A crise e suas lições

Da crise ora experimentada pela classe política e pelas instituições nacionais, algumas lições podem ser extraídas.

Em primeiro lugar, a política é impiedosa e cobra a hora de parar e de sair de cena. Perdendo-se o momento o resultado é o desgaste, o manchar da biografia e, quando muitos interesses estão em jogo, levar alguém a própria execração pública.

Sarney, por exemplo, teve dois momentos épicos em que poderia ter escrito belas páginas na história política do país. O primeiro foi quando, ainda jovem, apeou do poder o homem forte da política maranhense, Vitorino Freire, encerrando um ciclo de controle impiedoso do poder naquele Estado.

A segunda oportunidade foi quando o acaso e o infortúnio de Tancredo colocaram em seu colo a Presidência do país.

Na Presidência terminou os seus dias com uma inflação fora de controle e um legado discutível pois até a sua habilidade, jogo de cintura e capacidade de articulação política, para alguns analistas e cientistas políticos, foi forçada pela atuação  dos dois condestáveis, Aureliano Chaves e Ulysses Guimarães além da presença de um coadjuvante de peso e de expressão, no caso ACM.

Sarney é pessoa afável, educada e de fino trato. Ninguém pode negar que tenha espírito público. Mas Sarney dá a todos a sensação, pelos seus valores e práticas políticas, que além de Pinheiros, sua cidade natal, sente-se no exílio. É lamentável que pressões de interesses de familiares, amigos e correligionários tenham levado a que, ao invés da tranquilidade dos debates em tertúlias intelectuais da Academia, Sarney tenha ido para o mais devastador ambiente de sacrifício pessoal, moral e político.