A TRAGÉDIA DAS ÁGUAS E A IRONIA DO DESTINO!

De repente, o Nordeste de Graciliano Ramos, de Rachel de Queiroz, de Herman Lima e, magistralmente retratado por Euclides da Cunha, não é mais aquele. É um nordeste marcado pela ironia do destino: a água vem, como um tsunami, destruindo vidas, lares e esperanças. É em parte o Nordeste que, na música “Súplica Cearense”, em versos magistrais, já antevia, num apelo, a tragédia de chuvas em demasia: “Pedi prá chover, mas chover de mansinho, prá ver se nascia uma planta no chão. Meu Deus, se eu não rezei direito, o senhor me perdoe, pois eu acho que a culpa foi deste pobre coitado que nem sabe fazer uma oração…”

Ou seja, um nordestino que nem sequer sabe fazer uma oração! E, por isso não foi atendido, pois pediu um pouco de chuva, mas como não soube sequer pedir, de lá de cima lhe mandaram um dilúvio.

Mas, a culpa não é do “nordestino que nem sabe fazer uma oração”, mas, sim, de governos irresponsáveis e insensatos que, mesmo diante de dramas não tão devastadores como o das regiões nordestinas atingidas, como foram os casos de Rio, São Paulo e Santa Catarina, tão recentemente, não proveram medidas destinadas a remover populações localizadas em áreas de risco; não estabeleceram prioridade para os programas de saneamento básico, construção de galerias de águas pluviais, proteção de áreas de encostas e ribeirinhas além de estabelecer programas de regularização de rios e bacias hidrográficas para escoar excessos de descargas das chuvas; de planejamento de galerias de águas pluviais e não montaram políticas destinadas à construção de barragens orientadas a, estrategicamente, permitirem uma administração mais racional de tais excessos da pluviometria.

Se a população sofre com os dramas vividos por populações faveladas no Rio, de moradores em áreas de risco de São Paulo e em Santa Catarina, o drama de regiões mais pobres é que elas são muito mais frágeis e vulneráveis a tais desastres ambientais que as regiões mais ricas do País. É como se referiu uma autoridade ao avaliar, de helicóptero, o desastre com mais de 44 mortes, mais de 600 desaparecidos, além de mais de alguns milhares de casas destruídas: “O que se vê aqui é uma devastação maior que no Haiti”! É isto que a falta de políticas públicas e de uma total ausência de planejamento estratégico produzem em cima de populações mais vulneráveis. Mas, também, por ironia do destino, o País vai bem, Dilma passou Serra e o País, que vai crescer em ritmo chinês, este ano, apresenta indicadores muito positivos, em termos econômicos e sociais! Só precisa cuidar de tragediazinhas como esta do Nordeste; do drama do consumo de drogas no meio da população jovem; da violência urbana que enfrenta escalada crescente; da crise da saúde pública e do desafio de uma educação que teima em não melhorar.

Claro que, tais advertências não retiram, como cobram alguns leitores desse site, o otimismo desse Brasil que “agora vai”, como é desejo de todos.