QUAL O ESTADO QUE PRECISA O BRASIL OU QUE QUEREM OS BRASILEIROS?

O Presidente Lula, do alto dos seus 80% de apoio popular, decidiu que, independentemente do julgamento dos seus pares, pode pensar tudo, dizer tudo e propor tudo. E, pode, inclusive, ter a pachorra de dizer que, apesar de haver mandado ao Congresso um decreto que assinou, mesmo extremamente polêmico, informar, ao distinto público, que não leu!

E, dentro desse clima de total liberalidade, o Presidente agora estabelece um novo conceito do que seria o estado mais adequado para os brasileiros! E isto após dizer ao mundo, na visão dele, como Estadista Global, título que lhe foi conferido por decisão do Fórum Mundial de Davos, que tipo de mundo seria melhor para a humanidade.

Segundo Lula, o mundo aprendeu com a crise econômica internacional que, sem a presença forte do estado, a desordem econômica e o caos tenderiam a se instalar. Foi, portanto, a atuação e a intervenção direta do estado que permitiu que o mundo saísse da pior crise, depois da de 1929. Sem a regulamentação, com a mão forte do estado, nem se superaria a crise que recentemente se abateu sobre o mundo como também não se construiria uma nova ordem econômica, menos subordinada aos solavancos e as instabilidades recentemente enfrentadas.

E é dentro dessa lógica filosófica do nosso Presidente que, embora não seja nem um Confúcio e nem um Kant e nem tampouco um Marshall ou um Keynes, os seus sábios auxiliares, chegaram à conclusão, nesse velho Brasil de guerra, que o mundo ainda curvar-se-á, perplexo, diante de lições de “sabedoria e de caminhos da verdade”, que a única maneira saudável para um desenvolvimento equilibrado, sustentável, socialmente justo e politicamente estável, será a presença de um estado forte. E o que é um estado forte? Um estado forte, longe do que pensam os empedernidos liberais, é um estado que, diante da precariedade da iniciativa privada, “tapa os buracos” por ela deixados e, proativamente, assume posições fundamentais ao crescimento equilibrado da Nação. E dentro dessa ótica, segundo o novo guru do século 21, não é necessariamente um estado-empresário, mas o estado que assume o papel precursor  quando a iniciativa privada se omite ou promove soluções que geram discórdia ou desigualdade social. Não é o estado financiador, tão característico de países pobres, mas diante da precariedade da poupança interna e externa; das limitações da oferta do sistema bancário privado e da omissão dos segmentos privados de financiamento,  o estado, prontamente ou oportunamente, acode o setor privado, através dos bancos oficiais, notadamente do BNDES, dos fundos de pensão,  de renúncias fiscais ou de participação societária direta nos empreendimentos. É o estado regulador que, diante da omissão da sociedade, propõe legislação do tipo que promete mais 5% de distribuição do lucro líquido das empresas, mesmo existindo dispositivo constitucional que já regula a matéria; é o estado que propõe um Plano Nacional de Direitos Humanos que, pela sua amplitude, substitui a Constituição Cidadã de Ulysses e estabelece uma nova ordem política, econômica e social para o país. 

É  o novo estado que cria uma empresa para regular a exploração das reservas petrolíferas estratégicas do país; que propõe uma legislação mineral colocando todo o controle sob as patas protetoras do Executivo Federal; é  um governo que, pela legislação do pré-sal, cria uma nova empresa para regular a exploração de tal riqueza que, estatal como a Petrobrás, faz desaparecer qualquer tentativa de competição em tal área; é o País que, embora declare o profundo respeito à liberdade de imprensa,  através do seu Goebbels tupiniquim, lançou uma Conferência Nacional de Comunicação que oprime, deprime e limita a liberdade de imprensa no País; é o País que estimula o crescimento das empresas estatais como o Banco do Brasil, a Caixa, a Petrobrás e ainda quer recriar a Telebrás, além de estimular o surgimento de grandes monopólios nacionais mas, que, indiretamente, tais monopólios, diante da regulação das agências oficiais e do esquema de financiamento de tais grupos, colocam-se  nas mãos do estado.

