A SUCESSÃO COMEÇOU?

Parece que sim e, inclusive, se alguém achava que as discussões ou os entreveros iriam ficar no tradicional feijão com arroz e na, na cansativa, monótona e repetitiva troca de acusações — xinga prá lá, xinga prá cá; “o meu discurso é melhor e mais bonito que o seu”; “você defende as elites brancas e preconceituosas, etc e tal” — a coisa começou a esquentar e, surpreendendo a muitos e, indo além do que se esperava, já começa a quebrar a tal da polarização PSDB versus PT. Tanto é que não se ouve Aècinho abrir o bico e entrar no debate que ora começa a ocorrer.

E, quem também achava que Marina Silva ia ser a parte mais fraca e frágil da aliança, monocóridamente repetindo o mantra do ambientalismo, enganou-se, redondamente. Ela vem “com gosto de gás” e, parece que a estratégia estabelecida na aliança, é a de surpreender sempre o adversário. Aliás, a surpresa começou com a própria idéia de construção da aliança entre Maria e o Governador de Pernambuco. E, a nova surpresa é que, parece que caberá a Marina ser a crítica mais ácida das ações de governo enquanto ficará para Eduardo Campos as propostas destinadas a mudar a economia e a sociedade brasileiras.

As entrevistas dadas por elas estão irritando, sobremaneira, Lula, Dilma e companhia, provocando até destemperos inoportunos de aliados de Dilma como o do Ministro Paulo Bernardo, manifestado em entrevista dura contra a dupla, já apelidada, para muitos do povo, de dupla do barulho!

E tal está a ocorrer porque, diferentemente do que se pensava, quando se imaginava que a aliança ia ser posta em cheque pelas críticas, propostas de intrigas e sugestões sobre a sua inviabilidade, como na estratégia proposta por Lula “isolem o PSB e o Eduardo”, os dois dão o troco, deixando tal discussão de lado, por ser menor e estabelecendo a crítica ao Governo Dilma, orientando, a dura avaliação, a pontos nevrálgicos. E, tem sido uma crítica contundente, precisa, atual e capaz de abrir espaços para a discussão de propostas objetivas e convincentes.

A tal da sustentabilidade da Rede não vai ficar só no discursos dos ambientalistas e dos sonháticos. O conceito está sendo construído na idéia de sustentabilidade política, econômica, social e ambiental, dentro de uma visão bastante compreensiva que, embora tendo como valores básicos os princípios tais como o que não se pode sacar contra o futuro das gerações para resolver os problemas de hoje, além daquele princípio de resguardar a vida acima de qualquer pretexto, ao mesmo tempo que infunde a idéia de que não existe nada mais compatível com tal conceito, do que uma proposta de desenvolvimento econômico-social sustentável como o que propõe a Rede.

Ou seja, cada vez mais são montadas estratégias não excludentes de fazer crescer, transformar, incluir social e espacialmente e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, dentro de um marco ambiental de preservação sustentável, sem xiitismo e sem ideologismos inconsequentes, do que Marina defende!

E, crê este cenarista, foi dentro desse conceito de sustentabilidade econômica que, Marina, para abrir os debates, levantou a questão relacionada pelo Governo Dilma de abandonar as bases ou os fundamentos da economia que, nem mesmo Lula desprezou, que são as metas de inflação, o superávit primário e o câmbio flutuante.

Dilma respondeu a Marina que ela estava enganada e que não era verdade a arguição crítica. Mas, todos os comentaristas econômicos e economistas sérios do País, sustentam que sim pois, a meta de inflação é de 4,5% mas, de há muito o país chegou perto disso. Vive no teto superior da meta e, olhem lá, só não superou os 6,5%, segundo alguns críticos do governo, em face das manipulações de dados e de índices, ocorridos no País, mas fazendo parece que se vive aqui o ambiente do governo de Cristina Kirchner!

Quanto ao superávit primário, aí é que a coisa está feia pois que, sem cumprir os valores que eram necessários para cobrir os encargos da dívida – 3,1% do PIB — tal indicador mal deve chegar a 2,1 ou 2,3% e, com um agravante, tais valores foram conseguidos a partir de alquimias, manipulações contábeis e outros artifícios. Ademais, a desestruturação das contas públicas é visível e preocupante, da mesma forma que a dívida bruta, por conta de tresloucadas capitalizações do BNDES, elevou-se de 53 para 59% do PIB.

E tudo isto tem redundado em descrédito interno e, particularmente, externo, reduzindo o chamado “rating” da economia brasileira junto as agências, como instrumento de atrair investimentos externos.

O que se conclui é que o debate começou e tende a esquentar, bem como, a envolver a sociedade brasileira como um todo porquanto é disso que ela hoje se ressente, como demonstraram as manifestações de rua, pois os políticos hoje já não vocalizam as suas angústias e as suas aspirações.

Ninguém desconhece que o Brasil, segundo o notável cientista político Fernando Abrúcio, deu saltos magistrais em termos institucionais e, também, em termos políticos, econômicos e sociais no período que medeia, entre 1985 até 2010. Mas, o que se discute agora, não são os ganhos do passado, mas os desafios do futuro. Desafios institucionais, de gestão, do equilíbrio federativo e da capacidade da sociedade brasileira de construir o seu amanhã.

E o que se assiste é que não há qualquer debate a não ser os questionamentos limitados e pobres de sempre, quer do governo quer da oposição.

Amanhã talvez Marina venha a levantar temas do tipo por que, um grupo de um pouco mais de uma centena de mercenários, produzem tanto vandalismos e depredações, assustando as populações e angustiando os transeuntes? Será que falta inteligência, estratégia adequada e pronta e ação oportuna às polícias para garantir a paz e a tranquilidade às ruas? Por que a violência só aumenta, os presídios são fábrica de marginais, as casas de correções de menores são cursos de pós-graduação no crime e, atônitos, os cidadãos se perguntam: Onde está o governo que eu pago tanto para sustentá-lo e financiá-lo? Por que não vem dizer a mim por que se mostra incapaz de fazer algo que me dê perspectivas de as coisas irão melhorar?

As coisas começarão ser pautadas de maneira específica, sem muita conversa comprida. O que se quer saber é, como responder e, para quando, os desafios que os gargalos da infra-estrutura, por exemplo, deixarão de provocar perdas de eficiência e de competitividade da economia brasileira?

E as indagações entrarão pelo campo da educação, da saúde, do saneamento ambiental, além de pequenas indagacões como, por exemplo: Por que a Transposição das Águas do Rio São Francisco não anda? Por que a Transnordestina não sai? Por que as refinarias do Nordeste são um sonho de uma noite de verão?

A campanha da Marina poderá vir a ser feita só de indagações do que foi prometido e não cumprido; daquilo que andava e parou; da escalada da violência e do crime organizado; das obras exigidas de mobilidade urbana. E, há, por certo, um rosário de indagações que, dificilmente, Dilma encontrará respostas objetivas.

Mas, o debate poderá servir, pelo menos, para que Dilma acelere as obras fundamentais, corra com as concessões e desempaque o PAC!

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