A SUCESSÃO COMEÇOU?

Parece que sim e, inclusive, se alguém achava que as discussões ou os entreveros iriam ficar no tradicional feijão com arroz e na, na cansativa, monótona e repetitiva troca de acusações — xinga prá lá, xinga prá cá; “o meu discurso é melhor e mais bonito que o seu”; “você defende as elites brancas e preconceituosas, etc e tal” — a coisa começou a esquentar e, surpreendendo a muitos e, indo além do que se esperava, já começa a quebrar a tal da polarização PSDB versus PT. Tanto é que não se ouve Aècinho abrir o bico e entrar no debate que ora começa a ocorrer.

E, quem também achava que Marina Silva ia ser a parte mais fraca e frágil da aliança, monocóridamente repetindo o mantra do ambientalismo, enganou-se, redondamente. Ela vem “com gosto de gás” e, parece que a estratégia estabelecida na aliança, é a de surpreender sempre o adversário. Aliás, a surpresa começou com a própria idéia de construção da aliança entre Maria e o Governador de Pernambuco. E, a nova surpresa é que, parece que caberá a Marina ser a crítica mais ácida das ações de governo enquanto ficará para Eduardo Campos as propostas destinadas a mudar a economia e a sociedade brasileiras.

As entrevistas dadas por elas estão irritando, sobremaneira, Lula, Dilma e companhia, provocando até destemperos inoportunos de aliados de Dilma como o do Ministro Paulo Bernardo, manifestado em entrevista dura contra a dupla, já apelidada, para muitos do povo, de dupla do barulho!

E tal está a ocorrer porque, diferentemente do que se pensava, quando se imaginava que a aliança ia ser posta em cheque pelas críticas, propostas de intrigas e sugestões sobre a sua inviabilidade, como na estratégia proposta por Lula “isolem o PSB e o Eduardo”, os dois dão o troco, deixando tal discussão de lado, por ser menor e estabelecendo a crítica ao Governo Dilma, orientando, a dura avaliação, a pontos nevrálgicos. E, tem sido uma crítica contundente, precisa, atual e capaz de abrir espaços para a discussão de propostas objetivas e convincentes.

A tal da sustentabilidade da Rede não vai ficar só no discursos dos ambientalistas e dos sonháticos. O conceito está sendo construído na idéia de sustentabilidade política, econômica, social e ambiental, dentro de uma visão bastante compreensiva que, embora tendo como valores básicos os princípios tais como o que não se pode sacar contra o futuro das gerações para resolver os problemas de hoje, além daquele princípio de resguardar a vida acima de qualquer pretexto, ao mesmo tempo que infunde a idéia de que não existe nada mais compatível com tal conceito, do que uma proposta de desenvolvimento econômico-social sustentável como o que propõe a Rede.

Ou seja, cada vez mais são montadas estratégias não excludentes de fazer crescer, transformar, incluir social e espacialmente e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, dentro de um marco ambiental de preservação sustentável, sem xiitismo e sem ideologismos inconsequentes, do que Marina defende!

E, crê este cenarista, foi dentro desse conceito de sustentabilidade econômica que, Marina, para abrir os debates, levantou a questão relacionada pelo Governo Dilma de abandonar as bases ou os fundamentos da economia que, nem mesmo Lula desprezou, que são as metas de inflação, o superávit primário e o câmbio flutuante.

Dilma respondeu a Marina que ela estava enganada e que não era verdade a arguição crítica. Mas, todos os comentaristas econômicos e economistas sérios do País, sustentam que sim pois, a meta de inflação é de 4,5% mas, de há muito o país chegou perto disso. Vive no teto superior da meta e, olhem lá, só não superou os 6,5%, segundo alguns críticos do governo, em face das manipulações de dados e de índices, ocorridos no País, mas fazendo parece que se vive aqui o ambiente do governo de Cristina Kirchner!

Quanto ao superávit primário, aí é que a coisa está feia pois que, sem cumprir os valores que eram necessários para cobrir os encargos da dívida – 3,1% do PIB — tal indicador mal deve chegar a 2,1 ou 2,3% e, com um agravante, tais valores foram conseguidos a partir de alquimias, manipulações contábeis e outros artifícios. Ademais, a desestruturação das contas públicas é visível e preocupante, da mesma forma que a dívida bruta, por conta de tresloucadas capitalizações do BNDES, elevou-se de 53 para 59% do PIB.

E tudo isto tem redundado em descrédito interno e, particularmente, externo, reduzindo o chamado “rating” da economia brasileira junto as agências, como instrumento de atrair investimentos externos.

O que se conclui é que o debate começou e tende a esquentar, bem como, a envolver a sociedade brasileira como um todo porquanto é disso que ela hoje se ressente, como demonstraram as manifestações de rua, pois os políticos hoje já não vocalizam as suas angústias e as suas aspirações.

Ninguém desconhece que o Brasil, segundo o notável cientista político Fernando Abrúcio, deu saltos magistrais em termos institucionais e, também, em termos políticos, econômicos e sociais no período que medeia, entre 1985 até 2010. Mas, o que se discute agora, não são os ganhos do passado, mas os desafios do futuro. Desafios institucionais, de gestão, do equilíbrio federativo e da capacidade da sociedade brasileira de construir o seu amanhã.

E o que se assiste é que não há qualquer debate a não ser os questionamentos limitados e pobres de sempre, quer do governo quer da oposição.

Amanhã talvez Marina venha a levantar temas do tipo por que, um grupo de um pouco mais de uma centena de mercenários, produzem tanto vandalismos e depredações, assustando as populações e angustiando os transeuntes? Será que falta inteligência, estratégia adequada e pronta e ação oportuna às polícias para garantir a paz e a tranquilidade às ruas? Por que a violência só aumenta, os presídios são fábrica de marginais, as casas de correções de menores são cursos de pós-graduação no crime e, atônitos, os cidadãos se perguntam: Onde está o governo que eu pago tanto para sustentá-lo e financiá-lo? Por que não vem dizer a mim por que se mostra incapaz de fazer algo que me dê perspectivas de as coisas irão melhorar?

As coisas começarão ser pautadas de maneira específica, sem muita conversa comprida. O que se quer saber é, como responder e, para quando, os desafios que os gargalos da infra-estrutura, por exemplo, deixarão de provocar perdas de eficiência e de competitividade da economia brasileira?

