“VOU-ME EMBORA PRO PASSADO…”

Parece que um dos males que acometem as pessoas submetidas aos rigores do tempo, diga-se de passagem, do tempo cronológico, é que, impiedosamente, o calendário teima em lembrá-las do que passou bem como das coisas e dos fatos que lhes dão um sabor de nostalgia e lhes levam a um saudosismo (sensações incompreensíveis aos que não viveram tais experiências e circunstâncias).

E, ás vezes, dá vontade a tais pessoas, de voltarem ao passado, num reencontro com aquilo que lhes era tão mais positivo, tão mais simpático e tão mais agradável do que as experiências que ora vivenciam.

Será que será saudosismo ou nostalgia lembrar da escola pública do passado, quanto da sua excelência na qualidade de ensino e detentoras dos mais qualificados e dedicados mestres? Da mesma forma, quem não se lembra e não se beneficiou dos serviços prestados pelos famosos institutos de previdência, não só em termos de pensões e aposentadorias, mas de serviços de assistência médica, de que eram modelo o IAPB, IPASE, IAPETEC, IAPI, etc.? Quem não conheceu as Santas Casas, no seu auge, como hospitais de ponta, além de garantirem o atendimento as populações de baixa renda?

Tudo isto vem a propósito da piora na prestação de tais serviços essenciais à população, que entraram num processo de decadência, atribuída, em parte, parece que injustamente, à universalização de tais serviços e ao enorme crescimento demográfico!

E, indignação maior toma conta dos mais “antigos” quando se vêem diante da pobreza da qualidade dos serviços públicos essenciais prestados ao povo e da enorme carga de tributos que o cidadão paga, o que fez com que se denominasse, esse velho Brasil de guerra, de uma espécie de Belíndia. Ou seja, um país com uma tributação de uma Bélgica e serviços públicos de uma Índia!

Tudo isto vem a propósito do que está a ocorrer com a ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos -, que está a “sangrar”, se descaracterizando, perdendo a sua eficiência e criando as pré-condições para que, em breve, tais serviços postais venham a ser privatizados. E tudo por conta do processo de desconstrução do órgão, perpetrado por verdadeiros “abutres” que, a serviço de uma discutível governabilidade, tomaram, “de assalto”, o órgão e o debilitaram com suas estripulias e seus interesses escusos.

Costumava-se, até um passado não muito distante, dizer que no Brasil, três instituições pairavam acima de todas, em termos de credibilidade e de respeito do povo deste país. Elas que eram depositárias da confiança dos brasileiros: “os mata-mosquitos, os bombeiros e os carteiros”. Pois bem, examine-se, de forma isenta, o que os políticos fizeram de tais instituições. Os “mata-mosquitos”, de uma das memoráveis sagas de combate as endemias, foram, a partir de reformas administrativas do País, levados à rua da amargura, num processo irresponsável de descentralização de seus municípios que passaram a ser realizados pelos municípios. Com isto, destruiu-se a hierarquia, a estrutura, o espírito de corpo e a auto-estima de quem se sentia partícipe do processo de melhoria da qualidade de vida do país e responsável pela redução da mortalidade, geral e infantil, nos rincões mais distantes deste imenso país. Se isto não bastasse, os próprios bombeiros que, mesmo sendo policiais militares, praticamente estiveram incólumes e distantes de tantos escândalos, corrupções e imoralidades cometidas por policiais militares, envolvidos no processo de descaracterização do seu papel, não só pelas limitações de recrutamento, seleção, remuneração e influência maléfica da política no seu processo de gestão.

E, ao final vêem os Correios e os seus diligentes carteiros, símbolos da dedicação na prestação de serviços à sociedade que, agora, de forma triste e deprimente, assistem ao desmantelamento de sua instituição e a destruição de sua competência e dignidade, exatamente por influência de interesses políticos discutíveis, que substituíram o mérito pelo “QI”, ou seja, o quem indica!

E é diante do desmantelamento de tais instituições que aqueles que viram o tempo passar, recordam, com uma ponta de nostalgia, os velhos tempos onde tais coisas eram acreditadas e funcionavam a contento. É para dizer mesmo, “vou-me embora para o passado…”

E AGORA, DEPOIS DE FRUSTRADOS OS NOSSOS SONHOS FUTEBOLÍSTICOS?

