ENGENHO, ARTE E OUSADIA!

No deserto de homens e de idéias em que se transformou o País, toda vez que surge alguém, com coragem, talento e determinação, para enfrentar as restrições, notadamente quando o seu projeto pessoal encontra os poderes estabelecidos como adversários figadais e, mesmo assim, esse cidadão teima em enfrentar tais adversidades e circunstâncias, ele passa a ser observado, de perto,  pela sociedade como um todo.

Parece ser o caso do Presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha que, sem que aqui se queira discorrer, discutir ou julgar seu perfil ético-moral, o seu passado, a sua história, ele se mostra como alguém marcado pela competência, pela ousadia, pela arte e pela sagacidade, diante de todas as tentativas e seus adversários de desestabilizá-lo, de descaracterizá-lo, de desestruturá-lo e, até mesmo, de desmontá-lo, moralmente, para limitar a sua caminhada e as suas ambições.

Parece que, até agora, esse embate tem favorecido ao deputado do Rio, sempre polêmico, atrevido e ousado mas adotando na sua ação, uma visão estratégica, uma capacidade de antecipar cenários e um enorme competência para negociar, sabendo transigir, ceder, estabelecer o necessário “trade-off” exigido pelas circunstâncias mas sempre, pelo que se pode observar, se saindo ganhador das empreitadas em que entra em disputa!

Ou seja, mais que isto. Quando alguém o propõe o cumprimento de um direito ou obrigação que favoreça a parte demandante, ele não deixa de atender mas, sempre com a visão dos  desdobramentos, das conseqüências e de futuro, ele consegue atender o pleito ou demanda de quem o requisitava mas, num jogo de antevisão, sagacidade e esperteza , ser também beneficiário da própria negociação!

Sao inúmeros os gestos e atitudes que se pode catalogar que são capazes de caracterizar, sobejamente,  sua habilidade e a sua competência. Não basta mencionar a vitória acachapante, para a Presidência da Câmara, contra todo o poder instalado que não o queria naquele assento. Vitorioso Nesse embate veio, a seguir, a desastrosa aprovação, por ele, de uma nefanda medida, questionada e repudiada por toda sociedade. Representava, segundo os seus aliados, de um compromisso de campanha que era o de garantir, passagens para cônjuges e parentes de deputados,  pagos pela Câmara, o que causou uma grande celeuma e gritaria de indignação da sociedade.

Eduardo Cunha que, com tal atitude tão reprovada pela sociedade, conseguiu se sair do desgaste ao dizer que apenas estaria  a cumprir uma promessa de campanha junto aos parlamentares, mas que, diante do clamor da sociedade, decidira, depois de ouvir a Mesa Diretora, tornar sem efeito a decisão anterior. Ou seja, desfazia a decisão que ele havia tomado  e comunicava, ao distinto público, que, diante das imprecações de todos contra a matéria, pedia desculpas e, de imediato, mandava que a Mesa Diretora  autorizasse a que ele mandass retirar, imediatamente, a matéria de pauta e determinasse a  proibição da sua divulgação e publicação!

Por outro lado, a partir dai, além de estar ganhando os embates, dentro do partido e, também, no confronto com o governo Dilma. Também, as suas iniciativas tem criado uma profunda angústia existencial em Renam Calheiros pela enorme competência que tem demonstrado em antecipar idéias, promover debates e “chegar primeiro”  na apresentação de propostas ansiadas pela sociedade. Tanto aquelas propostas  que dormitavam nos escaninhos da Câmara ou do Senado e que representavam prioridades para os cidadãos como um todo,  como aquelas ora sendo requentadas, renovadas ou reinventadas pela sociedade civil como um todo e, por que não? por ele mesmo, Eduardo Cunha.

Nao se está aqui procurando fazer  a apologia e/ou o elogio gratuito a um político muitas vezes questionado, discutido, controverso e polêmico mas apenas a constatação de que ele,  a seu modo e a seu estilo, ele  quebra essa mesmice na  forma de fazer política e acrescenta competência num campo hoje tão desprovido de mentes com talento, conhecimento , habilidade e visão estratégica. Os últimos  embates protagonizados por Cunha dão a dimensão dessas características e dessas habilidades.

