Postado em 19 fev, 2010
É algo esperado, na antevéspera de eleições quase gerais, como as que irão ocorrer este ano, representar um momento para surgirem avaliações precipitadas de idéias e propostas; confusões conceituais a respeito de opiniões emitidas; temores infundados quanto à estabilidade das instituições democráticas e, acima de tudo, perplexidades de toda ordem. Claro que, quando há um conflito entre iguais, o problema é um mero Fla-Flu, analogia tão a gosto do Presidente Lula, sem maiores consequências. Mas quando tais contendores são vistos como desiguais pela sociedade, como sói ocorrer agora, então surgem preocupações e divagações infundadas quanto ao futuro. Isto porque, a não ser por uma questão de competência gerencial e política, PT e demais partidos, bem como Lula e FHC ou Lula e Serra, seriam todos farinha do mesmo saco! Claro está que, se no relógio do tempo os chamados de direita e os de esquerda, ainda viverem os saudosos tempos do comunismo albanês, provavelmente terão temores assemelhados aos enunciados por Chavez quando disse que “a eleição de um presidente de direita no Brasil seria oferecer um títere aos interesses do Imperialismo”! Ou seria, caso Dilma ganhe, admitir que voltará o Brasil aos tempos que “os comunistas comiam criancinhas”. Nem uma coisa nem outra pois, no Brasil, se não são todos ditos de esquerda, no mínimo seriam progressistas mas liberais ou conservadores, jamais! Ninguém se intitula assim por estas plagas, a não ser algum anarquista empedernido.
Agora mesmo, a história de Dilma, o seu estilo “durona e mandona”, as propostas explicitadas pela turma da República Bolivariana – Marco Aurélio Garcia, Paulo Vanucci, Luis Dulci, Alexandre Padilha, Franklin Martins, Samuel Pinheiro Guimarães, Tarso Genro, Erenice Guerra, entre outros menos votados – geram, em muitos analistas e em muitos políticos, principalmente os mais conservadores, o temor de que a esquerdização embutida nas propostas formuladas por este grupo ou, até as desencontradas idéias explicitadas por Dilma, na forma de fortalecimento do estado, conduzirão a um perigoso caminho de instabilidade institucional e ao retorno a concepções de governo e de políticas públicas que remontam aos anos 70 ou, até mesmo, ao período getulista.
Por outro lado, diante das reações de aliados políticos, máxime o PMDB e, de certa forma, de “pragmáticos” dentro do próprio PT, além, é claro, de reações explicitadas, de forma quase unânime, por quase toda a mídia, a tendência de Dilma e dos dirigentes partidários é dizer que, “uma coisa são as propostas do partido, outra as diretrizes do governo e outra, bem diferente, a proposta que Dilma irá construir, com o apoio dos aliados e a convalidação de segmentos, de alta relevância e peso político, dentro da sociedade brasileira.
Aos poucos, inclusive as reações da mídia internacional – “El País” chamou a atenção para a diretriz esquerdizante e estatizante de Dilma – e opiniões críticas de veículos como o “The Economist”, entre outros, começam a colocar um freio nos arroubos e arrojos de petistas que ainda se acham e se sentem revolucionários e construtores do sonhado socialismo tupiniquim.
É certo que, conforme cunhou uma expressão deveras conhecida pelos cearenses, o ex-governador Gonzaga Motta, quando cobrado face ao fato de ter abandonado quem o criou e o inventou politicamente, explicou-se afirmando, com uma frase de filosofia de bar, que a “política era dinâmica”. Com isto justificava todos os seus gestos e se desculpava de desvios de conduta política. E isto sói ocorrer com o PT quando, lançando propostas polêmicas no ar, diante da reação avaliada, retiram-nas, reposicionam-nas ou reescrevem-nas, de tal forma a torná-las mais palatável aos mais renitentes.
É certo que o PMDB, temeroso de perder seus apoios tradicionais e seus fiéis financiadores, para mostrar discrepância ao que pensam os ideólogos do PT, já criou um grupo, sob a liderança de Delfim Netto e de Henrique Meirelles, para dizer que a visão deles é diferente daquela que os radicais do PT querem colocar no programa de Dilma. E, o próprio Lula, determinou que as próprias propostas partidárias viessem amenizadas em termos de linguagem e as idéias a discutir, reduzissem o radicalismo e, até o cheiro de naftalina e, que não fossem vendidas como dogmas de fé, como querem os petistas puristas de esquerda (E ainda existem tais puristas?).