E as indagações entrarão pelo campo da educação, da saúde, do saneamento ambiental, além de pequenas indagacões como, por exemplo: Por que a Transposição das Águas do Rio São Francisco não anda? Por que a Transnordestina não sai? Por que as refinarias do Nordeste são um sonho de uma noite de verão?

A campanha da Marina poderá vir a ser feita só de indagações do que foi prometido e não cumprido; daquilo que andava e parou; da escalada da violência e do crime organizado; das obras exigidas de mobilidade urbana. E, há, por certo, um rosário de indagações que, dificilmente, Dilma encontrará respostas objetivas.

Mas, o debate poderá servir, pelo menos, para que Dilma acelere as obras fundamentais, corra com as concessões e desempaque o PAC!

DESCONSTRUINDO REPUTAÇÕES!

Há uma piada ou estorieta sobre a típica atitude, no Brasil, sobre a forma de enfrentar um adversário que, muitas vezes, por se diferenciar, em demasia, da maioria dos protagonistas, em termos da ética de compromisso e da ética da responsabilidade dos políticos, sofre um verdadeiro processo de desconstrução.

Em determinada cidade, um político simples, porém honesto, sério e diferenciado dos seus concorrentes, estava a crescer, em termos de popularidade, em demasia. O chefe político local, pretenso dono do “curral eleitoral”, deveras preocupado diante do risco de perder o controle político da cidade, conclama os seus assessores para estabelecer uma estratégia de caráter emergencial, para conter o crescimento, já vertiginoso, do opositor.

De maneira direta sugeriu, em primeira mão, que se deveria insinuar que o opositor era ladrão e já existiam provas de que não era probo.Era um lobo vestido em pele de cordeiro. Alguém, de bom senso, com a devida cautela, argumentou que, seria inócua tal campanha pois o sujeito, praticamente, não tinha onde cair morto e, a acusação não “iria pegar”.

Um outro mais prestimoso sugeriu insinuar que o tal concorrente era corno e a mulher era uma vagabunda de marca maior. Apareceu um companheiro, cioso dos interesses do chefe político e, atento as circunstâncias, disse que era vizinho do cidadão e que a mulher dele era paraplégica, fazia uma porção de anos. Seria, portanto, uma crueldade tal insinuação e, o resultado, seria por demais adverso. Finalmente um outro prestimoso companheiro, rapidamente, argumentou: “Então vamos dizer que ele é uma bichona louca e, pelos amantes que tem, faria qualquer negócio”. Ora, um outro parceiro contrapôs dizendo: “Quanta bobagem! Isto não vai pegar. O cara, além de bonitão, é envolvente e, todo mundo sabe que o cara é um garanhão”.

Aí então, veio a palavra final do chefão do grupo, muito mais pragmático que os demais, então propôs: “espalha por aí que ele está com “câncer” e deixa prosperar a idéia que ele vai cair nas pesquisas”!

Ou seja, para ganhar uma eleição, para alguns, vale tudo e mais alguma coisa!

Atente bem para o fato do que ora está a ocorrer no País. A campanha ainda não começou mas, aproveitando-se das manifestações populares, surgiram, recentemente, os famosos “black blocs”, baderneiros, vândalos e, de uma violência incrível a patrocinar quebra-quebra e agressões que estão a assustar as famílias de bem. Bem apetrechados, esse grupo relativamente pequeno, faz um sucesso tal nas suas empreitadas que, no Rio, em breve espaço de tempo, o grupo acabou com a reputação do governador Sérgio Cabral, reduzindo as chances do mesmo fazer o seu sucessor e, o levaram, a rua da amargura.

E, na verdade, de fato, até hoje, nenhuma acusação contra ele foi até agora provada! Uma milícia mercenária, a serviço de interesses escusos, desconstroi a reputação, a história e o nome de um cidadão, como fizeram com Sérgio Cabral!

E, o que fazer? Parece que nada, pois sob o manto protetor da manifestação popular, a única reação que se pode ter é de, apenas, alertar os mais incautos de que as coisas não estão a acontecer por acaso.

Seguindo o raciocínio de Agatha Christie, “a quem o crime interessa?”, é, com certeza, a pergunta que não quer calar. Ou seja, há que perguntar, no caso de um mês de quebra-quebra, violência, arruaça e tumulto no Rio, quem foi o maior beneficiário de tal crime? Ora, com certeza, os presumidos candidatos ao Governo do Rio, entre eles, o Senador Lindberg Farias, vez que este lutava pelo fim da coligação PMDB/PT, conduzida por Sérgio Cabral.

Utilizando-se do mesmo expediente de se imiscuir nas pacíficas e ordeiras manifestações populares, os mesmos baderneiros em São Paulo, remunerados por interesses escusos, os “black blocs” paulistas ( ou não seriam os mesmos, importados do Rio?) buscaram desconstruir a imagem e reputação do Governador Alkimim. Apesár dos prejuízos a ele causados, até agora não conseguiram fazê-la como queriam.

Mas, parece que estão a conseguir algo muito mais preocupante e pior: despertaram o crime organizado e o estimularam a se imiscuir no meio das multidões para forçar o governador a se dobrar às suas reivindicações!

Será que, o que o PT fez e vem fazendo com Eduardo Campos, sob a orientação expressa de Lula de “isolem o PSB e o Eduardo”, através dos expedientes os mais diversos — como mandar Dilma cortar verbas federais para obras em andamento no estado de Pernambuco; mobilizar ambientalistas petistas para dizer que ele desrespeitou princípios, na ampliação do Porto de Suape; ao sensibilizar e convencer os irmãos Gomes, do Ceará, a confrontar Eduardo Campos e deixar o partido, para enfraquecer a postulação presidencialista; ao estimular cisões, rachas e divergências na aliança da Rede com o PSB, através da mídia tradicional, da mídia alternativa, das redes sociais, etc, não estaria agindo como verdadeiros “black blocs” da política?

Agora o foco dos “black blocs” da política partidária volta-se, também, contra Marina, dizendo que ela, aparentemente ingênua, age autoritàriamente, quando escorraça Ronaldo Caiado da aliança e, com isso, afasta o agronegócio de qualquer apoio a Eduardo Campos!

