E A SUCESSÃO, COMO ANDA?
Depois de realizadas as convenções nacionais, a sucessão presidencial começa a assumir contornos mais claros e definidos. Porém, é fundamental compreender que somente após o dia trinta de junho, último dia para a realização de convenções partidárias, então é que serão conhecidas todas as alianças partidárias e como estarão formados os palanques estaduais e as suas opções em termos de candidaturas presidenciais.
Os discursos começam também a assumir contornos mais nítidos bem como os “motes”, de cada candidato, que irão prevalecer em todo o decorrer da campanha. Também, as próprias estratégias, tanto em termos das ênfases no que respeita aos segmentos populacionais, regiões e o próprio uso das novas mídias, que serão consagrados como prioritários pelos candidatos, vão ficar melhor definidas. Serra, por exemplo, considerando a maior e mais ampla distância que o separa de Dilma Roussef no Norte e Nordeste do país, resolveu dar ênfase especial na sua aproximação com o eleitorado nordestino. Dilma tem preocupação especial em garantir maiores espaços eleitorais em Minas e São Paulo, onde Serra ainda leva nítida vantagem.
Por outro lado, por temor de seu humor e de seu temperamento, os seus conselheiros optaram em afastar Dilma de qualquer debate, não só diante dos “mais anos de estrada” de Serra, mas das armadilhas em que Dilma poderá ser apanhada.
Serra resolveu mudar a sua forma de estabelecer o diferencial em relação à Dilma, não só em relação ao seu currículo, a sua experiência parlamentar e de gestor, o que realizou nos cargos que ocupou e, agora, de maneira mais objetiva, na crítica ao governo Lula. Todos, inclusive este cenarista, vinham batendo na tecla de que, sendo Lula um mito, “bater” no mito seria ampliar o prestígio do mito junto ao eleitorado. Ocorre que Lula não é o candidato, e deixar de fazer uma crítica objetiva e equilibrada sobre o que poderia, pelo menos, ter sido feito melhor no seu governo, é posição que um candidato de oposição não poderia se furtar. Ademais, mostrar que, embora a economia esteja bem, mas que corre o risco de enfrentar dificuldades amanhã, é advertência saudável. Claro que não dá votos, mas mexe com a cabeça dos formadores de opinião.
Por outro lado, criticar o aparelhamento do estado, da chamada “politicagem” na ocupação de cargos e posições, comprometendo o respeito ao mérito e o melhor desempenho do governo, também não é de todo uma crítica não pertinente. A questão básica é que Serra não teria alternativa a não ser a de se posicionar como oposição e mostrar que erros foram cometidos, que algo poderia ser feito melhor e que Dilma não é Lula e não conseguirá mostrar a competência requerida pelo momento em que vive o País. Ademais, Serra resolveu que não é apenas “o noivo que gaba a noiva”. Ou o noivo se gaba e diz o que fez, como fez, por que fez e que tem mais condições de fazer mais e melhor do que a sua contendora, ou ninguém vai fazer isto por ele.
Assim Serra descobriu, ainda que não tardiamente, que quem vai fazer opção preferencial por Lula, não votará nele. Portanto, não tem sentido ficar dizendo que “Lula é o cara” e o que não serve “é o seu entorno”. Ou seja, optou por querer mostrar que existem “vazamentos, falhas, erros, desvios de conduta e precariedades” no governo Lula e que o desempenho do Brasil poderia ter sido muito melhor se o governo não tivesse feito tanta politicagem e aparelhamento do estado por petistas despreparados. Ademais, Serra, no sentido de melhorar a sua situação no Nordeste, resolveu dizer o que fez e “que fez mais que Lula” pelo Nordeste. E desfiou um rosário de medidas e conquistas regionais que foram de sua lavra.
Dilma fez uma viagem estratégica ao exterior e, a partir de novos dados, vai buscar ampliar a sua vantagem sobre Serra. Explora o tema de uma grande conquista para o sexo feminino que é ter uma mulher na Presidência, insiste em que, não se pode permitir ruptura na opção pelos mais pobres e pela correção das desigualdades sociais conquistadas durante o Governo Lula e busca reduzir as restrições e os temores de seu histórico de “terrorista” – como a classificam os conservadores -, através do respaldo a ser dado por Palocci e por Michel Temer. Ao mesmo tempo, vai fazendo “laboratórios” com os seus marqueteiros para mudar a postura de durona bem como aprender a não aceitar provocação quando dos debates.
Marina Silva, tem tido um excelente respaldo da mídia nacional que lhe é simpática, haja vista os espaços para densas entrevistas em grandes veículos nacionais. Continua na sua cruzada de que o país não precisa nem de uma gerente e nem de um técnico, mas de um líder que tenha a visão estratégica e saiba conhecer a alma humana. Fala que, se se quer alguém com a história de superação de um Lula, a mulher para tanto deve ser uma Silva com uma história “muito mais bonita” diante dos desafios que a vida lhe impôs. Enfrenta as dificuldades de carências de apoios, de meios, de tempo de tv e, além disso, vê-se obrigada, além do seu mantra de um desenvolvimento sem carbono, ter que estabelecer uma espécie de equilíbrio instável entre o que o conservadorismo evangélico lhe cobra e o que os jovens e a parcela dos formadores de opinião lhe exigem, em termos de definições e posturas sobre temas polêmicos como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a descriminalização de drogas, o aborto, entre outros.
Na verdade, o cenário do quadro sucessório começa a se definir, de forma mais clara, a partir de agora. Afora a parcela de votos cristalizados de um e outro candidato, o vai-e-vem das pesquisas vai começar, em face dos acordos regionais, a exposição maior dos candidatos em termos de mídia e a explicitação mais clara dos discursos. Ninguém bateu no teto nas preferências populares e ninguém é favorito. O que se espera é que, para o bem do processo democrático, a eleição possa proporcionar um segundo turno. E, para isto, Serra, ora em desvantagem, deve, de forma indireta, estimular os indecisos a optarem por Marina, em nome das mulheres, da história, da cor e da rivalização com o itinerário do outro Silva, no caso o Lula.
Nos estados a coisa está fervendo nos momentos que antecedem o prazo fatal das definições. O “rolo” é grande em Santa Catarina, no Pará, no Amazonas, no Ceará, em Brasília e em outros “sítios”, onde os arranjos vão surpreendendo a muitos que achavam que a coisa estava totalmente definida.
Política é “fogo de monturo”. Quando você pensa que o fogo cessou, por baixo da superfície, continua queimando!
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!