A OPOSIÇÃO EM BUSCA DE UM DISCURSO!
O “mantra” de Dilma, usando as metáforas e as expressões futebolísticas de seu guru, já é por demais conhecido: “em time que está ganhando, não se mexe”. Ou dizendo melhor, “continuidade sem continuísmo”, pois que, a essência do que foi plantado por Lula, precisa de uma guardiã para que tais programas não sofram solução de continuidade.
Aliás, para convalidar tal tese, Lula deverá mandar já, ao Congresso, a sua CLS ou uma versão, para a área social, do que foi a CLT, para a área trabalhista. Pretende, inclusive, mandar também um projeto de lei, criando a Lei de Responsabilidade Social!
Dilma continuará “colada” a Lula, ficará “vendendo o peixe” de que ela foi quem engendrou e fez operar todos os programas do atual governo e que, tais iniciativas melhoraram a vida dos brasileiros. Ademais, Lula, como seu fiador maior, garante que ela será uma governante com capacidade gerencial indiscutível e um conhecimento profundo de como funciona o governo e a sua máquina.
À oposição só restará a alternativa de dizer que, “o passado já foi conquistado e o que o povo quer saber é o que o futuro lhe reserva”. Para tanto a oposição, na busca de desconstrução do discurso do governo, deverá mostrar, em primeiro lugar, que o que se tem hoje é fruto de um processo e não fruto do acaso ou de uma ação de um governo, um homem ou um líder isolado. Sem a EMBRAPA, por exemplo, sem a infra-estrutura de comunicações do centro-oeste, sem a ousadia empreendedora dos que se dispuseram a ocupar áreas antes inóspitas e sem a força do crédito oficial, não existiria o vigoroso, eficiente e competitivo agronegócio brasileiro. Sem o Plano Real, sem a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem o PROER, sem o cambio flutuante e sem as metas de inflação, o País não teria atravessado as várias crises econômicas internacionais e não teria criado o ambiente propício para os negócios e a retomada do crescimento. A quem creditar tais conquistas e tais êxitos? À sociedade brasileira, em primeiro lugar. A homens, até mesmo o próprio Sarney com o seu experimentalismo do malfadado Plano Cruzado; as maluquices do curto período de Collor na Presidência, com novos planos de combate à inflação e a abertura da economia; e a determinação de Itamar Franco e de seu ministro da Fazenda em intentarem, mais uma vez, a busca e a conquista da estabilidade da moeda do País com o Plano Real.
Portanto, as conquistas de uma sociedade e de uma nação não são obra de um homem só e nem de um só momento. São fruto de um processo que, não só se fez ao longo de um período de tempo como contou com a participação de muitos. Quanto das conquistas brasileiras não se devem a Getúlio Vargas? Quanto não se deve a Juscelino Kubitscheck? Quanto não se deve aos governos militares e sua visão estatizante?
Se se pretendesse estabelecer tal processo de fulanização da história, agora mesmo, a classe empresarial estaria debitando parte significativa da desindustrialização que vem enfrentando o País, nos últimos anos, ao governo do Presidente Lula que, ao não estabelecer políticas industriais que contivesse o processo de perda de posição relativa da indústria na economia nacional, máxime num país onde 80% de sua população é urbana, seria o responsável maior por tal problema. Mas, se o processo ocorreu, diferentemente do que ocorreu com a Coréia e a China, não pode ser de responsabilidade de um governante, mas de um conjunto de ações, omissões e erros de política econômica, praticados pelos governos e pela própria classe industrial.
Portanto, a grande “deixa” ou chance da oposição é buscar construir um discurso que fale do amanhã, mas de um amanhã que “venda” ao povo “esperança consequente” e fale daquilo que diz respeito ao seu universo de problemas e aspirações.
E aí vão duas recomendações. A oposição deve esquecer a sua linguagem empolada e saber que o grande eleitorado é aquele que entende e processa bem a linguagem de Lula. A segunda coisa é propor coisas que agreguem valor a vida dessas pessoas que tentam sair da faixa de pobreza absoluta bem como aquelas que conseguiram se transformar, orgulhosamente, em classe C ou em classe média. Além de quererem ver garantidas as conquistas que fizeram até agora, gostariam de vislumbrar o que mais se lhes poderá dar para a sua ascensão social, notadamente de seus filhos.
A classe C quer ouvir, dentro do que cabe na sua compreensão e entendimento, como reduzir a violência a que está sujeita; a ver, claramente, como o acesso à saúde poderá vir a ser bem melhor e como mais e mais oportunidades de emprego surgirão a sua frente.
Ou seja, o discurso tem que falar de sonho, de esperança e de amanhã, mas de um amanhã que as pessoas possam vislumbrar e perceber. Há que mexer com o imaginário coletivo.
Este cenarista lembra-se de um estudo que foi feito, há alguns anos, sobre preocupações, demandas, aspirações e sonhos da população, dividindo-a por nível de escolaridade. Foi colocado em um gráfico, nas abscissas, o espaço e nas ordenadas, o tempo. A maior parte das pessoas de menor escolaridade e de mais baixa renda se localizava no entorno da origem, querendo demonstrar, com isso, que só na proporção em que as pessoas avançam em termos de escolaridade, elas vão se preocupando com o universo em seu entorno. Primeiro preocupam-se com o vizinho e com a semana, os mais limitados em renda e culturalmente. Depois com a rua e com o mês. Depois com o bairro e com o ano. Depois, bem pouca gente, com o amanhã mais distante e com o estado e o país. E é dentro dessa perspectiva que as coisas devem ser montadas em termos de estratégias da oposição, se ela quiser competir com o discurso, por enquanto, imbatível, do “mito” Lula e repetido, à saciedade, por Dilma.
Augusto,
Ter um leitor de cultura, sensibilidade e espírito público como você é uma “honra para um pobre marquês”. Eu queria que você me passasse o livro do colombiano pois acho essa discussão que você chamou a atenção, legal demais.
O sociólogo colombiano Bernadrdo Toro nos fala muito bem dos “imaginários convocantes e imaginários vinculantes”. Isso o essoal da assessoria do Pres. Lula soube incorporar muito bem no discurso deles.
O marketing eleitoral deixou de ser aquelas produções bem feitas de TV. Isso não disseram ainda ao Ciro, nem tampouco aos marketeiros do PSDB.
Voce, Paulo, com sua inteligência de sempre, acertou na mosca. O grande discurso é aquele que realiza no receptor o sentimento de pertencimento. De pertença. Aquele que o faz viajar em imaginários factíveis, ou como voce já disse um dia, em utopias do possível.
Agradeço a quem colocou o meu email em seu mailling para poder receber os seus comentários. Saúde e sucesso.
É isto aí. Se você não apresentar algo inteligível e que mexa com demandas, sonhos e aspirações das pessoas, dentro de algo que, em termos de mensagem, perpasse todas as classes sociais, você não conseguirá mexer no imaginário coletivo e sensibilizar as massas.
As recomendações do cenarista são justamente o maior obstáculo para os responsáveis por cranear as idéias da oposição. Lembram a importância da adequação do discurso à época em que é feito Um exemplo foi o lema da campanha do “new deal” proposto por Franklin D. Roosevelt a um EUA em plena crise econômica: dois frangos em cada panela e dois carros em cada garagem. Simples assim, o lema entrou em todos os lares norte-americanos e conquistou o povo para os democratas. Além disso, o lema sinalizava uma política industrial e agropecuária que iria novamente levantar o país.