LULA, A DESCIDA DA LADEIRA!

O Presidente Lula parece enfrentar profunda crise existencial porquanto somente problemas de tal ordem poderiam explicar as suas atitudes e declarações recentes. Isto porque nada poderia justificar as suas explosões de ira contra a imprensa, o tratamento debochado às decisões do TSE em relação a multas a ele aplicadas por flagrante desrespeito à legislação eleitoral e a agressiva e pesada crítica, proferida pelo Presidente ao relatório do TCU. Relatório este, procedente e oportuno, sobre a preferência político-eleiçoeira do Ministério da Integração Nacional ao garantir uma soma trinta vezes maior de recursos da Defesa Civil à Bahia, vis-à-vis do que concedeu ao Rio de Janeiro.

Se antes Lula fazia ásperas críticas aos órgãos de proteção ao meio ambiente, ao Congresso, as decisões dos partidos, Lula, nas suas últimas incursões internacionais foi a uma espécie de paroxismo. Interferiu na questão de Honduras, de maneira intempestiva e imprópria; reafirmou todo o seu apreço a Fidel, indo ao extremo de não receber os apelos dos dissidentes que pediam a sua mediação para que os “presos de consciência” não continuassem morrendo em greve de fome; fez declarações e garantia de apoio ao Presidente do Irã, provocando a ira dos que querem o controle de armas nucleares e, pasmem, se prontificou a resolver o problema milenar da Palestina, não sem antes cometer gafes e mais gafes que geraram mal estar e revolta entre os israelenses.

Parece que Lula vive o que se chama os efeitos desnorteadores e desequilibradores, em termos emocionais, que acometem aqueles que começam a antever ou a vivenciar a antevéspera de seu “crepúsculo outonal”. Ou seja, às vésperas do desembarque do poder, a inteligência e a lucidez se turvam, a ponderação desaparece e o bom senso se esvai, notadamente de quem viveu oito anos de “Cinderela” e agora tenha que voltar à planície!

Não era para vivenciar e experimentar tanta angústia, inquietação e irritação, alguém que cavalga os seus 80% de apoio popular interno e que, inobstante os equívocos internacionais, o frenesi externo em torno do seu nome.

Internamente, as atitudes de Lula, ao confrontar as Forças Armadas, a Mídia, as religiões cristãs, o agronegócio e a justiça, com o seu malfadado Programa Nacional de Direitos Humanos, conseguiram despertar a reprovação de muitos, inclusive de antigos admiradores, como o ex-senador Paulo Brossard que, das coxilhas do Rio Grande, faz críticas duras, mas educadas, a Lula em artigo publicado no Correio Braziliense de 10 de abril último.

De repente, “as trapaças da sorte” dizem para Lula que a fragilidade humana pode mais que a vã filosofia pensa e quer. De repente, “um piripaco” e o “estadista mundial” recebe um “jab” de direita que o coloca, zonzo, nas cordas e só permitirá que ele acorde quando já houver desembarcado de todas as honras e de todas as glórias.

Mas, todos têm que reconhecer que o poder é bom e acostuma mal quando, numa sequência continuada, tudo dá certo. Porque, como dizia um dessas figuras populares do Nordeste, mas cheio de sabedoria, que “o poder é bom porque a gente não precisa abrir porta e nem puxar a carteira”.

Acho que Lula começa, antecipadamente, a sentir que só o vento baterá à porta e o café servido já virá meio frio. E, nem Dilma, mesmo que eleita, devolverá a ele todo o charme, o glamour, as lantejoulas, os rapapés e o “saudável” papel do puxa-saco, tão indispensável e fundamental ao poder porquanto, superou tantas desditas que poderiam ter ocorrido. Imagine um bajulador eficiente no quarto de Getúlio, teria impedido o seu suicídio. E o mesmo chalaça, no porre que antecedeu a renúncia de Jânio, teria, certamente, impedido a renúncia.

Portanto, o que se sente é que Lula vive já, angustiado, o momento de descer à planície e enfrentar os fantasmas da perseguição, da falta de aplauso e reconhecimento e o fato de, depois de ter subido tanto, ter que se acostumar ao patamar de sindicalista e de ex!