Por outro lado, Lula e os seus assessores, mais imediatos, querem descartar a possibilidade de ter que “engolir” o pouco palatável Michel Temer como companheiro de chapa de Dilma e, colocar, em seu lugar, “goela abaixo” do PMDB, o nome de Henrique Meirelles. Tal indicação valeria pelo papel que a Carta aos Brasileiros e a indicação de José Alencar serviram para aquietar os mercados, tranquilizar os militares e por panos quentes nas angústias dos segmentos mais conservadores da sociedade brasileira, como ocorreu com a disputa eleitoral de 2002!
Ademais, sabendo Lula que a “costura” de palanques estaduais encontra muitas dificuldades e embaraços, mesmo com um candidato que não tivesse as limitações de Dilma, com a explicitação do programa partidário, da proposta de Marco Aurélio Garcia e com as iniciativas de tentativa de controle da mídia, dos conteúdos culturais, das fontes de financiamento do País, além da verdadeira nova “Constituição”, como está sendo chamado o Programa Nacional de Direitos Humanos, a tendência é perder mais apoios dos ditos conservadores, nos estados brasileiros.
Assim, mesmo que haja muito exagero dos conservadores, no que diz respeito aos seus temores de uma nova onda esquerdizante no país e, consequentemente, do seu impacto sobre as instituições, sobre o crescimento econômico e sobre a convivência harmoniosa dos contrários, como Lula conseguiu conduzir o País, nesses oito anos, o ambiente no Brasil é se não de temor, mas, pelo menos, de perplexidade e incertezas. Isto porque, Lula é Lula e Dilma é Dilma! Lula não traz ranços e estigmas do passado nem feridas abertas como o grupo “dos bolivarianos” demonstra ter. E, será que Dilma, lá no fundo, também não é bolivariana?
Postado em 17 fev, 2010
Como no Brasil as crises viajam, tiram férias e se dissipam, até mesmo num fim de semana prolongado, todos esperavam que o escândalo do “Arrudagate” ficasse fora de foco e nenhum desdobramento adicional viesse a ocorrer. Mas, não só o Ministro Marco Aurélio de Mello, decidiu, de maneira muito rápida, não acolher o habeas corpus impetrado pelos advogados de Arruda, para que fosse relaxada a sua prisão, como o Procurador Geral da República, agiu, também, de forma extremamente célere. O Procurador, como se sabe, propôs, ao Supremo que, diante do envolvimento do Vice-Governador, de vários parlamentares distritais e de muita gente dentro do governo, não haveria clima e nem ambiente, suficientemente asséptico, para que se processasse uma votação de um processo de “impeachment” do Governador e de seu vice. Sendo assim, recomendou que o Governo Federal promovesse o processo de intervenção nomeando alguém, para, até que se clareasse o quadro, estabelecer o retorno das atividades de estado, do GDF. A medida é vista por ministros aposentados do Supremo, como extrema e que não cabe e não colabora para o fortalecimento das instituições democráticas.
Ao mesmo tempo em que novos desdobramentos ocorriam no caso Arruda, as composições políticas se intensificavam. A exposição de mídia dos neocarnavalescos Dilma, Serra e Ciro, ocorria nos três principais estados onde o tríduo momino é o de maior ocorrência de público: Rio, Salvador e São Paulo. Ademais, Serra manteve intensas conversações com lideranças regionais para garantir palanques sólidos e confiáveis. Também, Serra e Dilma, adotaram a postura de não se envolver nos tiroteios verbais entre governistas e não governistas, preservando-se dos desgastes daí decorrentes.
Por outro lado, por mais que alguém pense que a campanha não será também calcada nas comparações entre as “duas eras”, cada vez mais se mostra claro que não só as comparações estarão sempre em pauta, bem como a discussão de história, das contribuições e do currículo de cada um, serão postos, vis-a-vis.
Embora que, alguns mais ávidos exijam uma discussão mais profunda sobre o Brasil que todos querem e desejam e rejeitem o embate “entre o ontem e o anteontem; entre o atrasado e o velho”, as comparações são inevitáveis e, como era esperado, a própria mídia está se pautando para tanto.