Mesmo com toda essa “desconstrução” bem armada pela mente brilhante de algum gênio do mal, na pesquisa recém divulgada, embora os petistas buscassem demonstrar que os votos de Marina teriam migrado para Dilma e Aécio — e é muito cedo para qualquer avaliação! — Eduardo Campos chega aos 15% das preferências e, Aécio a 26%, sendo que, já agora, atingem a faixa dos, efetivamente, capazes de disputar o pleito presidencial, no próximo ano.

A Rede e, Marina, particularmente, não podem fazer o jogo dos seus adversários é bom que se advirta! A atitude de não aceitar o convite para participar da Executiva Nacional do PSB, por um lado, se foi uma precipitação de membros do PSB ao fazê-lo agora, por outro lado, também foi uma maneira inábil de Marina de sair de tal desconforto, quando poderia ganhar tempo para declarar que não poderia aceitar tal participação ou que tal em nada contribuiria para fortalecer a aliança!

Também, agora mesmo, no Maranhão, a aceitação pela Rede de uma deputada do PSL para fazer parte do seu comando no estado, sendo a mesma, segundo alguns, ligada a família Sarney, afastou o Deputado Domingos Dutra de Marina. O prejuízo foi da Aliança embora, segundo alguns analistas, quem deve se aproveitar e ganhar com isso, face a natureza do jogo local, é o ex- deputado Flávio Dino, candidato a governador, contra a família que domina a cena maranhense. Ou seja, o episódio, não criado pela Rede, foi explorado pelos desconstrutores petistas, nesse afã de buscar viabilizar Dilma na sua reeleição.

A Rede precisa perder um pouco a ingenuidade e administrar melhor o seu purismo para não continuar criando ruídos na Aliança. Rever os seus limites de tolerância e fazer a todos compreenderem que, se o princípio da sua criação foi tornar viável um compromisso capaz de quebrar a polarização PT versus PSDB, então é preciso estabelecer formas de fazer com que sonháticos e pragmáticos possam cumprir o seu papel e o seu objetivo no fortalecimento das instituições democráticas.

JOGANDO O JOGO CERTO!

A mensagem que Marina procurou levar aos brasileiros, não somente aos jovens mas, também, a muitos outros, embora maduros, no entanto, desesperançados, está expressa nos versos da poesia de José Régio, poeta português: “Não sei para onde vou, não sei com quem vou. Só sei que não vou por aí … Vou por onde me manda a minha consciência …” Marina tenta representar a ruptura entre a mesmice e o novo que, a bem da verdade, a própria sociedade não sabe ainda o que é mas, que que quer andar em tal direção!

As declarações de Marina, diante da repercussão da aliança entre a sua proposta sonhática e o pragmatismo de Eduardo Campos e, em resposta as dúvidas e incertezas de muitos de seus aliados, demonstram que, não apenas ela, mas também o jovem governador, os dois estão se mostrando hábeis, oportunos e não fugindo às características do perfil conhecido de cada um.

Ou seja, Marina Silva mostra boa-fé, maturidade e, até mesmo, um pouco de ingenuidade e, talvez exacerbe na crença de um mundo idealizado de respeito ao ambiente e a dignidade humana. Eduardo, mostra uma habilidade incomum para um jovem político da sua idade! Demonstra uma capacidade de articulação e de construção de uma proposta de oposição a Dilma, mais inteligente, mais moderna e menos defensável, qual seja, a de que falta ao governo, não só fazer mais, mas a necessária e exigida competência gerencial no fazer!

As respostas de ambos demonstram que, aparentemente, até agora, estão jogando o jogo certo. O inesperado da aliança gerou mais dúvidas do que surpresas. “Nós somos possibilidades” e, a minha filiação é democrática e transitória porquanto o meu partido é a Rede, disse Marina. E complementou: “como vocês sabem a minha filiação foi em legítima defesa, legítima defesa da esperança”.

Pelo que se vê, Marina responde à demanda das ruas pois a aliança programática não prende ninguém a dogmatismos, a ideologismos ou restrições radicais que impeçam a convivência de divergências superáveis, na proporção em que não hajam intransigências intransponíveis.

O que se espera é que, de parte a parte, que a chamada intransigência doutrinária não prospere; que a presunção e a arrogância não sejam regras; e, o espírito público e o respeito aos valores mais caros aos brasileiros, seja o princípio que venha nortear o comportamento dos dois.

Sonháticos e pragmáticos podem conviver em harmonia e, dentro de uma visão moderna de um presidencialismo de coalizão, onde uma integração dos valores que prega a Rede se ajustem aos princípios e valores da competência gerencial que Eduardo mostrou e demonstrou a frente do governo de Pernambuco.

O que se deseja é que prevaleça nessa convivência democrática, a capacidade de cada grupo de olhar as propostas do outro, dentro da lógica de que é possível estabelecer uma dosimetria, na intensidade dos objetivos que os ajustem aos tempos e o que as circunstâncias cobrarem.

Ou seja, não se pode ser tão radical nos conceitos de sustentabilidade que se impeça a negociação para, se não se puder alcançar o ideal do que defende Marina, promova-se e busque-se o possível e, que esse possível, abra perspectivas de um caminhar rumo ao ideal.

O fato efetivo é que, a aliança oxigena a vida política nacional e será capaz de propiciar a abertura de um debate menos atrasado como o que se assiste nos dias atuais. Claro está que, a aliança cria notáveis embaraços para Dilma e o seu mentor, Lula; para Serra e o seu companheiro de partido, Aécio Neves e, embora em menor escala, para o próprio Eduardo e a sua, agora, aliada, Marina Silva.

Mas, o importante é acreditar que um novo tempo está chegando com novas idéias e propostas e que o debate será mais rico e mais frutífero para a alegria e para a geração de expectativas mais otimista sobre os rumos que tomará o País.

É bom lembrar que Lula e Aécio estão assistindo as primeiroas manifestações de desentendimentos entre partidários da Rede e os aliados de Eduardo. Sobre isso não opinarão mas, de forma indireta, vão estimular a exploração das contradições entre o pensamento dos dois grupos.

É fundamental que Eduardo e Marina entendam que eles criaram uma esperança de que as coisas irão mudar e as frustrações serão reduzidas, recriando-se, Brasil afora, a esperança consequente!

SERÁ QUE A NOVA ALIANÇA JÁ TEM EM MENTE UMA AGENDA PARA O BRASIL?

