O NORDESTE NÃO É MAIS SÓ PROBLEMA …

 

 

Nizan Guanaes, publicitário e marqueteiro afamado, um dos mais requisitados do País, exercendo a sua nordestinidade, publicou, faz alguns dias, no jornal Folha de São Paulo, um interessante artigo sobre a sua região que, diferentemente da tônica das análises que tem sido feitas, até recentemente, não prima por queixas, denúncias e nem por aquele sentimento piegas de buscar uma espécie de “apiedamento”, por parte do Governo Central e da própria sociedade brasileira, para com o atraso, o subdesenvolvimento e os dramas do Nordeste.

Também não intenta demonstrar aquele complexo de inferioridade travestido de um pretenso falso orgulho ao tentar colocar o Nordeste como o centro, a origem, a base de tudo que diz respeito à construção da nacionalidade. É importante, é relevante e é significativa a  contribuição dos nordestinos ao Brasil e à brasilidade mas não se pode reduzir tudo que se fez e se estruturou nesse país,  apenas ao Nordeste.

Simplesmente centra a sua análise sobre as transformações que estão a ocorrer no país dos nordestinos, com mais de 50 milhões de habitantes e hoje vivendo um período de expansão muito mais dinâmico que o sudeste e sem o pessimismo inibidor que “assola o país”, notadamente incorporado pela denominada, por Lula, de “elite branca sulista”.

Na verdade, o entusiasmo de Guanaes tem a sua razão de ser porquanto, nos últimos dez anos, por exemplo, a renda média do nordestino cresceu cerca de 30% e, nos últimos meses, enquanto o Brasil crescia a média de 1%, o Nordeste alcançava os 4%! E conclui o seu artigo dizendo que os nordestinos que “aprenderam a construir São Paulo, agora aprendem a construir o Nordeste”!

Se não houve uma política de desenvolvimento para a Região por parte do Governo Federal, buscando a superação de suas limitações através de um planejamento estratégico sério, o que explicaria essa espécie de “desabrochar” dos nordestinos e o encontro dessa região com alternativas de dinamização e exploração de suas potencialidades, até então adormecidas?

Por que hoje não é mais o emprego público o sucesso na região? Por que as implacáveis e impiedosas secas não impactam mais tão pesadamente a região sob o ponto de vista econômico, social e até emocional, como ocorria,  há até bem pouco tempo?

Três políticas ajudaram a reduzir, substancialmente, o impacto das secas na desorganização da economia, na desestruturação da vida comunitária e na criação de cenas de miséria e desespero que se assistia toda vez que o fenômeno assolava a região. O papel da previdência rural, os programas compensatórias de renda como o bolsa-família e os vários vales, além do aumento do salário mínimo, representaram contribuição fundamental ao aumento da capacidade de resistir, se essa é a adequada expressão que se poderia utilizar para explicar tal redução da vulnerabilidade econômica e social da região. Portanto, tais elementos foram instrumentos valiosíssimos para que se conseguisse minimizar os efeitos desastrosos das estiagens prolongadas.

Embora não tenha havido um esforço especial da União de gerar externalidades positivas capazes de atrair investimentos privados,  via aumento de investimentos em infra-estrutura,  haja visto que obras fundamentais como a duplicação da BR 101, a Transnordestina, a Transposição das Águas do São Francisco além dos investimentos estruturantes, como a conclusão da refinaria de Pernambuco e as refinarias do Ceará e Maranhão, o fato objetivo é que a região tem mostrado um dinamismo econômico bem superior ao do País. Ou, se colocado de outra forma, se tivessem sido concluídos tais obras e realizados tais investimentos, além de uma expansão substancial das aplicações de recursos dos bancos oficiais, os ganhos teriam sido necessariamente maiores.

Mas a hora não é de olhar para trás mas de cobrar dos presidenciáveis as propostas destinadas a fazer com que o Nordeste aumente, cada vez mais, a sua contribuição ao desenvolvimento do País e garanta mais dignidade à cidadania de seus habitantes. Para tanto, além de cumprir com aquilo que está em marcha e em execução, o grande planejamento estratégico para o Nordeste deveria centrar-se num grande esforço na área de educação de base, no enfrentamento das drogas e redução da violência e nas questões urbanas que criam dificuldades para uma  apropriação maior e mais eficiente dos benefícios de uma indústria, ora em pleno dinamismo,  que é a atividade turística.

Finalmente, se se pretender uma política de especialização regional, a prestação de serviços notadamente na área virtual, como sói ocorrer hoje com a India, além de promover a implantação de centros de excelências nas áreas de medicina e de educação superior, poderiam ser instrumentos a garantir saltos de qualidade ao desenvolvimento regional. Pelo que se pode concluir, o que é preciso não é tanto mas apenas foco e prioridade no que se presume essencial para a aceleração do crescimento e transformação estrutural da região.

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