Na verdade, o Executivo Federal tem nas mãos cerca de oito segmentos da economia nacional sob o seu controle direto: energia, telecomunicações, petróleo, petroquímico, mineração, portos, ferrovias e seguros. Se não bastasse, da forma como está estruturada a distribuição das rendas públicas no País, ainda tem o controle da nossa capenga, triste e  famigerada federação. E, para onde vai a democracia brasileira? Pelos ímpios caminhos da democracia bolivariana? Onde anda a sociedade civil que não discute tais questões, que não reflete sobre tais problemas, que não fica indignada com tais rumos e que não avalia os riscos desses descaminhos?

E O VELHO MODEBRA, O QUE ACONTECEU COM ELE?

Sábado foi o dia dos frustrados, dos desencantados e dos descrentes de tudo e em tudo. Parece que o dia dos homens de bens, que viram frustrados seus sonhos e as suas esperanças, esses “Ulisses do Helesponto Novo”, ratificaram, pela sua ausência à Convenção do PMDB, de que nada mais valia à pena pois a idéia de que toda a luta foi em vão e que, daqui para frente, continuará sendo em vão qualquer esforço de resgatar a memória do passado, pois o velho MDB, envelheceu e, lamentavelmente, não tem mais fôlego e nem disposição para a luta dos velhos tempos.

Está o velho MDB no Castelo de Amboise, presa fácil como os huguenotes, e,  esta tarde,  foi a tarde-noite dos martirizados, dos sacrificados e daqueles que foram lançados, janela a fora, pela fúria religiosa… Para onde vai o partido dos protohomens como Teotônio, Ulysses, Alencar Furtado, Pedroso Horta, José Martins Rodrigues, Tancredo Neves, Chico Pinto,  do velho gaúcho de punhos de renda,  o grande causídico, vivo, ainda, apesar de tantas frustrações e desencantos? Onde estão os que ainda se mantém sempre acreditando no sonho e na esperança, apesar do pragmatismo cínico dos que dirigem o partido? O que sobrou do velho PMDB? Jarbas, Pedro Simon, Jose Fogaça, Luis Henrique, Roberto Requião e tantos outros anônimos que ainda acreditam que o sonho não morreu?

Não se sabe, pois segundo a Direção Nacional, no intuito de preservar a força dos estados, a formação das bancadas estaduais e de uma fortíssima bancada federal, vale à pena esquecer compromissos com a história, com o passado e com a cultura do partido. O que pode agregar, em termos de princípios, valores, ética, compromissos com a história e com a cultura e a formação de nosso povo, esses que adotam como prática e filosofia de vida e de trabalho, o chamado pragmatismo, que para alguns, é cínico, que o único principio é manter o poder a qualquer custo? Onde os brasileiros que, diante do cinismo do PT, do pragmatismo do PMDB e dos desencontros do DEM e do PSDB, vão encontrar refúgio e alento para as suas esperanças?

TEMPO DE ELEIÇÃO, TEMPO DE HIPOCRISIA!

Três atitudes distintas mostram que, em tempo de eleição, as pessoas se transformam, as atitudes sofrem de um “democratismo” impressionante e a docilidade e a simpatia dos gestos chegam a extremos que, até deixam as pessoas, alvo de tais comportamentos, assustadas!

Depois de Lula passar como um trator por cima do Congresso e do TCU, vetando o artigo do Orçamento que impedia a alocação de recursos para cinco obras irregulares da União, cujo gesto, exigirá, do dócil Congresso,  ter que estabelecer a “derrubada” de tais vetos numa delicada e difícil operação, surge a Ministra Dilma Roussef, colocando “panos quentes” na dura reação da mídia a tal atitude autoritária de Lula  e, como que, sugerindo que o Executivo deva ter, talvez, uma maior compreensão para com o TCU, mesmo que ponderando que a paralização de tais obras redundará em enormes prejuízos para o País.

