ALGUÉM ABRE MÃO DO PODER, ESPONTANEAMENTE?

No recente  momento de exigência de desincompatibilização  de cargos, por imposição legal, em face do próximo pleito,  muitos detentores do poder foram forçados a, ou deixar o poder para concorrer a outro cargo distinto da reeleição ou a permanecer no cargo e, com isso, lamentavelmente, impedir parentes de concorrerem a cargos eletivos. E esse foi o caso de vários governantes que tiveram dificuldades em montar a equação que atendesse aos vários interesses dos parentes, amigos e correligionários. E, ademais, que a opção escolhida permitisse  compatibilizar circunstâncias politicas e  possibilidades eleitorais objetivas.

São muitos raros os casos de detentores do poder que abriram mão  de disputar outros mandatos por circunstâncias aparentemente espontâneas. Na verdade, constrangimentos outros, fruto de desgaste popular amplo, de desentendimento entre os seus mais próximos e, pretensos candidatos a possíveis postulações;  ou por questões de fôro intimo,  ou ainda, por razões de saúde, motivaram, a muitos, a se desapearem do poder.

Na verdade, ninguém abre mão de poder, por mais magnânimo que seja! Por mais marcado que seja o governante ou líder político, por gestos de grandeza, ao buscar uma atitude tipicamente republicana de respeito ao princípio da alternância de poder, se sente motivado a abrir mão do controle de coisas e de pessoas. Também, renunciar ao poder,  por generosidade para com os seus pares ou por  acendrado espírito público, no sentido de buscar permitir que novos lideres ascendam a postos chaves, por essa razão ninguém “desocuparia a moita”.

Alguém só deixa o poder  se for forçado a tanto e ou se for escanteado por medida de força ou pela força voto. Na verdade, poder é bom e não enche as medidas da vaidade.  E, quanto mais se tem, menos se deseja “largar o osso”. Examinando a paisagem brasileira, quantos morubixabas continuam dando as cartas nos estados, alguns com mais de trinta anos de detenção do poder, sem qualquer sinal ou indício de que abdicarão do direito de mandar no destino das pessoas!

E, quanto mais futuro tiver o líder, notadamente em termos de idade e de vida útil,  o detentor do poder tem, quanto mais acostumado ás suas benesses, aos seus salamaleques e aos ritos do seu exercício, mais apego ao mesmo! E, no mais das vezes, mandando à ética às favas, sentem-se capazes de se permitirem  quaisquer transações para continuar sorvendo os seus prazeres.

Esses dias últimos foram dramáticos para determinados detentores do poder fazerem as suas escolhas. Alguns tinham, a sua frente, uma espécie de escolha de sofia, ou seja, sacrificar o próprio projeto pessoal de poder ou projeto   familiar para fazer o sucessor ou decidir por uma proposta alternativa qual seja a de fazer uma grande bancada de parlamentares para continuar detendo parcela considerável de poder. Outros viveram, até o último momento, uma espécie de drama hamletiano de sair ou não sair, na proporção em que as escolhas ficaram difíceis de serem feitas face a uma série de razões e circunstâncias.

Terminado esse momento de angústia existencial, como dizia o poeta, eles deverão ter afirmado que  ”a obra feita é comigo, o por fazer é com Deus”! E aí então a hora agora é de arrumar a equação que minimize o prejuízo, se é que houve ou permita, ao líder fazer de ” um limão, uma limonada”.

Agora o jogo vai começar, de fato pois as pretensões estão lançadas, as regras estão dadas e faltam apenas as composições e negociações para saber com que time os lideres entrarão em campo. As coligações permitirão definir os tempos de televisão, principalmente. A hora é de estabelecer a estratégia e a tática que serão usadas durante a contenda, inclusive ajustando-as conforme os movimentos do adversário. Os marqueteiros, os pesquisadores e os bruxos da advinhação dos rumos de campanha, começam a entrar em campo. O que se faz necessário e urgente definir é quem vai pagar a conta. Ou seja, quem financia a festa e a farra democrática. Claro que, indiretamente, será o próprio eleitor que pagará a dolorosa.

E, o pior, ao fim e ao cabo, as escolhas serão aquelas produzidas pelos vícios do processo politico-eleitoral brasileiro onde a legitimidade, a seriedade para com as demandas e interesses do eleitor, a ética do compromisso e da responsabilidade estão longe das aspirações daqueles que foram as urnas fazer as suas escolhas.

E, será mais uma legislatura para queixas e lamentações pois não se conseguiu melhorar, sequer um pouquinho, a qualidade das representações parlamentares nem dos gestores públicos. E assim caminha a humanidade. Aos trancos e barrancos, uns esperando um salvador da pátria, outros, anarquicamente, anulando o voto. Outros, cinicamente vendendo ou barganhando o seu voto por interesses pecuniários ou pela promessa de uma sinecura e, outros tantos, buscando garantir o necessário trafico de influência para conseguir contratos ou serviços de governo.

E, com isto, não se transformam as instituições, não se melhora a qualidade da gestão publica, não se reduz a corrupção e o desperdício e não se reduzem as frustrações e os desencantos. Talvez o propósito de muitos seja argentinizar o País.

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