O Brasil tinha tudo para ganhar. Fez um primeiro tempo primoroso. E, aí, a Holanda, surpreende, e o Brasil mostra que não tem equilíbrio emocional para aguentar a pressão. E, por ironia do destino, o mesmo jogador que deu um passe magnífico para o primeiro e único gol do Brasil, é o mesmo que, aceitando a provocação, acaba sendo expulso! É lamentável que tenha faltado equilíbrio emocional à equipe brasileira. Desmontou-se o time no segundo tempo. Acabou-se a criatividade e o talento. Foi só uma correria desesperada. E, após os quarenta e cinco minutos finais, o que se assistiu foi uma melancólica tentativa de um reencontro com o primeiro tempo. Quem ganhou nessa catarse nacional? Ganha o Brasil que pode voltar a trabalhar. Perdem a auto-estima e o entusiasmo dos brasileiros que, pedem tão pouco para experimentarem uma alegria um pouco mais longa que a alegria de carnaval. Perdem os políticos que, ansiosamente, lutavam e apostavam que a Copa adiaria a campanha eleitoral, que só viria a começar após a Copa. Ou melhor, após a participação do Brasil no evento.

E, o mais relevante é que, no mesmo momento em que ocorria a nossa tragédia “pebolística”, as vistas já se voltavam para as eleições nacionais em face da divulgação de uma nova pesquisa nacional.

E, a primeira surpresa da campanha presidencial não é ou não são os resultados da pesquisa Datafolha, onde o empate técnico volta a caracterizar a disputa. Ou seja, toda a euforia dos petistas, mesmo diante do amontoado de bobagens praticadas pelo comando da campanha de Serra, foi de águas abaixo porquanto após duas rodadas de pesquisas do IBOPE e do Vox Populi, onde Dilma tinha cinco pontos de dianteira sobre Serra, agora, pela pesquisa Datafolha estão empatados, de fato! O jogo começa agora. Portanto, zere-se tudo e ninguém se sinta dono das mentes e das vontades dos brasileiros. A disputa abandona, em parte as pesquisas e, dessa forma, as vontades não serão monitoradas e determinadas pelas mesmas pesquisas. O quadro agora é outro. Lula pesa muito nas decisões e nas decisões do eleitorado, mas, não é mais determinante no processo.

Dizem alguns supersticiosos que, caso Dunga tivesse chegado a final da Copa do Mundo, tudo seriam flores para Lula. Mas, para a pátria de chuteiras, a amarelinha, dobrou-se à seleção laranja, que, a bem da verdade, não era nada daquilo que foi em 1974, com o seu famoso carrossel. Mas, no duelo das mediocridades, os holandeses foram mais práticos e mais objetivos do que os brasileiros.

A partir de hoje, tudo muda. A campanha não só será outra como assumirá novos contornos. Passa a régua, limpa a lousa e começa tudo de novo, como assim falava o humorista! Ninguém, nessa etapa do jogo, é melhor. As pesquisas serão esquecidas conforme esse site antecipou nas suas últimas análises. Pelo que se pode avaliar, não há qualquer chance da eleição terminar no primeiro turno. Marina fará entre 10 e 17% e, conforme aqui sugerido, os votos cristalizados de parte a parte, estão na ordem de 30% para cada um dos principais contendores.

Dessa forma, nada há determinado e, os neófitos no processo, que tendem a entusiasmar-se com as pesquisas e esquecem a história e as experiências já vivenciadas, devem assumir maior equilíbrio e prudência nas apreciações e análises. O reexame da recente interpretação da legislação das coligações, depois das “indas e vindas” do TSE, leva a apostar que, na sua decisão, aparentemente equivocada, voltar-se-á ao status quo e, como já montadas as coligações em função das realidades regionais, a disputa ocorrerá como a base estabelecer e não como os tribunais determinarem.

Se o comando de Serra tiver competência, se a turma de Dilma não intentar espertezas já conhecidas e se Marina Silva mantiver a sua candidatura, a tendência é que o país venha a ter uma das mais empolgantes e emocionantes eleições já travadas no país.

Lamenta-se pelo inesperado desastre futebolístico brasileiro. Perdem todos. Perdem os que sonharam. Perdem os que dirigiram a seleção brasileira e, por incrível que pareça, Lula a que tudo podia, perde o que menos devia: o conceito arraigado que tudo pode!