Claro está que esta não é a primeira atitude da Ministra Dilma, devidamente revista, atualizada e repaginada, inclusive quando, de repente, mais que de repente, transforma-se, quase que, numa ecoxiita, abandonando os tempos de conflitos e confrontos com a Ministra Marina Silva e com o Dandy, atual ministro do Meio Ambiente, onde, por “cima de pau e pedra”, queria por que queria, à sua maneira e ao seu tempo, as licenças ambientais das  obras do PAC. Até mesmo as grosseirinhas, que lhe era, segundo dizem, tão características,  com companheiros e auxiliares, a Ministra hoje tem se policiado e, tem procurado, talvez à base de Lexotan, reduzir os tradicionais “coices” dados em todos e em tudo, inclusive na mídia para se comportar como pede o figurino de uma boa e dócil candidata!

Mas, é bom que se diga que,  o gesto transmudado, não tem sido só dela. Veja-se o “democratismo pragmático”, por exemplo,  do Presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli que, diferente dos velhos tempos, mandou suspender contratos milionários de agências publicitárias que iriam atender a Petrobrás diante da reação da mídia que levantou suspeição sobre os procedimentos licitatórios do órgão por ele conduzido!

O próprio Governador Cid Gomes, do Estado do Ceará,  que antes era dado a passar por cima de manifestações contrárias a projetos de seu interesse, tais como, o Acquarium, o Centro de Convenções, entre outros,  agora, num embate com a Prefeitura, sobre a localização do projeto do Estaleiro Promar, na Praia do Titanzinho, disse que, se a comunidade não quiser o portentoso investimento naquela área, ele buscará outro local ou desistirá do projeto. E sugere que, se for necessário, se busque realizar um plebiscito junto àquela população para decidir o que é melhor para ela!

Por outro lado, já se tornou prática dos governantes deixar para o último ano, a maior soma de recursos orçamentários para obras e, com isso, poder exercer o maior tráfico de influencia possível,  para angariar simpatias e votos.

Se isso não bastasse, o deprimente espetáculo de beijar criancinhas, de abraçar caboclos suados e malcheirosos, o comparecer a missa, enterros, batizados, festas de quinze anos, formaturas e, até, desfiles de escolas de samba, representam facetas caricaturais da atitude de muitos candidatos nesse período.

E, mais que isto, em termos de hipocrisia, são os discursos e as propostas, quase todas não internadas na cabeça dos candidatos como algo sério e viável, mas que eles vão vendendo à plebe rude e ignara, sem critérios e sem seriedade, pois que, na verdade, ninguém leva tais idéias em conta e, por elas, nunca serão cobrados.

A hipocrisia é tanta, que a aliança entre partidos que se venderam ao povo ora  com um discurso ético, descaradamente,  ora fazem alianças com partidos caracterizadamente aéticos, de um pragmatismo cínico, sem igual e,  apenas justificam tal atitude, informando ao povo que se “todos fazem, por que a gente não pode fazer?”  “Se os outros fazem caixa dois, por que não nós, do PT”?

Assim vive a democracia brasileira que, se não é arremedo, tem aspectos de um cinismo constrangedor.

PS: Frase do dia: “O que a gente teme é que certos políticos não metam a mão no nosso bolso para nos roubar. Mas que ponha ali dinheiro para nos acumpliciar ou nos comprometer”.

CIRO FAZ O CERTO?

Aqui já se disse que a situação de Ciro Gomes é igual a do personagem do livro “O General no seu labirinto”, sobre o triste fim de Símon Bolívar. E, o pior, por enquanto, sem um “fio de Ariadne” que possa conduzi-lo a uma saída, muito mais honrosa do que de resultados favoráveis, quanto as suas ambições ou sonhos, político-eleitorais.

Acuado pela estratégia e pela ação do PT e de Lula,de reduzir os seus espaços de movimentação, não só quando Lula, afirma, peremptòriamente, que quer uma eleição plebiscitária, o que exclui, necessariamente, a candidatura de Ciro, o Presidente foi muito mais adiante. Impediu que Ciro conseguisse alianças partidárias que lhe ampliassem votos ou, pelo menos, espaços adicionais de televisão e passou a exercer uma inusitada pressão usando, inclusive, o PT pernambucano, para forçar o  Presidente do PSB, o Governador Eduardo Campos, a convencer a Ciro que não haveria espaços para a sua movimentação.