Crê este cenarista que, aqueles que fazem o que se pode chamar de a aliança para um novo tempo, estão debruçados em construir uma agenda para o País. Uma proposta capaz de fazer renascer a crença de que o Brasil tem tudo para dar certo, apesar dos erros e equívocos de suas chamadas elites!

É possível acreditar que Eduardo e Marina não se perderão nos descaminhos das ambições pessoais, das vaidades e dos desejos de algum deles se tornar líder do outro ou assumir um papel hegemÓnico ou de assumirem, um ou outra, o papel de condutor ou condutora maior do processo de construção de um novo caminho para o País.

Ganhos relevantes nos dois governos de FHC e nos dois governos de Lula, são notórios e não se pode perder em discussões menores dos possíveis erros cometidos por um ou por outro, porquanto o saldo de suas ações foi extraordinariamente positivo para o Brasil.

Ademais, estabelecer, como se faz nos dias de hoje, uma espécie de jogo de culpas, entre os dois grupos que, até hoje se degladiam, em nada acrescenta ao processo de revisão críticas das políticas de estado e de governo, nem reconduzem o país à senda do crescimento com inclusão social.

O melhor caminho parece ser estabelecer, como convição, que é hora do novo, das mudanças institucionais fundamentais ao desenvolvimento do país e de um amplo trabalho de agregar gestores capazes de viverem a nova era.

Este cenarista, presunçosamente, elenca aqui, dez possíveis itens que deveriam constituir uma possível agenda destinada a corrigir rumos, estabelecer caminhos e olhar, de forma comprometida, o horizonte que se pretende alcançar para a sociedade brasileira!

Assim, começa-se a listar o que deve ser feito para que, a partir daí, o País possa vir a respirar outros ares e possa devolver aos brasileiros o otimismo, a esperança e a crença de que essa é a Nação símbolo da construção da chamada nova e única civilização dos trópicos.

A primeira medida desse decálogo, parece ser aquela que recomenda rever os fundamentos da economia, retomá-los nos moldes em que foram construídos para que, em cima deles, seja possível plantar a transformação estrutural requerida pelo País.
Se isto puder ser alcançado, a segunda preocupação será definir para onde vamos ou, retomando a frase de Sêneca que dizia que, “para o navegante que não sabe aonde vai, não importa a direção do vento”. OU seja, deve o País estabelecer horizontes e definir perspectivas que se pretende alcançar.

E isto só se faz com base em estudos de perspectivas para os próximos vinte anos, pelo menos, bem como através da elaboração de cenários alternativos do que se pode alcançar, ressalvadas aquelas restrições que se acredita impossíveis de serem superadas.

Um terceiro e relevante item diz respeito à modernização das instituições, não só via processos de descentralização, recriando a Federação e a autonomia municipal mas, também, via revisão crítica dos códigos de processos judiciais, da forma de escolha de ministros dos tribunais superiores, da questão da vitaliciedade ou não do cargo de magistrado e da desburocratização, que passa por um amplo processo de reconstrução da cidadania.

Um quarto elemento diz respeito à atualização e o estabelecimento de uma nova concepção da inserção do Brasil, em termos internacionais, onde se deve abandonar a perspectiva terceiromundista que hoje domina a política do Itamaraty. Também, passa a se desconsiderar a fracassada experiência do Mercosul, ou pelo menos, limitar a sua relevância. E, de forma ousada e agressiva, devem ser buscados acordos bilaterais, capazes de retomar a competitividade dos produtos brasileiros no comércio mundial.

Um quinto ponto diz respeito a promoção do conceito da sustentabilidade, conceito capaz de permear todos os processos de transformação da economia e todos os programas destinados a mudar o quadro de referência do Programa de Desenvolvimento Econômico e Social do País.

Um sexto ponto diz respeito à garantia da viabilidade e da competitividade da economia nacional. Aí será fundamental redefinir os termos da matriz energética nacional, segundo os novos valores e a superveniência de novas e alternativas fontes de energia, aí considerando a eólica, a solar, o uso do xisto betuminoso e a viabilização de mecanismos de racionalização e redução de desperdícios, bem como o uso de novas tecnologias redutoras do consumo energético.

Um sétimo ponto diz respeito ao estabelecimento, no planejamento de longo prazo do País, do equilíbrio entre o estado de bem estar social, o aumento da eficiência e competitividade da economia e a capacidade do novo estado de financiar tais conquistas sociais.

Um oitavo item dessa agenda, objetiva estar buscando, continuamente, superar os gargalos de infra-estrutura e promover a modernização das bases de operação da economia.

Um nono item diz respeito a melhorar, significativamente, a qualidade de mão de obra, cobrada e exigida pelo necessário e requerido aumento de produtividade do País.

Finalmente, o estabelecimento de um programa de contínua redução do custo brasil e de melhoria constante do ambiente econômico, não só pela revisão permanente da estrutura tributária, pela diminuição da burocracia, pela diminuição das ineficiências transferidas pelo setor público para o setor privado e pela correção dos desequilíbrios espaciais de toda a ordem.

Aí está, uma tentativa desarrumada e limitada, de uma possível agenda para o Brasil que, certamente, Euardo e Marina, através dos seus assessores e colaboradores, deverão melhorar, dar consistência, reduzir superposições e repetições, para oferecer ao País, um norte, um rumo, um azimuth.

O CLIMA POLÍTICO COMEÇA A MUDAR …

O inesperado começa a produzir efeitos, notadamente, na rearrumação das forças políticas do País. Não que se imagine que tal fato provocará uma mudança radical e profunda nos mores e costumes políticos nacionais.

Também não se deva esperar que, de repente, mais que de repente, a corrupção deixe de ser quase endêmica e se torne mais pontual. Também não se deve imaginar que a impunidade seja reduzida nos próximos meses ou anos. Nem que o aparelhamento do estado, tão nefasto ao País, já, a partir de agora, comece a diminuir.

Claro está que se espera que mudanças no ambiente político, na ética de comportamento dos partidos e na discussão dos graves problemas nacionais, comecem, de pronto, a ocorrer no País.

É importante chamar a atenção para o fato de que tudo que ocorrer de bom se deva creditar ao inesperado gesto de Marina! Aliás, para os petistas, o gesto representou uma mera vingança contra o PT e contra Dilma e, para Dilma, representou uma grande ingratidão para com os ex-companheiros! Por outro lado, não se espera que tal episódio tenha o condão de permitir que se promova esse banho de novas práticas que, por certo, virá ocorrer no País, nem que seja lenta e gradualmente!