E, dentro dessa linha, tanto Lula como proeminentes membros da oposição, procuram desautorizar, desmerecer e diminuir os méritos e as qualidades de parte a parte. A famigerada disputa de quem fez mais e melhor nos oito anos de poder, sem levar em conta as restrições e circunstâncias que cada governante enfrentou, será a tônica do início da campanha.
E qual a diferença entre os dois governos? Na verdade, são muito poucas, porquanto em matéria de política econômica, são totalmente iguais. Aliás, nos tempos atuais, são muito pouco plausíveis inovações em termos de política econômica que não tenha cheiro de experimentalismo irresponsável. E, embora Lula sempre fale da “herança maldita” que ele herdou do governo de FHC, em exaustiva análise procedida pela Revista americana “The Economist”, a conclusão ali é de que, se não fora o que foi plantado e consolidado por FHC – Plano Real, metas de inflação, lei de responsabilidade fiscal, câmbio flutuante, superávit primário, etc. – além de ter iniciado programas de enfrentamento da fome e da pobreza, Lula não poderia ter alcançado os êxitos que alcançou. Adicionalmente, FHC desenvolveu algumas ações destinadas a superar os gargalos do crescimento econômico que, diante das limitações de poupança para financiar os investimentos, recorreu, para a sua promoção, ao estímulo ao ingresso de investimentos externos, à privatização e à abertura da economia. A questão básica é que os dois governos foram de continuidade, sendo que o de Lula estabeleceu uma ênfase maior aos programas sociais.
“Eles dizem que o governo gasta muito. Eu quero saber onde eles vão cortar? Nos ganhos reais do salário mínimo? Nos reajustes dos aposentados? No bolsa-família?”, indaga Lula diante das críticas e dos temores da oposição e de economistas sérios, de que o grande aumento nos gastos de custeio, por parte do Governo, trará sérios embaraços à política econômica. Provavelmente, como admite Delfim Netto, não em 2010 pois que o crescimento já está dado mas, em 2011…
Aliás, diante da crise que estão mergulhados vários países europeus, com déficits fiscais enormes, há um temor, no mundo como um todo, de que a nova “bolha” do descontrole das contas públicas, fruto dos desvios de comportamento de governos que exageraram no aumento da dívida e do déficit público, venha a criar embaraços de ordem mundial.
Caso se confirme o que alguns petistas estão a temer, de que os dados do crescimento, em 2009, possam surpreender, negativamente, então as críticas à “farra fiscal” do atual governo, deverão ser intensas e com ameaças de que, para corrigir os erros, a dívida pública terá que crescer bastante e, diante do temor de uma escalada inflacionária, as taxas básicas de juros também deverão ser elevadas. Aí as comparações irão ser tomadas ao pé da letra.
Postado em 15 fev, 2010 1 Comentário
O Encontro do PT promete. Como Dilma é uma espécie de “iniciada no bramanismo”, desde os tempos do Val Palmares, do Araguaia, das estripulias cobradas pelas lideranças de esquerda para gerar renda para financiar a revolução pretendida e sonhada, parte do PT a engole, mas tem dificuldade para ruminar e digerir. Dilma passou, após a sua fase revolucionária que, hoje, como avaliada, por muitos petistas, como algo perto do inconsequente, passou pelo MDB histórico e, pelas mãos de Alceu Collares, achegou-se ao anistiado Leonel Brizola migrando, então, para o frustrado processo de recriação do PTB cuja sigla, num passe do estado autoritário, foi cair no colo de uma aliada do regime, a deputada Ivete Vargas. Com isto, Dilma, seguindo Leonel Brizolla, foi bater com os costados no PDT. E, ali, fez sucesso sob à sombra protetora de Alceu Collares, tanto quando este foi Prefeito de Porto Alegre, onde Dilma foi Secretária de Fazenda e, com Alceu Governador, foi Secretária de Minas e Energia. Foi aí o seu passaporte para o futuro.