Não achando suficiente o “cerco de Lisboa” sobre o velho e leal companheiro Ciro, alguns aliados do Presidente, como o ex-ministro José Dirceu,  que foi ao Ceará com o intuito, exclusivo, de provocar ainda mais Ciro, ao dizer que, caso ele não retirasse a sua candidatura à Presidência, o PT estadual retiraria o apoio à reeleição de Cid Gomes, dão a demonstração patente de que Ciro foi usado e abusado. Já acuado, a reação de Ciro seria a que ocorreu, mandando José Dirceu e quem tivesse a mesma opinião “que fosse pastar”.

E Ciro já indignado com a insinuação de muitos petistas e da própria Dilma de que ele daria um bom vice dela, começou a se sentir diminuido e provocado, ao extremo. Num primeiro momento, Ciro ainda foi bastante educado ao dizer que estaria “ao lado dela, Dilma,  no mesmo lado político, mas não no mesmo palanque eleitoral, a não ser no segundo turno”.

Mas, como era esperado, a temperatura tendeu a subir mais e Ciro, agora determinado, com o apoio incondicional do irmão, partiu para atacar o PT dizendo que “o partido acostumou-se a tratar seus parceiros como bucha de canhão” e orientou a sua metralhadora giratória para Dilma dizendo que ela não tem experiência além de, diferentemente do que ele pensava, ser capaz de  aceitar uma aliança moral e èticamente condenável com o PMDB.

Da maneira como as coisas andam e, diante das divergências e exigências que, inusitadamente, como que orquestrado de cima, o PT do Ceará vem fazendo ao Governador Cid Gomes, dificilmente Ciro deixará de ser candidato à Presidência e, a tendência natural será que Dilma irá perder mais um palanque, o do Ceará. Ou para Ciro ou, se a coisa esquentar mais, para o próprio Serra, na proporção em que a humilhação for grande para Ciro, seu irmão poderá aliar-se à Serra, já que, os compromissos da família com Tasso para o Senado, são, como que, sagrados.

A atitude de Ciro, mesmo diante do estilo mercurial que lhe é característico, é correta, pois, diante das restrições do PT a ele e, em face da atitude de Lula para com ele, armando-lhe uma “arapuca” ou montando-lhe uma armadilha, ele não tinha e não tem caminho de volta. A única coisa que lhe resta, caso o seu partido não lhe dê a legenda para ser candidato a Presidente, é “entornar o caldo” de Dilma e gerar  um grande  “auê” no processo eleitoral. E, se quiser colocar “molho” adicional  na campanha eleitoral para presidente, que tal, sem ter outro caminho,  Ciro aliar-se à Marina, mesmo sem disputar cargo algum?

Ouça o comentário de Paulo Lustosa a respeito da candidatura Ciro Gomes

Paulo Lustosa comenta a candidatura Ciro Gomes (Novembro/09)

CIRO, MAGOADO CONSIGO MESMO!

Finalmente Ciro descobriu que não sabe se foi Lula ou se foi a sua própria avaliação imprecisa ou otimista, quanto aos seus interesses político-eleitorais, que lhe armou uma arapuca. Pelo jeito que as coisas estão caminhando, o já mercurial deputado pelo Ceará, está cada vez mais e mais enfezado.

É possível, ou apenas uma hipótese aventada por este cenarista, que em meados do ano passado, Lula tenha acenado com a possibilidade de ter dois candidatos à Presidência – Ciro e Dilma – e, com o andar da campanha, quem estivesse melhor se colocaria à frente com o apoio do segundo ou, até mesmo, a hipótese de apoio no segundo turno. E, na hipótese montada, seria de bom alvitre, inclusive para, estrategicamente, assustar Serra, que Ciro mudasse o domicílio para São Paulo, insinuando-se como possível postulante ao Governo do Estado, o que, poderia até mesmo, caso Dilma estivesse muito bem, sair candidato a tal posto com o beneplácito dos dois.

