O BRASIL, DE REPENTE, DESTRAMBELHOU? POR QUE?“
[twitter]Muitos se perguntam o que, de fato, está havendo com o Brasil. Aparentemente teria tudo para estar vivendo um momento especial, pois, até faz pouco tempo, o País era a “menina dos olhos” da economia mundial. Um crescimento robusto, aparentemente sustentável e, apresentando enormes possibilidades e potencialidades.Investidores externos — e eram muitos! — de olho nas oportunidades oferecidas pelo dinamismo da economia, pelo pré-sal, pela exploração das potencialidades mineralógicas, pelo xisto, pelas possibilidades na exploração das energias alternativas, do agronegócio, da plataforma de serviços, pelos eventos internacionais, etc.
Esse clima de otimismo contagiante, foi referendado pela escolha do Brasil para sede da Copa das Confederações, para sede da Copa do Mundo, para o local de realização dos Jogos Olímpicos, além de outros eventos mundiais de grande repercussão.
A demonstrar que tudo não era apenas uma miragem ou algo circunstancial, não só as agências de “rating” de investimentos deram um belo “upgrade” para o Brasil, como a entrada de capitais externos era enorme, a balança comercial tinha um excelente desempenho, a expansão da internet bombava e a indústria automobilística era a terceira ou quarta maior do mundo!
Chegou o País, em um determinado momento, a ultrapassar o PIB da própria Inglaterra e situar o Brasil como a quinta economia do mundo. Claro que o efeito taxa de câmbio pesou nessa circunstancial ultrapassagem.
Tinha ainda o País o maior programa de compensação de renda do mundo que havia, ao lado do aumento do emprego e da renda média do trabalhador, integrado mais de 30 milhões de brasileiros à categoria de classe média. E, pasmem, a população de miseráveis, esteve quase reduzida, a zero!
O Brasil, não era mais o País do Futuro. Era a bola da vez no cenário internacional e Lula, o estadista, mostrava ao mundo que, não era preciso ser letrado para se tornar a referência maior de um governante e um líder de sucesso!
E, aí, o que aconteceu? O País, literalmente, destrambelhou!
Lamentàvelmente, a partir da crise econômica mundial, eclodida em 2008, quando Lula, na sua perspectiva de analista econômico, tranquilizava os seus patrícios dizendo que, o Brasil estava blindado e, para os brasileiros, os efeitos da crise não seria, como foi para os Estados Unidos e Europa, um “tsunami”, mas sim, uma simples e ridícula “marolinha”!
De repente, as fragilidades e as vulnerabilidades da economia brasileira, feito “fogo de monturo”, começaram a pipocar e a comprometer aquela que era, aparentemente, uma sólida economia. A desindustrialização das manufaturas brasileiras, atribuída à predatória concorrência chinesa, ao custo Brasil e aos gargalos da infra-estrutura, além do impacto do câmbio, principiaram a reduzir a competitividade da indústria nacional e fazê-la perder mercado, interna e externamente!
Também, no segmento externo, as importações começaram a crescer a taxas mais rápidas que as exportações e, o câmbio apreciado, dada a entrada significativa de dólares em investimentos diretos e em aplicações em bolsa, favorecia o desequilíbrio da balança de serviços e as importações que, num primeiro momento, foram mais destinadas a bens de capital e a insumos industriais.
Aos poucos foi-se constatando uma obviedade para quem estudava a economia nacional e para quem tinha o “feeling” de que, mais dias ou menos dias, a fratura estaria exposta. Ou seja, os custos de insumos básicos no Brasil — energia elétrica, gás, petróleo, aço e derivados, água, telecomunicações, etc — bem mais superiores aos dos concorrentes internacionais, limitariam a capacidade competitiva das empresas brasileiras.
Ademais, a alta tributação indireta, incidente sobre os bens como um todo; o custo elevado do dinheiro — o 4o. custo mais alto do mundo! — além do alto preço da logística, onde, os encargos relativos a transportes, tanto por via terrestre, fluvial, marítima, ferroviária e aérea, situavam-se e situam-se bem acima, por exemplo, da vizinha Argentina, indicariam que a tendência seria a um “empeioramento” das condições de operação da economia nacional.
Aí os sinais exteriores começaram a aparecer como a Valle deixando de ser a segunda mineradora do mundo; a Petrobrás, iniciando um processo de não realizar os investimentos previstos e necessários para a garantia de sua saúde financeira, bem como a amargar desperdícios por conta de uma gestão política inconsequente e outros indícios muito preocupantes.
Aliado a redução do dinamismo do setor externo, a diminuição do ritmo de expansão da economia interna e, diante da insegurança jurídica, da imprevisibilidade judicial, da burocracia excessiva e da alta carga de impostos, a entrada de investimentos externos começou a cair! E, lamentavelmente, por não haver uma política econômica consequente, a taxa de formação bruta de capital interna se mantém, não compensando a redução do ingresso de recursos externos e nem a saída de reservas cambiais derivadas não apenas dos gastos de brasileiros no exterior, mas, principalmente, da remessa de lucros das empresas multinacionais e da reorientação de investimentos para outros países emergentes ou, de retorno aos próprios Estados Unidos, que ensaiam, de algum tempo, uma saída da crise.
Assim, os sinais exteriores de fragilização da economia, ficam caracterizados pela desaceleração da economia, pela intensificação da desindustrialização, pela exposição dos gargalos da logística de transporte e de toda infra-estrutura, pela falta de ambiente econômico que estimulariam investidores externos e pela falta de marcos regulatórios estáveis capazes de garantir a previsibilidade judicial.
Alie-se a tais elementos, o fato de que, diante de uma gestão pública marcada pela orientação mais político-partidária do que pelos ditames da economia política moderna, abandonaram-se os fundamentos da economia e, mergulhou-se num desrespeito à responsabilidade fiscal, ao superávit primário requerido, a um câmbio flutuante, sem intervenções desnecessárias e a fazer das metas de inflação não um objetivo mas algo aparentemente simbólico.
E o resultado aí está. Desencontros e mais desencontros e, ameaça de redução de “rating” para efeitos de investimentos por parte da Standard&Poors, um bolsa de valores em frangalhos, uma inflação resiliente, um pib que vai, a cada nova previsão, encolhendo e o que é pior, a corrosão dos orçamentos familiares.
E, desnudando-se o quadro de quase impossibilidade de garantir-se um mínimo de qualidade de vida nas cidades brasileiras, onde explodem limitações e restrições na oferta, tanto quantitativa como qualitativa, dos serviços públicos essenciais, a tendência é essa situação de manifestações de rua difusas, gerais e sem líder ou líderes. Só se conclui que o povo está insatisfeito de mais da conta e que as chamadas elites, máxime o Governo, não te, não tem respostas satisfatória para tais questões.
Aqui não é o Egito, mas, se as coisas não tomarem um rumo, pode vir a ser. Se continuar o caldo a entornar, dificílmente, surgirá um salvador da pátria com uma mensagem capaz de devolver a tranquilidade e a esperança aos brasileiros.
Destrambelhou e não adianta dizer que foi de agora. Como bem observou o cenarista a economia vinha dando sinais claros de fadiga crônica desde 2010 e as receitas políticas, judiciárias e econômicas aplicadas infelizmente não foram suficientemente eficazes, como, em alguns aspectos, até mesmo aprofundaram o problema. Como aqui é, novamente, o país do futebol, o mais provável é que veremos a tradicional solução dos times de futebol quando a coisa vai mal: troca-se o técnico e de quebra toda a comissão técnica.