Com a derrocada do PDT em 2000, Dilma, mui talentosamente e, oportunamente, Dilma migra para o PT gaúcho e, de lá para cá, não precisou esperar três anos, para vir a ser a mulher forte do governo de Lula. Agora Dilma espera ser ungida pelo PT através de todas as suas alas pois, como no Carnaval, o PT se assemelha a uma grande escola de samba, com muitas alas e rainhas. E Dilma, espertamente, já aceitou o projeto de Marco Aurélio Garcia da chamada “Grande Transformação” que, ao atender aqueles mais à esquerda do partido, ficaram atendidos com idéias socializantes e estatizantes. No entanto tal projeto, antes de ser reexaminado, redefinido e readequado aos aliados, está apoiado nos seguintes pontos:
– Criação de uma Comissão de Política Externa, cujo propósito final, seria transferir o centro de decisões de política externa, para o Palácio do Planalto, como sói ocorrer nos dias que correm;
– Plano Nacional de Direitos Humanos que compreende 12 projetos de lei e um sem número de decretos, de portarias, criação de conselhos, etc.;
– Controle social da Comunicação do País o que, cerceia, totalmente, a liberdade de imprensa no país;
– Reforma agrária com ênfase mais na agricultura familiar e menos crédito para o agronegócio;
– Presença mais forte do estado com o fortalecimento das estatais e aumento, significativo, do financiamento público dos bancos oficiais, como forma de estabelecer alianças estratégicas com grandes conglomerados econômicos;
Esta é, em parte, a agenda da grande transformação que o partido deverá discutir quando da sua reunião para a eleição dos membros do Diretório Nacional. Talvez o ponto alto do encontro venha a ser a repercussão da declaração do Chefe de Gabinete do Presidente Lula, Gilberto Carvalho, que, num rasgo de seriedade e honestidade afirmou, em alto e bom som, que “o vício da corrupção entrou em nosso partido”.
E, também para os mais éticos e puristas, a recuperação do poder e do prestígio de atores do mensalão petista, os antigos dirigentes, vai dar o que falar. Os “carinhas” voltaram a falar grosso e a, efetivamente, mandar no partido.
Postado em 15 fev, 2010
De repente, da lavra do assessor especial do Presidente e Coordenador do Programa de Governo de Dilma, o Dr. Marco Aurélio Garcia, aquele que é lembrado por muitos por ter sido o cidadão apanhado pela TV, numa imagem deplorável, diante da tragédia da TAM, no chamado gesto do “toc-toc”, sai a proposta do futuro governo do PT, a ser comandado por Dilma Roussef.
Sob a pomposa denominação de “A Grande Transformação”, a proposta encontrou a acerba crítica do PMDB, principal parceiro de Dilma na empreitada de conquista do poder, através de declaração de seu Presidente, Deputado Michel Temer, de que o PMDB não “aceitaria prato feito”, numa normal reação de um segmento, nitidamente conservador, contrário a uma proposta esquerdizante para o futuro governo de Lula.
Talvez, já a própria, excessivamente pretensiosa denominação do projeto da candidata a Presidência – a grande transformação – gera a recorrência de que se deva a uma tentativa de imitar os programas grandiloquentes do “Império do Centro”, deveras ousados, dos chineses, tipo “o grande salto” ou as chamadas “quatro modernizações”! Na verdade, o produzido pelo gênio Marco Aurélio Garcia não tem nada a ver com as dimensões e as visões estratégicas, de longo prazo, dos chineses. Embora não seja do conhecimento de quase ninguém, a proposta de Marco Aurélio Garcia, unanimemente, parece que desagradou a todos, inclusive o grupo esperto do PT.
Prontamente Dilma, orientada por Lula, antes que a peça chegasse à lume, de imediato, informou que a prioridade do seu programa seria a manutenção dos pilares da política econômica apoiados na estabilidade da economia, amparada no tripé da política econômica atual: gasto fiscal responsável, câmbio flutuante e metas de inflação.
Mais uma vez, sorte a da Dilma, que o seu aliado preferencial, o PMDB, ao conhecer parte das idéias de Marco Aurélio Garcia, antecipou-se a informar ao “distinto público”, notadamente aos seus financiadores de campanha, que não aceitaria “prato feito” e, num gesto oportuno, constituiu comissão especial para apresentar a proposta do partido, tendo a frente o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Segundo o sainte Presidente do PT, Deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), o programa “será discutido com os aliados e a própria visão do chamado estado fortalecido, não seria um “inchaço” da máquina mas, uma estrutura de estado capaz e a altura, das necessidades do País.
Marco Aurélio Garcia defende, intransigentemente, “o fortalecimento das estatais e o respaldo maior do poder executivo para as políticas de crédito, levadas a efeito pelos bancos públicos, para o setor privado.”