Ocorre que, para Ciro estar magoado com Lula, tal hipótese talvez seja até plausível e que, estimulado a tal jogada, Ciro não imaginou que até o presidente de seu partido, por conveniências político-eleitorais pernambucanas, tenha sido importante coadjuvante no sentido de esvaziar a sua postulação, restringir as possibilidades de alianças partidárias e, até mesmo, “contaminar” resultados de pesquisas como ora ocorreu com a pesquisa  CNT/Sensus e, até mesmo, a pesquisa da Vox Populi.

E é sabido por todo mundo que, desde que Ciro decidiu mudar de domicílio, quando tudo se tornou impossível de mudança de rumo ou de curso, Lula iniciou a sua cantilena de que a eleição deveria ser plebiscitária e o governo só deveria ter um candidato. Desse modo, está numa sinuca de bico e, a possibilidade de sair candidato a presidente, conta com poucos dados a favor e, é bem provável, que não saia candidato a nada. E o pior. Toda a sua mágoa e o seu ressentimento com Lula, com seu partido e com o PT, provavelmente, tenham que ser engolida para não criar problemas e dificuldades para a reeleição de seu irmão, Cid Gomes, ao governo do Ceará.

DAS ALTEROSAS, NOVOS RUMORES E, TALVEZ, NOVOS RUMOS!

Tem muita gente falando que, a qualquer momento, pode haver uma reviravolta na escolha do candidato das oposições à Presidência da República. Embora o senador Tasso Jereissati tenha sido peremptório ao afirmar que Serra não teria como voltar atrás e dizer-se não candidato, os últimos dados de pesquisa, com a perigosa aproximação de Dilma; o dilúvio que se abateu sobre São Paulo e as suas consequências nefastas sobre a população e, mais uma vez, o fato de ser Serra a “cara da elite branca que tão bem serve ao discurso de Lula e de Dilma”, além de ser visto como anti-nordestino, talvez o leve a rever a sua decisão. Aliás, o fato de comandar o segundo e terceiro orçamento do País e de não ter a leveza e a simpatia de um Aécio, agregam dados adicionais a uma revisão de atitude e de decisão de Serra.

Adicionalmente, Aécinho entra maravilhosamente bem no Nordeste, “compra os cariocas como o menino do Rio”, reacende o PMDB histórico, afugentando o PMDB do pragmatismo cínico, além de promover uma notável mobilização nacional do discurso e dos propósitos de Tancredo, que não conseguiu concretizar uma nova visão juscelinista, de vir a ser um verdadeiro herdeiro mineiro do homem que mudou a face do Brasil e que seu avô não conseguiu chegar lá. O discurso de Aécinho, inclusive ao dizer que, em termos de competência gerencial, foi tão bem que hoje tem a melhor avaliação entre os governadores do Brasil, inviabiliza o discurso técnico e frio da gerentona.

Assim, do jeito que andam os rumores, do jeito que pensam os políticos que podem apoiar a oposição e, em tendo Aécio, as facilidades de composição e de negociação com os vários grupos e tribos, as coisas ficam bem mais simples e fáceis do que com Serra, com a sua carranca que mostra seriedade mas não mostra leveza.

E A ECONOMIA, PARA ONDE VAI?

Economistas, empresários e consultores especializados do mercado financeiro começam a mostrar preocupação com os rumos que a economia brasileira poderá tomar este ano. Não apenas em se tratando de um ano de eleições quase gerais, mas também pelo que se “plantou”, em termos de gastos públicos de custeio, no ano passado.

As contas públicas não estão bem e o alcance de um superávit primário de 3,5%, como prometido, somente ocorrerá se houver um sério “aperto” nos gastos públicos deste ano e, mesmo assim, não se sabe se tal meta será alcançada.

Por outro lado, o desempenho da balança comercial, ou melhor, do balanço das transações correntes, já mostra sérias preocupações como ficou registrado em matéria ontem publicada no Correio Brasiliense onde o economista, ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, adverte para o fraco desempenho da balança comercial brasileira e seu impacto na apreciação do dólar e seu consequente reflexo no câmbio, na inflação e nas taxas de juros básicas do país. Aliás, alguns consultores já admitem que o Banco Central, diante dos dados do IPCA de Janeiro – 0,7% com projeção de tendência esperada do aumento do custo de vida para o ano, entre 6,5 e 9%! – poderá antecipar para março o aumento da taxa Selic, o que não é nada bom para a economia.