As pessoas começam a se envolver na nova disputa que, embora não tão emocionante quanto a participação do Brasil na Copa, mexe com os sonhos, as demandas e os interesses da população. O que os candidatos irão oferecer, de forma convincente e plausível, capaz de mexer com o imaginário coletivo? O que as redes sociais terão de influência na formação do eleitorado, notadamente o eleitorado mais jovem? Será que os programas de televisão e rádio mudarão a cabeça e as opiniões de milhões de brasileiros? Qual será o apelo aos filhos do bolsa-família? A continuidade do benefício é muito pouco? A melhoria do programa, dizem alguns. Mas, o que pode ser percebido, de imediato, como prometida melhora, pelo eleitorado? Talvez a questão da segurança, da saúde pública e da educação, poderia, cada uma delas, ter um impacto maior, mas desde que as pessoas conseguissem perceber como elas poderiam ser mudadas.

O certo é que o jogo vai começar depois de enxugadas as lágrimas da frustração com o fim da caminhada do Brasil rumo ao hexa. E, aí é tocar bola prá frente no construir do novo Brasil que todos querem e têm direito.

AGORA SIM, A CAMPANHA VAI COMEÇAR!

Depois de uma verdadeira “comédia de erros”, o comando da campanha de José Serra, finalmente, superou a questão da escolha do candidato a vice-presidente, ou seja, do seu companheiro de chapa.

As escaramuças entre o DEM e os tucanos acabaram sendo vencidas, não pelo DEM, mas pelos seus preciosos minutos de televisão, pela sua estrutura partidária e pelo fato de que a estratégia de agregar mais dois milhões de votos do Paraná, com a intentada escolha de Álvaro Dias, para vice de Serra, senador por aquele estado, foi inviabilizada pelo irmão, Senador Osmar Dias, que aceitou sair candidato a governador do Paraná, com o apoio do PMDB e do PT. Assim a “fumaça branca” do “habemus vice” só saiu ontem, com a indicação do surpreendente nome do jovem – 39 anos – deputado federal de primeiro mandato pelo Rio de Janeiro, Deputado Índio da Costa.

Relator do projeto “ficha limpa”, o deputado ajuda a melhorar o palanque de José Serra não apenas garantindo a base de apoio e palanque que lhe falta no Rio de Janeiro como também pelo fato de permitir fazer um contraponto, em termos de renovação. Isto porque, o vice de Dilma, já anda “pela casa dos setenta anos de idade” e, aparentemente, não teria nada a dizer à maioria do eleitorado brasileiro, que é de jovens.

Adicionalmente, a demonstrar que a campanha está começando, a recente decisão do TSE, como que fazendo “renascer” a idéia da verticalização, vai promover uma série de reviravoltas nos palanques ou, pelo menos, na propaganda dos candidatos nos estados. Isto porque se os chamados partidos “nanicos” continuarem a estabelecer, como estratégia de ação política, ter candidatura própria a Presidente da República, então vários palanques estaduais terão que ser revistos, pois que não poderá haver palanque que abrigue dois candidatos e não poderá haver candidato que esteja em dois palanques partidários, a não ser que o partido que “abre” o palanque, não tenha candidato nacional a Presidente. Mercadante, por exemplo, não poderá ter nem Lula e nem Dilma na sua campanha, a não ser que abra mão do apoio do PRTB e Anastazia, em Minas, não poderá contar com José Serra em sua propaganda eleitoral, a não ser que abra mão da coligação formal com o PSB.

Uma hipótese para superar o problema e para facilitar a vida dos candidatos a Presidente, realmente competitivos, seria que os atuais candidatos dos partidos pequenos – Oscar Silva, do PHS; Mário de Oliveira, do PT do B; Américo de Sousa, do PSL; Levy Fidelix, do PRTB, Ciro Moura, do PTC, entre outros -, do alto de seu espírito público e do seu desprendimento e, convencidos por um bom latim e também por algum “lubrificante cívico”, desistam de suas postulações!

Por outro lado, o resultado da última pesquisa do Vox Populi, assemelhando-se ao resultado apresentado, faz mais de dez dias, pelo IBOPE, mostrou uma vantagem de cinco pontos percentuais para Dilma Roussef. Dizem as más línguas que quanto menos Dilma aparece e fala, mais ela melhora o seu desempenho nas pesquisas. Quanto mais a preservarem de discursos, entrevistas e debates e a mantiverem numa campânula, sem os assédios da imprensa, dos políticos e dos adversários, melhor será a sua performance. Os seus seguidores, entusiasmados com os resultados das pesquisas e os tropeços e equívocos do comando da campanha de José Serra, já falam que é possível que não ocorra, sequer, segundo turno, tamanho o entusiasmo com os resultados das sondagens de opinião e dos novos apoios.