Na votação da primeira MP do ajuste fiscal, por exemplo,  Eduardo Cunha fez, semana que passou, um enorme esforço de convocação dos deputados da situação e da oposição para votar a matéria. Conseguido o quorum mais que necessário, numa manobra rápida e rasteira, Eduardo Cunha propôs e conseguiu uma inversão de pauta e priorizou a votação da chamada PEC  da Bengala, matéria que não interessava ao governo e tirava poder de Dilma e do PT pois, por causa dela, cinco ministros que seriam indicados por Dilma não mais o serão pois os atuais poderão estender o seu mandato por mais cinco anos! Esta foi uma manobra tão brilhante que nem a atenta mídia percebeu do passe de sabedoria e senso de oportunidade do político.

Depois de tal manobra, dando uma demonstração de força ao Governo, Eduardo criou as bases para que a sustentação parlamentar de Dilma, sob sua protegida segurança,  pudesse apresentar a fatura antes de aprovar a MP do ajuste fiscal,  o que levou a Michel Temer agir como uma espécie de estadista do Funrural, distribuindo, segundo alardeiam as más línguas, cerca de 250 cargos de segundo e terceiro escalões. E tal cobrança da base parlamentar não é nem negociada, nem discutida e nem realizada com a presença de Eduardo Cunha ou com sua anuência,  mas pelos líderes partidários que, como é sabido, agem, “com total autonomia e independência” e , cautelosamente, não indicam, aparentemente, qualquer liderado de Cunha para qualquer cargo! O “mis-en-scene” é bem montado e desempenhado com inquestionável talento.

Um outro fato caracterizador da sagacidade de Cunha ocorreu em resposta à decisão do Ministro do Supremo, Teori Zavaski de autorizar o Ministério Público a fazer investigações, busca e apreensão de documentos no serviço de informática da Câmara para demonstrar que o Presidente teria produzido requerimentos que favoreceriam empresas envolvidas na Operação Lava-Jato.

Adicionalmente, o objetivo do Ministério Público buscava  demonstrar que o mesmo teria sido beneficiado pelas operações fraudulentas praticadas pelas empresas envolvidas na Operação Lava-jato. Cunha, com excepcional frieza, vai à televisão e diz que respeita as decisões da justiça mas acrescentou de maneira quase angelical que, bastava que a Procuradoria enviasse ofício à Presiência que ele teria autorizado a investigação e a varredura nos computadores da Casa. Apenas acrescentou, de maneira direta e clara, que tudo fazia parte de manobra do Procurador Janot, seu adversário, por uma questão muito especial contra ele!

E, para maior constrangimento do Procurador, contratou como seu advogado, para todas as questões ligadas ao Ministério Público, um homem sério, competente e ex-Procurador Geral da República, Antonio Fernandes de Sousa, numa manobra brilhante e que, de uma certa maneira, o blinda contra a atuação do chamado “espírito de corpo” da Instituição!

E, até mesmo diante da atitude dos defensores de Direitos Humanos, país a fora, bem como o PT, aparentemente todos contrários à sua figura, o próprio Eduardo, vai ao vários locais públicos, levando, ao extremo, num gesto de provocação aos simpatizantes de direitos humanos e da agremiação de Lula, procurando tornar-se vítima das manifestações contra a sua pessoa. Não é sem outra razão que faz um périplo nacional visitando todas as assembléias legislativas estaduais, surgindo como o mais intransigente defensor dos parlamentos e dos parlamentares conseguindo, ao mesmo tempo que, num prazo curtíssimo, tornar-se uma figura conhecida, nacionalmente.

E para que? Aí cabe a imaginação criadora de cada um para antecipar com que sonha o deputado porquanto no vazio de poder e de lideranças, muita gente sonha com 2018 pois, desmantelado o PT, Lula desgastado em demasia e com problemas de saúde, a oposição meio desenxabida e sem a agressividade cobrada por uma população frustrada e insatisfeita, abre-se espaço para novas lideranças. Mas será que Eduardo Cunha conseguirá superar as restrições ao seu nome junto a sociedade e inviabilizar os seus concorrentes dentro do seu próprio partido, numa proposta dessa natureza?

 

 

 

 

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