocorreu? Porque esse é o país da improvisação e que detesta um mínimo de planejamento de médio e longo prazo e que se move mais determinado pelo dogmatismo, pelo estatismo, pelo sectarismo e pela visão míope do que seriam parcerias, quer internas quer externas, subordinadas, para os mesmos, não segundo as regras do mercado mas diante das imposições autoritárias de regras e exigências do governo brasileiros que se colocam, diametralmente, em oposição ao que o mercado e as regras do capitalismo internacional, estabelecem.
Não tivessem se interposto no meio do caminho desses entendimentos, entre nações, desvios de comportamento do governo brasileiro, talvez não pudessem ter ocorrido. Se, há um ano atrás, pelo menos houvesse ocorrido um aceno aos chineses, por exemplo, de que o país estava aberto a propostas destinadas a superar os estrangulamentos externos, notadamente no campo da infra-estrutura, de toda ordem, talvez as coisas tivessem sido diferentes.
Diante de tal atitude, talvez o pessimismo com a economia brasileira hoje houvesse se transmudado e não fosse tão grande e poderia ter aberto uma enorme avenida para a participação de investimentos orientais, num momento crucial para o País e com chances de iniciar um ciclo virtuoso de expansão e crescimento do Brasil.
O certo é que, diante desta claudicante, instável e insegura atitude do Brasil, pouco se vai aproveitar da boa vontade e do interesse estratégico dos chineses, porquanto o oferecido e o possivelmente a ser alcançado, em termos de investimentos, será muito pouco diante do enorme potencial que o país apresenta em termos de ferrovias, metrôs, vlts, portos, aeroportos, rodovias, energia, telecomunicações, entre outras áreas de interesse urgente, para parcerias estratégicas.
E, é bom que se diga que os chineses, não apenas oferecem financiamento barato ou participação direta em investimentos na infra-estrutura do País, tecnologia de ponta e, acima de tudo, celeridade para a realização das obras. Na verdade se os brasileiros fossem fazer tais obras que, estariam tão atrasadas e que, pelo que se sente, não se abrem perspectivas de realizá-las no prazo adequado e fundamental para que o crescimento econômico do País não venha a se frustrar.
No campo político, notadamente, o partidário, em função das eleições quase gerais que ocorrerão este ano, o clima é de pessimismo. A descrença nas instituições, nos governos e nos políticos é tamanha que, o que se espera é que ocorra um enxurrada de votos em branco e anulados como nunca se viu, além de um nível de abstenção sem igual. Na verdade, há pouco espaço para otimismo porquanto o processo eleitoral afasta os bons nomes, a boa ética e o bom compromisso republicano.
Não se faz mais políticos como antigamente, sem que isto represente um laivo de saudosismo. Não significa dizer que, no passado, não houvessem exóticos, espertos, deslumbrados, corruptos e políticos voltados só para os seus interesses pessoais. Não que no passado os parlamentos, principalmente, fossem constituídos de vestais, prima donas e Catões modernos, além de homens de indiscutível talento e brilho, em termos de cultura humanista e em termos de eloqüência e de uma envolvente retórica. Não eram todos os parlamentares sérios. Não eram todos os políticos dignos. Mas eram um punhado que enfeixavam a ética, a decência e o orgulho de servirem ao povo e de buscarem o seu reconhecimento e o seu aplauso!
O cenarista teve o privilegio de conviver com algumas das figuras mais notáveis e com comunistas e direitistas, sérios, capazes e com compromisso e responsabilidades republicanas, nas décadas de 80 e 90, mas hoje sente-se deveras desencantado pois constata como tudo mudou!
O que ocorreu foi que, lamentavelmente, os parlamentos foram tomados por empresários ou por seus representados; por evangélicos, de seitas as mais diferenciadas ; por sindicalistas e, o que sobrou, foram aqueles que, embora comprometidos com os postulados do exercício democrático e com os preceitos republicanos, sentiram-se desestimulados e prestes a desistir de qualquer embate.
Todo o processo eleitoral transformou-se em uma empreitada muito cara, muito complicada, muito difícil e, lamentavelmente, os bons valores, tanto em termos de competência e de ética de compromisso, ao se frustrarem com o fato de que o oportunismo, a esperteza, a lógica de tirar vantagem em tudo, se sobrepôs aos sonhos, as utopias e as esperanças de que pudessem ser protagonistas na construção de uma sociedade melhor e mais justa.
E aí mergulha o país, que teria tudo para dar certo, numa crise existencial que lhe conduz a uma espécie de “mal triste” que abate animais e seres humanos! Os preceitos republicanos estão desestimulados e prestes a levar a qualquer cidadão sério a desistir de qualquer embate.
No mercado dos sentimentos, a ética, a seriedade, a responsabilidade, a competência tecnica e o respeito por princípios e valores fundamentais a saudável convivência humana, são mercadorias de baixa cotação. E aí, ausentam-se os melhores e fica somente a borra para perpetuar o estado de quase calamidade que experimenta a vida pública brasileira, não apenas nos parlamentos mas, no Executivo e, também, no Judiciário.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!