Porém, três coisas devem ser consideradas nessa apreciação. A primeira delas é que a pesquisa ainda representa apenas um instantâneo, incapaz de revelar cristalização de preferências. No máximo, os resultados de pesquisa, agora, servem mais para estimular a militância, ampliar as promessas de fundos para financiar a campanha e para avaliar a estratégia de mídia e marketing adotados, do que para definir tendências e perspectivas. A segunda constatação é que, em investigação recente feita com eleitores, neste mesmo momento, mostrou que a sua preocupação maior é com a copa do mundo e que, só após a copa, irá começar a acompanhar a política, os debates e as idéias dos candidatos. A terceira revelação é que, para Serra, o fato de que, desde a última pesquisa, que já garantia a Dilma os cinco pontos percentuais de vantagem, não houve mudança nas avaliações e, portanto, apesar da comédia de erros experimentada pela tucanada, nos últimos dias, Serra viu, como que estancada a sangria nas suas preferências. Ou seja, se não piorou é porque o que está ficando, no momento, é o que se conhece de experiência de outras campanhas: o PT e Lula têm cristalizados, 30% dos votos; as oposições têm também 30% dos votos e, entre os partidos pequenos, indecisos, brancos, nulos, etc. ficam os demais 40%!

Ou seja, a guerra vai começar agora, com escaramuças de toda ordem, para ver quem abocanha parte ponderável desses quarenta por cento. E é bom lembrar que não basta achar que, por exemplo, no caso dos adeptos e entusiastas da campanha de Dilma, que o favor recebido, do saco de bondades de Lula, será determinante para definir as opções eleitorais dos brasileiros, país afora. Muitas vezes, o que pode prevalecer é o princípio de que “benefício recebido é benefício esquecido” e o eleitor só vai querer saber o que vai “ganhar” nesta eleição.

Da mesma forma, usar a expressão de James Cargill, marqueteiro de Bill Clinton que assegurava que indo bem a economia, a eleição era uma barbada – that’s the economy, stupid -, para explicar como os eleitores votam, vale, talvez, para uma sociedade como a americana, mas talvez não para uma sociedade emergente como a brasileira, onde a única expressão da economia que interessa as pessoas de baixa renda é se elas vão “comer mais, comprar mais e viver melhor” e não os índices estatísticos sobre emprego e renda. Ou seja, é preciso uma manifestação expressa, cristalina e cabal do que ele vai agregar de valores, dentro do seu universo de demandas, preferências e sonhos, apostando num ou noutro candidato.

O fato é que, a partir do dia 5, último dia para qualquer alteração das atas das convenções estaduais, depois da vitória do Brasil sobre a Holanda e da derrota da Argentina para a Alemanha, é que a “poeira vai assentar” e as coisas vão começar a definir os seus contornos e, a partir daí, é que se estará desenhando o cenário possível para o dia D, ou seja, para o próximo dia 03 de outubro.

DE COPA, DE PESQUISAS E DE CONVENÇÕES…

DE COPA
O Brasil, segundo a maioria dos brasileiros, deve passar pelo Chile não só em função da retrospectiva recente de encontros entre as duas seleções, pela esperada “irresponsabilidade” do técnico Marcelo Bielsa, o “loco Bielsa” e pelo fato de que importantes jogadores chilenos estarem suspensos em função dos cartões recebidos. A caminhada do Brasil, após passar pelo Chile, será bem mais suave do que a da Argentina que enfrentará, nada mais nem nada menos, que a melhor seleção européia nesta Copa, no caso a da Alemanha.

Se tudo sair dentro dos conformes, os brasileiros curtirão mais uma semana à meia bomba, em termos de trabalho e de produção. Se, na pior das hipóteses, o Brasil amarelar aí, as coisas voltam, mesmo a contragosto, a funcionar e a política tenderá a esquentar.

PESQUISAS, PESQUISAS E PESQUISAS
Este cenarista já comentou, em algumas oportunidades que, segundo o seu “feeling” e a sua presumida experiência política, principalmente por haver perdido eleições majoritárias, não adiantam resultados antecipados de possível vitória de um candidato ou de outro ou a idéia de que as pesquisas tendem a induzir ao chamado “voto útil”. Qual seja, que tais resultados levem a uma mudança de possíveis tendências ou opções dos eleitores, no sentido de rever o seu possível voto e direcioná-lo para o princípio que se deve “votar em quem vai ganhar”.

Também, precipitam-se em avaliações e julgamentos de que a volubilidade de eleitores expressivos ou lideranças de peso, possam fazer, em função de tais resultados de pesquisas, com que eles estejam a deixar um candidato e integrar-se à campanha de outro.