Outro dado do programa de Dilma é a idéia de, no prazo de quatro anos, alcançar a retirada de uma parcela significativa da população da faixa de pobreza absoluta, diminuindo de 16,02%, em 2008, para 7,96% tal segmento, no total da população do país.
É crucial chamar a atenção para o fato de que Dilma, no seu discurso que será proferido na posse do Diretório Nacional do PT, deverá dizer tudo aquilo que Lula conquistou no sentido de transformar a classe média na mais proeminente do país. E, no seu futuro governo, tal movimento de inclusão social, deverá continuar e, para 2014, 56,48% dos brasileiros serão classe média e, a classe pobre cairá, de 24,35% para 19,9%, da população brasileira.
O governo Lula está temeroso de que a mobilidade do processo de inclusão social ocorrido, até agora, tenha base no consumo popular, fomentado por programas assistencialistas e com base no aumento real do salário mínimo. Acredita o governo que tal estratégia não seja sustentável e definitiva. É possível que possam ocorrer surpresas no andar do processo. Ou seja, a sustentabilidade do modelo de inclusão social é discutível e questionável. E, creia-se, qualquer crise que ocorrer, a nível mundial, nos termos que ocorreu agora, poderá frustrar e frear a mobilidade e reduzir as chamadas conquistas de ascensão social.
Dilma já sabe, de “cor e salteado”, que a inclusão social ocorreu pela via “do consumo e não pela prática de políticas sociais afirmativas”. E procurará demonstrar que o “lulismo não é a volta do populismo clássico, mas um novo processo de inclusão social, a partir do estado como tradutor dos interesses sociais desorganizados”.
Será que Dilma saberá traduzir tais idéias, de maneira convincente, à população? “That’s the question”.
Postado em 15 fev, 2010
Os tristes episódios vividos pelos brasilienses e assistidos, perplexos, pelos brasileiros, deixam os homens de bem desse país numa situação de angústia e inquietação e, de certa forma, de uma instigante dúvida. Se por um lado, todos os sentimentos dos brasileiros seriam de certo conforto ou de certo alívio diante do desenlace do episódio envolvendo o Governador de Brasília e de um grupo de asseclas seus ou de colaboradores leais, não alivia o país das suas frustrações e desencantos.
Um governador, pela primeira vez na história, é preso porque acusado, não apenas de corrupção, mas de obstrução da justiça, levando, de roldão, pelo que se pode esperar, seis ou sete colaboradores e, pelo desdobrar do processo de desmandos, talvez venha a ser envolvido o próprio vice-governador e, pelo menos, mais sete parlamentares distritais. Espera-se, também que, sobre o antigo governador de Brasília, Joaquim Roriz, tenha respingado, sobre a sua reputação, a responsabilidade pela criação de tal grupo de espertalhões.
E todos louvaram a atitude do STJ ao, pela maioria dos seus membros mais antigos, determinar a prisão do governador, mas, ao mesmo tempo, indagam-se porque, à época do mensalão, onde até o próprio presidente temeu pelo seu próprio “impeachment”, o STJ não teve a mesma diligência e agilidade agora demonstradas!
Será que só no DF é que se manifestam tais atitudes ilícitas e desonestas ou, melhor, tais patologias políticas? E os escândalos no Rio, em São Paulo e em tantos estados brasileiros, por que não se manifestam tais indignações e tais reações da justiça?
Postado em 11 fev, 2010
A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça referendou, por 12 votos a 2, o pedido de prisão preventiva do Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. A ordem de prisão deverá ser cumprida pela Polícia Federal. O Presidente Lula, tão logo soube do pedido de prisão de Arruda, telefonou ao Ministro da Justiça pedindo que a Polícia Federal não exponha o governador a constrangimentos desnecessários.
Postado em 11 fev, 2010
O Ministro Fernando Gonçalves, relator do inquérito da Operação Caixa de Pandora, decretou a prisão preventiva do Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e de mais cinco pessoas pela tentativa de suborno ao jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do escândalo do panetone.
O Presidente do STJ, Ministro César Asfor, acabar de convocar a Corte Especial para referendar a decisão de Fernando Gonçalves.
