DUAS TRISTES NOTÍCIAS!

O belo Rio de Janeiro, de todos os brasileiros, continua lindo embora impiedosamente machucado. Não pela natureza, como alguém poderia imaginar diante das agruras que sofrem agora os cariocas, mas pela incúria, irresponsabilidade, incompetência e má fé de sua classe política e de seus governantes.

As mais de cem mortes, em decorrência da pesada pluviometria que se precipita sobre a cidade, nada têm a ver com as chuvas e sim com a ocupação desordenada do espaço urbano; com a invasão de áreas de risco; com a falta de infra-estrutura em termos de galerias de águas pluviais, de saneamento ambiental, de proteção da mata ciliar bem como da falta de investimentos fundamentais em obras essenciais para a garantia de uma adequada drenagem de tais águas.

Se isto já dói, face o descaso e a incúria dos gestores públicos que, de há muito, vem acompanhando o processo de deterioração dos espaços dessa cidade maravilhosa e nada tendem a fazer para conter abusos e vícios na ocupação dos espaços e construção das obras básicas de infra-estrutura, outra notícia que constrange o País, como um todo, é o drama do saneamento básico do País.

Os jornais estamparam os dados que envergonham aqueles que fazem o estado brasileiro. Na verdade, a cobertura do saneamento ambiental apenas atinge 23% das populações rurais do País, em termos de esgotamento sanitário. E o mais grave é que, é senso comum e não é desconhecido das autoridades da área de saúde do país que, para cada um real gasto em saneamento básico, economiza-se cerca de 3 a 5 reais em gastos com saúde curativa no País! E também se sabe que 55% da mortalidade infantil deriva de contaminação hídrica! Ou seja, basta que haja água potável e que os esgotos não se misturem à água de beber das pessoas, que se consegue reduzir, substancialmente, a mortalidade infantil.

E, o mais grave, é que não é difícil construir toda uma rede de proteção, em termos de saneamento ambiental, notadamente nas pequenas comunidades.

Portanto, diante do que ocorre no Rio, onde nem o Estado e nem a União resolvem interditar as áreas de risco; nem tampouco remover, até mesmo na marra, as populações ali localizadas; nem sequer tentar urbanizar e reorganizar os espaços críticos e de risco, mas recuperáveis; reexaminar toda a rede de águas pluviais das cidades afetadas bem como construir muros ou arrimos de contenção em áreas propícias a desmoronamentos, além de estabelecer um processo educativo das populações quanto ao destino final do lixo, então os problemas continuarão com toda a sua esteira de tragédia.

Como dizia Miguel de Unamuno, ao discorrer sobre os dramáticos episódios da guerra civil espanhola – “Me duele España!” – este cenarista parafraseia dizendo que Me dói o Rio diante do dilúvio que se abate sobre a cidade e seu povo. Onde está o PAC? Cadê a briga do pré-sal que não se volta para um compromisso maior de salvar esta maravilha do Universo? Onde estão os homens públicos do Rio e de Brasília que não assumem um processo de interdição sobre tais descalabros e, emergencialmente, aproveitando a dor e o desespero de muitos, não tomam as atitudes mais duras de remoção de populações, de reocupação de áreas públicas e de início de obras de saneamento ambiental fundamentais?

2 Comentários em “DUAS TRISTES NOTÍCIAS!

  1. Asa,

    Excelente a sua paródia. Bem escrita e bem oportuna. Será que alguns cariocas amigos nossos irão ler os nossos comentários para usarem a sua paródia como um espécie de bordão de revolta diante desse descalabro que ocorre no Rio? Esse Rio que eu tenho tanta paixão e respeito que, o único sonho de consumo que tive na vida foi ter um pequeno apartamento em Ipanema, perto da praia e em uma praça que até hoje mantenho. Só para curtir esta cidade e este povo maravilhoso!

  2. A tragédia de nossa eterna cidade maravilhosa, nos traz pesar e reforça a certeza da incompetência dos gestores e políticos do Rio de Janeiro. A derrota na Camara quando da perda dos royalties do petróleo, onde cinco deputados não compareceram a sessão e um votou a favor (contra seu Estado) do projeto, é um das mais gritantes demonstrações da incapacidade de ação política dos nossos governantes. O absurdo é tanto que abusado que sou, tomei a liberdade de parafrasear o poema Mar Português, do grande Fernando Pessoa, em repúdio a tudo o que aconteceu recentemente no Rio de Janeiro.Aí vai:

    Ó mar continental, quanto do teu sal
    São lágrimas do Cabral!
    Para te explorarmos, quantos de nós choraram,
    Quantas crianças em vão acreditaram!
    Quantas enchentes teremos que aguentar,
    Para tirar-te o óleo, ó mar!
    Valeu a pena? Tudo vale a pena
    se a participação não for pequena.
    Quem quer manter o seu quinhão
    Tem que passar além de qualquer anão.
    “deus 51” do pré-sal fez um desvario,
    Mas nele é que espelhou o futuro do Rio.