Na verdade, tais mudanças não são tão fáceis porquanto as bases já estão divididas e ocupando palanques de cada um dos contendores e reencaminhar tais eleitores para outra opção, parece não ser tarefa tão fácil.

Só agora os acertos estaduais estão ficando mais claros e, de forma mais efetiva, os candidatos presidenciais estarão tendo uma idéia das tendências desses grandes “vaqueiros de votos”. Mas, mesmo assim, não se sabe como as coisas caminharão nesses meses mais complicados e difíceis, que são os meses de julho e de agosto.

Também, os presumidos desgastes pelos apoios de chamados fichas-sujas, não terão efeitos maiores em termos de perda de prestígio dos candidatos perante o seu eleitorado porquanto ambos os candidatos mais competitivos, tem vários apoiadores que são
“caras com culpa no cartório”.

Essa discussão sobre a natureza dos apoios lembra muito uma expressão usada, uma vez, por Tancredo Neves, quando vários malufistas queriam aderir à sua candidatura e havia resistência de alguns dos líderes que já apoiavam Tancredo, desde o início da campanha. Diante do discurso de alguns rejeitando tais apoios, Tancredo disse, do alto de sua experiência e de sua sabedoria política: “meus filhos, lembro a vocês que o que enche rio é água suja. Eles que venham e serão bem recebidos, desde quando eles não estão cobrando nada, não estão exigindo nada e nós não estamos nos comprometendo com nada. Isto não macula os nossos princípios e nem a nossa caminhada”.

Também parece que não vai afetar muito as campanhas, as denúncias, os dossiês e as acusações de toda ordem. Talvez o que possa “pegar” será aquilo que estigmatize os candidatos ou que leve ao deboche, à ridicularia e à gaiatice, tão ao gosto dos brasileiros. A frase pronunciada por uma vereadora perguntando: você, como mãe, entregaria o seu bebê para que Dilma fosse sua babá, diante da história de terrorismo, de assaltos, de guerrilhas e da fama de durona e de mulher implacável? Mas, mesmo tais estigmas, como o de Serra, de um mau humor permanente, são contrarestados por excessos como, por exemplo, de Lula chamar Dilma de Nelson Mandela ou do governador da Bahia chamá-la de Irmã Dulce, o que, realmente, vai mostrando que tais iniciativas, pelo conteúdo de exagero e não correspondência com a história e a atitude da candidata, não agregam nada às campanhas.

Parece que a estratégia dos candidatos é, obviamente, ampliar e consolidar as posições onde estão à frente do competidor e, após isto, invadir os territórios onde não estão bem. No mais, é ir ajustando a estratégia de conformidade com a leitura das expectativas do eleitorado.

AS CONVENÇÕES ESTADUAIS ESTÃO CHEGANDO À RETA FINAL!
Até em lugares onde não se esperava nenhuma surpresa, as coisas tomaram novos rumos, neste fim de semana. Na Bahia, Dilma confirmou que terá dois palanques e, talvez, ocorra o mesmo no Ceará, no Pará, no Paraná e em outros estados.

No Paraná, em Goiás e no próprio Rio, o DEM, somente se manifestará, em termos de apoio, após esgotadas todas as possibilidades de reverter a indicação do Senador Álvaro Dias como candidato a Vice-Presidente, na chapa de José Serra. E, desde que não foi possível conseguir um nome de peso no Nordeste ou no Rio, a estratégia mais interessante para Serra seria a de ser o detentor do maior número de votos no Paraná o que afetará, a seu favor, a sua situação em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Pelo “andar da carruagem” agora é que a coisa começou a se definir e, pesquisas, no momento, são muito mais instrumentos de revisão de estratégia, de mudança de curso da campanha e de alteração do discurso ou adequação de linguagem vez que, por exemplo, os tucanos continuam a falar um “idioma” que os bolsa-família não conseguem se sensibilizar com o que falam.

A TRAGÉDIA DAS ÁGUAS E A IRONIA DO DESTINO!

De repente, o Nordeste de Graciliano Ramos, de Rachel de Queiroz, de Herman Lima e, magistralmente retratado por Euclides da Cunha, não é mais aquele. É um nordeste marcado pela ironia do destino: a água vem, como um tsunami, destruindo vidas, lares e esperanças. É em parte o Nordeste que, na música “Súplica Cearense”, em versos magistrais, já antevia, num apelo, a tragédia de chuvas em demasia: “Pedi prá chover, mas chover de mansinho, prá ver se nascia uma planta no chão. Meu Deus, se eu não rezei direito, o senhor me perdoe, pois eu acho que a culpa foi deste pobre coitado que nem sabe fazer uma oração…”

Ou seja, um nordestino que nem sequer sabe fazer uma oração! E, por isso não foi atendido, pois pediu um pouco de chuva, mas como não soube sequer pedir, de lá de cima lhe mandaram um dilúvio.

