COMO SE DESCONSTRÓI UM MITO!

Este cenarista tem ponderado, em várias ocasiões e, frequentemente, tem insistido na avaliação de que a oposição não tem sabido construir um discurso convincente para intentar confrontar o governo de Lula. Ou seja, exercer o papel que lhe cabe e lhe compete de questionar o PT e seus aliados, no que diz respeito a sua forma de governar, o desrespeito a princípios éticos e valores morais consagrados e o uso, para fins pessoais, particulares e partidários, de recursos e meios públicos. Já que, confrontar Lula, ele mesmo, teria sido, para os seus opositores, um verdadeiro “nonsense”, vexaminoso e com poucas chances de êxito. Tentar desmontar, como foi tentado algumas vezes, só fez vitimar e ampliar o seu prestígio popular.

A experiência, dos últimos anos, demonstrou que não adianta falar do “talento empresarial de Lulinha”, nem dos êxitos dos “cumpadres” e amigos do Presidente; nem dos esquemas de corrupção dos mensaleiros, dos sanguessugas, dos aloprados e de tantos e tantos casos nem, tampouco, dos 600 mil “doados” por Dona Mariza para garantir a tranquilidade de seus netinhos, bem como outro “causos” meio que cabeludos e que acompanharam esses quase oito anos da era Lula.

Nada disso afeta o conceito e o prestígio de Lula. Ao contrário, mostra que “os invejosos” e a “elite branca” não aceitam o êxito que “um nordestino, operário e retirante”, possa ter alcançado por ter feito o governo que fez em favor do Brasil e, particularmente, dos desassistidos e descamisados.

Na verdade, no momento em que Lula “se fez mito e habitou entre nós”, qualquer tentativa de desconstruí-lo só faz operar algo que sempre o privilegiou. Ou seja, “bater” em Lula sempre funcionou como uma espécie de “fermento Royal”, fazendo inchar o prestígio e o próprio ego de Lula.

Praticamente, nesses quase oito anos, só houve um momento em que Lula “tremeu” nas bases e, lamentavelmente, para a Oposição, diante de um Presidente fragilizado, a oportunidade foi perdida. A oposição não foi capaz de aproveitar a chance de, talvez, até ter “apeado” Lula do poder. E isto ocorreu à época do “Mensalão”, período em que o próprio Lula temeu ser “impinchado”, dado o seu próprio conhecimento e envolvimento com o tormentoso processo.

Mas, pela incompetência da Oposição e, em face de um misto de sorte, carisma e bons ventos internacionais favorecendo a economia brasileira, Lula só fez crescer em conceito, prestígio e popularidade, não só “cá dentro” como alhures.

Ao ser agraciado com vários prêmios internacionais, receber forte apoio da mídia mundial e ser chamado, pelo próprio Obama de, “o cara”, Lula ampliou o seu prestígio interno e, efetivamente, construiu-se como mito. Isto em decorrência da sua enorme capacidade de se comunicar junto a todos os segmentos da sociedade, máxime as classes C, D e E. E ela foi muito bem aproveitada.

Por outro lado, a estratégia de Lula para as altas camadas da população, ou seja, para as populações de alta renda, Lula conseguiu cooptá-las  com um privilegiamento do sistema financeiro, fartos recursos de financiamento do BNDES e dos Fundos de Pensão, afora outros mimos. Com isto o “Mito Lula” tornou-se imbatível, inquestionável e incontestável, dando-lhe o privilégio de poder produzir uma pororoca de sandices e de asneiras. E, esse comportamento de Lula,  para muitos,  tem  mostrado que ele perdeu os limites do controle e se alçou a uma espécie de patamar divinal.

Considera-se com o dom da infalibilidade e decidiu, de moto próprio, para si e para os seus seguidores, que o mundo deveria curvar-se aos seus pés. Ocorre que, diante dessa crença, por parte de Lula, de que nada o atinge, nada o afeta e nada o constrange, Lula, como que, perdeu o senso crítico. Ficou agindo com a total falta de freios, de auto-crítica e, diria este cenarista que, até com uma chocante irresponsabilidade. O comportamento do Presidente parece que transmite a idéia de que ele está a entrar em um processo de crise existencial, talvez por aproximar-se o doloroso tempo “de ter que voltar à planície”, o que, para ele, será muito duro e difícil.

