AS CHANCES DE UM RECOMEÇO!

 

Dizem os chineses que a palavra crise representa um ideograma que encerra em si as possibilidades de novas e promissoras oportunidades. É também, segundo alguns pensadores, tempo de refletir sobre valores, idéias e sobre erros e equívocos cometidos e sobre como devem ser enfrentados desafios e complexos problemas.

Vive o Brasil, inquestionavelmente, um quadro que se configura como um dos mais difíceis e problemáticos que a experiência histórica do País já vivenciou. Nem em 1930 e tampouco em 1964 a situação se mostrou tão complexa. Talvez a composição dos ingredientes das duas crises,  hoje presentes, permita visualizar ou imaginar a dimensão do que hoje se apresenta aos olhos dos brasileiros.

Parece que agora se combina uma situação de crise econômica como a de 1930, com os efeitos ainda não cessados da crise de 2008, mas agora ampliados pelo momento complicado que atravessa a economia chinesa, com repercussões em todo o planeta, com aquilo que ocorreu em 1964, caraterizado que foi pela desorganização político-institucional e pelo claro desarranjo do setor público, em dimensões até hoje experimentadas.

A situação é grave e a desestruturação do governo ocorre a olhos vistos. Apoio popular que gira em torno de míseros 5%; respaldo parlamentar inferior ao necessário para impedir que se discuta e vote um dos pedidos de impeachment da Presidente; um partido aliado como  o PMDB que, sob o comando do Vice Michel Temer, “fugiu” para o exterior levando consigo os ministros indicados pela agremiação; um empresariado que não acredita mais na capacidade de recuperação de comando por parte da Presidente e uma mídia que, até mesmo aqueles bem pagos, já começam a debandar e mostrarem-se “mais republicanos, éticos e compromissados com a democracia, as instituições e o País”.

Mas, é bom que se diga que todo o quadro caótico lega lições e deixa algo didático-pedagógico para conduzir a uma nova forma de viver e de enfrentar os problemas. No caso brasileiro, onde o centralismo leva a hábitos e comportamentos de estados e municípios que replicam o que faz a União, as coisas começam a serem alteradas.. Se a União inova e encaminha um orçamento deficitário, transferindo o ônus de fazer cortes, na própria carne, ao Parlamento, os estados e municípios se valeram do mesmo expediente e copiaram o modelito da União. Isto porque todos veem o orçamento como uma peça de ficção e, o seu envio, às casas legislativas, tem como único objetivo cumprir o rito republicano e o respeito a obrigação legal.

19 estados, tendo o Rio Grande do Sul como líder, apresentam-se em situação de desequilíbrio fiscal sério e difícil de ser encarada e equacionada!

Mas, o mais relevante e, para alívio dos brasileiros, é que essa crise vem permitindo que se processe um trabalho didático-pedagógico sobre o comportamento e atitudes de pessoas e instituições do País. O próprio dólar elevado, por exemplo, ao mesmo tempo em que garante um especial estímulo ao esforço exportador, também pressiona a inflação, aumenta a dívida da empresas que devem em dólares, encarece os produtos acabados e aqueles que usam matérias primas e bens intermediários importados. E isto impacta, também, positivamente, na busca de redução de desperdícios, no aumento da eficiência e na busca de alternativas mais baratas à aquisição de tais matérias primas.

Aliás, já se percebe que a crise está promovendo uma nova rodada do processo de substituição de importações no Brasil como forma de vencer o parcial estrangulamento externo que já afeta os preços dos produtos manufaturados com conteúdo importado, quer direta quer indiretamente.

Também a crise, ao gerar perda do poder de compra das familias e promover o aumento do desemprego, além da redução do salário real, tem produzido um processo recessivo em face do encolhimento da demanda — tanto pública como privada — bem como tem levado as famílias a impor restrições orçamentárias severas. Como diz o dito popular “ador ensina a gemer”.

É oportuno considerar e levar em conta que a crise de água e de energia que tomou conta de quase todo o País, tem levado à subbstituição por fontes de energia mais baratas ou maus disponíveis! Primeiro, a substituição das fontes térmicas e agora das hidráulicas, por fontes alternativas como a eólica e a solar que começam a ganhar expressão  na matriz energética brasileira. Tais crises tem conduzido, as pessoas, a uma consciência crítica da necessidade de agir com parcimônia e racionalidade no uso de tais recursos.

A atitudes das familias não está relacionada apenas ao consumo de água e energia mas, também, diante dos preços e alternativas nos supermercados, nos restaurantes e em outros serviços onde a busca por preços melhores e a substituição de produtos e marcas tradicionalmente compradas por produtos mais em conta, tem sido a tônica!

Adicionalmente o que se assiste é que, ao lado da perda de poder de compra das famílílias, da redução significativa dos investimentos públicos e privado, da diminuição da oferta de crédito pessoal, em face da conjuntura  econômica  adversa e do elevado aumento da inadimplência, tais circunstâncias tem conduzido o País a um amargo processo recessivo. Mas, por incrível que pareça, esse quadro tenebroso, tem seu lado positivo.

Os preços relativos, marcados por bolhas e desalinhamentos, começam a enfrentar a necessidade de voltarem a patamares considerados menos especulativos e a valores dentro dos limites do esperado.

Em Brasília, por exemplo, o preço de casas e apartamentos, já caiu cerca de 20%,em face da significativa redução da demanda. Os veículos automotores já enfrentam, tanto nas vendas como na produção, quedas superiores a 20% e a sobrevivência dos negócios está deveras complicada, mesmo com o festival de promoções.

Uma outra conquista desse processo de revisão crítica de valores e da vida em si, diz respeito a discussão que ora se abre em torno dos níveis de tributação pagos pelo cidadão,  de um lado e de outro a extensão e a qualidade dos serviços públicos ofertados Paga-se muito por serviços de qualidade e tempestividade discutiveis.

Por outro lado, a questão previdenciária está a exigir um equacionamento urgente pois já no próximo ano, o déficit já pode atingir 160 bilhões de reais em face da crise de emprego ou do desemprego crescente, além da alteração na estrutura demográfica e do excesso de benefícios concedidos,  além, é claro, de vazamentos e dos desvios de recursos publicos

Lamentavelmente só quem não assumiu a necessidade de cortar na própria carne foi o governo, haja visto o pacote pífio que apresentou com medidas de redução de despesas pouco convincentes e muito delas subjetivas e de difícil execução, apelando, objetivamente, para o aumento de impostos. Até quando o governo vai continuar abusando da paciência dos brasileiros e estabelecendo como lógica de sua atuação, a esperteza?

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