A CRISE MUNDIAL.

Se alguém imagina que a crise econômica mundial é um caso de todo superado, não está acompanhando a lenta e complicada recuperação bem como as medidas dramáticas usadas pela Comunidade Econômica Européia, no sentido de não ver se espraiar, na forma de contágio, as crises de Grécia, Portugal e Espanha, afora a situação nada fácil de Itália e França, sem contar a situação inglesa, com o déficit orçamentário além de 11 por cento do PIB e uma divida pública assemelhada, em percentual, aos níveis de Espanha.

A situação de Grécia e Espanha, com seus duros e rigorosos planos de reequilíbrio fiscal, já provocam violentas manifestações de rua contra os seus governos, o que exigirá muita sobriedade e equilíbrio das oposições e da sociedade civil, objetivando convencer à sociedade de que ou é um plano de austeridade fiscal agora ou será a “débâcle” econômica inexorável, amanhã.

Por outro lado, o Reino Unido, de governo renovado, após cerca de 14 anos de domínio dos trabalhistas, agora com o comando político de um governo conservador, mas que teve a visão de montar um governo de coalizão, com os “tories”, reeditando uma composição política que só havia ocorrido na Inglaterra, ao tempo de Winston Churchill, tem já concebido um sóbrio, objetivo e eficaz programa de reequilíbrio orçamentário e fiscal para o País.

A tendência do novo governo inglês, comandada por dois jovens de quarenta e três anos, é montar um programa de austeridade bastante duro e manter-se afastado de qualquer tentativa de adotar, não apenas a moeda, mais quaisquer medidas daquelas economias que fazem a Zona do Euro.

Apesar de ter sido bem recebido pelos mercados do mundo inteiro, não só o “pacotaço” de ajuda, da ordem de 750 bilhões de euros, para atender “os desvalidos e ameaçados” da referida Zona, as preocupações européias continuam presentes e, agora, estão centradas em alguns pontos.

O primeiro deles é como fazer para que tal “derrama” de meios não provoque inflação e mais desorganização fiscal. O segundo aspecto é avaliar até que ponto tais medidas, sem virem acompanhadas de medidas de regulação e maior controle do sistema bancário e financeiro, não seriam, em parte, pouco eficazes. E, por fim, como viabilizá-las, politicamente, sem grandes tumultos e desordens político-institucionais.

Por outro lado, a demora de planos de austeridade de países como Itália, França e de todo o Leste Europeu, sem ocorrerem no mesmo momento como os que ora estão a ocorrer na Inglaterra, em Portugal e na Espanha, podem diminuir a eficácia de todo o esforço para a Zona do Euro.

Finalmente, não se está buscando avaliar o impacto sobre a economia mundial, dos dramáticos cortes de gastos de custeio e investimentos em tais economias, bem como o seu resultado para o resto do mundo, em termos de procrastinar a recuperação econômica de vários países, notadamente, os emergentes.

Na verdade, no caso brasileiro, não se tem assistido discussões sobre as repercussões da crise das economias da Zona do Euro sobre o crescimento brasileiro. Aliás, valeria à pena indagar se o volume de investimentos diretos de Espanha, Itália, França, Alemanha e Inglaterra, aguardados e incorporados às projeções de expansão da economia nacional, não sofrerão restrições em face dos referidos planos de austeridade.

Caberia ao Brasil buscar avaliar os cenários possíveis para a economia mundial e intentar avaliar as repercussões sobre as intenções brasileiras de crescer acima de quatro por cento nos próximos vinte anos. Não se quer nem que o país faça planejamento estratégico, mas, pelo menos, tenha uma visão dos desdobramentos de todos os atos e das políticas adotadas pelos Estados Unidos e pela União Européia. Não dá para ficar apostando e colocando todas as fichas nos efeitos dinâmicos do crescimento dos emergentes, particularmente dos chineses, esquecendo da lição recente da crise do subprime americano que, na avaliação do próprio Presidente Lula, seria apenas “uma marolinha” e que levou a um crescimento negativo em 2009 e exigiu uma série de medidas anticíclicas, tomadas pelas autoridades econômicas brasileiras.

Será a crise européia algo que apenas os planos de austeridade irão sanar, de vez, os desequilíbrios fiscais e a lenta recuperação econômica da economia dos países membros? Parece que a crise terá repercussões bem maiores do que se está admitindo agora. E, mais uma vez, o Brasil deve aproveitar a “onda” internacional e promover uma série de ajustes, notadamente em um ano em que ninguém está querendo discutir qualquer questão de fundo, mas apenas se o seu candidato será vitorioso ou não.