Outrossim é bom que se pontue que, a aliança construída entre Marina e Eduardo Campos, é a aliança do novo, do diferente e do sonho e da ambição. É, usando as palavras de um grande cientista político com viés de ambientalista, Sérgio Abranches, uma comunhão de idéias que, se a fogueira das vaidades e a ânsia dos apoiadores não prejudicar, poderá construir um verdadeiro pacto democrático, abrindo espaço para a construção de um presidencialismo de coalizão!

Mas é bom que se enfatize que a aliança está provocando um “rebuliço” danado nas hostes partidárias, como declarou o Líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira. E o rebuliço começa no seu partido que, a partir de agora, se propõe a atualizar a fatura a ser apresentada a Dilma. Mas a fatura na será atendida só com liberação de emendas parlamentares e de alguns projetinhos para estados e municípios. O PMDB quer o Ministério da Integração Nacional que já foi dele. E o quer “porteira fechada”, isto é, com todos os cargos e penduricalhos que existam na instituição.

Se o PMDB já se manifesta explicitando os seus desejos e, por debaixo dos panos, insinuando que pode deixar aos diretórios regionais a competência para fazer os arranjos locais para fortalecer o partido, sem pensar em compromissos a nível nacional, os demais partidos da base começam a por as unhas de fora e, como é o caso do PP. Este não quer mais apenas o Ministério das Cidades mas, sim, um outro ministério ou outras compensações que garantam benefícios a serem apresentados aos correligionários. E, com justa razão pois foi o partido que mais ganhou deputados nessa dança das cadeiras.

E, para não falar nos novos aliados, no caso o PROS e o Solidariedade que, ou não assumirão o compromisso direto de apoio a Dilma ou estabelecerão uma neutralidade tendente a flertar mais com Eduardo e Marina, dependendo do andar da carruagem!

A coisa foi tão séria que Lula, por razões que não se sabe quais, que tem demonstrado uma simpatia especial por Eduardo Campos e, a recíproca parece ser verdadeira, declarou que, agora, o governador de Pernambuco que, não tinha condições de se alçar candidato a Presidente, agora é candidato “prá valer”.

E, por seu turno, nas oposições, Aécio pode rever seus planos e decidir ser candidato a governador de Minas e José Serra, talvez, resolva aceitar, mais uma vez, o desafio de ser candidato a Presidente da República ou, como parece mais provável, para complicar ainda mais a situação, estimule Alkimim a ser candidato a Presidente, saindo ele candidato ao governo de São Paulo.

Ninguém se surpreenda, dentro da conhecida forma de fazer política do PT que, com o estilo envolvente de Lula, o encantador de serpente, consiga um possível movimento dos institutos de pesquisa, notadamente do IBOPE! E, provavelmente, no afã de ser útil ao governo, apresente avaliação em que mostre que o ganho de Eduardo foi pequeno, que Marina não transferirá votos e que muitos ou a maioria dos consultados, apoiadores da líder da Rede, que queriam Marina como cabeça de chave resolva buscar o outro caminho!

Também o IBOPE pode trazer, surpreendentemente, até uma possível estabilização nas preferências eleitorais em relação à Dilma e mostrar queda ou uma tendência de queda de Aécio.

Os marqueteiros do PT são “experts” em produzir cenários desfavoráveis aos adversários e indicar ganhos de popularidade do governo, mesmo que tudo na economia esteja piorando e, no lado social, a desigualdade de renda tenha estancado de cair, os dados de saneamento sejam os piores possíveis e, recentemente, as universidades se mostrarem degringolando!

Ainda assim, de maneira brilhante, conseguem mostrar Dilma tirando proveito do que produz de pior os seus gestores e, ao invés de perder votos de aprovação, apresente ganhos de popularidade!

O certo é que para sorte do País, marqueteiro, por mais competente que seja, não ganha eleição e pode, até, temporiamente, seduzir e inclinar o eleitor para um lado mas, como mostraram as manifestações de rua, se o cidadão quiser ir para um lado, não adianta tentar conduzi-lo para o outro que ele não irá.

E parece ser esse o estágio que se encontra o País. Já e já a acomodação dos que se viram obrigados a mudar de legenda será alcançada e buscando a sua reeleição, como os palanques estaduais estarão sendo armados nos estados.

E, diga-se de passagem, o inesperado vai conduzir as alternativas políticas daqui para a frente e, começarão Eduardo e Marina, a propor o Presidencialismo de coalizão, estruturado em base programática ao incorporar a utopia dos sonháticos, enquadrando-os nos princípios da gestão pragmática e de resultado de Eduardo Campos, para construir uma agenda para o Brasil, capaz de vender, ao povo, esperança consequente!

CORAGEM CÍVICA MAIS COMPETÊNCIA POLÍTICA IGUAL A NOVA ALTERNATIVA!

Poucos esperavam o desdobramento do “affair” Marina Silva. Aliás, a maioria dos analistas como este cenarista, anteviram o malogro da empreitada de Marina para criar a sua Rede. O TSE não iria considerar o primado que, segundo estudos feitos pela FGV, prevalece na cabeça e nas decisões da maioria dos juízes no Brasil que é aquele que, em muitos casos, faz com que esqueçam a rigidez e a letra fria da lei e, apreciam as matérias. muito mais a partir de sua sensibilidade político-social do que do direito positivo.

O TSE não considerou os argumentos de que, por trás da anulação de mais de 90 mil assinaturas de apoio à Rede, notadamente aquelas recebidas na região do ABC, em São Paulo, poderiam ter sofrido o viés, na sua apreciação em termos de legitimidade, de natureza político-partidária. Ou seja, teriam sido rejeitadas sem razão de ser a não ser a razão maior que eram os interesses do PT e de seus aliados. Ademais, não considerou o TSE que, na sua decisão, poderia prejudicar o processo de amadurecimento das instituições brasileiras, ainda tão frágeis e limitadas!

Mas, quando a ética do compromisso e a ética da responsabilidade se colocam acima dos interesses pessoais, grupais ou particulares de um líder, ele sacrifica seus sonhos mais acalentados e, desafiando os seus próprios apoiadores e correligionários, assume o papel que o País cobra e precisa dos homens públicos. Dignidade, decência e compromissos com valores mais caros da política com P maiúsculo.

