EXISTE PODER PARALELO NO BRASIL?
Nos anos noventa, o Senador, pelo PT, José Paulo Bisol, precisamente em fins de 1993, à época do chamado escândalo dos Anões do Orçamento, afirmava que aquilo alí demonstrado “não era um poder paralelo. É algo superior. O estado brasileiro é hoje um instrumento nas mãos desse poder!” Imagine Bisol, se ainda vivo fosse e assistisse a esse processo de degradação que ficou explicitado com a CPI dos Correios que, àquela época, trouxe à tona o escândalo do Mensalão e, logo depois, com os cabeludos achados da Operação Lava-Jato, teria, com certeza, ensandecido por completo, ao assistir esse espetáculo de corrupção multibilionário.
Se Bisol ficou chocado com a corrupção que se fazia com o Orçamento da República, imagine hoje se visse o que se fez com a Petrobrás, com a Eletrobrás, com os Fundos de Pensão, com a Caixa Econômica, com o BNDES, com o BB e, com os demais órgãos do País, como as agências reguladoras e outros instrumentos de poder que serviram, apenas, para saciar a sede de corrupção de empreiteiros expertos, de agentes públicos desonestos e de políticos caracterizadamente indecentes, que ainda pululam país afora.
Agora quando se assiste a um recrudescimento da violência em vários pontos do País, particularmente no Rio de Janeiro, percebe-se que não são apenas manifestação de atitudes pessoais ou de pequenos grupos de meliantes mas, na verdade, as rebeliões tem sido feitas, de forma osquestrada e organizada, em vários pontos do País, se explicitando através de rebeliões em presídios, com briga de gangues rivais, incêndio de ônibus, fugas em massa de presidiários, exigência de transferência de presos de alta periculosidade para presídios onde os líderes do crime tem ascendência e controle do sistema, são algumas características e marcas dessa nova atitude ou desse novo tempo.
Na verdade, o que hoje se assiste é o crime organizado impondo caminhos e alternativas e comandando negociações com o estado de direito constituído. Admite-se ser essa mesma estrutura criminosa — Comando Vermelho, o PCC, entre outros — que foi capaz de parar, por três dias, em 2006, a maior cidade do Brasil, São Paulo e, a sua pacificação só ocorreu em face de um suposto acordo entre Marcos William Camacho, o Marcola e, o governo estadual!É bom que se diga que o governador de então, Cláudio Lembo, rejeita, até hoje, a idéia de que tal negociação entre o Chefão do PCC, Marcola, e as autoridades governamentais, tenha, efetivamente, ocorrido!
Se em 2006, o crime organizado já dominava a cena com uma estrutura engenhosa e profissional, hoje as quadrilhas se transformaram em verdadeiras corporações empresariais, com uma organização invejável e quadros profissionais da maior competência técnica. E, mesmo recolhido a um presídio de segurança máxima, Marcola, um criminoso de profunda cultura humanística e muito talentoso, comanda o espetáculo. Numa demonstração patente de que, se em 2006 o crime organizado tinha o peso que tinha, dez anos depois, aperfeiçoou seus instrumentos, ampliou os seus quadros, diversificou suas áreas de atuação e alargou o leque de atividades estratégicas.
Vez por outro, como ocorreu este ano em São Paulo, Espírito Santo, Santa Cataria, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão, o crime organizado deu mostras de seu peso, de sua presença e de sua capacidade de articulação, de mobilização e de comando. Controlando hoje grande parte da produção e todos os esquemas de distribuição, venda e controle dos pontos de venda do tráfico, no Brasil e em países vizinhos, o crime organizado estendeu as suas ações, gerando economias de integração e complementariedade, com a venda e distribuição de armas pesadas; o roubo organizado de cargas e, até mesmo, estabeleceu um pouco de ordem no assalto a caixas eletrônicos no Pais.
