MANIFESTAÇÕES, GOVERNABILIDADE E O AMANHÃ!

As manifestações do fim de semana reafirmaram e reiteraram a insatisfação, a indignação e a quase revolta da população em relação a Dilma e ao PT. Como caldo desse sentimento misturam-se a crise econômica e as duras medidas propostas pelo ajuste fiscal; os escândalos do Petrolão e seus desdobramentos e a falta de rumo e de horizonte para o País, para os próximos meses.

A Oposição afirma que Dilma, para não “perder os dedos” preferiu abrir mão dos anéis. Segundo as manifestações dos seus opositores, Dilma se “rendeu a um interventor econômico, no caso Joaquim Levy, entregou a articulação política a Michel Temer e é refém de Eduardo Cunha e de Renan Calheiros”.

Os mais irônicos dizem que a Presidente tercerizou não apenas o comando da economia mas as decisões políticas de governo pois ela as delegou  ao seu Vice-Presidente Michel Temer. Para entender o quadro e as circunstâncias experimentadas por Dilma, basta lembrar a enorme queda de popularidade apurada no último mês e, mais uma vez ratificada na ultima pesquisa de opinião; o pífio desempenho da economia, que caiu 0,1% em 2014 e se prevê uma queda de, pelo menos, 1% este ano, além da inflação acelerando e podendo ficar acima dos 8,5%, este ano! A par disso, a desorganização das contas públicas, ao reduzir a confiança do mercado e aumentar a queda de credibilidade das instituições e, não apenas do governo junto aos agentes econômicos internos mas também junto as agências de “rating” do exterior.

E isto conduz a uma queda nos investimentos, no consumo das famílias e do governo, uma redução da oferta de crédito e, consequentemente, a um agravamento da crise econômica do País.

Diante desse quadro tão difícil, Dilma, tal qual o “general em seu labirinto”, dobrou-se a insistência de Lula de, urgentemente, adotar o modelo ortodoxo de enfrentamento da crise fiscal e, ao mesmo tempo, afastar os limitados auxiliares que a assistiam na busca de entendimento com a classe política, em face dos sucessivos erros e equívocos cometidos. Colocou, em seu lugar, alguém com competência, autoridade, credibilidade e habilidade na negociação com importantes membros do Congresso, no caso Michel Temer.

Claro que para o perfil da Presidente, subordinar-se a essa quase tutela do PMDB e companhia, tendo que engolir sapos e lagartos, de um partido que não é o seu e que a rejeita — no caso o PT —  e de um aliado, no caso o PMDB, ávido por poder e ciente e consciente da sua capacidade de interferir nos rumos das políticas de governo,  tem sido uma tarefa inglória e, talvez tenha cobrado dela muito lexotan. Mas, ou era aceitar tais rumos ou a deterioração não apenas dos indicadores econômicos mas do ambiente político e a deterioração dos índices de aceitação por parte da população como um todo.

Assim, pressionada pelos fatos, pelos observadores externos, por Lula, pelos aliados e, ratificada tal posição pela própria queda de respaldo popular, Dilma entendeu que era hora de aceitar uma radical alteração da matriz econômica, redefinir os termos da política macro e mudar os gestores para intentar, com isso, recuperar um pouco da necessária confiança do mercado e de seus agentes.

Foi aí que a presidente, a contragosto, reproduzindo práticas passadas, resolveu convidar alguém, de pensamento diametralmente oposto aquele externado e professado  pelos petistas e, com certeza, pela própria Presidente, para rearrumar a casa, recuperar os fundamentos da economia e criar as bases para que as possibilidades de crescimento voltassem a prevalecer.

Aí  teve que engolir Joaquim Levy, egresso do Bradesco,  nascido e criado na escola de Chicago e, com isso, aceitar que, de forma ortodoxa, ele buscasse reorganizar as finanças públicas, corrigir distorções de políticas econômicas e redesenhar a forma de criar as bases para um crescimento sustentado.

Levy teve que enfrentar uma série de desafios. Primeiro, como lidar com a vaidade, a prepotência e o pseudo-conhecimento de economia de uma Presidente que sempre demonstrou “que tudo pode e tudo sabe”. Em segundo lugar, teve que conviver com suas próprias limitações, marcadas por reconhecidas inabilidades no trato político e uma notória incompetência para transigir, negociar e compor, qualidades tão necessárias para conseguir emplacar as suas idéias.

Apesar de tais dificuldades, vinha toreando essa área, sozinho e com os problemas naturais de quem não é do ramo. Se esses eram duros desafios, Levy também teve que conviver com a dificuldade maior de não ter o que oferecer em troco do apoio à sua proposta de ajuste fiscal. Ou seja, num mercado tipico de barganha, Levy não tinha a verba e só o verbo e, no seu caso, um verbo pouco convincente.

Aí então foi que Dilma descobriu o óbvio. Todo o seu problema residia no Congresso onde os dirigentes são, até agora, considerados hostis e, os próprios parlamentares, com tantas dívidas, compromissos e contenciosos de uma eleição recém concluída, buscavam respostas as suas demandas urgentes de um governo que só tinha a propor “sangue, suor e lágrimas”.

E, embora um pouco tardiamente, descobriu que tinha ao seu lado, a figura mais completa para enfrentar o desafio de um Congresso hostil, no caso Michel Temer. Com todas as credenciais para tanto, inclusive o de ser o substituto constitucionalde Dilma, o vice tinha todos os apetrechos para fazer um bom trabalho.

E este já caiu em campo, já logrou resultados importantes e, esta semana, deverá cumprir agenda das mais “relevantes e convincentes”, garantindo os cargos de segundo escalão, algumas verbinhas especiais e a promessa de atendimento de outros pleitos “relevantes” de suas excelências. Se tiver sucesso, a maioria das propostas de Levy poderá ser aprovada, o clima da economia melhorará e, até a população largará, um pouco, o pé da Presidente.

Ou é apenas uma espécie de “wishful thinking”?

 

 

 

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