A PROSTITUTA RESPEITOSA DE FAULKNER E O MOMENTO POLÍTICO BRASILEIRO!

 

Dizia-se, como uma espécie de lugar comum que, uma CPI sabia-se como começava e não se tinha a menor idéia de como terminava ou onde iria parar. No Mensalão, a princípio, o sentimento era o mesmo mas, depois de idas e vindas, de recursos e embargos, sete anos se passaram , e, para surpresa de muitos, o episódio terminou em significativo ganho para a sociedade.

Não só porque os temores de que não daria em nada não se confirmaram, diante das punições e prisões de acusados, inclusive de gente de grosso calibre! É isto mostrou que, talvez, a impunidade, tão usual por estas plagas, não seria mais tão gritante e ululante como ocorria até aquele julgamento.  Ademais, para a satisfação da sociedade, outras conseqüências se apressaram em se apresentar!

Claro está que manobras e chincanas de toda ordem acabaram reduzindo a punição dos envolvidos e, produzindo, também, por parte da sociedade uma certa descrença e desconfiança no STF  e o seu consequente descrédito. Isto porque, as manobras de gente graúda do PT, conseguiram impor um sacrifício maior ao homem que foi o esteio do processo, no caso, o Ministro Joaquim Barbosa. Diante das ameaças de toda ordem a ele e a sua família, o magistrado não aguentou  a pressão  e acabou pedindo as contas  e se aposentando do Supremo!

Agora o Petrolão está indo além das expectativas iniciais pois se imaginava que tivesse curso assemelhado ao Mensalão. Ao contrário, o “novelo de linha” parece que está se desenrolando, de maneira mais objetiva e contundente e, nessa nova etapa, qual seja, a nona, as investigações se voltam para as ações e desvios de conduta ocorridas nas áreas de serviços da empresa e na sua subsidiária, no caso, a Petrobrás Distribuidora que, pelo que presumem os procuradores, parece que as averiguações poderão apresentar desvios de conduta e escândalos tão cabeludos quanto os até agora desvendados.

Afora tais desdobramentos, há muito gente que acredita que, dentro das vinculações de tais mal feitos, as investigações também deverão se voltar para a Eletrobrás, para os financiamentos do BNDES e para  um possível direcionamento dos investimentos dos fundos de pensão que pode ter ocorrido com vistas a beneficiar os amigos do poder ou os aliados do partido dos trabalhadores!

Ademais, para mostrar que o ano vai ser complicado, ainda não foram tornado públicos os nomes de senadores, governadores e deputados federais beneficiados pela distribuição generosa de fundos para financiar atividades politico-partidárias com recursos oriundos da Lava-Jato. Aí, quando isto ocorrer, a coisa vai, provavelmente,  ficar muito preta.

Mas, enquanto tal não ocorre, os resultados da delação premiada de acusados, pessoas físicas e, da delação de empresas, chamada de “acordo de leniência”, tomam vulto e, a cada dia, novas descobertas são feitas porquanto os empresários e dirigentes de grandes empresas e corporações, com os nervos à flor da pele e pressionados pelos seus familiares, estão dispostos a fazer qualquer acordo e devolver qualquer grana para desfrutarem da liberdade perdida mesmo que, o seu retorno, venha a ser marcado pelo condicionamentos a certas restrições ao seu ir e vir.

Por outro lado o Petrolão  tem levado a uma atitude de revolta e de indignação da sociedade como um todo pois que, agora, tal sentimento não se restrige mais aos chamados formadores de opinião mas, perpassa toda a sociedade, inclusive atingindo até os chamados filhos do bolsa-familia. O que as redes sociais tem propiciado de inclusão política da sociedade está além do que a filosofia política e os cientistas políticos de plantão poderiam imaginar!

E isto fica comprovado diante dos resultados da última pesquisa de opinião que avaliou o governo da Presidente Dilma bem como estabeleceu o nível de credibilidade da mandatária da Nação. A sua popularidade despencou, de dezembro para cá, de 43 para 24% e a sua rejeição ou desaprovação cresceu de 23 para 44%!

Tudo por conta do Petrolão, do chamado estelionato eleitoral denunciado pós pleito de outubro passado, da crise de água e energia elétrica, do aumento nos preços dos combustíveis e de todas as consequências das medidas destinadas a pôr a casa em ordem, notadamente no campo das finanças publicas, que estão impondo um enorme ônus sobre as populações, notadamente as de mais baixa renda.

E os dados da pesquisa de avaliação da Presidente e de seu governo vão  desde a convicção, por parte da população, de que Dilma sabia de tudo do Petrolão — 80% acham que ela tinha conhecimento! — como mais da metade da população acha que ela mentiu diante de tais desmandos.  A desonestidade de que é acusada tanto decorre, segundo avaliaram os entrevistados, por ter agido diretamente ou por ter aceito os desmandos ou ainda, por omissão diante de tais mal feitos.

A queda de popularidade foi tão brutal, igualando-se a popularidade alcançada agora, em fevereiro deste ano, aquela menor popularidade que um presidente enfrentou a qual ocorreu em 1999! E, até mesmo no Nordeste, a sua aceitação caiu de tal maneira que, para surpresa de muitos analistas,  hoje atingindo  magros 23% o que, diga-se de passagem, é um dado deveras preocupante para uma dirigente e para o seu próprio partido.

Se, ao lado desses problemas e desgastes que podem respingar em Lula e na própria Dilma, os problemas econômicos e a forma única de seu encaminhamento, que está sendo posta em prática, aliada a fragorosa derrota para as eleições da Câmara, as desastrosas indicações para a Diretoria da Petrobrás e a manutenção dos dirigentes da Caixa, BB e BNDES, criam transtornos adicionais e colocam, em polvorosa, a sua base de sustentação parlamentar. Esta, órfã de interlocutores capazes de minimizar tensões e promover negociações tais que possam garantir a sustentação parlamentar mínima à governabilidade do País, tem sido uma negação!

Mas apesar de todo o “imbroglio”, há que se mostrar algum otimismo de que as coisas possam melhorar para o País na proporção em que, no Congresso e por iniciativa de líderes da própria instituição,  talvez agora saia uma reforma política mínima que abra espaços para a maior legitimidade da representação política no País.

E sairá pelas mãos de homens públicos que estão hoje sujeitos à desconfiança da sociedade e sobre os quais, às vezes, se levantam dúvidas sobre a rigidez de conceitos, princípios e critérios que adotam e  abraçam.

Parecem, tais líderes, na atitude, com o personagem de um livro interessante de William Faulkner, chamado “A Prostituta Respeitosa”, onde uma profissional do sexo, vê o seu apartamento invadido por um negro perseguido por brancos da polícia ou da Ku Klux Kan e, o negro, no desespero, pede socorro e um abrigo passageiro.

Ao que ela reaje dizendo que não gosta de negros, que odeia negros e pede que ele saia. Mas, diante do desespero do negro  e da certeza da injustiça que sentia que seria cometida contra ele, diz ao mesmo que se esconda em qualquer lugar. Quando a policia chega ao apartamento e a indaga “se viu passar tal indivíduo por ali”, ela dizz que, se tivesse visto, ela mesmo o teria executado ou coisa parecida. Ao que os policiais se despedem. Assim o negro é salvo pelo gesto de grandeza e de dignidade da prostituta.

Será que os líderes maiores do Congresso irão agir como a prostituta respeitosa  de Faulkner e darem início a um ciclo virtuoso de reformas institucionais? Quem aposta nesse desfecho?

 

 

 

 

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