Postado em 11 fev, 2010 1 Comentário
Enfim, como era esperado, o tom da disputa presidencial está se elevando a níveis extremos. Depois das declarações de Fernando Henrique Cardoso, de que Dilma era reflexo de um líder e que não tinha competência e nem experiência, no início da semana foi a vez dos senadores do PSDB reforçarem as críticas à candidata do PT à sucessão presidencial. O início de tais ataques surgiu quando de entrevista recente, nas páginas amarelas, da Revista Veja, do Presidente Nacional do PSDB, Senador Sérgio Guerra (PSDB/PE), quando ali, foram expendidas críticas ao PT e a própria Dilma.
Não resta a menor dúvida de que as reações do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso são fruto de uma certa angústia de assistir, passivamente, a acusação de “herança maldita” que Lula diz ter recebido do seu Governo, numa acusação à incompetência do PSDB e de seu governo, indicando que nada foi produzido nos oito anos de mandato dos tucanos e insistindo no sentido de estabelecer a disputa presidencial na comparação do período lulista com o período anterior. Na verdade, não se sabe se a reação de FHC é uma inquietação diante da passividade das oposições em face da campanha aberta de Dilma e Lula, sem qualquer reação do PSDB, ou, apenas, um intelectual já octogenário, se achando injustiçado pelos seus pares não defenderem a sua biografia.
Assim, as oposições resolveram sair da toca, contrariando a opinião de José Serra, que queria adiar, o mais que pudesse, o embate e o desgaste de acusações e agressões dos petistas. Na última terça-feira, o Senador Tasso Jereissati elevou o tom das críticas chamando a Ministra da Casa Civil de “liderança de silicone” por ser, segundo ele, “bonita por fora, mas falsa por dentro.” Seguindo a mesma linha do senador cearense, o Senador Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE) e a Senadora Marisa Serrano (PSDB/MS), chamaram-na de Frankenstein e de boneco de ventríloquo, respectivamente, além de ter sido acusada pelo Senador Sergio Guerra de não pensar, apenas reproduzir o que Lula pensa e quer.
A idéia do Senador Tasso Jereissati era a de contestar os números apresentados pelo governo sobre o PAC. Segundo ele, o governo tem incluído investimentos com recursos privados como se fora esforço de governo e, além do mais, a execução orçamentária é pífia. “Essa mentira que foi colocada pela Ministra, não pode ficar passando como verdade e, de novo, essa liderança de silicone que está sendo construída, falsa por dentro e bonita por fora, sem dúvida nenhuma, precisa começar a ser desmascarada”, afirmou Tasso. Aliás, Dilma poderia agradecer o elogio de Tasso ao chamá-la de “bonita por fora”, fato que não representa pensamento unânime sequer entre os petistas.
Acusado de preconceituoso pelo Senador João Pedro (PT/AM), Tasso lembrou que quem baixou o tom do debate foi o próprio Presidente Lula, ao chamar o Presidente do PSDB de “babaca”, mesmo que, na reunião em que estabeleceu tal adjetivo a respeito de Sérgio Guerra, tenha advertido os seus ministros de não entrarem no jogo das agressões verbais da oposição. Embora, ele mesmo, ao final de tal admoestação, tenha escorregado e caído na esparrela montada por ele mesmo.
Como se tais entreveros não bastassem, lá do Ceará, Ciro, embora sendo aparentemente cortejado pelo comando da campanha de Dilma, dispara os seus “exocets” contra o PT e chama a atenção para a inexperiência, a falta de liderança e a falta de propostas e idéias da candidata presidencial além de ter reagido, ao lado do irmão governador, de maneira bastante dura, a interferência, considerada indevida, de José Dirceu na política do Ceará.
E, por incrível que pareça, o Deputado Eunício Oliveira (PMDB/CE), pretenso candidato a Senador na coligação PSB/PT/PMDB, não querendo perder a oportunidade de produzir uma frase infeliz, acende, ainda mais, o conflito que já estava instalado entre o PSB e o PT do Ceará, em face de divergências entre a Prefeita e o Governador, dizendo que “quem tem um metro e meio de altura não pode querer um figurino para quem teria o dobro da altura”, como resposta a pretensão do PT de indicar candidatos a senador e a vice-governador na coligação comandada por Cid Gomes. A angústia de Eunício é por conta das pesquisas de opinião que mostram um pífio desempenho dele frente ao desempenho de Tasso Jereissati e de Lúcio Alcântara. Na verdade, sem talento para ser engraçado e produzir frases de efeito, o multimilionário empresário travestido de político, cada vez mais se afunda no lamaçal de suas contradições.
