DISCURSO, PRÁTICA E CONTRADIÇÕES!
As campanhas eleitorais, na sua formatação, na sua estratégia, nos seus apelos e na forma de usar os instrumentos de comunicação com o eleitorado, continuam na mesmice de sempre!
Não há compromissos dos candidatos com o que já assumiram ou de palavra empenhada ou o que já externaram de opiniões, no passado, sobre temas complexos ou polêmicos, diante do que hoje estão verbalizando e assumindo de compromissos. Tampouco, parece não haver qualquer preocupação de gerar consistência entre a sua história, a prática política exercitada ao longo de sua experiência política e as idéias que defenderam, do ponto de vista doutrinário e ideológico, diante do discurso que ora assumem e explicitam.
Lamentavelmente, a hora dos candidatos é a de usar quaisquer argumentos, subterfúgios, sofismas, propostas e posturas, independentemente da consistência e da coerência das sugestões e das idéias externadas, bem como das suas possibilidades efetivas de viabilização. Pois, o que eles levam em conta é apenas a chance efetiva de vitória e de êxito.
Ao que os indicadores apontados pelos pretensos analistas políticos é que, para os formadores de opinião, o que poderia pesar seria a história pregressa do candidato e a sua vinculação com as idéias vencedoras do passado. Claro que isto pesa, mas, na verdade, só é ponderável para poucos, que ainda estão marcados por compromissos doutrinários e ideológicos.
Um segundo elemento a ser cobrado dos candidatos será, numa empatia com o eleitorado, a confiança e a segurança que os mesmos possam transmitir. Ou seja, a firmeza das convicções, a atitude determinada, a coerência do discurso e a consistência das idéias e das propostas. Tudo isto fará com que o eleitorado sinta que, colocando os seus sonhos, aspirações e demandas, nas mãos do candidato, ele não o decepcionará e nem o frustrará.
No Brasil, a mentira, o desencontro de idéias e colocações recentes do pretenso candidato, diante do que disse, no passado, bem como a agressão a valores tradicionais, pode levar a desastres a candidatos bem colocados em pesquisas de opinião. Declarar que “fumei maconha”, “não acredito em Deus”, “sou favorável a descriminalização de drogas”, entre outras manifestações, podem ser consideradas como “tiro no pé”.
Sinceridade, gesto, atitude e passado, devem se mesclar, no todo, em termos do perfil do candidato a ser apresentado ao eleitor. E, ao lado disso, sem pieguices e sem demagogia barata, simpatia e “jeitão” podem ajudar a agregar apoios.
É possível que Dilma, por exemplo, venha a ter explorado, pelos seus adversários, no auge da campanha, certos deslizes por ela cometidos, relativos ao seu curriculum, a montagem de dossiês – agora mesmo surge, na mídia, um “zum-zum-zum”, em função de briga de facções do PT, em função do interesse em manter o controle sobre contratos de publicidade, a suposta montagem de um dossiê contra a filha de Serra, Verônica Serra e, até mesmo, um livro contando os supostos escândalos promovidos pelo governo FHC e Serra, no processo de privatização – e certas opiniões contraditórias que externou, por exemplo, em Nova York, quando disse que “as conquistas do País deviam-se aos últimos vinte anos de governo”, discurso deveras distinto do que ela tem manifestado ao público interno. Aqui, tudo se fez no governo Lula e nada se construiu no passado! Também, ao declarar, peremptoriamente, que defende a liberdade total de imprensa, após ter apoiado o Plano de Direitos Humanos e as propostas do Ministro Franklin Martins de cerceamento da imprensa nacional, tal fato representou uma derrapagem muito séria junto à mídia, como um todo.
Outro elemento de avaliação do potencial de êxito de cada candidato é a lealdade esperada dos seus aliados, não só na campanha como no pós-campanha. Também, o exame da capacidade do eleito de “pagar” a fatura que lhe será cobrada, pelos aliados, bem como a sua paciência, habilidade e competência para transigir, com vistas a garantir a governabilidade necessária.
Muitos temem que Dilma, não só por ser “durona”, intransigente e, por vezes, até grosseira, bem como por ser uma “iniciada no bramanismo” – não só em relação ao PT, como membro neófito que é –, mas na “arte da controvérsia”, qual seja, no saber administrar pressões, conflitos e interesses bem como negociar pressões e imposições de parceiros partidários, afim de que se impeça a ocorrência de solavancos institucionais capazes de por em risco a governabilidade do País.
É bom lembrar que, aí sim, se pode dizer, “nunca na história desse país” se teve, à frente do governo brasileiro, alguém com tamanha competência para negociar com os aliados e com adversários bem como nunca ninguém soube fazer recuos estratégicos ou estabelecer a culpa de deslizes nos auxiliares, como o Presidente Lula.
É difícil alguém lidar com o PT, com mais alas que escola de samba! E, se se juntar a tal desafio, ter que lidar com o cansativo, desgastante e quase desrespeitoso pragmatismo cínico do PMDB, como Lula tão competentemente soube lidar, então o desafio de Dilma será muito maior que a vã filosofia possa admitir.
E se alguém pensa que para Serra, com o seu notório cartesianismo e falta de “sense of humor”, caso venha a ser eleito, o desafio será fácil, também estará redondamente enganado. O que reduz os problemas de Serra é que ele já vem de “outros carnavais”, não só pela sua experiência parlamentar, na Câmara e no Senado, como também como executivo na prefeitura e no governo de São Paulo.
Como diria Dona Dolores, do alto de sua sabedoria em face de seus noventa e seis anos bem vividos: “Talvez o problema da Dilma venha a ser, não a própria Dilma, com os seus defeitos e limitações, mas as más companhias”.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!