A POLÍTICA TAL QUAL COMO ELA É!

 

Há um ledo engano ou uma total inconseqüência quando alguém afirma ter nojo ou não aceitar que, como consequência da vida em grupo e a sustentação das bases do contrato social, a chamada arte de fazer política, que é  algo tão  inevitável como imprescindível. Esquecem tais pessoas que é da essência da convivência humana a necessidade de dialogar, discutir, transigir, negociar e intentar estabelecer parâmetros para uma convivência onde se minimizem os atritos e conflitos e onde seja possível adotar objetivos e práticas comuns. Ou seja, faz-se política em todos os momentos e circunstâncias da vida; em todos os lugares  e diante de quaisquer problemas e dificuldades. Só existe uma forma de arbitrar e mediar conflitos que é a tal da execrada e difamada política, a chamada arte da controvérsia.

Mesmo em países onde existe uma base institucional que opere ou, melhor dizendo, onde prevalece o Estado Democrático  de Direito, claro está que o ato de fazer política é intrínseco ao próprio regime democrático e, como bem dizia Churchill que  “ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.

A gente tende a estabelecer que a política como se faz nos dias que correm, é bem pior ou de qualidade bem inferior ao que se fazia em passado não muito distante. Aparentemente, fazer política parecia ser algo bem mais nobre onde o próprio eleitor orgulhava-se de seu deputado ou representante. Por outro lado, o político também esmerava-se em buscar burilar a sua biografia fazendo, como princípio, aquilo que o poeta dizia “que o político, por ínvios caminhos, o que busca recolher, são algumas migalhas de aplausos”. Realmente, o processo se deteriorou e os defeitos se magnificaram tornando a atividade mais marcada pelos vícios, desvios de comportamento e desconfiança generalizada.

Todos criticam o excesso de agremiações, a descaracterização de sua ação, sem doutrina, sem linha programática e sem consistência  de atuações e de suas opções;  a mercantilização do voto;  a falta de legitimidade dos representantes; o esvaziamento da função parlamentar e o degradante episódio dos plenários vazios, da gazeta dos parlamentares e  das negociatas feitas diante de interesses escusos de grupos econômicos. Todas essas são características que denigrem o processo!

Na verdade as pessoas estão tão descrentes da classe política e da maneira como ela procede que, na visão do cidadão comum, ela nada agrega em termos de gerar esperanças diante dos graves problemas da sociedade. Faltam, praticamente, quarenta e cinco dias para que o Brasil busque definir que caminhos pretende trilhar para que sejam encontradas as saídas para a superação de impasses, para o equacionamento de seus mais urgentes problemas e para o enfrentamento dos seus enormes desafios.

Até agora os brasileiros, mergulhados numa total indiferença ainda não sentem que a eleição presidencial virá a representar um renascer de esperanças e o ressurgir de sonhos do País que desejam e acham que tem direito. Aliás, nesses tempos bicudos, duas categorias de gente estão sendo, duramente maltratadas: o eleitor e o torcedor pois, as alegrias são quase nenhuma e as frustrações são enormes.

A eleição, pelo clima que vive o país, está se mostrando atípica. Quase não há campanha nas ruas e quando há, é tipo as chamadas propriedades organolépticas da água: insípida, inodora e incolor. Não sensibiliza e nem mobiliza ninguém. Não gera entusiasma e não desperta paixões, como outrora isto ocorria. Talvez, quem sabe, com a comoção provocada pela morte de Eduardo Campos, as pessoas sejam provocadas a um maior envolvimento mas, até agora, não há sinais de que isto virá a ocorrer!

O processo eleitoral, marcado ainda por vícios de toda ordem, está subordinado a uma mercantilização que chega às raias do inacreditável e do inaceitável, levando ao cidadão sério à conclusão  de que o Congresso, a ser eleito, será apenas uma representação de interesses comerciais e de projetos de poder de segmentos específicos da sociedade.

Aliás, o perfil da representação a ser eleita será de empresários ou de seus representantes; de sindicalistas; de evangélicos; de alguns representantes da classe média ou de profissionais liberais, de espertos e de alguns candidatos exóticos ou bizarros. E o mais intrigante desse processo é que, embora esteja caríssima a eleição, não há dinheiro para financiá-la pois empresários ou estão com as “barbas de molho”, diante da enxurradas de denúncias de corrupção de caixa dois, vinculando empresas a políticos ou procuram se refugiar diante da pressão das denúncias de escândalos, sistematicamente expostos na mídia.

Uma outra característica da campanha é que prevalece a mesmice. Até mesmo das chamadas presumidas propostas e, até mesmo, as palavras-chave e os bordões, são repetidos pela maioria dos candidatos. Parece que a confusão de siglas, sem identidade, sem propostas, maculadas por esse instrumento de descaracterização da legitimidade das eleições proporcionais que são as coligações, representa um outro fator de distorção do processo. Todos as pessoas tem a compreensão de que, a governabilidade é garantida pelas chamadas coalizões partidárias mas, isto é um processo pós-pleito o que, pode, a partir de um entendimento, estabelecer um programa e definir compromissos comuns às siglas envolvidas.

Mas, na eleição proporcional cria-se uma verdadeira aberração  porquanto o cidadão escolhe um deputado para representá-lo, vota nele e, depois,  descobre é que não elegeu aquele das suas preferências mas, talvez, até mesmo, tenha eleito um  outro que, às vezes, ele nem gostaria que fosse eleito! Isto porque, acaba-se não votando em um  candidato mais numa legenda que, por sinal não é uma mas a soma de legendas, com perfis ideológicos ou programáticos distintos e variados.

Essas esdrúxulas características do processo conduzem a falta de legitimidade da representação, a ausência de confiança nos eleitos, a inexistência de compromissos com idéias, causas e propostas e a aceitação de atitudes do tipo “rouba mas faz” que, parecia já terem sido abolidas em face até de movimentos da sociedade civil, como o tal do instituto da chamada “ficha suja”. Há candidatos a governador, disparados na preferência popular que, estão sendo processados por corrupção e, até bem pouco, haviam sido afastados do exercício de cargo executivo e levado, não apenas às barras dos tribunais mas, até mesmo à prisão!

Diante disso, ainda vem os candidatos prometendo que irão lutar por uma ampla reforma política, num quase espécie e de deboche para com o povo. Todos tem a convicção de que nenhum político está deveras comprometido com a mudança de tal quadro porquanto ele favorece aos profissionais da politica. E, com isto, o que se conclui, como dizia o poeta é que, nos dias que correm,  “os desencantos vão conosco à frente e as esperanças vão ficando atrás”!

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