É, pelo andar da carruagem, o “pau vai comer de esmola” nessa campanha, não apenas nas declarações, mas nas “jogadas” que, como se mostrou a proposta do PT de fazer o Vice-Presidente José Alencar candidato a Governador de Minas, marcada por uma nefasta, triste e indecente esperteza. Pois, como é sabido, o Vice-Presidente tem um câncer que, só em março saberá qual será a sua esperança de vida. Usar o vice para tais propósitos eleitorais, quais sejam, desmontar o palanque de Serra em Minas e “segurar” Aécio no Estado, para tentar viabilizar o seu candidato, não representa atitude digna e nem correta de Lula e da companheirada.
O que mais preocupa nesse imbróglio todo, fomentado pelo desejo do Presidente Lula em ter uma disputa plebiscitária, é que o que realmente interessa, ou seja, as propostas e as idéias dos candidatos sejam deixadas de lado.
Postado em 9 fev, 2010
No último fim de semana, alguns temas dominaram a mídia nacional, afora, é claro, a folia carnavalesca e as reuniões partidárias. Quanto a estas últimas, o PMDB, numa manobra para tentar impor, goela abaixo, de Lula e do PT, o nome de Michel Temer como o vice de Dilma, foi a que mais chamou a atenção. Também, para tentar convalidar a vontade e decisão de Lula e, por consequência, do PT, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores deverá reunir-se para empossar o novo comando partidário nacional, bem como ungir Dilma Roussef, como sua candidata à Presidência. E, na mesma ocasião, é propósito de tal encontro, aproveitar a chance para Dilma fazer conhecer, pelos militantes e dirigentes petistas, os termos do seu discurso de candidata, defendendo, como é esperado, a ideologia do nacionalismo desenvolvimentista e a de um estado forte. Na verdade, este o tema do chamado estado forte é o que mais preocupa e requer esclarecimentos fundamentais da candidata sobre o que ela entende por estado forte.
Se estado forte for aquele destinado cumprir, de maneira mais eficiente, as suas funções constitucionais fundamentais, então estão todos os brasileiros de acordo. A segurança, não só interna – um descalabro face os índices de violência contra todos e contra tudo, diante da inépcia e da inação do poder público – bem como a segurança externa, onde, caracterizadamente, falta proteção da enorme fronteira terrestre, marítima e aérea do País, na verdade, mais uma vez, seria aceitável a idéia de fortalecer o estado. Se for para atuar, incisiva e efetivamente, em situações emergenciais de crise, como ocorreu no ano passado, também todos apoiam a idéia de um estado forte. Se for para reduzir os embaraços que a burocracia e o cipoal de normas geram em termos de infernizar a vida dos cidadãos brasileiros, todos também estariam de acordo. Mas, se for para o que se está assistindo, através de uma série de iniciativas que tornam o estado mais pesado, mais caro, mais ineficiente e mais burocratizado e marcado por um cipoal de normas que infernizam a vida e reduzem a liberdade de ir e vir dos cidadãos brasileiros, aí ninguém estará de acordo.
Seria de muito maior proveito, ao invés de tal proposta, discutir assuntos e temas do fim de semana como foi o caso da divulgação dos resultados de pesquisa do IPEA, sobre os notáveis ganhos, em termos de crescimento da classe média, entre 2003 a 2008. São tão significativos referidos resultados que a soma dos rendimentos da classe média, hoje, supera os rendimentos das classes A e B, somadas! Ademais, o mais interessante é que os maiores ganhos e avanços da classe média não derivaram de um maior consumo – aumento de 14,8% no período! – mas do aumento de 28,6% nas fontes geradoras de renda e de produto, tais como o empreendedorismo, a formação de poupança, através dos fundos de previdência privada, escolas privadas, acesso a computadores, entre outras ações destinadas a aumentar a capacidade da classe média, de produzir e gerar renda e riqueza. Realmente como consolidar tal conquista e ampliá-la, construindo as bases de uma democracia estável e sólida como é capaz de produzir uma classe média orgânica, é isto que o país precisa e quer.