E só ela, Marina Silva, poderia ter feito algo que, pelos menos, pelos desdobramentos que poderão advir, promoveria uma mudanças de paradigmas na política brasileira. Na verdade, ao resolver ir para o PSB, Marina teve a grandeza, a altivez e a postura de que, o futuro do País não deve estar ao sabor de vontades, de vaidades, de interesses particulares ou de birra, de quem quer que seja.

Foi o gesto mais corajoso e destemido da política nos últimos tempos. Se a ela, Marina, sobrou coragem cívica, a Eduardo Campos sobrou competência de antever que, os dois, pelo itinerários já cumpridos, pelo desempenho que tiveram nos cargos que ocuparam e pelo discurso de quebrar essa polarização tão maléfica à política brasileira entre PT e PSDB, agiram no respeito maior a tudo que o processo democrática busca e anseia: debate das idéias dentro dos novos conceitos de desnvolvimento e bem estar social.

Discutir se ela transferirá votos ou não a Eduardo Campos é antecipar algo que, no momento, não é relevante. Isto porque, no decorrer da campanha, se Eduardo achar que Marina é melhor nome que ele para a Presidência, será bem provável que a chapa se inverta. Ou seja, Marina para Presidente e Eduardo para Vice. Tudo pode ocorrer se houver seriedade e respeito ao eleitorado por parte dessas duas grandes figuras que ora despontam, para valer, na política nacional.

Só esse movimento no tabuleiro político, já mudou várias alternativas nos palanques estaduais. E, a partir do discurso de Marina e Eduardo que, já nesta semana, será apresentado no programa do PSB, o que, já poderá ser sentido na própria pesquisa de opinião que, já e já, virá a ser divulgada, o país estará respirando outros ares além da mesmice dos escândalos, das promessas não cumpridas e dos dados frustrantes sobre a economia do País.

Mais uma vez e, é bom que se diga, que Marina, impedida pelo poder político de formar a sua Rede, o partido de seus sonhos, aspirações e a saudável utopia da sustentabilidade, restou-lhe como o único caminho para respeitar os seus valores, o compromisso maior com o fortalecimento das instituições democráticas do País.

Quebrar a polarização entre PSDB e PT, que impede o debate, limita a circulação de idéias, cria restrições a ousadia no pensar e no inventar e não dá chances ao surgimento do novo, representa notável contribuição a oxigenação da vida política! E, ao mesmo tempo, responde, pelo menos em parte, ao clamor das ruas.

Agora, a estratégia muda para todos. Aécio Neves vai refletir no que fazer e que caminho seguir. Dilma já reúne os seus assessores, marqueteiros e Lula para mostrar que, a partir de agora, já é bom pensar numa estratégia para um eventual segundo turno. Eduardo Campos, depois da saída dos Gomes do seu partido, agora terá o apoio redobrado dos atuais governadores do PSB que, neste novo cenário, sentem que tem nomes e discurso para enfrentar a avassaladora incursão dos petistas, dilmistas e lulistas, não só no aparelhamento do Estado mas, em importantes segmentos da vida do País.

E, agora, é só esperar os novos lances, como se estão forjando os palanques estaduais e como começará por se comportar a Câmara e o Senado, depois do inesperado mas benfazejo evento da filiação de Marina ao PSB!

ORA, A LEI! SERÁ QUE ESSA LEI PEGOU?

No País das leis que pegam e das leis que não pegam, experimenta a sociedade brasileira uma situação, no mínimo, desagradável para não dizer o pior.

Estão, os brasileiros, diante de um grande problema. Se se cumprir a lei, ao pé da letra, então Marina Silva ou aplica o plano B, para que ela possa ser candidata a Presidente, (plano que ela teima em dizer que não tem), ou o processo democrático será ferido de morte. Isto porque, tal decisão poderá desarticular a oposição e, tal fato, com certeza, conduzirá a uma eleição presidencial, chocha, sem graça e sem debates mais sérios e, talvez venha a ser decidida logo no primeiro turno.

E como, segundo Agatha Christy, cabe aqui perguntar “a quem interessa o crime?” de inviabilizar Marina, a segunda melhor colocada na disputa presidencial e, acima de tudo, “uma cidadã acima de qualquer suspeita”? Ora, não é preciso ser cientista político analista da cena nacional ou ter qualquer atributo mais sofisticado para concluir que tal fato só garante ganhos ao PT e a Dilma. Tanto é que, o próprio Aécio Neves, profundamente preocupado com o pleito de 2014 já busca, de todos os modos, convencer a Marina que ela poderá, segundo as condições que ela estabelecer, filiar-se a, pelo menos, três legendas como o recém criado Solidariedade, o PEN e o PPS.

Alguém há de argumentar que Marina ainda teria que apresentar 50 mil assinaturas adicionais, para cobrir as que não foram aceitas pelos cartórios, para que ela possa fazer o registro de sua Rede, dentro do estrito cumprimento da lei. Ora, a pergunta que não quer calar é por que os cartórios eleitorais e o próprio TSE estariam sendo tão duros com Marina e, ao mesmo tempo, tão compreensivos, tão lenientes, tão pouco diligentes e muito pouco zelosos com o preciso cumprimento da lei, em relação ao PROS e o Solidariedade?

Mas, enfatizando o quadro, a probabilidade é a de que o TSE acompanhe o parecer do Ministério Público Eleitoral e, não conceda o registro da Rede. Aí então, sem exageros nem dramaticidades, depois do Mensalão, ninguém vai mais acreditar que haja algum caminho ético e decente para as instituições desse País.

Para gerar mais preocupação com as instituições, além de muitas siglas de aluguél existentes, dois novos partidos foram criados e, só na Câmara dos Deputados, 70 parlamentares vão mudar de partido não apenas por problemas de convivência mas também por problemas de conveniência.

E, também, a partir de agora, o processo sucessório já começou, efetivamente e, tudo que se fizer agora, de decisão no Congresso e no Executivo, será destinado a conquistar apoios, votos e garantia da eleição ou reeleição de alguém.

NÃO DÁ PARA AGUENTAR…

Este cenarista foi desafiado, como nordestino, a fazer uma análise da questão nordestina nos dias que correm. Dificilmente seria o cenarista capaz de analizá-la, a luz da razão e de argumentos, cartesianamente, precisos e lógicos. O que move o autor, nestas circunstâncias, é uma avaliação muito mais emocional, marcada pela indignação e pela revolta, do que a análise fria de números, cifras ou mesmo, estratégias de governo.

