POR QUE A CRISE NÃO FOI E NÃO É TÃO IMPACTANTE SOCIALMENTE?

Todos são unânimes em afirmar que essa é a maior crise de toda história do país, não apenas do período republicano mas que se tem notícia em todo o itinerário da brasilidade. Não apenas pela sua dimensão — geral e irrestrita! — mas pela sua abrangência e intensidade, marcada por um crescimento negativo do PIB de quase 10% nos últimos quase três anos, por uma evolução extremamente rápida da Dívida Interna Bruta e por uma inflação em constante aceleração.

Pouca gente tem a dimensão do Brasil amargando uma redução acumulada do PIB de quase 10% em três anos, de uma inflação que foi de 11,5% ano passado e de um desemprego que já atinge 12,5 milhões de brasileiros! Em outras circunstâncias e, se não fora a adoção de  novos ingredientes e das políticas públicas compensatórias adotadas, provavelmente o cenário seria de desorganização e de desestruturação da economia e da própria sociedade brasileira como um todo.

Se se pretender elencar os fatores que permitiram que essa crise não promovesse um quase caos social, valeria à pena mostrar que fatores funcionaram como amortecedores do impacto econômico negativo sobre os indicadores sociais e, particularmente, evitando assim, uma quase convulsão social!

Em primeiro lugar a crise foi se construindo a partir de 2011 mas, só começou o governo a perder os graus de liberdade de intervenção na economia, em 2014. Isto porque a crise fiscal, do governo federal, de estados e municípios, acentua-se a partir de 2014; a aceleração da inflação começa a assustar; uma queda no desempenho do setor externo acende um sinal de alerta e, a partir de tais indicadores, a agudização da crise do setor manufatureiro passa também a contaminar o varejo e os serviços. Aí a queda no emprego e no poder de compra dos salários torna-se mais significativa e se exterioriza de maneira mais aguda, a partir do segundo semestre de 2014.

Diante desse processo de ampliação e aprofundamento da crise, o pessimismo começa a tomar conta das atitudes, do comportamento e das expectativas dos agentes econômicos como um todo.

E, com isto, planos empresariais são postergados e as empresas começam a demitir de maneira intensa e ostensiva já em 2014. A partir daí o desemprego começa a acelerar e tomar proporções preocupantes e quase incontroláveis. Também micro e pequenas empresas começam a fechar, lojas a cerrar suas portas e passa a crescer o tamanho da economia informal.  Por outro lado, as grandes e médias empresas começam a estruturar os seus programas de demissões voluntárias, além da estratégia de otimizar a disponibilidade de seus recursos humanos, desempregando aqueles que geram resultados menores para a empresa e mantendo os que geram um produto maior.

Também as empresas começam a gerar acordos, ao “arrepio da lei” pois a lógica da sobrevivência se coloca acima da exigência que a norma formal estabelece pois consagra-se o princípio de que “é melhor ganhar uma remuneração um pouco menor do que ganhar remuneração nenhuma”. Assim acordos de parte a parte, pdv’s, contratos temporários, uber, bolsa-presidiário, FIES, Pronatec, previdência rural, LOAS, agricultura familiar, frentes de serviços além de contratos de empreitada agiram e representaram verdadeiras válvulas de escapes ou safenas para uma economia infartada.

Crê-se ser possível uma maior e mais rápida superação da crise desde que as negociações das dívidas das famílias, via benefícios fiscais e negociações com o sistema financeiro; linhas especiais de crédito para recompor as finanças das médias e grandes empresas; o apoio à economia informal, à microempresa e programas como os destinados a manutenção de empregos e outras mais sejaqm criados e viabilizados pelo governo.

É importante mencionar que, dentro da crise, as empresas buscam fazer ajustes nos seus custos, reduzir margens de resultados e adotar políticas de preços compatíveis com o encolhimento do mercado ou de conformidade com a redução da renda disponível dos consumidores além de intentarem outros ajustes com os seus empregados na base da chamada otimização de resultados. Ou seja, substituindo empregados mais caros por outros de conformidade com o seu output ou os resultados que são capazes de gerar.

Ademais a crise produz todo um processo de racionalização de gastos de pessoas e de empresas, diminuição de ineficiências e desperdícios de toda ordem, forçando que a gestão da coisa pública redefina valores para ajustar-se às reais dimensões da crise que tomou conta do País.

Assim, houve uma revisão geral de valores e de critérios de gastos, de redução de desperdícios além de corte de investimentos — devolução de apartamentos comprados, casas adquiridas e carros obtidos por financiamentos — além de, até mesmo, deixar de pagar débitos de um modo geral, aumentando a inadimplência. Também, como a crise estimula a criatividade, até mesmo o surgimento de novas atividades, profissões e saídas, foram surgindo a partir das circunstâncias que forçaram uma revisão crítica de todos os valores e meios de sobrevivência da sociedade como um todo.

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