AINDA HÁ ESPERANÇA!

Não é porque a Presidente Dilma afirmou, recentemente que, apesar dos problemas de crescimento, de inflação resiliente e de precariedade na oferta e qualidade dos serviços oferecidos à população, inclusive no que diz respeito à segurança e ao combate a violência, em todos os sentidos e em todos os níveis, que se vai acreditar que, em 2015, o Brasil vai bombar. Não é bem por aí. Na verdade, o que esperam economistas, cenaristas, articulistas e políticos sérios é que, 2015, será um ano tão amargo que vai fazer com que os brasileiros tenham saudades de 2014 e sonhem com um 2016, menos pobre de expectativas e de resultados que o já considerado famigerado 2015!

Na verdade, embora haja essa visão pessimista, há a chance de um possível renascer de esperanças. Claro que elas não decorrem de uma previsão do PIB de apenas 1,8% para este ano contra 5,4% dos Brics; de 2,6% para os Estados Unidos e de 3,4% do mundo; nem tampouco diante do alerta do Deutsche Bank, um dos maiores emprestadores de fundos ao Brasil que, chamando a atenção dos aplicadores para os riscos do Brasil, sugere a investidores que reduzam os seus aportes de recursos nos papéis brasileiros, em favor de outros mercados emergentes.

Assim o que leva a alguém que se possa acreditar em algo capaz de mudar o quadro um tanto sombrio em que está mergulhado o Pais? Mesmo com o PIB encolhendo, com a inflação recrudescendo, com o desequilíbrio externo aumentando e com a prática de “justiçamento”, algo hediondo ora ocorrendo no país e se tornando uma constante — mesmo sendo uma atitude de barbárie –, nem por isso os brasileiros perderão o que dizem os sociólogos cá de dentro como os de lá fora, o otimismo e a postura positiva dos patrícios em relação a vida, que são únicos e incomuns no mundo inteiro.

Tal afirmação levou o sociólogo italiano Domenico di Masio, famoso pela sua obra mais conhecida, “O ócio produtivo”, a afirmar, em entrevista a um repórter brasileiro, que concordava com Sergio Buarque de Hollanda no que ele chamava de o brasileiro ser um homem cordial. Só que Buarque de Hollanda referia-se a cordialidade do brasileiro com o fato, apenas, de ele ser contrário a formalidades, dado a agir pelo coração, e, portanto, ser muito mais ajustado ao que ficou conhecido como o famoso “jeitinho” do que com qualquer atitude de não beligerância. Di Masio, fala de uma maneira que o diferencia da idéia básica de Buarque de Hollanda, porquanto ele se refere ao Brasil como um País que, embora tenha problemas graves como a grande distância entre pobres e ricos, um elevado analfabetismo e uma corrupção quase endêmica, poderá dar grande contribuições ao novo modelo social que se pretende construir para o mundo. Para tanto, o sincretismo, a postura positiva em relação a vida e a aversão à guerra, ajudam a tanto. É possível aí também colocar a própria miscigenação racial como elemento contributivo do perfil brasileiro a esse projeto maior.

Mas, as esperanças agora se fundam no fato singular de que o brasileiro não perdeu a sua capacidade de se indignar e de reagir a atitudes que buscam retirar-lhe a decência e atitude respeitável e responsável. A reação dos funcionários do IBGE, uma instituição secular com uma enorme folha de serviço ao Brasil, validada, depois, pela sua Presidente, demonstra que ainda se pode acreditar em algo digno e respeitável no Brasil.

Da mesma forma que fizeram os técnicos do IPEA quando, recentemente, reagiram quando quiseram “aparelhar”, dando-lhe um viés partidário-ideológico e, com isso, forçaram alguns dos seus melhores quadros a afastarem-se do órgão! Para não serem acusados de terem sido cooptados para manipular dados e informações técnicas, muitos deixaram a instituição até que novos tempos ali chegassem e novos ventos alí soprassem, atitude a demonstrar que ainda há jeito para o Brasil.

Agora mesmo, a atitude do Presidente do Banco Central, insistindo em que só há trabalho sério no que diz respeito a moeda, se o órgão for independente e não for objeto de uso político, como o que ocorreu com a Eletrobrás e a Petrobrás pode estar a demonstrar que um novo tempo está surgindo!

A tendência é que, tomara que tais exemplos comecem a se espalhar e proliferar pelo País e, de repente, uma onda de ética de compromisso e de responsabilidade tome conta de muitas instituições do Brasil.

Os exemplos citados não representam muito em termos de dignidade e decência que tanto carece o país. Mas, começar é preciso e, o que ocorreu, já é o tal começo, para mostrar que ainda há gente que quer preservar valores fundamentais à construção da sociedade que pretendem os brasileiros e que pode vir a dar uma saudável contribuição ao projeto social de que fala Domenico di Masio e a construção da verdadeira civilização dos trópicos, que este cenarista teima de achar que destas plagas, surgirá.

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