MORRE O SONHO E A ESPERANÇA!

 

O Brasil ficou mais pobre e menor.  Um país que é hoje um deserto de idéias, de homens e de nomes, perde, não apenas um protagonista da cena politica nacional, mas um pouco do sonho e da esperança que ainda restava aos brasileiros! Se havia uma insegurança e uma enorme incerteza quanto aos rumos da economia, as expectativas que começavam a se formar, de forma mais positiva, em relação à política, parece que agora se esfumaram!

Foi-se Eduardo! Um homem comum mas de virtudes que se não faziam dele um santo, o distinguia dos demais mortais. Aprendeu, desde cedo, a fazer política com o avô, ícone das lutas pelas liberdades democráticas do País. Mais leve e solto, sempre se  mostrou um dos mais apaixonados por essa atividade, tão execrada por tantos, mas que Eduardo fazia dela uma ventura alegre e prazeirosa. Mas ele tinha mais.

Foi líder estudantil, deputado estadual e  chefe de gabinete do avô;  Secretário de Fazenda de Pernambuco; deputado federal, ministro de estado, governador por duas vezes, sendo o mais bem avaliado do País e, com um pequeno detalhe que hoje pesa tanto para a avaliação de conceitos dos homens públicos do país: nunca houve dúvidas e suspeições sobre qualquer dos seus atos e gestos, no exercício da função pública!

O cenarista se sente um pouco na orfandade. Mas, como dizia a avó de minha mulher “quem muito vive, muito sofre”, como eu já vivi um bom tempo e comecei muito cedo, já experimentei alguns impactos e golpes emocionais com perdas política que tinham significado especial para mim.

Aos nove anos, ouviu o cenarista, noticiado pelo jornalista Carlos Frias, o anúncio do suicídio de Vargas. Foi um terrível abalo porquanto  sendo o pai do cenarista um getulista de quatro costados, senti por ele e por milhões de brasileiras a trágica perda do “pai dos pobres”.

Ainda na juventude o cenarista tomou conhecimento de um fatídico acidente aéreo que vitimou uma nova esperança na política brasileira, o jovem economista e político, Fernando Ferrari “o candidato das mãos limpas”, cuja vida foi ceifada quando assumia um interessante protagonismo político nacional.

Em 1976, depois de amargar as mais terríveis humilhações, o exílio forçado e as perseguições de toda ordem, o homem que “reinventou” o Brasil e que, como prometido em campanha, fez um governo em que realizou metas que consagraram o seu slogan de fazer cinquenta anos em cinco, modernizou o Brasil, foi morto em um acidente de carro, deixando na saudade a esperança e o sonho de que se reeditasse, por suas mãos ou outras mãos, os alegres, ruidosos e dinâmicos anos de seu governo.

Quando já adulto e exercendo mandato parlamentar em Brasilia e, tendo participado dos movimentos  das Diretas Já e da eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, assisti, desolado, os sofridos dias de agonia de um homem que era a esperança de uma vida melhor para os brasileiros, um homem que foi, para o cenarista, o chefe e o amigo!

Depois de Tancredo, morto em 21 de abril de 1985, foi a vez do “Senhor Diretas” ou o criador do MDB ou, pelo menos de sua mística e de sua história, em um acidente aéreo. Ulysses Guimarães, num trágico 12 de outubro de 1992, despediu-se da vida para entrar na história!

E,  tão pobre de homens, de nomes e de idéias, quando vai o País construindo uma nova esperança, vem a Caetana, como assim a chamava Ariano Suassuna e leva, dos brasileiros, um projeto de estadista, já no forno, pronto para ser alçado a condição de potencial candidato a Presidente. Foi-se  um outro Eduardo. Foi-se, em um trágico dia de abril de 1998, uma esperança de modernizar, de melhorar e de pensar um pais diferente daquilo que os políticos tradicionais, conservadores e sem uma visão um palmo adiante do nariz, buscavam para o Brasil.

O acaso não poderia ser tão impiedoso e, até, injusto para com os brasileiros. Tirar o pouco de quem quase não tem, é uma injustiça que o imponderável impõe aos brasileiros. A tragédia de Eduardo não deveria sensibilizar quem quer que seja  pelo que o episódio abala a cena política e o suspense que causa à sucessão presidencial. Isto é menor!

A orfandade dos sonhos e da esperança é muito mais dificil de ser vencida.  Nada a pode preencher. Foi-se parte de nós e, com certeza, a parte melhor porque a parte jovem que acreditava que o País era possível e não desistiria nunca do seu propósito de se construir o país bem melhor do que aquele que as velhas gerações legaram aos herdeiros de Eduardo, foi-se nesse acidente.

O cenarista é um homem de sonho, de esperança e de afetos. Apesár dos pesares, das injustiças sofridas, das derrotas amargadas, do desencanto com pessoas e com as circunstâncias, mesmo assim, nunca perdeu a esperança de que um dia o bem venceria o mal, o sonho venceria a decepção e o desencanto e a fé em tempos melhores, superaria o medo e a descrença.

Espera o cenarista que o tempo, tão impiedoso e cruel, não esmaeça a fibra nem vá desmontando a disposição dos guerreiros de Eduardo e não se  vá  reduzindo  a determinação para a luta.

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