E essa falta de prumo, levou a que Lula desperdiçasse conquistas possíveis e já quase dadas como certas, como seria uma indicação, com muita viabilidade, para concorrer o Prêmio Nobel da Paz e a própria idéia que havia de fazê-lo Secretário Geral da ONU.

Mas depois do caso Irã, do deplorável desempenho diante da morte do “preso de consciência” cubano, do total apoio a chamada, por ele, “democracia venezuelana” do companheiro Chávez, das bobagens no caso de Honduras e o seu apoio a ala “albanesa” e xiita do PT, então as coisas mudaram, internacionalmente, e o seu prestígio sofreu duros revezes. Basta ver o comentário do escritor Mário Vargas Llosa que afirmou que Lula se juntou “a escória da América”! Para o jornalista Moisés Nahim, da revista Foreign Affairs considera Lula “um dos cinco grandes hipócritas de 2009”, numa demonstração de um mal estar generalizado que tomou conta da mídia internacional contra o Presidente do Brasil. A sua incontinência verbal, inclusive com a pesada gaffe cometida frente a ex-Presidente do Chile, Michelle Bachelet quando, em visita oficial para levar solidariedade do povo brasileiro ao povo chileno, Lula arrematou com este infeliz comentário: “Ainda bem que não morreu nenhum brasileiro”.

No que concerne ao público interno, a uma série de propostas de seus companheiros mais radicais, não apenas relativas às propostas estatizantes, mas, até mesmo, as que conduzem ao cerceamento de liberdades e direitos civis, sugeridas em várias iniciativas de seu governo, Lula vai perdendo o prestígio conquistado, internacionalmente.

Provavelmente ele reagirá dizendo que não importa o conceito internacional, mas o conceito dos brasileiros a seu respeito, demonstrado por pesquisa que mostra que a sua candidata ultrapassou, em termos de preferência popular, o seu contendor e adversário, José Serra.

Mas, o fato, mesmo que a “mídia mancomunada com a elite branca e preconceituosa de São Paulo”, segundo Franklin Martins, continue a reprovar os seus últimos gestos e atitudes, Lula, aparenta não dar bolas para tal. Mesmo agora, quando ele deverá confessar ao Procurador que atua no caso do Mensalão, de que foi advertido por Roberto Jefferson sobre o fato, mas que, não tendo elementos suficientes para caracterizar a “coisa” como criminosa, optou pelo caminho de considerar, tão somente, tal reprovável comportamento de seus parceiros, inclusive em seu proveito, o crime como se fora “caixa 2”, destinado a apoiar candidaturas a cargos eletivos.

O problema do mito é que, quem tiver diferenças, críticas e reprovações deve entender que um mito não se combate, não se busca desestruturar e nem desconstruir, mas se deve deixar que o tempo, “senhor da razão”, bem como deixar que a própria loucura do mito, diante das conquistas e do apanágio, em termos de apoio popular, faça com que ele se sinta Deus e comece a cometer tantas bobagens e tantos erros, que acabe mostrando aos seus admiradores, que o “Rei está nu”.

A visão desse cenarista é que, aos poucos, diante de uma antecipada nostalgia do poder, de um conjunto de dramas existenciais de quem foi tudo e podia tudo e, logo e logo, não terá mais tal poder; diante da consciência de que Dilma, caso seja eleita, não guardará a “moita” para o seu retorno daqui a cinco anos; considerando que, se Serra for o eleito, Lula terá que dar explicações sobre fatos e atos que ficaram nebulosos; e, levando em conta, que a solidariedade da companheirada nunca foi a ele, mas tão somente ao poder, dentro do pragmatismo cínico dos companheiros que sobraram ao seu lado, aí o mito deverá mostrar que tinha “os pés de barro”.

Porque o “calcanhar de Aquiles” de Lula é, provavelmente, a possível insanidade que domina aqueles que se sente acima do bem e do mal!