SERÁ QUE É TUDO IGUAL?
É deveras intrigante como o poder instalado, para justificar as suas diatribes, procura demonstrar que, o que está a ocorrer, por mais absurdo e inusitado que possa acontecer, é da mesma dimensão do que ocorria no passado. Ou seja, procuram os atuais detentores do poder demonstrar que tudo que hoje ocorre de desvios de conduta, de desmandos e de crimes contra o patrimônio público, nada mais são do que uma repetição do que já ocorria num passado não muito longíquo.
Todo mundo recorda quando do momentoso escândalo do Mensalão o próprio Presidente Lula, para minimizar as dimensões da agressão a valores e princípios perpetrados por seus companheiros, dizia que o que ocorrera fora apenas algo que era prática comum na política ou, nada mais e nada menos do que o tão conhecidochamado “Caixa Dois”! Reduzia-se os desvios de recursos públicos, os achaques promovidos contra empresários para buscar o apoio partidário ao governo e a vergonhosa maneira como se usou a máquina estatal para tais escusos processos de garantia de respaldo parlamentar, a prática, também ilegal, diga-se de passagem, da já tão conhecida sonegação fiscal!
Tal atitude, buscando justificar tais atos ilícitos e imorais, tornou-se prática corriqueira a ponto de se discutir se agora, nessa quadra da vida nacional, há mais ou menos corrupção do que no tempo do regime autoritário! Ou seja, até bem pouco, por exemplo, tudo que ocorria de errado ou de inaceitável nas atitudes do poder dizia-se que ou era fruto da herança maldita do tempo de FHC ou, agora, remonta-se e remete-se ao período do regime autoritário.
Então se afirma, em alto e bom som que “a corrupção de agora é igual ou inferior a que ocorria à época do regime militar só que, agora, a transparência, a liberdade de imprensa e a ação dos órgaos de controle, tornam mais visíveis os desvios de conduta”.
O próprio “Mensalão”, até bem pouco considerado um dos mais execráveis esquemas de corrupção do País, além dos membros do governo procurarem mostrar que era uma prática sem maiores senões pois exercida por todos os partidos, foi objeto de tentativas de minimização de seu dolo e da sua imoralidade, inclusive pelo próprio Presidente Lula.
Quando se fala em impunidade, como um dos piores pecados da operação da sociedade brasileira, a tendência dos petistas é de buscarem demonstrar que sempre houve tal comportamento e tal atitude, E a leniência dos que deveriam impedir e não permitir que tal atitude se mantivesse e fizessem com que os culpados por erros e desvios de conduta não fossem estimulados a tais práticas, por saberem que não seria alcançados pela lei, deixou de existir.
Também, se as pessoas se exasperam diante do excesso de burocracia que permeia todo o funcionamento da sociedade brasileira, a tendencia é buscar demonstrar que não há mais burocracia e excesso de tramites e instancias decisórias, do que havia no passado!
Consideram os atuais detentores do poder de que, quando se acusa a classe política de hoje de se encontrar no mais baixo nível cultural e ético, o que se diz é que não é em nada diferente do que ela era no passado e, apenas, o poder parlamentar está mais visível nos seus erros e desvios de comportamento porquanto há mais exposição e transparência, bem como há mais cobrança por parte da sociedade!
Finalmente, duas observações conclusivas. A justiça hoje é mais parcial, mais lerda, menos justa e menos confiável que no passado, vivendo de conluios e conchavos, de toda ordem. No passado, provavelmente, não era tão mais marcada por vícios e desconfianças do que é agora. Também, no passado, operava muito mais a chamada “Lei de murici”, ou seja, cada um por sí. Hoje a corrupção é sistêmica, organizada e dispondo de uma distribuição de papéis e funções de tal forma que o profissionalismo se mostra hoje bem definido.
Os que buscam mostrar que a situação hoje não difere do passado, argumentam que tudo está de acordo com as dimensões. Se o Pais é maior, se sua população é maior e se seus problemas são maiores, portanto explica-se as dimensões bem mais avantajadas dos defeitos,a dos vicios, dos desmandos e dos desvios de conduta atuais.
Pouco gente se satisfaria com tal explicação para a corrupção endêmica, o cinismo e o descaramento dos responsáveis por tais diatribes. É agressivo e até ofensivo e, quando ocorre um sopro de seriedade, de dignidade e de decência como ocorreu com o vendaval Joaquim Barbosa, o país começa a achar que talvez as coisas agora possam vir a ter jeito.
O que se espera é que a tese do “ou nos locupletemos a todos ou restaure-se a moralidade” seja apenas uma frase de advertência para que tempos tão sofridos passem, se não de vez e de todo, pelo menos nos limites em que não se afogue a sociedade e seus valores em tal lamaçal de indecência!
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!