ESTADO FORTE VERSUS ESTADO “ATIVO”.
Dizia o Presidente Lula, faz poucos dias, que a campanha eleitoral para Presidente não o preocupava, pois que todos os candidatos eram de esquerda. Nos dias que correm, ninguém sabe mais o que é de esquerda ou de direita. O que se sabe é que, para começo de conversa, ninguém aceita mais ser rotulado sequer de liberal.
Nos Estados Unidos e na Europa ser liberal é defender o exercício pleno da cidadania, é garantir as liberdades individuais, é permitir o amplo direito à livre escolha bem como é viver em um ambiente onde as habilidades, os talentos e as competências individuais encontram campo e ambiente propício para o seu desenvolvimento. Na verdade, os liberais não são conservadores e não se prendem a dogmas que venham a reduzir os seus espaços de pensamento e movimentação.
Já no Brasil… Bem, no Brasil ninguém mais aceita ser rotulado de liberal, pois que para a leitura da imensa maioria, liberal é um conservador empedernido, um defensor das minorias privilegiadas, um cidadão mais propenso a estabelecer preconceitos contra “preto, pobre e trabalhador” e que não se importa se a distribuição de renda piora e gera mais e mais exclusão social.
Se se exclui da discussão tais conceitos, e, de forma mais responsável e respeitável, retoma-se a discussão sobre o estado e o seu papel, é interessante examinar como pensam os dois presidenciáveis mais bem aquinhoados com as preferências populares.
Dilma, conforme se manifestou no encontro do Partido dos Trabalhadores, quando foi ungida a candidata de Lula e, portanto, do PT, para disputar a Presidência da República, defende um estado forte e capaz de ser o indutor e o promotor do crescimento, além de cumprir o seu papel de regulador. Ou seja, o protagonismo do estado no modelo imaginado por Dilma se assemelha, em muito, as diretrizes contidas no Programa Nacional de Direitos Humanos onde ficou registrado que, não só o estado deve resguardar e até ampliar as conquistas sociais mas que, na ausência de uma iniciativa privada determinada, caberá a esse mesmo estado substituí-la e tornar-se protagonista, como empreendedor de ações e investimentos estratégicos do País. No seu modelo, defende estatais fortes, associações do estado com grandes empresas nacionais para o enfrentamento da concorrência internacional além de uma ação mais ousada na regulação, não só via agências de governo mas, também, via ação dos bancos públicos, fundos de pensão, entre outros.
Para Serra, de formação de esquerda bem mais completa e mais profunda que Dilma, o que ele defende é um estado que ele chama de “ativo”, que não se confunde com estado “máximo ou mínimo”, forte ou qualquer outra denominação, mas um estado capaz de estabelecer políticas públicas melhor estruturadas e direcionadas bem como intervenção e regulação onde for exigido. Serra, quando Ministro da Saúde, ao estabelecer quebra de patentes de alguns medicamentos fundamentais ao sistema de saúde brasileiro, o fez após esgotar todas as tentativas de negociação, de tal forma que não deu margem a qualquer tentativa de retaliação dos países-sede de tais laboratórios.
Na verdade, após a retirada das baboseiras do Programa Nacional de Direitos Humanos; da revisão do novo código de mineração; da tentativa de transformação da Petrobrás em um estado dentro do estado, além de outras iniciativas de cunho estatizante e retrógrado, as idéias de Dilma Rousseff se aproximam da média do pensamento nacional e, diferentemente do que se pensa, em nada diferem das idéias de José Serra.
O que deverá diferenciar os dois é na explicitação de tais idéias; na capacidade de traduzi-las em algo digerível pela maioria da população e no convencimento de que o debate de idéias irá respaldar o discurso dos candidatos. O certo é que o discurso de Serra, ao falar como economista e didaticamente, como professor da matéria, não mais assusta o mercado. Ele não precisará de um vice que dê a ele o tal do “nihil obstat” que Dilma irá necessitar.
Portanto, o discurso de ambos deverá ser mais palatável quando falarem em reduzir a dívida, ampliar o crescimento, crescer o investimento e aumentar e melhorar a eficiência dos projetos sociais, ficando os questionamentos sobre a forma de como fazer e viabilizar tais propósitos.
Espero que, para o povo brasileiro, o adjetivo “Ativo” esteja sempre ligado a um governo extremamente comprometido verdadeiramente com a geração de emprego e renda, não “dando” dinheiro para o miserável, mas prospectando tudo aquilo que pode ser visto como negócio! Por favor, não confundamos com negociatas e continuísmos de um sistema que engana o trabalhador cuja ignorância não interessa ser extinta.
Espero pelos tempos em que o povo deste país esteja maduro o suficiente para entender que trabalho, competição, competência, assiduidade, comprometimento, resultados e metas estejam plenamente incorporadas à cultura e ao cotidiano.
eu não aguento mais viver em um país de tanta mediocridadee ignorância!