Também foi foco da mídia recente, a discussão do enorme patrocínio explícito e envolvimento direto, do Governo Federal, na fusão de grandes grupos nacionais ou com associação de grupos nacionais com grupos estrangeiros – Brasquem e Quattor; Sadia e Perdigão; Oi e Brasil Telecom, como “players” internacionais e, segundo o Governo, com isto garantir a soberania nacional??? E, para criar tais grandes conglomerados, o Governo usou de seu poder coercitivo de regular ou de até mudar a regulação, para permitir certas fusões e associações, como foi o caso da OI/BrasilTelecom. Usou, amplamente, os recursos de financiamento do BNDES e dos Fundos de Pensão, participando, ousadamente, da capitalização de tais grupos. A pergunta que se faz é se tal esforço do Governo seria tão necessário, pois em segmentos mundialmente muito mais competitivos, como foi o caso do segmento de bebidas, a AMBEV, conseguiu se transformar num gigante internacional, sem as “muletas oficiais”. Será que não teria sido muito mais prioritário, eficaz e urgente tal esforço de investimento, não para atuar em áreas de competência do setor privado, mas em segmentos de responsabilidade constitucional do setor público, diante das dramáticas urgências e demandas quanto aos gargalos que hoje comprometem o crescimento brasileiro? O gargalo portuário, por exemplo – o país vai perder um bilhão de dólares, pelo menos, diante da falta de portos adequados e suficientes, para a exportação da safra deste ano – ou os problemas aeroportuários tendentes a comprometer a melhor e maior expasão do turismo no país? Ou, nas comunicações, onde a banda larga não chega, sequer as unidades de educação, saúde e segurança pública do país? Ou na área de energia, entre outras? Tais urgentes carências deixam dúvidas se a política industrial mais correta seria esta ora sendo praticada ou não seria aquela de apenas destinada a garantir a infra-estrutura e a logística requerida para o ambiente dos negócios e permitir melhor desenvoltura da iniciativa privada, via diminuição de encargos sociais, carga tributária e burocracia excessiva?
Veja-se, por exemplo que, agora mesmo em socorro aos argumentos ora colocados, outro grupo nacional, a COSAN, da área de bioenergia, se associa a Shell, para ganhar mercados internacionais, de forma mais agressiva, sem que o governo tenha vindo em seu socorro.
Outro assunto que também tomou conta da mídia, no último fim de semana, voltou a ser a questão de qual seria o novo modelo de desenvolvimento para o país a ser estruturado ou que virá a ser proposto pelos pretensos candidatos a Presidência. Em face da nova ordem econômica mundial que está a estruturar-se e, em razão das limitações institucionais severíssimas que enfrenta o País; dos gargalos logísticos seríssimos, além dos gravíssimos problemas urbanos, das grandes cidades brasileiras, qual deverá ser a proposta do Brasil que queremos e que precisamos que os candidatos irão apresentar aos brasileiros? Essas são questões mais objetivas e relevantes que reclamam respostas, relativamente urgentes, por parte das elites brasileiras.
Não se tem idéia de qual é o conceito defendido por Lula e Dilma sobre o que eles entendem por fortalecimento do Estado, já que não se trata do velho conceito de Estado máximo nem tampouco de Estado amplamente intervencionista. Com as manifestações relativas ao PNDH; a nova proposta sobre legislação mineral; a legislação sobre o pré-sal, a nova taxação sobre lucros; a legislação sobre acidentes do trabalho, além do fato do governo ter buscado fortalecer, enormemente, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, e, agora propor a ressurreição da Telebrás, reflete a tentativa de reproduzir o modelo getulista do nacional desenvolvimentismo dos anos 37 a 45 ou o modelo neonacionalista do regime militar de 64 a 85.É isto que dá a entender os movimentos e as declarações dos que definem os contornos do governo do Presidente Lula.
Na verdade, diante da omissão da sociedade civil brasileira, o “experimentalismo” do comissariado petista, motivado pelo modelo socialista e revolucionário e bolivarista de Chavez, pode conduzir a distorções ainda mais graves que as atuais, do modelo brasileiro de desenvolvimento. O intervencionismo, ora proposto por Lula e Dilma, difere do pensamento moderno do papel do Estado nas sociedades livres e está distante das propostas daqueles que buscam um novo arranjo no equilíbrio entre sociedade civil, mercado e estado, a partir dos novos arranjos da suposta ordem econômica, que começa a ser estruturada nesse novo tempo, após a grande crise econômica mundial.
Postado em 9 fev, 2010
Leia, no Ponto de Encontro, o artigo do Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!