CRISE? QUE CRISE?

As pessoas ficam impressionadas como, com tantos indicadores negativos, ainda se procura vender expectativas otimistas para um país, nitidamente, em dificuldades. Os dados não mentem e a reversão do quadro de dificuldades, considerando o “time lag”, ou seja, o tempo entre a tomada de medidas de política econômica e aquele para surtir seus efeitos, é demorado. Assim, é difícil não antever que o Pais terá um ano difícil em 2014 e, com certeza, também em 2015.

Um apagão de energia elétrica nas principais regiões do País, a exceção do Nordeste, levou o Governo Federal a dar explicações nada plausíveis e pouco acreditáveis de que o problema era episódico e não teria maiores consequências. Ora, diante da vertiginosa queda da capacidade acumulada dos reservatórios e, do uso, praticamente, a plena carga, de uma energia de uso emergencial e bastante cara — as termelétricas — pouco gente levou a sério as explicações do governo.

Se a crise no setor elétrico é séria, o que não dizer do drama que enfrenta a Petrobrás, não apenas com a queda da produção de óleo e gás, dos poços em exploração, bem como a crise de confiança diante da promessa de expansão da produção em 10%, este ano, como prometido pela sua Presidente, além da expectativa de recuperação da perda de valor da companhia, hoje reduzida a pouco mais de cerca de um terço do que foi em 2011!

Se os problemas no “front” externo estão a se agravar com a tera da confiança das agências de avaliação de risco de investimentos que, ao que parece, já se refletem numa antecipação do que podera ocorrer até o fim do semestre — O jornal O Globo noticiou que o Brasil paga taxa maioir para atrair investidor (o Credito Default Swap, estava pagando 210,9 pontos-base quando, ao final de 2013, era de 157 pontos). Isto representa que, para rolar as suas dívidas as empresas brasileiras terão que pagar taxas bem mais altas de juros. Os dados do valor de remuneração dos títulos oferecidos pelo Brasil é bem superior a qualquer dos emergentes, inclusive de certas republiquetas latinas.

Some-se a tal quadro pouco alvissareiro, não só os últimos dados de crescimento da indústria chinesa bem como o desempenho de suas importações mas, também, a crise argentina, que piora bastante o quadro para a industria manufatureira brasileira. Esta, por sinal, apresentou, em 2013, o pior desempenho dos últimos cinco anos, apesar de todos os estímulos concedidos pelo Governo e a melhora na taxa de câmbio.

Por outro lado, se o ano de 2013 não foi nada bom para as contas externas do País, com um déficit de mais de 80 bilhões de dólares, 2014 já comecou mal com um déficit, só na balança comercial, de 4,1 bilhões de dólares.

No “front” interno, não se sente, até agora, os efeitos de uma das promessas de Dilma, feita em Davos e destinada a acalmar mercados e investidores. qual seja, a de cortar cerca de 30 bilhões, quando da execução do Orçamento da União. Pelo contrário, as contas públicas continuam em frangalhos e não se enxergam perspectivas de sua melhora. Em 2013 as despesas bateram recorde, alcançando 914 bilhões, uma alta de 13,6% sobre 2012! Tal valor situou-se 12,5% acima do avanço da arrecadação. Talvez o Governo esteja imaginando que as licitações de rodovias, ferrovias, pré-sal, obras de mobilidade urbana, além de outros acasos, venha a melhorar o desempenho das contas públicas. Mero sonho de uma noite de verão!

Portanto, o quadro externo não é favorável até mesmo quando os Estados Unidos, o Japão e a Zona do Euro mostram recuperação e, com isso, tiram o foco dos investidores e, ficam mais difíceis as perspectivas de novos investimentos nos países emergentes como o Brasil.

As expectativas dos analistas é que o crescimento brasileiro fique, apenas, entre 2,1 a 2,4%, a inflação fique ao redor dos 6% e, as despesas públicas, só serão reduzidas se houver uma decisão, com mão de ferro da presidente de fazê-la, coisa deveras difícil de ocorrer num ano eleitoral.

Se não bastassem tais dificuldades a serem administradas, haja visto os conflitos de interesse presentes, a pauta do Congresso não conduz a qualquer otimismo, máxime quanto a expectativa de corte de gastos! É muito mais provável apostar-se no aumento do gasto público, em face da proposta de criação de novos municípios, da desaposentadoria e de outros pleitos como, por exemplo, aqueles na área da saúde, do que se vislumbre qualquer tendência à austeridade na condução das finanças públicas.

Dificilmente o pacto concertado entre a Presidente e a sua base de sustentação parlamentar, de não votar qualquer matéria que aumente despesas, será cumprido porque, as eleições estimulam o contrário como as insatisfações, notadamente da base aliada com a reforma ministerial, com os arranjos políticos estaduais e com o não atendimento de pleitos paroquiais, são enormes.

Se tal não bastasse, o Supremo tem aquele pepino de votar o cumprimento de determinação de ressarcir ou de promover a chamada devolução, pelos bancos, de uma apropriação indébita de parte da poupança confiscada dos cidadãos, em função de planos de estabilização da economia de anos passados. E o chamado “rombo”, com implicações para o Tesouro, deverá girar entre 180 e 210 bilhões de reais.

Assim, com todo respeito as declarações da Presidente, nem a euforia com os recentes dados do desemprego é capaz de encobrir e mitigar tais problemas. Ademais, quando os trabalhadores sentirem que nem o salário médio cresceu em 2013, como ocorria nos anos anteriores e, que aumentou o número dos que, não trabalham, não procuram emprego e decidiram demorar mais na casa dos pais, então o quadro não é tão cor de rosa como pintado pelos governistas!

Aliados a tais problemas, surge também a sensação que começa a dominar, nas pessoas, o sentimento de um pouco de frustração, diante da corrosão do poder de compra da renda da nova classe média. Isto parece, está começando a tirar do sério, até mesmo, os chamados filhos do bolsa-família!

Na verdade, a maré não está prá peixe e, agora não é pessimismo ou má vontade dos que não comungam do espírito petista mas, de fato, uma constatacao de que a coisa está ficando, realmente, preta!

2 Comentários em “CRISE? QUE CRISE?

  1. Muito bom ! Análise realista da situação com abordagem sempre brilhante do Dr. Paulo Lustosa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *