A MARCHA, COM PEQUENOS TROPEÇOS, DO GOVERNO!

Governar é a arte do possível, lidando com o imponderável e com as nuances e peculiaridades da condição humana. E, o exercício do poder requer habilidade, senso de oportunidade, capacidade de lidar com as diferenças e as indiosincrasias, além de uma paciência inesgotável. Isto porque, não basta ter habilidade e competência para lidar com os gravíssimos problemas mas para enfrentar uma oposição, as vezes, despropositada, agressiva e sem compromisso, além de ter que conviver e administrar o chamado fogo amigo.

Aliás, há de se indagar o que leva a alguém, tão bem em seus pagos, de bem com a vida, experimentando paz de espírito e a alegria de viver, resolver lutar para assumir o poder com todas as cobranças, exigências e imposições que o poder cobra, de maneira impiedosa!

O analista tende a se perguntar se Temer tivesse consciência e a convicção de que a ignorância é a base da felicidade, nunca teria, aos quase 76 anos, com uma bela história de vida para contar e uma biografia para se orgulhar, se entusiasmado com a possibilidade de assumir um poder desestruturado, desorganizado, falido e escangalhado como ora está a enfrentar.

A cada hora mais uma surpresa e, no mais das vezes, daquelas bem cabeludas. Se fosse possível ter aberto a caixa preta do governo passado, teria descoberto que os problemas não se cingiriam aquilo que estava visível e sentido pela sociedade e pelos mais carentes e humildes. 11,5 milhões desempregados; hum milhão e cem mil famílias que perderam o status de classe média alta e “desceram” para um patamar inferior; quase um milhão de familias que viveram o efêmero sonho de classe média, no conceito lulista e, que voltam ao inferno de onde saíram, além de um inflação que corrói as suas minguadas rendas, são parte desse cenário que assusta pelos seus desdobramentos, caso nada venha a ser feito.

Isto sem contar um buraco nas contas públicas que deve chegar aos 150 a 160 bilhões de reais; de uma Petrobrás, completamente quebrada e de uma Eletrobrás falida e que deve passar ao Tesouro um déficit de 20 bilhões, a serem imediatamente cobertos; de bancos públicos  que se desorganizaram e se descaracterizaram como o BNDES que concedeu créditos de mais de 500 bilhões nos últimos seis anos, não se sabe como e a quem e com que critérios; uma Previdência Social que teve um déficit de 58 bilhões em 2014, 84 bilhões em 2015 e deve fechar 2016 com um deficit de 133 bilhões de reais. A par disso tudo, um estado aparelhado de ponta a ponta, com quadros de discutível competência, credibilidade e compromisso e com agências reguladoras sem cumprir as suas funções além do desvirtuamentos dos projetos sociais e da farra com os recursos públicos para financiar MST e outros movimentos sociais!

Ademais, se Temer soubesse das demandas não atendidas na saúde, na educação, na segurança pública, entre outras, teria execrado o dia em que se interessou pela idéia de assumir, mesmo que, interinamente, o poder!

Só agora Temer e os seus companheiros de empreitada conhecem a dimensão do abacaxi, da sua complexidade e dos inúmeros problemas que levou ao Ministro do Planejamento a apontar, de imediato, 80 problemas a serem enfrentados, de imediato, pelo governo. Surgem críticas perfunctórias, irrelevantes e que não se enquadram no perfil de prioridades para o encaminhamento dos problemas do país, como é o caso da inexistência de mulher no ministério; da opinição do Ministro da Justiça de que não há poder absoluto no País, pois que, nem a escolha do Procurador Geral da República deveria retirar do Presidente a liberdade e o direito de,  no processo de escolha, fazer a sua opção; ou da reforma da previdência,  além da honestidade de Meireles de que se a coisa ficar preta demais para o equilíbrio das contas públicas, só recorrendo a um aumento de impostos, de forma temporária.

Ninguém parece que estar a ver que todas as medidas propostas até agora, notadamente quanto à Previdência e quanto ao aumento de impostos, já foram apresentadas pelo governo anterior, nos seus estertores! Ninguém parece que avalia que os quadros já recrutadas pelo governo, alguns são quase que unanimidades quanto a sua competência técnica ou sua indiscutível habilidade política como é o caso de Meireles e de seu entorno, inclusive agora, com a escolha da Presidente do BNDES, do Presidente da Petrobrás, do Presidente do Banco do Brasil e, agora com o anúncio do chamado “deram team” com a presença de assessores do melhor nível dentro do Ministério da Fazenda.

As atitudes e propostas dos novos ministros, principalmente os chamados mais jovens, surpreendem pelo espírito público, pelo entusiasmo de realizar um grande trabalho e pela compreensão de que cabe a eles, não apenas mostrar competência técnica, trânsito e articulação política além de extremamente habilidade na escolha de seus auxiliares,  como  já demonstrou o novo Ministro da Educação !

As idéias que estão surgindo, desde a a revisão crítica dos programas sociais para acabar com fantasmas e desvios de recursos  e de retomar o seu papel de promotor de inserção na sociedade civil de novos cidadãos, além da revisão crítica do SUS, são exemplos de que os novos ministros estão querendo acertar.

Até as medidas vistas como surpreendentes, como a idéia de legalizar o jogo, os sorteios e os bingos, além de rever a situação do projeto de repatriação de recursos externos que eram para ter garantidos 20 bilhões de reais e até agora só permitiram realizar 4 bilhões, levam a que o governo “corra” com as propostas de concessões de serviços públicos, privatização de estatais, de novos estímulosas a projetos de exploração de obras de mobilidade urbana e, medidas destinadas a fazer com que o saneamento ambiental, tão urgente a auxiliar o programa de saúde pública do país, deixe de ser um peso nas finanças públicas dos entes governamentais.

Finalmente, a aprovação da DRU – Desvinculação das Receitas da União –, além da criação da DRE e da DRM, respectivamente, em limites que deverão ascender aos 30%, deverão dar um grande alivio às contas públicas e garantirão maiores  graus de liberdade para as ações dos governos em todos os níveis. Alie-se a isto, uma negociação inteligente e sábia dos encargos das dívidas estaduais e municipais, já no index das preocupações do novo governo, mostram que há muito mais de iniciativas, de proposições e de medidas pensadas pelo governo que se instalou do que se imagina. E, diga-se de passagem, num prazo de menos de quatro dias úteis e, subordinado a tantas cobranças, muitas vezes irrelevantes, intempestivas e inoportunas de quem não tem noção de que governar é a arte do possível, subordinada aos humores, interesses e incompreensões de muitos e muitas.

Então, o que se pode dizer e apelar é que a mídia e os mais apressados “deixem o homem e os homens trabalharem” em paz conferindo-lhes um crédito de confiança pelas idéias e propósitos que externaram e garantam-lhes um prazo de validade para que o País não sofra as conseqüências de sua incompreensão!

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