O que se assiste no semi-árido nordestino envergonha, revolta e gera descrença nos governos, nas instituições e nos homens públicos! Ninguém reclama; ninguém protesta; ninguém grita contra essa ignomínia que é o profundo descaso das autoridades constituídas com o sofrimento, a angústia e a miséria, alí nitidamente visível. Inclusive, segundo as previsões metereológicas, o espectro de uma nova seca tão impiedosa como a atual, nesse terceiro ano consecutivo de uma nova e impiedosa seca! A propósito, no caso do Ceará, dos 184 municípios do estado, cerca de 176 estão em estado de emergência e, os reservatórios estão com apenas 40% de sua capacidade!

Alguém há de argumentar de que hoje em dia, não se assiste mais, como outrora, a procissão de miséria de famintos, pelas estradas, a pedir esmolas ou a invadir as grandes cidades, promovendo saques, em busca de comida, pelos retirantes!

Dizem que os programas de compensação de renda – bolsa-família, previdência rural, agricultura familiar, vales de toda ordem, entre outros – permitiram afastar aquele que era o maior libelo contra o País, as autoridades constituídas e contra a própria sociedade como um todo que era a fome de irmãos caboclos sem ter a quem recorrer!

A fome talvez não aflija mais tanto as famílias como no passado. Mas a seca brava, tira das pessoas, não apenas a esperança, a autoestima mas, também, dilapida aquele pequeno patrimônio pessoal, constituído de pequenas lavouras e de alguns poucos animais que o sertanejo, impotente, assiste morrer, se não de inanição, mas, acima de tudo, vergonhosamente, de sede!

E a seca hoje se alastra por inúmeros municípios do semi-árido onde não há qualquer fonte de água potável, ou, até mesmo, de água não potável a exigir uma intervenção estatal que não se sabe mais de que natureza!

Até hoje prometeram-se ações, definições, providências e projetos para, pelo menos, permitir que o caboclo do sertão pudesse conviver, pacíficamente, com as secas!

E, conviver com as secas periódicas não significa que representaria a superação das causas da pobreza e do atraso regionais. Tão somente, cumprir aquilo que qualquer governo sério caberia realizar, ou seja, garantir condições mínimas de acesso à água, pelo menos para beber!

E, a proposta mais elementar é simples. Ela se baseia em três idéias elementares:

1. água para o povo beber;

2. água para os animais;

3. água para as culturas permanentes.

A primeira delas, apoiar-se-ia na efetiva implantação de um projeto de caráter e preocupação quase seculares, que é a famosa Transposição das Águas do Rio São Francisco, obra hoje andando a passos de tartaruga. Se a ela se juntassem projetos de recursos hídricos como o do Governo do Ceará, de implantação do famoso cinturão das águas – porém, totalmente dependente da Transposição! –o chamado circuito das águas e, consequentemente, a possibilidade de integração de bacias e de recarga estratégica das barragens, isto permitiria afastar, de vez, o espectro da “marvada seca”. Se, accessória e complementarmente, fossem perfurados os poços em locais onde há água subterrânea e dado continuidade ao programa de cisternas familiares, a primeira prioridade de garantir água para o povo beber, estaria sendo cumprida.

A segunda prioridade, apoiada nos resultados da primeira estratégia e, adicionalmente, complementada com um programa de cisternas de tamanho destinadas a atender a demanda de água de pequenos rebanhos – de 15 a 20 animais, por família! – então ter-se-ia atendida tal prioridade.

As barragens existentes, talvez com a complementação de mais algumas, estratègicamente localizadas, para garantir a necessária integração de bacias, a perenização de rios secos e a recarga estratégica de barragens de maior vulto, atenderia a terceira prioridade.

E, finalmente, se forem, critìcamente, reexaminados e analisados, os projetos de irrigação, espalhados por todo o semi-árido, hoje, muito deles, verdadeiros elefantes brancos, dentro da perspectiva de sua exploração econômica racional e objetiva, provàvelmente a terceira preocupação estaria atendida.

E, diante de um receituário tão simples, de um já acumulado conhecimento de uso e manejo de água, pelo DNOCS e pela CODEVASF, além do que acumularam, de experiência, os estados, a pergunta que não quer calar é por que não se constrói, de forma honesta e séria, tal solução ou tais soluções?

Provavelmente o custo de tal ou tais soluções seria menor do que os subsídios transferidos pelas operações do BNDES para os Eike Batistas da vida ou para os próprios programas, tipo bolsa-família que, no “over all” gastam muito mais, para soluções temporárias, do que seria, a solução desse dramático imbróglio que é a seca do semi-árido nordestino.

Mas é tempo de circo e de eleição e, o povo, como sempre, é o palhaço desse circo mambembe!

OS DESEQUILÍBRIOS ESPACIAIS, UMA QUESTÃO RECORRENTE!

A divulgação dos dados da PNAD — Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios — revela um quadro preocupante segundo duas vertentes de interpretação. A primeira delas diz respeito aos ganhos que vinham se processando, em termos de diminuição de desigualdades e em termos de melhoria de indicadores sociais, que sofreram ou redução de ritmo ou estagnaram. A segunda, revela que os desequilíbrios espaciais não tenderam a melhorar ou, melhor dizendo, a reduzir o “gap ou entre as regiões ou áreas mais desenvolvidas e as menos desenvolvidas.

Na verdade, a questão é, muito menos, a chamada e emblemática miséria nordestina mas, muito mais, o processo de desequilíbrio espacial, no Brasil, como um todo. E, tentar situar o problema dos chamados bolsões de miséria apenas focando na questão nordestina, representa má fé ou distorção de análise a mais grave, pois, tal atitude impede a chance de que se gere uma política nacional de redução de disparidades de renda no Pais como um todo!

Portanto, corresponde, tal enfoque, a uma distorção vez que os problemas de fome e miséria no Norte e Nordeste do Brasil encontram paralelo com certas áreas de pobreza endêmica no resto do País, como é o caso do Vale da Ribeira, em São Paulo; do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais; da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro e, de áreas básicas no Rio Grande do Sul.

