ÁGUA E ENERGIA: UM BINÔMIO EXPLOSIVO E EM CRISE!

 

Numa manifestação deveras singela, uma humilde dona de casa nordestina assim se manifestou sobre  o drama da falta d’água e da falta de energia elétrica: “se faltar energia, a gente ainda tem saída: basta acender uma vela. Mas, se falta água, aí é um Deus nos acuda e bate um desespero!” E isto é o mais puro e procedente desabafo porquanto alguém é capaz de ficar, talvez, até trinta dias sem comer mas não resiste a 72 horas sem beber água!

E tais afirmações são apenas para demonstrar de quão  significativo é o drama e de quão significativos são os impasses que enfrenta o Brasil quando encara a mais séria crise energética de todos os tempos e, ao mesmo tempo, sofre, dramaticamente, com a questão da disponibilidade, da oferta e do uso de água, como um todo.

E, por ironia do destino, o Brasil tem a maior reserva de água doce do mundo –mais de um quarto de toda a disponibilidade mundial! — além de deter os dois maiores aqüíferos subterrâneos do mundo — o Guarany e o outro, na região amazônica, sendo que o primeiro tem uma reserva avaliada em 38 mil quilômetros cúbicos ou 1,2 milhão de km2 e, o outro, o Alter do Chão,  estima-se que seja quatro vezes maior que o primeiro!

Por outro lado, também por ironia do destino, alguns rios, baías, reservatórios e barragens brasileiros, apresentam preocupantes níveis de poluição. O Rio Tietê, em São Paulo; o rio da integração nacional, o São Francisco; a Baía de Guanabara; a represa de Billings, entres outros, apresentam níveis de poluição que geram limitações enormes ao uso de suas águas para qualquer finalidade! Aliás a desproteção de nascentes, a destruição de matas ciliares e a derrama de lixo e de esgotos, sem tratamento, em rios, barragens, lagos e no próprio mar, criam um quadro que aterroriza os brasileiros como um todo.

E, por mais irônico que possa parecer, este ano assistiu-se aquilo que os sulistas sempre vivenciaram como um espetáculo deplorável e, ainda por cima, diziam, utilizado e capitalizado, pelos chamados “industriais da seca”,  para garantir benesses da União, que era o flagelo das duras estiagens nordestinas. O comentário  vem a propósito do fato de que o país sempre olhou  enviesado para a frequência com que o fenômeno se repetia no Nordeste e como as ações do governo federal mostravam-se inadequadas, inoportunas, incompletas e, insuficientes e, para muitos críticos, eram apenas beneficiadoras dos “coronéis da política regional”!

Agora assiste-se a algo intrigante. Antes a seca era monopólio do Nordeste, as enchentes da Amazônia e a região Centro-Sudeste era a que se mostrava menos subordinada à intempéries, apenas registrando-se algumas inundações no Vale do Itajaí e alguns desmoronamentos nas serras do Rio de Janeiro. Agora a coisa endoideceu. São Paulo enfrentou uma das maiores secas de todos os tempos levando a uma das situações mais críticas o principal sistema de abastecimento d’agua de São Paulo, o Cantareira. O Rio enfrentou situação parecida bem como Belo Horizonte.

Claro que se atribuiu, em primeira mão, tais desastres, aos problemas de precipitação pluviométrica insatisfatória e irregular. Outros, de visão mais responsável, atribuem-na a falta de planejamento estratégico. E outros, pela falta de visão de longo prazo e de não ter sido pensadas soluções como a integração de bacias, a agregação de outros aquíferos a ser ligados por canais  e a montagem de um programa de despoluição e de proteção de nascentes e mananciais. Outros ainda, chamam a atenção para a inexistência de eprogramas de educação das comunidades para racionalizar o uso, reduzir desperdícios e assumir a consciência de que água não é um recurso inesgotável. Aliás são  propostas que até hoje não foram postas em prática!

Mas, a crise de agora, pelo menos,  vai deixar muitas lições. A primeira delas  é a criação de uma consciência crítica de que água é um recurso finito e esgotável. A segunda é a de que a sua gestão racional e inteligente,  pode aumentar o seu potencial e reduzir as possibilidades de impiedosas e preocupantes crises como as de São Paulo, de Minas e do Rio que, por sinal, tais estados acabam de enfrentar ou ainda irão enfrentar, até o final do ano ou até a outra quadra invernosa problemas assemelhados.a

Finalmente a redução de desperdícios na distribuição de água  aliada a uma educação destinada a levar incentivos ao uso mais racional da água potável, são elementos  que, se não de concretização e resultados mais imediatos  mas de urgente necessidade de operacionalização. Finalmente, as demais alternativas, como o desenvolvimento de novas fontes, não só d’agua mas de energias novas, bem como a redução sobre o volume d’água

para a geração de energia hidrelétrica , são pequenas demonstrações de que muitas iniciativas podem prosperar. Mas quem inicia a mobilização e o despertar de tal consciência crítica?

 

 

 

 

 

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