O fato é que já há um consenso no mercado de que a taxa final de inflação não ficará no alvo ou na meta de 4,5% e, provavelmente, ficará no limite superior da meta que seria de 6,5%.

E, o que fazer? Já e já atuar nos fatores que induzem aos desequilíbrios fiscais – fazer contenção de gastos públicos de custeio; acabar com as renúncias fiscais que se destinavam a retomada da economia; aumentar o compulsório e adotar medidas destinadas a reduzir a aceleração da economia de modo a não comprometer a estabilidade da moeda.

Não resta a menor dúvida de que o Banco Central continuará atuando no cambio, comprando dólares e monitorando, de perto, a balança comercial e a entrada de capitais externos com vista à cobertura do déficit comercial que deverá alcançar a cifra de 40 bilhões de dólares. A estimativa de entrada de recursos externos é da ordem de 45 bilhões o que, pelo menos, para 2010, deixaria a situação razoavelmente tranqüila, mas, para 2011, a coisa tenderá a ser bem mais nebulosa.

O que é lamentável é que, na disputa eleitoral, mais uma vez, como fizeram FHC e Lula, serão deixadas ao relento as propostas de reformas institucionais, os investimentos em infra-estrutura e logística e a elevação da eficiência na gestão pública. Na verdade, no governo FHC a ênfase foi no saneamento fiscal e externo enquanto no governo Lula a preocupação foi com a descompressão social.

E O CONGRESSO COMEÇA HOJE AS SUAS ESCARAMUÇAS!

Ontem este Scenarium mencionou a pauta gorda, polêmica e de difícil digestão que os novos líderes terão que conduzir tais discussões e, por um lapso, deixou de incluir esse projeto, para alguns, amalucado, de estabelecer um percentual obrigatório de distribuição dos lucros das empresas para os seus empregados, da ordem de 5%, mesmo sabendo-se da existência de uma exaustiva legislação prevalecente sobre a matéria.

Além de tal questão, a posição da AGU – Advocacia Geral da União – e do Ministério Público Federal contra a revisão da Lei da Anistia, somam-se ao duro manifesto do Clube de Militar do Rio de Janeiro o que, segundo a própria postura do Ministro da Defesa Nelson Jobim, impedem, sequer a discussão da matéria.

Por outro lado, a reação da Igreja Católica chamando Lula do Novo Herodes, pelas posições relativas ao aborto, a união civil entre gays, a proibição de ícones nos prédios públicos, parece que permitirá que, também, não haverá, sequer, discussão sobre tais assuntos.

Talvez, o que fique, venha a ser a discussão sobre a matéria que criou uma polêmica no meio do agronegócio e levou a manifestação, explícita e contrária, do Ministro da Agricultura, onde se estabelecia, pela proposta, uma nova regra para as invasões de terra, impedindo a ação da própria justiça para não permitir depredações, vandalismos e ocupações, totalmente irregulares, de áreas produtivas. É bem provável que, só aí, fique restrito o Programa Nacional de Direitos Humanos que se propunha a ser uma espécie de Ato Institucional que, praticamente, substituiria o texto da Constituição Cidadã de Ulisses Guimarães.

PESQUISA CNT/SENSUS

A última pesquisa eleitoral CNT/Sensus indica um possível empate técnico entre Serra e Dilma, ficando esta última com 27,8% e Serra com 33,2%. Na última pesquisa, Serra alcançava 31,8% contra 23,5% de Dilma. Portanto, com a queda de Ciro de 17,5 para 11,9% a migração de votos beneficiou Dilma com 4,3 pontos percentuais e serra com 1,4 pontos percentuais e, na hipótese de segundo turno entre os dois, Serra atinge 40,7% e Dilma 28,5%. Por enquanto a coisa marcha para onde Serra quer.