MICHEL, A CARTA E A OPORTUNIDADE PERDIDA!
Michel Temer, que sempre pautou a sua caminhada pela elegância, pela reconhecida habilidade política e pela enorme capacidade democrática de conviver com os contrários e com as adversidades, acabou cometendo, para muitos, um ato falho pois que, tendo tido a oportunidade ímpar de se mostrar um estadista e o único homem público efetivamente preocupado com os destinos do país, deixou fugir a oportunidade, por entre os dedos. O gesto foi visto como de uma pobreza de espírito inaceitavel para um homem da sua estatura.
A sua chorosa carta, cheia de mágoas e ressentimentos, não comoveu os formadores de opinião nem a classe política porquanto, para alguns, apequenou o homem público, o constitucionalista e o líder partidário que, até hoje, tem tido enorme sucesso, em todos os seus embates. Pena que o Vice-Presidente tenha perdido uma raríssima oportunidade de chamar uma Presidente, totalmente perdida, às falas e ter anunciado, à Nação, a dramaticidade do quadro e a sua sugestão de uma agenda para que o País saisse do impasse em que ora se encontra e pudesse vir a gerar, no povo, a confiança ele precisa.
Embora muitos apoiem e assumam essa avaliação, uma parcela significativa do PMDB e dos filtrados da legenda aplaudiram e gostaram da demonstração de queixa, de mágoa e de ressentimento de Michel achando que ele deu a senha para o rompimento da sigla com o governo no momento o mais adequado possível. E mais, muitos acharam que ele demonstrou um efetivo controle sobre o partido pois os episódios subsequentes — a demissão de Eliseu Padilha e a destituição do Líder do PMDB, aliado de Dilma — fundamentam e avalizam tal avaliação!
Se o quadro estava tumultuado, sem rumo e sem prumo, agora é que a sociedade e o povo, em particular, se sentem órfãos diante da constatação de que os seus destinos estão nas mãos desses quatro cavaleiros do Apocalipse: Dilma, Michel, Eduardo Cunha e Renan Calheiros! E estando nas mãos deles parece que, o que fica para os brasileiros seria aquilo que estava inscrito na porta do inferno, do livro Divina Comédia, de Dante Alighieri: “Lasciate ogni speranza voi que entrate”! Ou seja, “deixai qualquer esperança vós que entrais”!
Tais protagonistas da cena, ao invés de despertarem a esperança de que alguma coisa possa surgir de bom no horizonte, ao contrário, dão a certeza e a convicção de que, deles, no máximo o que poderá vir, será o desconforto de perceber que os mesmos, com argumentos falaciosos, incorram na tentação de armarem um acordo que a todos salva e a pátria continuará esquecida, sem eira, nem beira e Indo para um mergulho num abismo de problemas e dificuldades!
Pois, pelo que se sente, a Câmara continuará, dentro que se tem assistido, a ser essa triste casa de tolerância, com os deprimentes embates de interesses de parlamentares,sem qualquer compromisso republicano e sem qualquer ética d comportamento e de responsabilidade.
Também o outrora Vestuto Senado, hoje dominado por um fisiologismo pragmático, está alheio à crise do País e, mostra, claramente que, se a Câmara aprovar o afastamento de Dilma, a Casa Revisora será uma espécie de Casa de Correição e atuará, com certeza, através do voto dos nobres senadores, no sentido de garantir a permanência de Dilma como Presidente e, portanto, rejeitará a decisão da Casa do Povo! As únicas coisas que poderão mudar o curso da história serão as delações premiadas que poderão ocorrer ainda por essa semana, de Delcidio Amaral, de Cerveró e de outros como o Presidente do Pactual, o Presidente saíste da Odebretch, Marcelo, delações essas que poderão abalar as entranhas do poder.
Mas, pelos desdobramentos das inúmeras operações, investigações e delações, envolvendo a todos e a tudo, lámentavelmente ha qu se concluir, como Hamlet, de que “há algo de podre no reino da Dinamarca”! E a coisa está fedendo e vai feder ainda mais!
Aliás, as buscas e apreensões da Polícia Federal, ocorridas hoje pela manhã nos escritórios e residências do Presidente da Câmara, dos ministros Henrique Eduardo Alves, do Deputado Celso Pansera, Ministro da Ciência e Tecnologia, do ex-ministro das Minas e Energia, Senador Edson Lobão, do ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado e do deputado federal Anibal Gomes, levarão, necessariamente, a três consequências: um enorme tumulto nas hostes do PMDB pois todos os presumidos suspeitos pertencem a agremiação; ao consequente rompimento imediato do partido com o governo; a uma tomada de posição de Temer e ao descontrole total do que passará a ocorrer, não apenas na Câmara bem como no Senado, pois Henrique Alves, Sérgio Machado, Edson Lobão e Anibal Gomes mantém estreitíssimas ligações com o Presidente do Congresso Nacional, Senador Renan Calheiros.
Alguém perguntará, diante de todos esses episódios que só denigrem a imagem de um já desgastado Congresso Nacional e que aviltam mais e mais a classe política e os dirigentes do setor público nacional, como as ruas se comportarão? Será que mostrarão a força da sua indignação ou jogarão a toalha do cansaço, da impotência e da indiferença? As dúvidas crescem porquanto já acham alguns que a reação do povo está em processo de arrefecimento e, acabará desembocando numa atitude de indiferença, como até bem pouco encontrava-se a Argentina. Ou será, como imaginam os mais otimistas que, como a chamada visita da saúde, demonstrando ainda um pouco de fôlego e de esperança, propiciará o espetáculo que agora ocorreu com o País vizinho?
É difícil antecipar o que virá nos próximos dias pois os atores não sensibilizam a ninguém por não disporem de qualquer atributo, competência ou qualidade de que deles se possa esperar como que uma idéia, um gesto ou um movimento que levante a esperança de que alguma coisa de bom, de sério e de confiável venha a acontecer.
Isto porque a Presidente Dilma, além de não dispor de atributos de inteligência e de competência técnica, outrora tão alardeados, no capítulo político, tem demonstrado uma habilidade de uma espécie de macaco em casa de louça e, os que a cercam ou os que assessoram no Planalto e no Congresso, são de uma pobreza, de uma mediocridade e, pela prática recente do partido, não dispõem de um mínimo de credibilidade para a construção de pontes de entendimento!
Se Dilma se mostra essa nulidade ambulante para gerir políticas públicas, liderar processos de mudança estrutural da economia e estimular a sociedade a aceitar sacrifícios hoje por um amanhã, o seu atual desafeto, Eduardo Cunha, é o senhor esperteza, com um invejável talento de estrategista, sem maiores escrúpulos e voltado, exclusivamente, para suas ambições e sonhos de poder. Já Renan, já tendo sido pego pelo gongo uma vez, usa a sua sagacidade e a assessoria de raposas como o velho Sarney, Romero Jucá e Jáder Barbalho para construir pontes de sobrevivência diante do bombardeio que ora enfrenta!
Já Michel agora ou se torna o protagonista maior desse processo ou se amesquinha, de vez, diante do quão enredados estão os seus aliados e parceiros de empreitada !
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!