Mas, a culpa não é do “nordestino que nem sabe fazer uma oração”, mas, sim, de governos irresponsáveis e insensatos que, mesmo diante de dramas não tão devastadores como o das regiões nordestinas atingidas, como foram os casos de Rio, São Paulo e Santa Catarina, tão recentemente, não proveram medidas destinadas a remover populações localizadas em áreas de risco; não estabeleceram prioridade para os programas de saneamento básico, construção de galerias de águas pluviais, proteção de áreas de encostas e ribeirinhas além de estabelecer programas de regularização de rios e bacias hidrográficas para escoar excessos de descargas das chuvas; de planejamento de galerias de águas pluviais e não montaram políticas destinadas à construção de barragens orientadas a, estrategicamente, permitirem uma administração mais racional de tais excessos da pluviometria.

Se a população sofre com os dramas vividos por populações faveladas no Rio, de moradores em áreas de risco de São Paulo e em Santa Catarina, o drama de regiões mais pobres é que elas são muito mais frágeis e vulneráveis a tais desastres ambientais que as regiões mais ricas do País. É como se referiu uma autoridade ao avaliar, de helicóptero, o desastre com mais de 44 mortes, mais de 600 desaparecidos, além de mais de alguns milhares de casas destruídas: “O que se vê aqui é uma devastação maior que no Haiti”! É isto que a falta de políticas públicas e de uma total ausência de planejamento estratégico produzem em cima de populações mais vulneráveis. Mas, também, por ironia do destino, o País vai bem, Dilma passou Serra e o País, que vai crescer em ritmo chinês, este ano, apresenta indicadores muito positivos, em termos econômicos e sociais! Só precisa cuidar de tragediazinhas como esta do Nordeste; do drama do consumo de drogas no meio da população jovem; da violência urbana que enfrenta escalada crescente; da crise da saúde pública e do desafio de uma educação que teima em não melhorar.

Claro que, tais advertências não retiram, como cobram alguns leitores desse site, o otimismo desse Brasil que “agora vai”, como é desejo de todos.

BRASIL QUE LULA ESTÁ A VENDER!

Os dados não poderiam ser mais otimistas. Um produto interno bruto que cresce a taxas chinesas, ou seja, acima de 7,5% ao ano; o emprego que, só em maio, gerou mais de 290 mil novos postos de trabalho e, até aquele mês já superava os 1,2 milhão de novas vagas criadas; um índice de inflação que antes ameaçava a meta, já começa a arrefecer; uma arrecadação tributária que bate recordes todos os meses; um desemprego que fecha, em maio, a uma taxa de 7,5%, a menor desde 2002; uma previdência que tem um déficit 10,2% menor que o verificado em maio de 2009; e, além de todos os dados, uma pesquisa de amostragem de domicílios (PNAD), mostrando números altamente favoráveis nos indicadores sociais do país, faz com que Lula estufe o peito e, talvez, desafie o próprio Criador, a mostrar desempenho melhor.

Na verdade, o aumento da renda familiar de 2003 a 2009 foi de 21,5%; a desigualdade de renda caiu, no mesmo período, em 10%; a despesa dos 10% mais ricos que era de 10,1 vezes maior do que a dos 40% mais pobres, caiu para 9,6 vezes em 2009; e os dados da mortalidade infantil, que hoje encontram-se próximos ao que preconizavam as chamadas metas do milênio da ONU, mostram que o Brasil, apesar de uma série de problemas, desafios e constrangimentos ao seu crescimento futuro, apresenta um cenário deveras favorável.

Daqui a pouco, além dos jornalistas vinculados ao poder ou aqueles que são penas de aluguel, muitos “sitistas” ou blogueiros, acabarão repetindo o mantra, do “Por que me ufano de meu país?” Talvez, com isto, perca-se a capacidade crítica para colaborar com a redução dos problemas, limitações e constrangimentos ao crescimento da pátria amada! Vai ser uma pena!

DILMA “NAVEGA” NOS 75% DE APROVAÇÃO DE LULA!

