CHAVEZ, O ADEUS DA REVOLUÇÃO BOLIVARIANA!

É inegável e indiscutível que Chavez foi um dos mais proeminentes líderes populistas produzidos pela América Latina nos últimos anos. Sem fazer juízo de valor sobre o legado e a obra que deixa após 14 anos à frente do poder, o que se pergunta é se o fenômeno de líderes carismáticos como o mestiço venezuelano é apenas típico de países pobres, incultos, sujeitos a enormes desigualdades e injustiças e sem amadurecimento político ou faz parte do comportamento da condição humana.

Parece, para muitos e isentos analistas políticos, que esse tipo de julgamento não corresponde aos fatos e, pode até, se tomado ao pé da letra, representar um grande equívoco e, até mesmo, uma grande bobagem! Basta ver o que ocorre com as repúblicas islâmicas e com os países da ex-união soviética, inclusive a própria Rússia. Todas nações com um histórico exuberante de contribuição ao enriquecimento cultural da humanidade. E, para não ficar apenas em tais países ou outros asiáticos e africanos, a crise da Grécia, por exemplo — berço da civilização ocidental! — as recentes eleições italianas — a terra do Renascimento! — mostram que o povo é um só e um mesmo, aqui e alhures! A reação e o comportamento do mesmo é feito de arrebatadas paixões, por fortes emoções e sem a imaginada racionalidade que os historiadores e cientistas políticos querem desses povos cobrar. Como a história é sempre um relato, a posteriori, dos fatos, a tendência é que ela, na verdade, não capta as emoções, a comoção e a reação desses momentos vividos pelo povo.

Hoje, estão a chorar, pelo menos metade mais alguma coisa dos venezuelanos, a perda de seu líder.

A morte de Hugo Chavez não apenas deixa, na orfandade, milhões de venezuelanos, mas, provavelmente, faz cair por terra os presumidos valores e alicerces da intitulada República Bolivariana e do sonho do socialismo caboclo do mestiço que se impôs, pelo carisma, pelo populismo, pela capacidade de mobilização do povo e de articulação política, por 14 anos à frente daquela república. Mesmo mudando regras, desrespeitando a Constituição, modificando práticas e produzindo toda a sorte de diatribes para se manter à frente dos destinos do País, Chavez teve um inigualável controle sobre o poder.

Tudo, segundo o líder, para reproduzir Simon Bolívar e construir o sonho de uma Venezuela livre, justa e socialmente equilibrada.

Se o vazio da “saudade” do líder carismático, sem papas na língua, é inimaginável, o vazio institucional é enorme e, quase impreenchível, face o caráter personalistico com que Chavez exerceu o poder. Dentro das hostes chavistas o que se discute é quem, realmente, vai exercer o poder.  Se o seu “candidato in pectore” Nicolás Maduro, atual presidente em exercício; se Diosdado Cabello, militar reformado e Presidente da Assembléia Nacional, ou ainda, Rafael Ramirez, Presidente da PDVSA.  Ou ainda, quem sabe, até um outro coronel, com ganas e ambições de poder, inspirado na própria caminhada de Chavez, não ouse usurpar tal galardão!

A Oposição, desorganizada e desmobilizada, chocada com a comoção causada por Chavez, conta apenas com a figura de Henrique Caprilles, Governador de Miranda e, ex-concorrente de Chavez, na última corrida presidencial.

Não se sabe o que virá a ocorrer pós-Chavez, diante da comoção na nação órfã cujo paraninfo da revolução bolivariana, é o moribundo Comandante Fidel. Ademais, o próprio reformismo por que passa Cuba, via revisão crítica do castrismo, limita a continuidade dos sonhos de Chavez. A situação institucional do País é de difícil prognóstico. Claro está que, como diz a jornalista Júlia Sweig, correspondente da Folha de São Paulo,, “os 14 anos de Chavez cobrem o mesmo período em que a região adotou um etos econômico de crescimento com inclusão social, um consenso político em favor da prática democrática e, na política externa, uma postura de independência em relação as prioridades de segurança nacional dos Estados Unidos”.

É justo reconhecer que, além de se manter nessa linha de conduta da América Latina, Chavez conseguiu reduzir de 25,3% para 7% o número de miseráveis do País. Claro que tal esforço quase quebrou a PDVSA, desarticulou as forças econômicas com suas intervenções, nacionalizações e estatizações, tendo ainda mandado pelo ralo bilhões de dólares com os seus sonhos de assumir a liderança revolucionária da América Latina.

Como Perón e Getúlio, fez-se pais dos pobres, benfeitor dos mais humildes, defensor da pátria e vendia o sonho de construção de uma república socialista mestiça e ajustada ao século XXI.

Finalmente, a morte de um líder com essa dimensão choca, comove e sensibiliza a população, notadamente na forma como a civilização ocidental lida com o fenômeno da morte e, máxime, em países muito religiosos e ligados a personalismos e carismas.

Aí há uma mistura de religiosidade, de populismo e de militarismo — “triste do poder que não pode”– a garantir sobrevida a tais líderes.

No Brasil viveu-se o drama do suicídio de Getúlio que permitiu a eleição de Juscelino Kubistchek e, 30 anos depois, a comovente e lenta agonia do “Presidente que foi sem nunca ter sido, no caso Tancredo Neves”, garantiu, como no caso do grande choque do suicídio de Getúlio, a eleição de Juscelino, permitiu que a comoção com o sofrimento de Tancredo, que se garantisse o mandato de Sarney que, diga-se a propósito, foi legitimado, pelo evento e pela determinação e legalismo do Ministro militar, Leônidas Pires Gonçalves.

 

Um Comentário em “CHAVEZ, O ADEUS DA REVOLUÇÃO BOLIVARIANA!

  1. Seria adequado dizer que o fenomeno Chavez trouxe, depois de Cuba, a primeira fissura no círculo regional de proteção dos EUA, haja vista que o muro erguido manteve isolada a América do Sul do espaço vital norte-americano. O Brasil sempre foi considerado um aliado inconfiavel, pior ainda a Argentina. Um Chavez “amigo” do Brasil e da Argentina poderia transformar a fissura em um corredor de entrada e saída das Américas sem os EUA, o que é inimaginável para o tio Sam. O efeito Chavez fez com que os EUA com a desculpa de combater o tráfico de drogas na Colômbia – conversa para boi dormir – montasse um robusto esquema militar no nosso vizinho do norte. O tempo dirá se o fim do chavismo implicará no retorno da Venezuela ao leito norte-americano, onde sempre viveu ou se a América começa a mudar a partir de uma figura folclórica que aparentemente jamais pensou em todos os desdobramentos de suas ações.