DESIGUALDADES: POR QUE A REDUÇÃO?

Muitos estudiosos têm se perguntado quais as razões que tem determinado uma substancial redução do número de miseráveis no mundo, como um todo. Alguns até têm se mostrado intrigados com o fato de que, tendo acabado a guerra fria, caído o muro de Berlim e finda a bipolaridade no mundo, onde só restou o tão questionado e discutido liberalismo como ideologia hegemônica e, tendo a si atrelado, o sistema capitalista de mercado, a tendência é que se tivesse agudizado o processo de concentração de renda e houvesse aumentado o número de excluídos. Isto porque, reduzida dramaticamente a intervenção do estado nas economias, a tendência teria sido um “empeioramento” das possibilidades de ascensão social dos grupos situados abaixo da linha da pobreza.

Mas, o que tem ocorrido, dos anos noventa para cá, tem sido um fenômeno totalmente diverso. Cada vez mais se reduz o número de miseráveis no mundo e, se for por poder de compra, o espectro da fome, a abater milhões de seres humanos, já não pairaria tão ameaçador como até bem pouco se imaginava. E, tal magistral redução de miseráveis, a que se deveria? Em primeiro lugar e, talvez com relevância muitas vezes maior que outras possíveis razões, teria sido a grande, continuada e dinâmica expansão econômica da China e da Índia, agregando ao mercado contingente monumental de cidadãos e diminuindo, com certeza, o total de miserável no mundo.

A cada ano, estas duas sociedades bilionárias – ambas com mais de um bilhão e duzentos mil cidadãos – vão integrando ao mercado de trabalho e de renda mais de 50 milhões de pessoas! Este tem sido o papel direto de tais economias porquanto aqui não se mensura o efeito “multiplicador” de dinamização das economias sob o impacto das relações econômicas com tais emergentes o que, por certo, fez com que uma legião de miseráveis da Ásia, da África e das Américas deixasse tal condição.

Veja-se, por exemplo, quanto do crescimento da economia brasileira se deve á economia chinesa na proporção em que o agronegócio, a exploração mineral, entre outras atividades, foram responsáveis à agregação de milhões de brasileiros ao mercado de trabalho.
No caso brasileiro, é de se considerar o fato de que desde 1994 que se desenvolvem instrumentos e mecanismos que ajudam a reduzir a população na faixa de pobreza absoluta. Só o impacto do Plano Real, “devolvendo” o poder de compra tomado aos salários em mais de 20%, representou elemento marcante a tal movimento.

Por outro lado, muito da redução da pobreza absoluta se deve, segundo algumas análises de economistas respeitáveis do País, ao aumento da produtividade do trabalho. Aliás, tais ganhos significativos, com impacto direto na massa e nos salários reais pode, inclusive, advir do fato de que os programas sociais de compensação de renda, de monta significativa no País, tenham promovido a saída do mercado de trabalho dos menos eficientes e, portanto, estatisticamente, tenha aumentado os níveis de produtividade do trabalho na economia pela diminuição do denominador.

Há quem atribua ao aumento real do salário mínimo, aos programas sociais e ao aumento da cobertura da previdência social, elementos cruciais de redução da população na faixa de pobreza absoluta.
Na verdade, em artigo recente publicado pelo economista Marcelo Neri, da FGV, se a política de aumento do mínimo e dos programas sociais continuar no mesmo ritmo, em 4 anos e não em 25 anos como se esperava, a redução dos miseráveis, na faixa de pobreza absoluta, cairá para menos de 6% do total da população brasileira!

Sendo assim, mereceria exame mais aprofundado as razões de tais ganhos pois que, nos últimos anos, os maiores aumentos na produtividade do trabalho, no Brasil,  ocorreram no Nordeste Brasileiro o que, em última análise, poderia representar uma nova visão de como enfrentar o problema das desigualdades regionais de renda.

É fundamental considerar que, não se sabe ao certo, quanto que a universalização do ensino fundamental, mesmo com todas as suas precariedades, contribui para tal processo de redução de desigualdade de renda e de diminuição dos miseráveis aqui e em outros países, mas que, certamente, deve ter tido alguma contribuição, apesar da péssima qualidade do ensino no País.

Talvez o que falte para as políticas públicas no país sejam estudos e análises capazes de fundamentá-las, a partir de elementos mais concretos e objetivos.

4 Comentários em “DESIGUALDADES: POR QUE A REDUÇÃO?

  1. Rafael,

    Quais as novidades? Como vamos usar blogs, sites, twitter, orkut, facebook, netlog e o escambau? Como vamos integrar isto ao trabalho de mídia e, depois, aol programa de Tv? Vocês já fizeram a programação para o ano, localizando os problemas mais urgentes de serem enfrentados? Que tipo de respostas vocês darão aos ataques contra os votos do Paulo? O que faremos para enfrentar os ataques do Danilo? Era bom parar para pensar em todas estas questões inclusive naquelas relacionadas ao financiamento de campanha. Gostaria de acertar para falar uma ou duas vezes por semana para as radios do Jaguaribe, do Cariri, do Paulo Oliveira(uma vez por domingo), além de buscar uma na zona norte. O Luciano não tem radio em Santa Quitéria? Há radios nas outras regiões? E no Cariri, o Donizete não abrirá espaços para nós? Vocês continuam pagando o Antonio Viana?

  2. A questão levantada sobre necessidade de estudos mais aprofundados para que sejam desvendados os reais motivadores da redução da pobreza no mundo e também no Brasil traz a baila um dos debates que nos últimos anos o país teima em adiar. Chamamos a atenção para o fato de que o instituto criado para prover a sociedade dessas análises, o INEP, teve seu escopo mudado para aplicar provas de avaliação de estudantes(?) – e de escolas(?) – e executar análises sobre estes dados e que carecem de maior divulgação. Até lá ficamos com a análise de conveniência, ou seja, aquela que interessa publicar.

  3. Oi, tio, como vão coisas ai nos EUA ? por aqui na FGV consegui passar após um período muito tenso, Tio, vi que vc fala em um post da falta de comentarios estar associados a baixo de nivel de leitores do blog, não sei vc já tem um medidor de acessos ao blog, que registra todos os IPs que acessem ao blog, um bom indicador da popularidade do blog além de comentários, o google tem um
    http://www.google.com/analytics/

    Grande Abraço

  4. Excelente esta sua visão sobre a redução de miseráveis no mundo!
    No Brasil, está se tornando um mito dizer que a redução da pobreza se deve praticamente ao programa Bolsa Família ao contrário do que ocorre na China e na índia , que como vc explica no seu texto, incorpora de cerca de 50 milhões de pessoas por ano ao mercado de trabalho e renda
    É lamentável que o maior ganho de produtividade tenha ocorrido no Nordeste, e que este fato não mereça destaque nem por parte da mídia, nem por parte do Governo
    No Brasil o descaso com o ensino, a falta de políticas públicas causam grandes prejuízos para uma mais acentuada redução das desigualdades
    Parabéns pelo artigo!