A sua ação, no caso do crime organizado, não se faz sem o concurso de segmentos do governo, notadamente das polícias estaduais e sem a cooptação de membros da Justiça, da mídia e da política partidária. É pacífico para o cenarista concluir que hoje, o crime organizado, já com planos bem estruturados, por exemplo, inclusive de fazer uma base de parlamentares nos municípios, nos parlamentos estaduais e até mesmo, na Câmara Federal, esteja pondo em prática a sua estratégia. Agora mesmo, no Rio de Janeiro, particularmente na Baixada Fluminense, registrou-se a execução de mais de 20 pessoas, possíveis candidados nos municípios que, provavelmente, destoavam de sua orientação.
Até mesmo o Presidente da Escola de Samba da Portela, um conhecido controlador de milícias, acabou sendo vitima da politica de extermínio de quem não lia o mesmo script daqueles que controlam o crime organzado. O que se acredita é que, quem não estava alinhado com as orientações definidas pelo Comando, viu-se alijado do processo pelo meio mais prático e objetivo possível. E, o mais grave, a polícia até hoje continua a não conseguir desvendar qualquer um desses crimes!
Assim opera o País onde o crime “já caminhava solto, de canga e peia”, tudo isso decorrente do fato de que é flagrante a falta de uma política nacional de segurança pública, a certeza de que a impunidade continua a reinar e, diga-se de passagem, pelo mérito do trabalho sistemático e organizado daqueles que definem as linhas de atuação, as políticas e a formação de pessoal para a atuação precisa e compentente do crime organizado no País.
Se o tal crime organizado é um poder paralelo no Brasil, o que se está desnudando agora, com a Operação Lava-Jato, é algo que mostra o peso e o tamanho de um outro poder paralelo no país. Talvez esse outro poder paralelo esteja muito mais estruturado e sistêmico como instrumento de saque do país. Ele está estabelecido através de um sistema de controle das vísceras do estado por parte de uma legião de apaniguados de um poder que tinha como único objetivo apropriar-se, ao máximo, de ganhos, favores e benesses das ilicitudes, hoje postas a nu, para conhecimento da sociedade.
Se o crime organizado é um poder paralelo no Brasil, o que ora se está desnudando no País com a Operação Lava-Jato é mais do que um poder paralelo. É um estado dentro do Estado brasileiro. Só que dominado pela força do dinheiro espúrio, além da conivência, da participação e do envolvimento de inúmeros segmentos da sociedade, para garantir a presença desse pesado poder paralelo, maior do que tudo que se imaginava até agora,
O que se tem agora explicitado é o chamado poder político-partidário aliado ao poder das empreiteiras, ao poder de parte do sistema financeiro, os três em conluio com segmentos formais do poder do estado, o poder de polícia e o poder da justiça e, as vezes, com uma certa solidariedade da mídia! Isto tudo consubstanciando um poder que não é o legítimo poder do estado, defensor dos direitos e garantias da cidadania mas, sim o avalista de muitos conluios e espertezas que esses poderes paralelos reservam aos cidadãos como um todo.
Assim chega a nação a uma situação que tende a turvar os horizontes que se quer mais otimistas e mais marcados por perspectivas favoráveis, pois que não há democracia que se mantenha quando o crime organizado substitui o estado nas suas funções essenciais como sói ocorrer em morros e favelas do Rio de Janeiro. Se a sociedade tem um sério e indeclináel compromisso com esta nação, é bom listar três coisas fundamentais a serem sempre buscadas ou perseguidas.
Em primeiro lugar, o combate as chamadas “FARC”s brasileiras, no caso, o crime organizado. Em segundo lugar, a urgente reforma do Judiciário, moralizando-o e simplificando-o e, finalmente a reforma política. Se essas ações não se fizerem de forma simultânea, difícil será desmontar esses três núcleos de poder que, alheios e acima do estado, geram elementos de instabilidade politico-institucional para o Pais.
Não há que se arguir que, se as coisas não mudarem, a probabilidade de tudo continuar nas mãos do chamado mesmo grupo que sempre soube conduzir o mister de acordo com os valores do que a ética dos que fazem o crime organizado, têm como compromisso maior.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!