A pesquisa CNI/Ibope desta semana mostra Dilma cinco pontos acima de José Serra. O que mostra isto? Que Dilma já é conhecida por 73% dos brasileiros; que Lula transfere mais que os 30% de votos que eram o teto do PT; que Dilma, ao ser protegida, em uma redoma de vidro, pelos coordenadores de sua campanha, continua tendo a expectativa favorável de que seja a “Lula de saias” e que os 18% de transferência de renda mostrados pela pesquisa sobre a distribuição de renda do País, mostra a eficácia do bolsa-família, do vale-gás, da previdência rural e em especial, para fazer fiéis uma ampla legião de brasileiros. É o projeto de fidelização de Lula! O que diz isto? Será que isto leva a quase certeza que a eleição estaria definida?

Em absoluto. Nada está definido. Se assim fora, a própria Marina desistiria de sua postulação e a oposição “entregaria os pontos” antes dos resultados finais das apurações. Por enquanto, nada está definido e não há razão para otimismos exacerbados nem pessimismos de qualquer natureza. Quando os candidatos forem desnudados, os debates começarem, as disputas estaduais forem definidas, aí então poder-se-á fazer projeções para saber para onde “as malas batem”.

Por enquanto, tudo é, para alguns, “wishfull thinking” ou, para outros, análise precipitada de analistas pouco preparados ou a serviço de interesses partidários.

O SEPARATISMO BELGA

Aparentemente, o problema a ser enfrentado pela Bélgica quando o sentimento separatista – embora já presente por mais de trinta anos – não enfrentava maiores preocupações, agora, com a eleição do líder separatista, Bart de Wever, da Nova Aliança Flamenga, assume uma dimensão preocupante.

Na verdade, o que ocorre na Bélgica é algo que representa um fenômeno que, segundo o grande sociólogo e pensador Levy-Strauss, que recentemente abandonou o mundo dos vivos, antecipava que até 2025 teria o mundo cerca de 2.500 nações! E isto ele falou antes do fim da Iugoslávia, que se transformou em sete nações independentes – Iugoslávia, Bósnia, Croácia, Eslovênia, Sérvia, Macedônia e Montenegro -, da República Checoslováquia, hoje República Checa e Eslováquia e de outras regiões que aguardam a chance de gerarem a sua independência. A Itália, ainda marcada pela unificação do Rei Victor Emmanuel, se refere as suas áreas de origem, como “il mio paese!”, caracterizando que a sua identidade cultural, histórica e étnica, tende a se transformar em um número de entes nacionais parecido com a Iugoslávia, com suas Catânias. A antiga União Soviética, não só viu desmontada a sua federação de nações como as próprias comunidades como a Ucrânia, a Bielorússia, a Chechênia, entre outras, são hoje independentes ou lutam por sua emancipação. A Espanha, não só com o País Basco, a Catalunha, a Andaluzia e região da Galícia, mostra que Levy-Strauss estava certo. O que não dizer da região dos curdos, da área de conflito da Caxemira, dos quase seculares conflitos da Irlanda; da busca de separação dos canadenses, enfim, de tantas áreas como o Tibete, o Kosovo, entre outras, o que mostra que o mundo busca viver e conviver com as suas identidades étnicas, culturais, religiosas, em paz e harmonia. E, sem ânsias hegemônicas, sem tentativas imperialistas e, acima de tudo, sem querer fazer prevalecer as suas crenças, ideologias e doutrinas, as nações tendem a convergir para aquilo que é o princípio da autodeterminação dos povos, não importando o seu tamanho e a sua importância.

Quanto mais exista identidade étnica, racial, religiosa e cultural e outras afinidades, mais paz e menos crises de identidades e conflitos as comunidades experimentarão. E, se porventura, forem mínimas as desigualdades sociais e as distâncias econômicas, maiores são as chances de viverem em paz e sem conflitos existenciais.

E, tal discussão dos separatismos pelo mundo conduz a uma reflexão sobre o que tende a ocorrer com países como o Brasil e os Estados Unidos que, pela natureza de sua formação histórica, da unidade territorial e linguística e de características peculiares – no caso do Brasil, o sincretismo religioso, a miscigenação racial e a unidade lingüística – leva a concluir que tais países estão imunes às tendências separatistas que atormentam as nações, mundo afora. Inobstante tal fato, a tendência do mundo hodierno é buscar minimizar conflitos entre nações e povos e tentar otimizar a convivência pacífica, respeitadas as diferenças, especificidades e indiosincrasias de cada povo, de forma a buscar, cada um de per si e o mundo como um todo, a ansiada e desejada felicidade nacional bruta.