Na verdade, ao Brasil, além de faltar uma proposta de desenvolvimento para o País como um todo ou, pelo menos, um estudo de perspectiva para os próximos 20 ou dez anos, faltam diretrizes para o enfrentamento do quadro de desigualdades presentes na cena brasileira.

Quando se fala em Nordeste é muito mais por representar tal região, a maior concentração de pobreza no País e por ser a maior área contínua de atraso, como também por se haver tentado, no passado recente, intervenções destinadas a reduzir o grau de subdesenvolvimento alí teimosamente presente. Ademais, na avaliação da região e das políticas federais adotadas para enfrentar o atraso, constata-se que elas não conseguiram afastar o espectro do enorme fosso entre a região e o resto do País.

Lula, em depoimento a este mesmo cenarista, em Cuzco, no Peru, dizia que tinha quatro grandes linhas de atuação para o Nordeste. Era a realização da Transposição das Águas do São Francisco; a construção da ferrovia de integração, a Transnordestina; a duplicação da BR-101 e a exploração de todas as potencialidades do biodiesel. Isto ocorreu lá pelos anos de 2006!

Ademais de tais investimentos destinados a atingir objetivos específicos ao desenvolvimento regional, Lula agregava, entre outros compromissos, o apoio a construção das refinarias premium de Recife — a Abreu Lima –, a do Ceará e a do Maranhão.

Diante do maior dos desafios que era e, até hoje ainda é, a questão dos efeitos devastadores das secas periódicas, não havia nenhum projeto de maior densidade, consistência e coerência, objetivando o enfrentamento da questão.

Esperava-se que, com a transposição, seria possível estruturar programas de integração de bacias, de construção de adutoras dos sertões, de recarga estratégica das barragens que, acopladas a programas emergenciais como o de disseminação de cisternas familiares, fosse possível mininizar tais dramáticos e perversos efeitos das estiagens, como a que se abateu em 2010 e 2011!

Se não fora o efeito dos programas compensatórios de renda — previdência rural, bolsa familia, seguro renda, entre outros — talvez houvesse se repetido a procissão de miséria com um bando de esfomeados buscando, nas estradas, um pouco de lenitivo ao seu sofrimento.

Nesses dois anos, embora tenham sido destruídas lavouras e houvesse ocorrido uma mortandade enorme de rebanhos, foi pequena a migração que, sistematicamente ocorria na área bem como não se assistiu o espetáculo gritante da fome, ocupando as estradas e vias das grandes cidades.

Mas, se tal constatação foi um avanço e tais instrumentos compensatórios de renda tiveram relevante papel, o fato é que continua a inexistir uma proposta de enfrentamento das desigualdades! Até mesmo os incentivos fiscais e a chamada, inadequada e injustamente, guerra fiscal, não conformam uma política compreensiva de enfrentar tais bolsões de pobreza e atraso em tais áreas.

Se houvesse uma reforma fiscal que mudasse os termos do pacto federativo, bem como alterasse os critérios de distribuição de recursos de investimentos públicos nacionais, talvez fosse possível começar a reescrever uma história de mudança de paradigmas na questão dos desequilíbrios espaciais.

A forma como serão distribuídos os royalties do petróleo, um possível novo critério de distribuição espacial dos royalties da mineração, com um viés espacial, além de uma revisão crítica dos recursos do FPE, então as coisas começariam a realmente mudar. No caso da reforma tributária, se se buscar estabelecer que a cobrança de ICMS venha a ocorrer sobre o consumo e não sobre a produção, então estariam sendo enfrentados os referidos problemas.

Portanto, uma das formas de reduzir os desequilíbrios espaciais, não deveria ocorrer apenas através dos programas compensatórios de renda mas, também, estabelecendo maneiras de o crescimento em tais áreas, ser mais dinâmico que a média nacional e os investimentos em qualificação de mão de obra bem como em certos empreendimentos alavancadores da atividade produtiva, como é o caso das refinarias, siderúrgicas, ferrovias, etc. representassem o foco da atuação da União.

Mas isto ainda parece sonho e miragem pois sequer o assunto tem sido discutido recentemente!

A PNAD E DILMA!

De repente, dois dados são lançados à interpretação dos brasileiros. O primeiro, os dados da PNAD ou Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio. O segundo, sem qualquer explicação plausível, os dados de pesquisas de opinião revelam que Dilma retoma a liderança do processo eleitoral e assume a ponta, em termos de aprovação da sociedade brasileira. E todos ficam a ver navios querendo entender como é possível o país enfrentar uma das piores crises e impasses econômicos e a popularidade da Presidente não se alterar. OU se se altera, é para melhor!

Aí fica difícil de entender o quadro. A economia brasileira enfrenta queda da produção industrial, o superávit primário atinge o seu pior nível dos últimos anos, caem os índices e confiança dos empresários e dos consumidores do País, e, o dinamismo do mercado de trabalho perde força, mas mesmo assim, o governo vai bem!

A opinião do IPEA, diante dos dados apresentados pela PNAD, mostra um quadro nada favorável ou otimista! Houve perda do expressivo ganho real dos salários, impactando, com isso, o nível de consumo. Segundo o mesmo instituto, a expansão econômica vai ficar, no máximo, nos 2,5%! O mais grave dos dados da PNAD são os relativos ao aumento do analfabetismo, do crescimento da desigualdade, medido pelos índices de GINI e o impacto mais negativo de tais dados sobre o Nordeste e o Norte, reabrindo, de novo, a discussão sobre o desenvolvimento regional. Se se avalia os dados do PNAD sobre o saneamento ambiental, a frustração e o desencanto em relação ao Norte e ao Nordeste, cresce ainda mais, porquanto os dados são de envergonhar qualquer governo.

Se o quadro social não é nada interessante e se o desenvolvimento regional não encontrou qualquer política econômica plausível, então é hora de rever conceitos, idéias e propostas para fazer um país menos desigual e menos desumano!

Esse cenarista pode até aceitar os dados colocados mas, como nordestino de boa cepa, não dá para aguentar o desprezo, o descaso e o desinteresse do Brasil pelo país dos nordestinos. Mas iremos voltar a questão com argumentos sensíveis e respeitáveis.

Diante de tal panorama, é difícil fugir ao desalento. Talvez, na ciclotimia que caracteriza a gangorra brasileira, a gente possa ansiar que amanhã, talvez, quem sabe, dados novos poderão afastar os brasileiros do desencanto!