E isto leva a uma lição no sentido de examinar como se consolida, ainda mais, a tendência de um país como o Brasil manter a sua unidade. A única alternativa viável é acreditar que a forma de melhor manter tal integração e unidade, é fortalecer a sede legítima ou o “locus” legítimo e privilegiado da cidadania, qual seja, o município.

O fortalecimento da estrutura do poder local, onde devem se definir, legitimamente, as aspirações, os sonhos e as demandas mais adequadas e oportunas das sociedades, é condição “sine qua” que, quebrado o centralismo distorcedor de tudo que domina um país como o Brasil, renasça a verdadeira federação que os brasileiros tanto sonhavam e sonham.

Será que é oportuna a discussão de tal questão? Principalmente quando se discute a criação de novos municípios e até mesmo de novos estados, talvez a discussão sobre a organização territorial brasileira seja mais que oportuna.

REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR: POR QUE NÃO PREOCUPA A NINGUÉM?

Estão, todos os brasileiros, envolvidos com as sucessões estaduais e a sucessão presidencial. E ninguém, ninguém mesmo, tem qualquer preocupação com a escolha daqueles a quem caberá a aprovação de leis, a garantia de marcos regulatórios – necessários ao adequado ambiente econômico para o florescimento de novas atividades produtivas -, a fiscalização do Executivo e a garantia do equilíbrio federativo.

Na verdade, ninguém sequer está discutindo como se garantirá a estabilidade das instituições e a chamada “governabilidade” que, em algumas circunstâncias, a sua precariedade, levou a crises institucionais sucessivas ou que levaram a suicídio, renúncias ou impeachment de presidentes. Ou seja, não é fácil, diante da descaracterização e da fragilidade da estrutura partidária do país, que se possa antever como poderão ser processadas as negociações capazes de garantir o que Lula, a duras penas, enfrentando certas chantagens partidárias, conseguiu se não de apoios para aprovar as reformas de base, pelo menos, para garantir que o governo funcionasse.

Nenhum movimento se esboça no País, quer de segmentos organizados da sociedade civil, quer da mídia, no sentido de se fazer advertências, sugestões e ações, objetivando orientar os eleitores que, não basta apenas não votar em candidatos que, ao invés de currículos, têm é folha corrida na polícia. É crucial, numa espécie de saudosismo saudável, buscar figuras que tenham história, nome, contribuições e, acima de tudo, venham demonstrando espírito público e a vaidade de buscar os aplausos pelo que fazem, pelo que dizem e pelas idéias que defendem. É bom rememorar o tempo em que os eleitores, quando se deparavam com o seu deputado na tv, orgulhosamente diziam: “aí está o cara em quem votei. Esse é um homem sério, capaz e que muito tem feito pelo nosso município”. Hoje, a maioria dos eleitores, diz que não se lembra sequer em quem votou na última eleição!

Um país em construção, que tem tantas urgências em termos de mudanças institucionais e que carece tanto da necessidade de garantia de direitos e de ambiente adequado para o desenvolvimento da vida, das atividades produtivas e da própria cidadania, não pode ficar alheio ao processo de escolha daqueles que vão responder por tão relevante papel.

Se os grupos organizados da sociedade civil não despertarem para essa preocupação, o que ocorrerá é que, se essa legislatura é tida como pior que a anterior, a que virá, certamente será bem pior. E aí, quem garantirá a governabilidade e a estabilidade das instituições?

PÓS-JOGO BRASIL VERSUS COSTA DO MARFIM!

Este cenário, talvez por covardia ou por uma espécie de “wishful thinking”, temia a ousadia, a agressividade guerreira, a ginga e a habilidade dos bem preparados fisicamente, onze da Costa do Marfim.

De repente o Brasil joga, não o que os brasileiros desejavam e sonhavam, mas o suficiente para afastar os temores de que o Brasil pudesse ser surpreendido, como o foram a Espanha, a Itália e a Alemanha.

E aí o pessimismo desaparece e, mesmo discordando de Dunga, a gente começa a acreditar e a apostar no futuro da seleção brasileira. Reacende-se o sentimento de brasilidade e voltam os brasileiros a apostar na amarelinha.

E assim, até os problemas mais urgentes do País dão um tempo e convencem a todos de que tais problemas podem esperar, enquanto a euforia pelo nacionalismo de dimensão menor não passar.

Portanto, vai ser difícil estabelecer uma pauta de assuntos mais relevantes para a sociedade brasileira. Esta semana, nem o Congresso e nem os candidatos a presidente, por mais que se esforcem, conseguirão levantar qualquer tema que empolgue e que mobilize uma discussão nacional.